As denominações protestantes: as Igrejas Reformadas (entre elas, o arminianismo) e as congregacionais; Igreja Luterana; Quakers, Batistas e Pietistas; os Cinco Solas, teorias milenistas.

Protestant denominations: the Congregational and Reformed Churches (among them, Arminianism); Lutheran Church; Quakers, Baptists and Pietists; the Five Solas (five solae), millennial theories.


Igrejas congregacionais, Quakers, Batistas, Pietistas




Neste estudo nós vamos continuar a descrever as diversas denominações protestantes que surgiram após a Reforma Protestante de Martinho Lutero, agora sobre as Igrejas Reformadas, além do Presbiterianismo que já comentei (ver menu). E também falarei sobre as igrejas congregacionais ou congregacionalistas, todas elas baseadas na reforma de Calvino.

Igrejas Reformadas – o Arminianismo

Calvino foi um dos primeiros líderes das chamadas das igrejas reformadas que seguem sua doutrina e prática. Como falamos anteriormente, o presbiterianismo é uma parte da tradição calvinista dentro do protestantismo que remonta a sua origem à Igreja da Escócia. Do calvinismo vieram também as Igrejas reformadas, entre elas o Arminianismo, baseado nos ensinos do teólogo reformado holandês Jacobus Arminius (1560–1609) e seus apoiadores históricos conhecidos como remonstrantes (eles assinaram em 1610 uma declaração teológica, a ‘Remonstrance’, enviada aos Estados Gerais dos Países Baixos, 1 ano após a morte do seu líder. ‘Remonstrance’ significa ‘Protesto’). Jacobus Arminius estudou na Universidade Teológica de Genebra. Seus ensinamentos se mantinham nos cinco solas da Reforma Protestante, mas eram distintos dos ensinamentos particulares de Martinho Lutero, Huldrych Zwínglio, João Calvino e outros reformadores protestantes.

Os cinco Solas são:

• Sola fide (somente a fé) – a justificação é recebida somente pela fé, sem qualquer interferência ou necessidade de boas obras. Elas são o resultado da fé.
• Sola Scriptura (Latim, sōlā scrīptūrā; somente a Escritura) – a bíblia é a única palavra autorizada e inspirada por Deus e é única fonte para a doutrina cristã, não exigindo a interpretação fora de si mesma, como, por exemplo, a interpretação pelas tradições ortodoxa, ortodoxa oriental, anglo-católica e católica romana.
• Solus Christus ou Solo Christo (somente Cristo) – Cristo é o único mediador entre Deus e a humanidade, e que não há salvação através de nenhum outro. Isso elimina os sacramentos como uma condição para ser salvo.
• Sola gratia (somente a graça) – a salvação vem apenas pela graça divina (favor imerecido), sem merecimento do pecador; é um dom imerecido de Deus por causa de Jesus.
• Soli Deo gloria (glória somente a Deus) – toda a glória é devida somente a Deus, não a qualquer ser humano ou santo canonizado, nem a demônios. Deus é o Autor e o Consumador da nossa fé (Hb 12: 2) e move pessoas às boas obras.
A igreja Católica crê em todos os cinco pontos, excluindo as palavras ‘sola’ (Só).

O Arminianismo diverge do Calvinismo no que diz respeito à salvação, em especial, a predestinação e a eleição divina. Calvino achava que a graça de Deus é derramada sobre uma pessoa apenas por Sua escolha, e limitada a apenas alguns (os que Ele predestinou à salvação). Entretanto, Arminius afirmava que o ser humano tem o livre-arbítrio e, portanto, isso influi na sua condenação ou não no dia do julgamento. Em outras palavras, enquanto Calvino deixava a responsabilidade de escolha totalmente para Deus, excluindo o livre-arbítrio do homem de escolher seu caminho, Arminius colocava sobre o ser humano a responsabilidade de receber ou não a graça de Deus, ou seja, negá-la.

Muitas ramificações do protestantismo foram influenciadas pelos seus ensinamentos: os batistas, os metodistas, os presbiterianos, os congregacionalistas das primeiras colônias da Nova Inglaterra nos séculos XVII e XVIII e algumas igrejas reformadas na Suíça, na Hungria e no Brasil.

Hoje, a Comunhão Mundial de Igrejas Reformadas unem todas elas com uma estatística de mais de 80 milhões de membros em 211 denominações em todo o mundo. Existem federações reformadas mais conservadoras, como a Fraternidade Reformada Mundial e a Conferência Internacional de Igrejas Reformadas, bem como igrejas independentes.

Congregacionalismo

O Congregacionalismo se originou no movimento puritano e nos separatistas ingleses que quebraram seu vínculo com o Anglicanismo. Ao lado das Igrejas Reformadas influenciadas por Calvino estão as igrejas congregacionais (ou congregacionalistas), seguindo um tipo de governo eclesiástico onde cada congregação administra de forma independente e autônoma seus próprios assuntos: sua própria reflexão teológica, sua expansão missionária, sua relação com outras congregações e seleção de seu ministério, não necessitando qualquer outra autoridade eclesiástica, seja organização ou entidade maior ou mais extensa, senão a de sua própria assembléia. As igrejas locais estão em comunhão umas com as outras, são interdependentes e estão comprometidas entre si no cumprimento de todos os deveres resultantes dessa comunhão. Por isso, se organizam em concílios, sínodos ou associações. Entretanto, essas organizações não são Igrejas, mas são formadas por elas e estão a serviço delas. Assim, o Congregacionalismo é um movimento protestante dentro da tradição calvinista que ocupa uma posição teológica entre o presbiterianismo de um lado e os Batistas e Quakers do outro. Quaker é um membro da Sociedade Religiosa de Amigos, um movimento cristão fundado por George Fox in 1650 e dedicado a princípios pacíficos. O ponto central da crença dos Quakers é a doutrina da ‘luz interior’, ou senso de trabalho direto de Cristo na alma. Isso os levou a rejeitar o ministério formal e todos definiram formas de adoração. Os Anabatistas seguem mais ou menos esse tipo de comportamento.

Na Inglaterra, os primeiros congregacionalistas foram chamados de separatistas ou independentes para distingui-los dos presbiterianos similarmente calvinistas, cujas igrejas são governadas por uma assembléia de anciãos. Os congregacionalistas também diferiam das igrejas reformadas usando governança da igreja Episcopaliana, que geralmente é liderada por um bispo.

No Brasil, o Congregacionalismo não se originou no movimento britânico ou norte-americano, mas no trabalho missionário do médico-missionário escocês de origem presbiteriana Robert Reid Kalley e sua esposa Sarah Poulton Kalley, que chegaram ao Brasil em 1855. Kalley não pertencia a nenhuma denominação específica. Ele iniciou um trabalho de evangelização e fundou a Igreja Evangélica Fluminense (no Rio de Janeiro) e em Niterói, bem como a Igreja Evangélica Pernambucana em Recife. Todas essas igrejas eram apenas igrejas evangélicas brasileiras, sem nenhum vínculo denominacional com igrejas no exterior. Kalley se considerava irmão de qualquer cristão independente de sua denominação. Ele mesmo deixou suas origens presbiterianas por causa de suas fórmulas rígidas de credo, organização eclesiástica e relações muito estreitas com outras denominações. Ao estabelecer igrejas no Brasil, Kalley introduziu uma estrutura de governo ‘evangélica’, onde os laços entre as congregações são firmados por submissão voluntária e o conselho de oficiais locais é o órgão de maior poder; algo semelhante às Igrejas Reformadas Continentais da Suíça, Holanda e França. Desse trabalho surgiram: a ‘União das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil’ e a ‘Aliança das Igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil’, entre outros grupos.

Os congregacionalistas têm dois sacramentos: o batismo a Ceia do Senhor. Ao contrário dos Batistas, os congregacionalistas praticam o batismo infantil. A Ceia do Senhor é normalmente celebrada uma ou duas vezes por mês. Os congregacionalistas não usam o sinal da cruz nem invocam a intercessão dos santos.

Com o decorrer do tempo, as igrejas da Inglaterra voltaram a ter um comportamento mais centralizado, o que contradisse os princípios congregacionalistas dos antigos separatistas ingleses. O Congregacionalismo Moderno nos Estados Unidos é amplamente dividido em três corpos: a Igreja Unida de Cristo, a Associação Nacional das Igrejas Cristãs Congregacionais e a Conferência Cristã Congregacional Conservadora, que é a mais teologicamente conservadora.

A segunda raiz do Congregacionalismo no Brasil está ligada à imigração de alemães Pietistas para o Sul do país, os quais formaram a denominação conhecida como Igreja Evangélica Congregacional do Brasil.


Igreja Congregacional de Elsternwick – Austrália

Igreja Congregacional de Elsternwick (1894-1977) em Victoria, Austrália. Foto: Donaldtong – wikipedia.org

Quakers

Algumas denominações que surgiram em meio à tradição cristã ocidental consideram-se cristãs, mas não católicas e nem totalmente protestantes, como é o caso da Sociedade Religiosa dos Amigos (ou Quacres).

Os Quakers são vários grupos religiosos (atualmente com mais ou menos sete ramificações e muitas sociedades pelo mundo: uns com entendimentos evangélicos, de santidade, os liberais, os tradicionais e os não-teístas, cuja prática espiritual não depende da existência de Deus) com origem comum num movimento cristão britânico do século XVII de caráter evangélico e místico, dispensando sacerdotes e todos os sacramentos anglicanos e católicos de seu culto. A denominação Quaker é chamada de Quakerismo, Sociedade Religiosa dos Amigos (em inglês: Religious Society of Friends) ou, simplesmente, Sociedade dos Amigos. Seu fundador foi George Fox, um jovem que teve uma visão, estando num monte da Inglaterra, que “o Senhor o deixou ver em quais lugares Ele tinha um grande povo para se reunir”. George Fox nasceu numa família puritana. Então, ele viajou pela Inglaterra, Holanda e Barbados pregando e ensinando, o tema central de sua mensagem do Evangelho: que Cristo veio para ensinar o Seu povo sobre Ele mesmo. Fox se considerava restaurador de uma verdadeira ‘igreja cristã pura’. Mas em 1650, Fox foi acusado de blasfêmia religiosa e o Quakerismo enfrentou perseguição oficial na Inglaterra e no País de Gales no período de 1662-1689. A perseguição aos Quakers na América do Norte começou em julho de 1656, com duas missionárias quakers inglesas. Uma delas foi enforcada; a outra deportada.


Vestimentas do homens Quakers

Quakers – fonte: Especial Religião – Quaker – Jornalismo Colaborativo

Vestimenta de uma mulher Quaker

Vestimenta de uma mulher Quaker – fonte: O Novo Normal Cristão


Os quakers crêem na capacidade de cada ser humano de experimentar a luz interior ou ver ‘a luz de Deus em cada um’. O relacionamento direto com Cristo era encorajado por meio da espiritualização das relações humanas e a redefinição dos quakers como uma tribo sagrada, ‘a família e a casa de Deus’. Eles se descreveram usando termos como ‘Cristianismo verdadeiro’, ‘Santos’, ‘Filhos da Luz’ e ‘Amigos da Verdade’, refletindo os termos usados no Novo Testamento por membros da Igreja Cristã Primitiva. Eles não chamam uns aos outros de ‘irmãos’, mas ‘amigos’.

Os antigos quakers eram conhecidos por usar ‘tu’ como um pronome, ao invés de ‘você’, se recusar a participar da guerra, por usar roupas simples, se recusar a fazer juramentos e um credo formal, se opor à escravidão (se envolveram no movimento abolicionista da América) e praticar a abstinência total de bebidas alcoólicas; também, pela defesa da simplicidade, rejeitando os credos e as estruturas hierárquicas de igreja para viver no recolhimento, na pureza moral e na prática ativa do pacifismo, da solidariedade e da filantropia. Descritos como ‘capitalistas naturais’, muitos quakers foram bem-sucedidos em uma variedade de setores públicos e industriais: bancário; seguro de vida; construção naval; produtos farmacêuticos; chocolate; confeitaria; fabricação de biscoitos; fabricação de fósforos e fabricação de calçados. Inicialmente, os quakers não tinham clero ordenado e, portanto, não precisavam de seminários para treinamento teológico. Mais tarde, surgiram escolas Quaker no Reino Unido e na Irlanda.

Os quakers tradicionalmente usam números para nomear os meses e dias da semana, algo que eles chamam de ‘calendário simples’. Ele não usa nomes de unidades de calendário derivados dos nomes de divindades pagãs. A semana começa com o primeiro dia (domingo) e termina com o sétimo dia (sábado). Os meses vão de primeiro (janeiro) a décimo segundo (dezembro). O ‘calendário simples’ surgiu no século XVII na Inglaterra no movimento puritano, mas tornou-se estreitamente identificado no final da década de 1650 e foi comumente empregado no século XX. É menos comumente encontrado hoje. O calendário na Inglaterra, no período de 1155-1751, e no País de Gales, na Irlanda e nas colônias britânicas no exterior, marcava o dia 25 de março como o primeiro dia do ano. Por esse motivo, os registros Quaker do século XVII e início do século XVIII geralmente se referem a março como primeiro mês e fevereiro como décimo segundo mês; algo muito parecido com o calendário hebraico.


Friens Meeting House

‘Friends Meeting House’, Coanwood, Northumberland, England – Construída em 1750. Foto: Goldenlane – wikipedia.org


Como uma denominação cristã derivada do puritanismo do século XVI, muitos quakers evitam festas religiosas como Natal, Quaresma ou Páscoa, mas acreditam que o nascimento, a crucificação e a ressurreição de Cristo devem ser marcados todos os dias do ano. Alguns quakers não são sabatistas, alegando que ‘todo dia é o dia do Senhor’, embora a reunião para adoração seja geralmente realizada no primeiro dia (Domingo), desde 1656.

Algumas de suas crenças:

• Que todo indivíduo é capaz de sentir Deus diretamente, sem intermediário algum. Deus continuamente revela a verdade diretamente aos indivíduos.
• Alguns expressam seu conceito de Deus usando frases como ‘a luz interior’, ‘luz interior de Cristo’ ou ‘Espírito Santo’.
• Bíblia – tradicionalmente aceitaram Cristo como a Palavra Divina (Logos) e a bíblia seria o testemunho dessa Palavra. Alguns quakers têm-na como uma base indiscutível.
• Testemunho de simplicidade – eles adotam modos de vidas simples: sem valorizar roupas caras, distinção de classe social, títulos honoríficos ou gastos desnecessários.
• Na igualdade, evitam discriminação baseada em classe e influência social. As mulheres tiveram direitos iguais e participação dos cultos quakers desde o século XVII. Na década de 1650-1660, mulheres quakers individuais profetizaram e pregaram publicamente.
• Na honestidade – recusam jurar, conduzir negócios obscuros, atividades antiéticas.
• Ação Social – várias organizações, como o Greenpeace, foram fundadas pelos quakers (1971) e, bem como a Anistia Internacional e a Campanha pelo Desarmamento Nuclear.
• Pacifismo – os quakers se recusam a usar armas e violência, mesmo em defesa alheia. Dificilmente se engajam no serviço militar.

Como na sociedade em geral, há uma diversidade de pontos de vista entre os amigos sobre a questão do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Alguns professam um sacerdócio de todos os crentes inspirado em 1 Pe 2: 9, por isso, rejeitam a liderança clerical. Rejeitando qualquer forma exterior de religião e sacramentos externos, os quakers não praticam o batismo com água nem a Ceia do Senhor, diferentemente da maioria das denominações cristãs. Crêem que o indivíduo seja batizado ‘com fogo’ (pelo Espírito Santo), falando na consciência; e relembram a obra de Cristo dando graças em toda refeição, acreditando que a santidade pode existir em todas as atividades da vida diária e que toda a vida é sagrada em Deus. No início da década de 1880, alguns Amigos (os Gurneyitas Evangélicos) começaram a usar os sacramentos externos em seus serviços de domingo (em Ohio, na África, na América Latina e na Ásia), batizando adultos por imersão em água. Nisto eles diferem da maioria dos outros ramos da Sociedade Religiosa de Amigos.

No final do século XIX e no início do século XX, o chamado movimento Quaker Renaissance começou em Londres. Esses homens minimizaram a crença evangélica Quaker na expiação de Cristo na cruz no Calvário.

Existem duas formas de culto nas Reuniões da Sociedade Religiosa dos Amigos:

• O Culto Programado, que se assemelha a qualquer outro culto protestante tradicional: conduzido por um ministro, com hinos, orações e leituras da bíblia. Algumas reuniões dos amigos são reuniões de negócios, onde buscam a vontade de Deus para tomar decisões. Presume-se que, se todos estiverem sintonizados com o Espírito de Deus, o caminho a seguir ficará claro.
• O Culto Silencioso ou não-programado, sem um ministro para liderar, em que eles se reúnem e esperam que alguém se sinta guiado pelo Espírito Santo para exortar, ler a bíblia, dar um testemunho, orar ou cantar. Às vezes um culto não-programado pode passar sem ter manifestação alguma, sendo uma hora de silêncio e meditação.

Divisões (Cismas):

Na época da Guerra de Independência dos Estados Unidos (1775-1783; quando treze colônias americanas declararam sua independência da Inglaterra, como os Estados Unidos da América), alguns quakers americanos se separaram da principal Sociedade de Amigos por dar apoio à guerra, então formando grupos como os quakers Livres e os Amigos Universais. Mais tarde, no século XIX, houve uma diversificação das crenças teológicas na Sociedade Religiosa de Amigos, e isso levou a várias divisões maiores dentro do movimento.

Assim, cada ramo buscou a continuidade das práticas tradicionais e ênfases teológicas, sobre as novas idéias baseadas em influências externas. Todos esses ramos têm reuniões anuais unificadas das muitas associações regionais em todo o mundo.

Os Quakers Ortodoxos enfatizaram as fontes bíblicas, enquanto os Hicksitas e seus seguidores acreditavam que ‘a luz interior’ era mais importante do que a autoridade das Escrituras. Alguns Quakers Ortodoxos na América não gostaram do movimento em direção ao cristianismo evangélico, entendendo isso como uma diluição da crença cristã ortodoxa tradicional de amigos em serem conduzidos internamente pelo Espírito Santo.

Após os avivamentos cristãos em meados do século XIX, os quakers enviaram missionários para a Ásia e África: Índia (1866 e 1896), Madagascar (1867), Líbano (1873), Síria (1874), China (1896), Sri Lanka (antigo Ceilão – 1896) e Ilha Pemba (uma Ilha da Tanzânia – 1897), Quênia, Uganda, Tanzânia, Burundi e Ruanda.

A divisão Hicksita-Ortodoxa surgiu de tensões ideológicas e sócioeconômicas. Os Hicksitas tendiam a ser agrários e mais pobres do que os Ortodoxos, mais urbanos e ricos. Com o crescente sucesso financeiro, os Quakers Ortodoxos queriam ‘tornar a Sociedade um corpo mais respeitável – para transformar sua seita em uma igreja – adotando a ortodoxia protestante dominante’. Os Hicksitas tinham as visões religiosas de Elias Hicks e foram considerados universalistas, liberais, contradizendo as crenças e práticas cristãs ortodoxas históricas dos quakers. A grande separação entre Hicksitas e Ortodoxos ocorreu em 1827, com reuniões paralelas. A Grã-Bretanha reconhecia apenas os quakers Ortodoxos e se recusavam a se corresponder com os Hicksitas. Os Hicksitas viam a economia de mercado como corrupta e acreditavam que os quakers Ortodoxos abandonaram a espiritualidade para valorizar o sucesso material. Para os Hicksitas, a bíblia era algo secundário, em relação ao cultivo individual da luz interior de Deus. Dentro desse movimento, rejeitaram a economia de mercado e focaram sua atenção nos laços comunitários e familiares. Eles seguem tipicamente a tradição Quaker de reunião não programada (sem ministro para liderar o culto), embora haja uma série de igrejas ou reuniões de Amigos com liderança pastoral.

Dos Ortodoxos vieram os Wilburitas, os Gurneyitas e os Beaconitas.
O ramo Beaconita insistia que a luz interior estava em conflito com a crença religiosa na salvação pela expiação de Cristo.

O ramo Wilburita se originou da cisão do século XIX entre os ortodoxos e os liberais (Hicksitas). Os Wilburitas (Amigos Conservadores Wilburitas), chefiados por John Wilbur, rejeitavam a infalibilidade bíblica e preferiam uma abordagem ‘quietista’, isto é, uma doutrina mística criada por um sacerdote espanhol cristão do século XVII, segundo a qual o fiel alcançaria um estado sem pecado e de união perfeita com Deus mediante a oração contemplativa e a passividade da alma; nesse estado de quietude, a mente humana se torna inativa, já não apresenta vontade própria, mas permanece passiva, sendo Deus mesmo quem opera nela. Em suma, algo muito parecido com o ‘esvaziar’ da mente, a ‘meditação transcendental’ praticada pelo esoterismo e pela ioga, não uma verdadeira meditação sobre a palavra de Deus como fazem os verdadeiros cristãos. Eles tendem a seguir os costumes abertos de falar e se vestir mais do que outros ramos da Sociedade de Amigos. Embora uma minoria use trajes simples tradicionais, eles estão mais associados hoje ao estilo tradicional Quaker. Também mantêm o tipo de reunião de negócios que estava em uso entre todos os ramos quakers até meados do século XX. E como todas as outras sociedades dos amigos, eles têm suas reuniões anuais. No Canadá eram conhecidos como Amigos Conservadores.

Os Amigos Ortodoxos se tornaram mais evangélicos durante o século XIX e foram influenciados pelo Segundo Grande Despertar (1790-1840, que iniciou entre os presbiterianos, metodistas e batistas). Este movimento foi liderado pelo Quaker britânico Joseph John Gurney, fundando o ramo Gurneyita, que se movia em direção aos princípios protestantes e longe da espiritualização das relações humanas. Seu movimento atingiu a América do Norte, África (Em Kisumu, no Quênia) e Caribe. Mais tarde, houve uma segunda divisão dentro desse grupo, criando o ramo Gurneyita-Conservador e o ramo mais Gurneyita-Evangélico. A ala Evangélica apoiava a primazia da autoridade das Escrituras. Os amigos Gurneyitas foram profundamente influenciados pelo movimento evangélico, especialmente as idéias de John Wesley. Os Gurneyitas que iniciaram com Joseph John Gurney realizaram reuniões de avivamento e se envolveram no movimento de santidade das igrejas. A partir da década de 1870, tornou-se comum na Grã-Bretanha ter ‘reuniões missionárias em casa’ nas noites de domingo com hinos cristãos e um sermão baseado na bíblia, ao lado das reuniões silenciosas para adoração na manhã de domingo. Também faziam reuniões anuais. Alguns Gurneyitas começaram a mudar sua forma de pensar em relação à autoridade das Escrituras e aos sacramentos. Os Amigos Evangélicos colocam sua crença mais numa leitura literal das Escrituras do que na autoridade da ‘Luz Interior’.

Essa foi uma das principais razões da cisão do século XIX no ramo Gurneyita. A ala evangélica também acredita no batismo das águas e na Ceia do Senhor como realidades espirituais, que são realizadas pelo Espírito Santo. Eles se referem à sua congregação local como uma ‘igreja’ ou como uma ‘reunião mensal’. Os amigos evangélicos consideram Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador pessoal e têm crenças religiosas semelhantes às de outros cristãos evangélicos. Sua visão da salvação está mais de acordo com a bíblia. Eles acreditam que todas as pessoas precisam de salvação, e que a salvação vem para uma pessoa colocando sua fé em Jesus. Eles acreditam na expiação de Cristo na Cruz no Calvário, na infalibilidade bíblica e na necessidade de todos experimentarem um relacionamento pessoal com Deus. A declaração de fé da sociedade ‘Evangelical Friends International’ (principalmente nos Estados Unidos, América Central e Ásia) é comparável à de outras igrejas evangélicas.

Outros amigos têm uma ampla gama de pontos de vista sobre a salvação, incluindo crenças como o pluralismo religioso. Uma minoria de amigos tem pontos de vista semelhantes aos não-teístas, que surgiram da Igreja Anglicana. Eles são predominantemente ateus, agnósticos e humanistas que ainda valorizam a filiação a uma organização religiosa.

Batistas

O termo ‘batista’ vem da palavra grega baptistés (βαπτιστής Strong #G910; Mt 17: 13; Mc 6: 24; Lc 7: 33; ‘o batizador’, ‘o batista’, epíteto usado apenas para João, filho de Zacarias e Isabel, precursor de Jesus), estando relacionada ao verbo baptízo (βαπτίζω baptizō; Strong #G907; Mc 6: 14), o qual pode ser traduzido por ‘batizar, imergir (ele imerge, ele batiza), mergulhar, submergir, fazer submerso (ou seja, totalmente molhado); banhar, lavar, derramar, cobrir ou tingir, conforme utilizado no Novo Testamento e na Septuaginta. ‘Batista’ também está relacionada à palavra latina ‘baptista’, que significa também ‘o batizador’, como uma referência a João, o batista (João Batista).

As igrejas batistas são uma denominação histórica, cujas origens remontam à Inglaterra e Holanda no início do século XVII. Há historiadores que dizem que o surgimento da igreja batista foi uma conseqüência do movimento Anabatista de batismo de crentes iniciado em 1525 no continente europeu, mas suas raízes são diferentes do Anabatismo. Os Amish, Huteritas e Menonitas são descendentes diretos do primeiro movimento Anabatista.

Durante a Reforma Protestante, a Igreja da Inglaterra (Anglicana) se separou da Igreja Católica Romana. Havia alguns cristãos que não estavam contentes com as conquistas da Reforma, pois a Igreja da Inglaterra não fez as correções que alguns consideravam erros e abusos. Alguns cristãos optaram por tentar fazer mudanças construtivas dentro dela. Eles ficaram conhecidos como Puritanos. Outros deixaram a Igreja e ficaram conhecidos como Separatistas. Um grupo de dissidentes ingleses da congregação de Lincolnshire era liderado por John Smyth, um clérigo, e Thomas Helwys, um advogado. Eles foram para a Holanda em 1608 em busca da liberdade religiosa. John Smyth foi criado na Inglaterra e se tornou um Puritano; mais tarde, um separatista batista, e terminou seus dias trabalhando com os Menonitas. Os dois organizaram uma igreja de doutrinas batistas em Amsterdã em 1609. John Smyth rejeitava o batismo de crianças e instituiu o batismo apenas para adultos crentes (por imersão); inclusive Smyth e Helwys foram batizados como crentes. Em 1609, Smyth primeiro batizou a si mesmo e depois ele batizou os outros. Thomas Helwys organizou a Igreja Batista em Spitalfields, nos arredores de Londres, em 1612. Nesse mesmo ano foi preso por escrever um folheto advertindo a monarquia inglesa para que se submetesse a Deus, e criticando o papado e os puritanos. Faleceu na prisão em 1616. Esse folheto foi a primeira publicação em inglês a defender o princípio da liberdade religiosa e de consciência para todos os seres humanos, i.e, a fé é uma questão entre Deus e o indivíduo. Em outras palavras, os batistas crêem na separação entre Igreja e Estado.

As Igrejas Batistas têm uma forma de governo congregacionalista, ou seja, a autonomia de cada igreja local. A própria congregação decide sobre questões internas. As igrejas associam-se em grupos de apoio mútuo e cooperação, denominados associações ou convenções, mantendo, porém, a autonomia de cada igreja local. Não possui hierarquia ou subordinação entre pastores de uma igreja e outra. Tais grupos de associações podem ter abrangência local, regional ou até nacional.

Os Batistas reconhecem apenas duas ordenanças: batismo e comunhão, porque estas são as únicas expressamente ordenadas pela Bíblia. Na Ceia do Senhor, repete-se o gesto de Cristo e dos apóstolos ao se partilhar o pão e o vinho entre todos os membros da congregação, ou seja, a Ceia é uma rememoração do sacrifício de Jesus, segundo a teoria de Zuínglio.

A doutrina Batista básica é a salvação mediante a fé somente (sola fide), tendo a Bíblia Sagrada como única regra de fé e prática (sola scriptura), o batismo do crente por imersão completa, estando ele já em idade suficiente para ter consciência do ato e desejá-lo por iniciativa própria. O mergulho nas águas simboliza a morte do velho homem carnal e pecador, e o surgimento do novo homem, já com uma nova natureza, espiritual, semelhante a Cristo. Para eles, o batismo não é necessário para a salvação; é uma ordenança, não um sacramento, visto que, na visão deles, não concede nenhuma graça salvadora.


Batismo nas águas por imersão

Batismo do crente por imersão – Northolt Park Baptist Church, Londres – Foto: Brett Jordan – wikipedia.org


Também faz parte da sua doutrina, a adesão à ortodoxia cristã e a princípios gerais protestantes: a crença na Trindade; nascimento virginal de Jesus; milagres; expiação dos nossos pecados por meio da morte, sepultamento e ressurreição corporal de Jesus; o Reino de Deus; a natureza simultaneamente humana e divina de Jesus (o ‘diofisismo’, como foi estabelecido pelo Concílio de Calcedônia em 451); o sacerdócio de todos os crentes (1 Pe 2: 9); à visão escatológica (Jesus Cristo retornará pessoal e visivelmente em glória à terra, os mortos serão ressuscitados e Cristo julgará a todos com justiça); evangelismo e missões.

Muitas igrejas ainda batizam crianças, como a Católica Romana, Presbiteriana, as Reformadas, Anglicana, Metodista, Luterana, Morávia, Ortodoxa Oriental e Ortodoxa Oriental. As demais denominações evangélicas associadas ao pentecostalismo praticam o batismo dos crentes, por imersão em água, após o novo nascimento e profissão de fé (doutrina associada intimamente às tradições Batista e Anabatista). A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias rejeita completamente o batismo infantil, mas pratica o batismo de adultos. Na Igreja Adventista do Sétimo Dia, o batismo por imersão não é exigido novamente para quem já é adventista; apenas para aqueles que sentem que receberam novas informações que fazem a diferença ou passaram por uma reconversão.

Em muitas igrejas evangélicas não denominacionais, batistas e pentecostais, um ritual conhecido como dedicação infantil é realizado (apresentação dos bebês ao Senhor).

Nas igrejas batistas, jovens adultos e casais não casados são incentivados a se casar cedo para vivenciar a sexualidade de acordo com a vontade de Deus. Algumas comunidades de cunho liberal, ao contrário das comunidades de linha conservadora e fundamentalista, aceitam os relacionamentos de LGBT, promovendo as cerimônias de casamento destes.

Nas igrejas Batistas, o culto inclui louvor (música cristã), adoração, orações, um sermão baseado na bíblia, ofertas, e periodicamente a Santa Ceia. Em muitas igrejas, existem cultos adaptados para crianças, até mesmo para adolescentes. As reuniões de oração também são realizadas durante a semana.

As denominações Batistas são tradicionalmente vistas como pertencendo a dois partidos: os Batistas Gerais defendem o Arminianismo, baseado nos ensinos do teólogo reformado holandês Jacobus Arminius (1560–1609: a salvação é resultado do livre-arbítrio do homem à graça oferecida por Deus, pois Jesus morreu pelo mundo inteiro não apenas pelos eleitos escolhidos) e os Batistas Particulares (às vezes conhecidos como Batistas Reformados ou Batistas Calvinistas) defendem a teoria de salvação de Calvino (a predestinação e a eleição divina: Deus escolhe quem vai ser salvo). Os dois ramos concordam em relação aos outros pontos da doutrina Batista, como foi descrito antes.

Voltando aos tempos de John Smyth, havia perseguição aos batistas e a outros dissidentes ingleses, por não concordarem com certas práticas e doutrinas da igreja oficial, a Igreja Anglicana. Devido a essa perseguição, muitas pessoas emigraram para a América, para as colônias da Nova Inglaterra (que viriam a formar os Estados Unidos). A primeira igreja batista americana foi fundada por Roger Williams, a Igreja Batista de Providence em 1639, na colônia que ele fundou com o nome de Rhode Island. John Clark organizou a Igreja Batista de Newport, também em Rhode Island em 1648. As igrejas batistas continuaram a se expandir, embora praticamente restritas à Inglaterra e aos Estados Unidos, até o final do século XVIII, quando missionários batistas começaram a ser enviados a todas as partes do mundo.


A primeira Igreja Batista Americana

A primeira Igreja Batista Americana na cidade de Providence, Rhode Island – Foto: Filetime – wikipedia.org


No início do século XIX, alguns missionários de outras denominações já haviam chegado ao Brasil, como os Congregacionais, Presbiterianos e Metodistas. Mas devido à Guerra Civil Americana (1861-1865; também conhecida como Guerra de Secessão ou Guerra Civil dos Estados Unidos), milhares de fazendeiros e lavradores do sul dos Estados Unidos emigraram para lugares onde houvesse terras de potencial agrícola, inclusive para o Brasil. Aqui eles chegaram por volta de 1867. Entre os emigrados, a maioria professava o protestantismo, e muitos eram batistas. Em 1871, Batistas americanos organizam a ‘Primeira Igreja Batista no Brasil para Estrangeiros’ na cidade de Santa Bárbara d’Oeste, e em 1879, outra Igreja Batista foi fundada ali por outro grupo de imigrantes americanos, no bairro da Estação, atualmente pertencente à cidade de Americana. Na década de 1960, por causa das doutrinas e práticas pentecostais, houve um grande rompimento dentro das diversas denominações protestantes no Brasil, inclusive dos Batistas, dividindo sua igreja em ‘Batistas Renovadas’ e ‘Batistas tradicionais’.


Capela do Campo – Igreja Batista

‘Capela do Campo’ – Santa Bárbara d’Oeste – SP – Brasil, fundada em 1871 – Foto: Felipe Attílio – wikipedia.org


Os Batistas desenvolveram nas igrejas o estudo das Escrituras, criando a Escola Bíblica Dominical. Junto com a Educação Religiosa veio a Educação Teológica, e então surgiram os Seminários: um em Recife (PE) e outro na cidade do Rio de Janeiro no início do século XX. Os Batistas abriram também escolas no âmbito secular, assim exercendo influência sobre a sociedade brasileira.

Milênio, milenismo, dispensacionalismo e amilenismo

Os Batistas geralmente acreditam na Segunda Vinda de Cristo literal. As crenças entre os Batistas a respeito do ‘fim dos tempos’ (Escatologia) se dividem. ‘Escatologia’ é uma palavra que deriva de duas raízes gregas: ‘escatos’ (ἔσχατος), que significa ‘último’; e ‘logia’ (λογία), que significa ‘estudo’, portanto, o estudo das ‘coisas do fim’. Em sentido amplo, a palavra escatologia, ou a expressão ‘coisas do fim’ pode ser aplicada para o fim de uma vida individual, o fim dos tempos, o fim do mundo ou da natureza do Reino de Deus. Em termos gerais, a escatologia cristã enfoca o destino final das almas individuais e de toda a ordem criada, com base principalmente nos textos bíblicos do Antigo e do Novo Testamento.

Assim, os Batistas se divergem ainda quanto às teorias milenistas chamadas: dispensacionalismo, amilenismo, pré-milenismo histórico, pós-milenismo e preterismo.

Dispensação é um período de tempo (histórico / espiritual), no qual Deus trata com a humanidade, ou com um povo, de uma determinada maneira. Na primeira dispensação, Deus tratou com Seu povo através de alianças, sendo a terceira aliança com Moisés sendo operada através da Lei. O homem seria reto e justo diante dEle e, logicamente salvo, cumprindo a Lei. Jesus veio trazendo uma nova dispensação, a da graça (favor imerecido, isto é, não é pelas nossas obras que somos salvos), pois pela fé nEle alcançamos a Salvação e não precisamos mais cumprir os preceitos infindáveis da Lei, senão dois: “Amarás o teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças” e “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Jesus pagou o preço por nós na cruz. Como os judeus não receberam Jesus com Senhor e Salvador, a graça passou a ser derramada sobre os gentios.

O evangelho de Cristo foi pregado exclusivamente aos judeus até 33 DC, completando as setenta semanas de Daniel 9: 24-26 (ou melhor, as sessenta e nove semanas), quando surgiram os primeiros mártires como Tiago e Estevão. Depois que Jerusalém foi destruída pelos romanos (Tito), o tempo de aliança de Deus com os Judeus foi consumado e teve início o tempo do reino de Deus para os gentios (Mt 21: 43; Lc 21: 24; Rm 11: 25; Ez 30: 3). Assim, a aliança com Israel só será restaurada na segunda vinda de Cristo, quando através do arrependimento, eles começarem a clamar o nome de Jesus (Mt 23: 39; At 1: 6-7). “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir teus filhos como a galinha ajunta os do seu próprio ninho debaixo das asas, e vós não o quisestes! Eis que a vossa casa vos ficará deserta. E em verdade vos digo que não mais me vereis até que venhais a dizer: Bendito o que vem em nome do Senhor!” (Lc 13: 34-35) – as últimas sete semanas restantes, correspondentes ao período da Grande Tribulação.

Na verdade, ‘milênio’ foi uma concepção criada por estudiosos judeus no período pós-exílico e Intertestamentário para endossar uma crença e uma esperança de redenção e regeneração de Israel de uma maneira física e excessivamente material, pois interpretaram erroneamente as palavras dos profetas e não esperavam que o seu Messias viesse de outra forma, por isso não creram nEle. O profeta Zacarias, por exemplo, traz a sua compreensão de um milênio sob a ótica judaica (Zc 14: 9-11; Zc 14: 16-21): o cumprimento das promessas de Deus feitas a eles, i.e., as profecias referentes à restauração de Israel como nação, na sua própria terra, dotada de um trono literal, de um rei Davídico literal, de um templo literal, e de um sistema de sacrifícios literal, que será cumprido ao pé da letra, salientando, excessivamente, o lado materialista de tudo isso. Essa teoria se chama: dispensacionalismo. A igreja cristã interpreta isso como um tempo de mil anos quando os justos reinarão na terra.

Entretanto, muitos expositores sentem que a idéia de um Milênio ou Reino Messiânico não pode ser encaixada no quadro bíblico escatológico [Ap 20: 1-6 diz respeito à vitória dos santos martirizados (Ap 20: 4 – ‘as almas dos decapitados’ – versão ARA), que se encontram no céu, os martirizados pela Besta]. Segundo esta teoria, a segunda vinda inaugurará imediatamente a consumação, o julgamento final, e os novos céus e nova terra (Ap 21: 1; Is 65: 17; Is 66: 22; 2 Pe 3: 13; 1 Co 15: 24-28). Esse ponto de vista é chamado amilenismo [Fonte: O Novo Dicionário da Bíblia – J. D. Douglas – edições vida nova, 2ª edição 1995 / Nota do comentário deste parágrafo: cf. G.E. Ladd, Crucial Questions about the Kingdom of God, 1952, pg. 141 & segs.]. Tanto os Evangelhos, como as cartas de Paulo e as cartas gerais não falam de milênio.

O momento da ‘regeneração de Israel’ descrito na bíblia (At 1: 6; Mt 19: 28; Mc 10: 40; Lc 22: 28-29) vai corresponder ao momento do seu arrependimento (na época da segunda vinda de Cristo – Zc 12: 10-14; Zc 13: 1-6; 9; Ap 11: 13b) e à abertura do seu entendimento para Jesus Cristo como o verdadeiro Messias, antes julgamento final, com a separação entre os que herdam a vida eterna e os que vão para o inferno (Mt 25: 31-46; Mt 16: 27; Mt 19: 28). Assim, Israel terá o direito de viver na Nova Jerusalém espiritual (Zc 14: 7-11; Ap 21: 1-8; Ap 22: 1-5; Ap 22: 12-17).

Cristo está atualmente entronizado à direita de Deus (Mc 16: 19; Rm 8: 34; 1 Pe 3: 22); porém, Seu reino não é evidente para o mundo, por isso Ele voltará de maneira visível para os que não crêem, e para realizar o Seu juízo. Após Sua vitória, quando tudo estiver sujeito a Ele, Seu reino será passado ao Pai (1 Co 15: 24-28).

O Senhor aparecerá no céu, arrebatará Seus santos que estiverem vivos (com seu corpo glorificado) e ressuscitará o corpo dos santos que já morreram. Fará o Seu juízo sobre os que têm a marca da besta (Ap 13: 16-17; Ap 15: 7; Ap 16: 1-2; 3; 4; 8; 10-11; 12; 18-21; Ap 18: 9-10; 21) e lidará com as trevas (1 Co 15: 24-26; 28; Ap 19: 11-21; Ap 19: 11-21; Ap 20: 10). O último inimigo a ser destruído é a morte (1 Co 15: 26; Ap 20: 14). Em outras palavras, a segunda vinda inaugurará imediatamente a consumação, o julgamento final e os novos céus e nova terra (Ap 21: 1; Is 65: 17; Is 66: 22; 2 Pe 3: 13; 1 Co 15: 24-28).

O pré-milenismo, na escatologia cristã, é a crença de que Jesus retornará fisicamente à terra (a Segunda Vinda) antes do Milênio, a idade de ouro literal de mil anos de paz. O pós-milenismo vê a segunda vinda de Cristo ocorrendo após o Milênio.

O preterismo é uma visão escatológica cristã que interpreta algumas ou todas as profecias da bíblia como eventos que já aconteceram. Esta escola de pensamento interpreta o livro de Daniel como se referindo a eventos que aconteceram do século VII AC até o século I DC, enquanto vê as profecias do livro de Apocalipse como eventos que aconteceram no primeiro século DC. O preterismo afirma que o antigo Israel encontra sua continuação ou cumprimento na igreja cristã com a destruição de Jerusalém em 70 DC ou, então, com a era papal que se seguiu.

Pietismo ou Luteranismo Pietista

A partir da Igreja Luterana surgiram os Pietistas no final do século XVII, atingindo seu auge entre 1650-1800 e diminuiu durante o século XIX, sendo que quase desapareceu na América no final do século XX. O movimento teve como líder, Philip Jacob Spener (1635-1705), um teólogo luterano alemão, e atingiu a Alemanha e a Escandinávia. O Pietismo combinava o luteranismo do tempo da Reforma Protestante (a doutrina bíblica) com as experiências individuais do crente, dando ênfase à santificação e diminuindo a ênfase aos credos e confissões. Em outras palavras: a piedade individual e a vivência de uma vida cristã vigorosa. Também apoiava a necessidade de renunciar o mundo e fortalecer o amor universal entre os crentes, dando também uma expressão religiosa às emoções.

Os Luteranos Pietistas reuniam-se em conventículos, à parte do serviço na igreja, para encorajar a piedade mútua. Para eles, o crente deve se esforçar para ter uma vida santa, e essa santificação é conquistada quando ele segue os mandamentos divinos bíblicos.


Conventículo Pietista

Imagem acima: Um conventículo pietista Haugiano – Adolph Tidemand (pintor norueguês; 1814-1876) – Fonte desconhecida. O Haugeanismo foi o movimento de reforma na Igreja Pietista da Noruega que carregou o nome do evangelista leigo Hans Nielsen Hauge (1771-1824) – wikipedia.org.

Em 1675, Spener publicou sua Pia Desideria ou Desejos Pios para a reforma da verdadeira Igreja evangélica, uma coletânea de sermões. O título deu origem ao termo ‘Pietistas’. Nesta publicação, ele fez seis propostas sobre qual o melhor meio de restaurar a vida da Igreja, e que podem ser mais facilmente entendidas dessa forma:
• O estudo sério e completo da bíblia em reuniões privadas (‘ecclesiolae in ecclesia’ ou seja, ‘pequenas igrejas dentro da Igreja’).
• Sendo todos os cristãos sacerdotes, os leigos devem participar do governo espiritual da igreja.
• O conhecimento do Cristianismo deve ser alcançado através da prática.
• Tratamento simpático e gentil para com os incrédulos e heterodoxos (que não se conformam com crenças ou padrões aceitos ou ortodoxos).
• Mais destaque à vida devocional na formação teológica das universidades.
• Um estilo diferente de pregação: em lugar da retórica, uma palavra viva, denotando a fé e um renascimento interior; algo vívido.

Spener enfatizou a necessidade de um novo nascimento e separação dos cristãos do mundo, evitando todas as diversões mundanas comuns como: dança, teatro e jogos públicos, o que acabou levando a uma moralidade ascética por vezes áspera, especialmente no que tange à alimentação, vestimenta e lazer. Por outro lado, eles incutiram nos Pietistas um sentimento de responsabilidade para com o mundo, levando-os a atividades de missão e caridade. Alguns acreditam que isso levou a uma nova forma de justificação pelas obras. Sua ‘ecclesiolae in ecclesia’ também enfraqueceu o poder e o significado da organização da igreja, dando ênfase no contato direto da pessoa com Deus e diminuindo a diferença entre os clérigos e os leigos.


Um quarto Pietista

Imagem acima: Um quarto em Fosnes Bygdemuseum, Noruega. Todas as decorações nas paredes são motivos religiosos. A placa preta diz ‘Nosso Deus é nossa fortaleza poderosa’ (de Lutero). Frugalidade Luterana Pietista, humildade, moderação (restrição, repressão), senso de dever e ordem têm sido fortes influências culturais e religiosas na Escandinávia. Foto: Thomas Bjørkan – wikipedia.org.

O Pietismo influenciou o surgimento de movimentos religiosos independentes de inspiração protestante tais como o Metodismo (inspirando o padre anglicano John Wesley), o Movimento de Santidade, o Evangelicalismo, Pentecostalismo, o Neo-Pentecostalismo e grupos carismáticos.

Porém, no século XIX, surgiu um movimento Neo-Luterano, em que houve um renascimento da doutrina das confissões Luteranas e uma renovação na liturgia tradicional. Alguns escritores sobre a história do Pietismo o tratam como um movimento retrógrado da vida cristã em direção ao Catolicismo.

No Brasil o Pietismo se encontra presente dentro da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil por meio da Missão Evangélica União Cristã.


Altar de uma igreja Luterana Comunidade do Redentor – Curitiba

Comunidade do Redentor – Vitrais da Igreja

Imagens acima:
O altar da Primeira Comunidade Luterana da América Latina – Nova Friburgo – pastor Gerson Acker
Igreja Luterana Comunidade do Redentor – Curitiba – vista externa da igreja
Igreja Luterana Comunidade do Redentor – Curitiba – o interior da igreja com vitrais ornamentados

Fonte de pesquisa: Wikipedia.org

Este texto se encontra no anexo:

Reforma Protestante–Denominações Protestantes

Reforma Protestante–Denominações Protestantes (PDF)

Protestant Reformation–Protestant Denominations (PDF)



Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti

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