Interpretação das profecias de Dn 7 e 8 (os animais) e Dn 9: 24-27 (as 70 semanas) e das visões do apóstolo João no livro de Apocalipse sobre os tempos do fim: a Grande Tribulação, as Bestas, o dragão e a grande Meretriz.


Profecias de Daniel e João – Apocalipse



Seguindo o estudo sobre a revelação da profecia de Dn 11: 1-45

Este capítulo é uma interpretação das profecias de Dn 7 e 8 (os animais vistos por ele) e Dn 9 (em especial os versículos 24-27 sobre as 70 semanas) e das visões do apóstolo João, escritas no livro de Apocalipse com referência aos tempos do fim: o Anticristo e a Grande Tribulação, as três Bestas, o falso profeta e a grande Meretriz (descrita em Ap 17: 1), se referindo a Roma.

O intuito deste estudo é mostrar o quanto é importante a nossa intimidade com Deus e nos dar a esperança de que num dia preparado por Ele (‘no tempo determinado’, como diz a bíblia) todo o mal que vemos e vivemos no mundo vai ser destruído, e toda a injustiça vai ser vingada, pois é necessário que os homens se arrependam dos seus pecados e reconheçam que só em Jesus há liberdade, justiça, julgamento e vida eterna. No livro de Apocalipse, o apóstolo João não escreve apenas sobre os eventos futuros; ele também escreve para os crentes daquela época (nas sete igrejas na Ásia Menor, passando por perseguições) e menciona de uma forma simbólica as circunstâncias políticas em que ele estava inserido, envolvendo os imperadores romanos, por exemplo, e mostrando que Deus estava agindo e fazendo justiça naquele momento, da mesma forma que fará de uma maneira muito mais abrangente no futuro.

• No capítulo 7 Daniel tem a visão de quatro animais; uma revelação sobre as nações que viriam após a queda de Babilônia. O primeiro animal era semelhante ao leão e tinha asas de águia (Dn 7: 4), e simbolizava a Babilônia. O segundo era um urso com três costelas em sua boca e simbolizava os reinos da Média e da Pérsia que conquistaram o Egito, a Babilônia e a Lídia (as três costelas). O terceiro era parecido com um leopardo e nas costas tinha quatro asas de ave, assim como quatro cabeças. Simboliza a Grécia. O quarto animal a ser visto por Daniel tinha a aparência espantosa e terrível, com grandes dentes de ferro (Dn 7: 7; 19), devorando tudo ao seu redor. Em sua cabeça ele tem dez chifres. Simboliza Roma e podemos ver uma alusão ao Anticristo e a os dez reis contemporâneos (Dn 7: 7-8; 20-25). É interessante perceber que a visão de Cristo glorificado descrita por Daniel (Ancião de Dias) em Dn 7: 9; 13; Dn 10: 5-6 é semelhante à descrita por João em Ap 1: 13-15, Ap 19: 6; 12; Ap 14: 14; Ap 1: 7 (vindo com as nuvens). Em Dn 7: 18, a palavra escrita também é semelhante à de Apocalipse, ou seja, o Anticristo pelejará contra os santos (Dn 7: 25), mas esses possuirão o reino (Ap 17: 14; Ap 11: 15).

• Em Daniel 8: 5-8; 20-22, a bíblia fala que o carneiro com dois chifres simboliza a Média e a Pérsia, e o bode peludo simboliza a Grécia. O bode também tinha um chifre entre os olhos, simbolizando o poder de Alexandre, o grande, se quebrando e dando lugar a quatro chifres (símbolo dos seus quatro generais); depois, de um dos chifres sai um único chifre pequeno que se torna forte para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa (Dn 8: 9 = Israel), simbolizando Antíoco IV Epifânio (Dn 8: 9-11), perseguidor Selêucida de Israel (175-164 AC).

Os animais com aparência terrível, na bíblia, em especial nos livros proféticos de Daniel e João (Apocalipse), simbolizam grandes forças e impérios, uma coligação de nações que tentam usar o poder da Besta (ou Anticristo) para derrotar o verdadeiro poder na pessoa de Jesus. Chifre diz respeito ao poder, e o carneiro simboliza o lado religioso – o animal dócil usado nos sacrifícios a Deus no AT. É óbvio que essa interpretação varia de acordo com o contexto bíblico. Jesus também se referiu ao Seu povo como ovelhas (Mt 10: 16-17) e os ensinou a tomar cuidado com os falsos profetas (Mt 7: 15-23).

Esse poder maligno será visto na pessoa da besta que emerge do mar: um homem, ou melhor, um governante (o mar simboliza as nações gentílicas, em especial, Roma, como João se referiu), e na pessoa de um líder religioso que, com prodígios de mentira, virá a enganar as nações, fazendo-os acreditar na besta como se ela fosse o Messias prometido. Israel, por exemplo, sempre viu o Messias como um líder físico, material, se manifestando com poder no mundo natural, um rei semelhante a Davi, que um dia virá livrá-los do poder opressor dos gentios.

Desde os tempos do início do NT os apóstolos João e Paulo diziam que o espírito do Anticristo já estava no meio deles (figuradamente, na pessoa dos imperadores romanos e dos falsos crentes, e até depois de alguns séculos, na pessoa de líderes políticos e religiosos influentes que levaram milhares de pessoas à morte física e espiritual).

O Anticristo é chamado de: ‘Pequeno chifre’ por Daniel (Dn 7: 8); o ‘abominável da desolação’ por Jesus (Mt 24: 15; Mc 13: 14); o ‘Homem da iniqüidade’ ou ‘o filho da perdição’ ou ‘o iníquo’ por Paulo (2 Ts 2: 3; 8-9). Apenas João na sua epístola o chama de anticristo (1 Jo 2: 18; 22; 1 Jo 4: 3), e em Apocalipse o chama de ‘besta’ (mais especificamente, se referindo à besta do mar – Ap 13: 1).

Agora, nós podemos introduzir o texto de Dn 9: 24-27, quando o profeta intercede por si e pelo povo, reconhecendo o seu pecado e, portanto, a causa do cativeiro de setenta anos. Aqui lhe é dada uma revelação através do anjo Gabriel, enviado por Deus a ele, a respeito das setenta semanas que estavam determinadas sobre o povo de Israel (Dn 9: 24-26). As setenta semanas representam um tempo (segundo alguns teólogos, os anos depois da construção dos muros de Jerusalém em 445 AC, mais o período de silêncio de Deus após o profeta Malaquias) que terminaria com a ascensão de Cristo (após Sua ressurreição – 30 DC) e se completaria com a Grande Tribulação.

• Dn 9: 24-27:
ARA
24 Setenta semanas estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a iniqüidade, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia e para ungir o Santo dos Santos.
25 Sabe e entende: desde a saída da ordem para restaurar e para edificar Jerusalém, até ao Ungido, ao Príncipe, sete semanas e sessenta e duas semanas; as praças e as circunvalações se reedificarão, mas em tempos angustiosos.
26 Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido [a primeira vinda de Jesus e Sua morte] e já não estará; e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário [Refere-se a Tito, que destruiu Jerusalém e o templo], e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas [como num dilúvio de sangue derramado em guerra após guerra. Até os tempos do fim, Israel e Jerusalém sofrerão guerras, é o que quer dizer].
27 Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele”.

NVI
24 Setenta semanas estão decretadas para o seu povo e sua santa cidade a fim de acabar com a transgressão, dar fim ao pecado, expiar as culpas, trazer justiça eterna, cumprir a visão e a profecia, e ungir o santíssimo.
25 Saiba e entenda que, a partir da promulgação do decreto que manda restaurar e reconstruir Jerusalém até que o Ungido, o príncipe, venha, haverá sete semanas, e sessenta e duas semanas. Ela será reconstruída com ruas e muros, mas em tempos difíceis.
26 Depois das sessenta e duas semanas, o Ungido será morto, e já não haverá lugar para ele. A cidade e o Lugar Santo serão destruídos pelo povo do governante que virá. O fim virá como uma inundação: guerras continuarão até o fim, e desolações foram decretadas.
27 Com muitos ele fará uma aliança que durará uma semana. No meio da semana ele dará fim ao sacrifício e à oferta. E numa ala do templo será colocado o sacrilégio terrível, até que chegue sobre ele o fim que lhe está decretado. No documento original em hebraico, de acordo com a nota de rodapé da NVI, está escrito: “E aquele que causa desolação virá sobre o pináculo do templo abominável, até que o final que está determinado seja derramado sobre a cidade assolada”.


As 70 semanas de Daniel

Fonte: Vídeo do YouTube – The Bible: Daniel; by ProclaimHisWord


Na imagem acima (cf. Dn 9: 25) o anjo separa as sete semanas (quarenta e nove anos, que vai da construção de Jerusalém até o início do Período Intertestamentário, e os outros quatrocentos e trinta e quatro anos, ou seja, sessenta e duas semanas, até a morte e ascensão de Jesus). O espaço com a linha em ziguezague, em branco, corresponde ao período entre a 1ª e a 2ª vinda de Cristo, o período da igreja, onde houve a destruição do templo por Tito em 70 DC. E a última semana (sete anos) no final da figura corresponde à Grande Tribulação e completará as setenta semanas (quatrocentos e noventa anos) descritas pelo profeta em Dn 9: 24. Portanto, essa visão não só diz respeito à primeira vinda de Cristo como também à Sua segunda vinda.

Dn 9: 26
ARA – 26 Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido [a primeira vinda de Jesus e Sua morte] e já não estará; e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário [Refere-se a Tito, que destruiu Jerusalém e o templo], e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas [como num dilúvio de sangue derramado em guerra após guerra. Até os tempos do fim, Israel e Jerusalém sofrerão guerras, é o que quer dizer].

NVI – 26 Depois das sessenta e duas semanas, o Ungido será morto, e já não haverá lugar para ele. A cidade e o Lugar Santo serão destruídos pelo povo do governante que virá. O fim virá como uma inundação: guerras continuarão até o fim, e desolações foram decretadas.

• Quanto ao versículo 26, nós podemos dizer que isso ocorreu na Primeira Guerra Judaico-Romana (66-73 DC), às vezes chamada de grande revolta judaica, que foi a primeira de três grandes rebeliões dos judeus da Judéia contra o Império Romano. Começou no ano 66 DC, inicialmente devido a tensões religiosas entre gregos e judeus com protestos contra taxações e ataques a cidadãos romanos. Depois, as legiões romanas sob o comando de Tito (Tito Flávio Vespasiano Augusto, filho de Tito Flávio Sabino Vespasiano) sitiaram (de 14 de Abril a 8 de Setembro de 70 DC – 4 meses, 3 semanas e 4 dias) e destruíram o centro da resistência rebelde em Jerusalém em 01 de agosto de 67 DC, culminando com a destruição do templo em algum momento de agosto de 70 DC, derrotando as restantes forças judaicas [3 ½ anos]. Existe referência a 30 de agosto de 70 DC [Bunson, Matthew (1995). A Dictionary of the Roman Empire. Oxford University Press. p. 212. ISBN 978-0-19-510233-8], mas talvez esteja um pouco desconectada do que os judeus chamam Tisha B’Av (9º dia do mês de ’Abh, Julho-Agosto). Era o décimo sétimo de Tamuz (Junho-Julho), quando a primeira brecha foi feita na muralha pelos romanos, e três semanas depois, no dia 9 de Av, seu exército conseguiu penetrar no Templo, saqueá-lo e destruí-lo [Flávio Josefo – A Guerra dos Judeus livro IV, capítulos 1 a 4].

Os romanos incendiaram o Templo (há divergências se foi por ordem de Tito ou apenas uma tocha lançada acidentalmente por um soldado). A resistência continuou até setembro, mas finalmente as partes superior e inferior da cidade também foram tomadas e a cidade foi totalmente queimada. O Palácio de Herodes caiu em 7 de setembro e a cidade ficou completamente sob controle romano em 8 de setembro. Tito poupou apenas as três torres da cidadela Herodiana (Phasaelus, Hippicus e Mariamne) como testemunho do antigo poder da cidade, bem como grande parte do muro que cercava a cidade no lado oeste. Este ato teve um impacto enorme: muitas pessoas foram mortas e escravizadas e grandes partes da cidade foram destruídas. De acordo com os historiadores, esta muralha foi poupada para proporcionar um acampamento para aqueles que estavam na guarnição [na Cidade Alta]; as torres [os três fortes] também foram poupadas, a fim de demonstrar às gerações futuras o tipo de cidade que Jerusalém era, quão bem fortificada, e que os valorosos romanos haviam subjugado; mas as demais partes das muralhas e da cidade foram destruídas até o chão.


As três torres deixadas por Tito

Imagem acima: Modelo do Palácio de Herodes em Jerusalém mostrando a Primeira Muralha e, da esquerda para a direita, suas três torres: Fasael, Hípico e Mariane.
No lado norte do Palácio de Herodes, junto à muralha, estavam as três grandes torres que o protegiam:
1. A Torre Fasael era a maior e foi batizada em homenagem a Fasael, o irmão de Herodes, e tinha 45 metros de altura;
2. A Torre Hípico foi batizada em homenagem a um amigo de Herodes e tinha 40 metros de altura; foi reconstruída sobre base original e passou a ser conhecida como Torre de Davi.
3. Torre Mariane I – tinha 23 metros de altura; era a mais bela e foi construída em homenagem à Mariane I, a segunda esposa de Herodes, que ele mandou matar.


Tisha B’Av (9º dia do mês de ’Abh), ou seja, do 5º mês do calendário hebraico correspondente a Jul-Ago no calendário gregoriano, é uma data importante no calendário judaico, cuja origem não é bíblica, mas criada pelos rabinos para lamentar alguns desastres que ocorreram na história de Israel, praticamente depois da destruição do 1º templo por Nabucodonosor em 586 AC (embora os livros judaicos como o Talmude o mencionem desde a antiguidade no AT, mas não está registrado na bíblia).

Um dos últimos atos dessa guerra [os últimos 3 ½ anos] foi a destruição da Fortaleza de Massada em 16/04/73 DC, um planalto escarpado a sudoeste do Mar Morto, uma fortaleza natural construída por Herodes o Grande como seu palácio e como um lugar de refúgio, mas ocupada pelos sicários rebeldes no tempo da sua destruição pelos romanos. Os sicários eram um grupo extremista dentro do partido dos zelotes. Massada, significa ‘lugar seguro’ ou ‘fortaleza’.

A destruição do templo não só foi um marco do cumprimento das profecias de Jesus (Mt 24: 1-2; Mc 13: 1-2), como também foi retratado em forma de relevo no Arco de Tito, em Roma. O Arco de Tito, todo feito de mármore, foi erigido como um triunfo comemorando a conquista de Jerusalém, e construído em 81 DC após a morte do imperador por causa de uma febre. No Arco pode-se ver esculpidos a mesa com os pães da proposição, as trombetas de prata e a Menorá. Nele, pode-se ler a seguinte inscrição:
“SENATVS·POPVLVSQVE·ROMANVS· DIVO·TITO·DIVI·VESPASIANI· (FILIO)VESPASIANO·AVGVSTO”, que significa: “O senado e o povo romano [dedicam] ao divino Tito Vespasiano Augusto, filho do divino Vespasiano”.


Destruição de Jerusalém por Tito

Arco de Tito – detalhe


Houve uma diferença entre a atitude de Pompeu quando entrou em Jerusalém em 63 AC, anexando a província da Judéia à República Romana, e a atitude de Tito, em 70 DC. Pompeu entrou no Santo dos Santos com seus oficiais, o que era um grave insulto para os judeus. Entretanto, por respeito à santidade do templo, ordenou que nada fosse removido ou danificado. Pompeu considerou necessário, talvez, demonstrar seu poder ao entrar no templo, mas mostrou sua disposição de respeitar a fé judaica e deixar seu lugar sagrado inviolado, a não ser que os judeus o forçassem a destruí-lo.

Tito, ao contrário, cercou a cidade com três legiões (V Macedonica, XII Fulminata, XV Apollinaris) sobre o lado oeste e uma legião (X Fretensis) sobre o Monte das Oliveiras, a leste. Ele cortou os alimentos e a água à cidade; permitiu a entrada de alguns judeus para celebrar a Páscoa negando depois sua saída. Após tentativas frustradas de negociação entre judeus e romanos, Tito entrou com as legiões, destruindo a parte exterior das muralhas e crucificando os desertores judeus em torno das muralhas. Os judeus já estavam se rendendo por causa da fome. Os romanos tiraram vantagem desta fragilidade, rompendo as partes internas das muralhas e penetrando na cidade. Eles tomaram a Fortaleza Antônia, que era não somente uma torre forte de vigia, mas também a residência do procurador romano quando estava em Jerusalém. Mais de um milhão de cidadãos (segundo Flávio Josefo) ou noventa e sete mil (segundo outros historiadores) foram assassinados durante o sítio, a maioria deles judeus. Milhares de pessoas foram capturadas e escravizadas. Muitos escaparam para locais próximos do Mediterrâneo. Sob o comando de Tito, os soldados também invadiram o templo, após ser incendiado por uma tocha de fogo lançada contra ele. A cidade foi saqueada e os objetos sagrados levados para Roma. Na muralha sul do templo, os romanos sacrificaram águias aos seus deuses. Assim, Tito também representa uma figura do Anticristo.

Dn 9: 27
27 Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele” (ARA).
27 Com muitos ele fará uma aliança que durará uma semana. No meio da semana ele dará fim ao sacrifício e à oferta. E numa ala do templo será colocado o sacrilégio terrível, até que chegue sobre ele o fim que lhe está decretado. No documento original em hebraico, de acordo com a nota de rodapé da NVI, está escrito: “E aquele que causa desolação virá sobre o pináculo do templo abominável, até que o final que está determinado seja derramado sobre a cidade assolada” (NIV).

• No versículo 27 acima, nós podemos comparar com Antíoco IV Epifânio fazendo a aliança com os infiéis, como já comentamos em Daniel capítulo 11, e depois proibindo o culto judaico:
Dn 11: 31: “Dele sairão forças que profanarão o santuário, a fortaleza nossa, e tirarão o sacrifício diário, estabelecendo a abominação desoladora” (NVI: o sacrilégio terrível).
Daniel menciona a remoção do sacrifício diário também em:
Dn 12: 11: “Depois do tempo em que o sacrifício diário for tirado, e posta a abominação desoladora, haverá ainda mil duzentos e noventa dias”.

O ato de Antíoco IV Epifânio também foi repetido por Tito durante a 1ª Guerra Judaico-Romana (66-73 DC), e que nos primeiros 3 ½ anos destruiu o templo (70 DC), e fez cessar definitivamente o culto mosaico que era feito no templo pelos judeus tradicionais que não tinham se convertido ao Cristianismo. E nos outros 3 ½ anos completou seu trabalho com a destruição da Fortaleza de Massada em 16/04/73 DC, ocupada pelos sicários rebeldes, um grupo extremista dentro do partido dos zelotes.

Mas como eu expliquei em Ap 12: 6, o tempo de 3 ½ anos, que equivalem a quarenta e dois meses (Ap 11: 2) ou 1.260 dias (Ap 12: 6) ou ‘um tempo, dois tempos e metade de um tempo’ (Dn 12: 7 – equivalente à metade de uma semana de anos); ‘um tempo, tempos e metade de um tempo’ (Ap 12: 14), não se referem a medidas de tempo literais na bíblia, mas simbolizam um período curto de aflição; um período de tempo que o Senhor abreviaria pela Sua misericórdia. Este número (3 ½ anos) é o símbolo do poder vitorioso do mundo, ao contrário do número sete, o número da plenitude divina. O mundo se sentiu vitorioso com a morte de Jesus, mas isso era apenas o começo de algo maior. A bíblia diz que Jesus fez uma firme aliança com muitos (Is 42: 6; Is 53: 11; Jr 31: 31-34; Mt 20: 28; Mt 26: 28; Lc 22: 20; Rm 5: 15; Hb 9: 28), abolindo (fazendo cessar) os sacrifícios judaicos e o culto Levítico no templo para sempre, pois a antiga aliança foi revogada; é o que Antíoco IV Epifânio e Tito fizeram no passado, e o Anticristo escatológico tentará fazer para imitar o feito de Jesus.

Muitos teólogos dizem que há um intervalo de tempo entre o v. 26 (que fala sobre a 1ª vinda de Jesus) e o v. 27 (que corresponde à 7ª semana das 70 mencionadas no v. 24). Esse intervalo corresponde ao período da igreja, entre a 1ª e a 2ª vinda de Cristo, pois “Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana” significa o Anticristo e suas coligações com os dez reis (chifres) mencionados em Dn 7: 7-8; 20-21; 24-25 e Jo 17: 12. “Na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares” ou “No meio da semana ele dará fim ao sacrifício e à oferta”, ou seja, na segunda metade desse tempo, ocorre a quebra de aliança e começa o difícil período da Grande Tribulação. Fazer cessar o sacrifício e a oferta de manjares não significa necessariamente que haverá um 3º templo em Israel onde o sacrifício mosaico será restaurado como no AT, mas o Anticristo fará, de alguma forma, cessar todo tipo de adoração ao Deus verdadeiro, mesmo porque apenas a sua religião será ‘válida’ sob seu ponto de vista.

Agora, prosseguindo no versículo 27, nós vemos mais um detalhe que gera debates, porque a revelação mesmo ainda está encoberta:
“Sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele” (ARA).
“E numa ala do templo será colocado o sacrilégio terrível, até que chegue sobre ele o fim que lhe está decretado” (NVI)
No documento original em hebraico, de acordo com a nota de rodapé da NVI, está escrito: “E aquele que causa desolação virá sobre o pináculo do templo abominável, até que o final que está determinado seja derramado sobre a cidade assolada”.

“Sobre a asa das abominações virá o assolador” ou “E numa ala do templo será colocado o sacrilégio terrível” ou “E aquele que causa desolação virá sobre o pináculo do templo abominável” (Nota NVI no original) ou ainda, a tradução em português da KJV: “e pela propagação das abominações ele a tornará desolada, até que a consumação, e o que está determinado, seja derramado sobre a desolada (o desolado)”, não importa a tradução, a palavra em hebraico é a mesma escrita em Rt 2: 12 (asas), Rt 3: 9 (capa); 1 Sm 24: 5 (orla do manto), a saber, kanaph (כָּנָף). A palavra kanaph – Strong #3671 – tem vários significados como: capa, manto, asa ou asas, alado (pássaro), extremidade (de uma ave ou um exército), borda, canto (da veste ou de uma roupa de cama), camisa, bainha (de roupa) aba, ala, um pináculo, cobertura, proteção.

Da mesma forma que Antíoco IV Epifânio instalou a estátua de Zeus no templo para ser adorado, Tito realizou algo semelhante. Alguns estudiosos relacionam a expressão “sobre a asa das abominações virá o assolador” ou “numa ala do templo será colocado o sacrilégio terrível” com as insígnias romanas (águias) trazidas à porta leste do templo, e águias (aves) sendo sacrificadas na muralha sul pelos seus soldados.

Em relação ao Anticristo escatológico, alguns dispensacionalistas (Pré-milenismo dispensacionalista) sugerem um ídolo colocado em uma ‘asa’ ou ‘ala’ do novo templo judaico (3º templo em Jerusalém) onde ele exigirá adoração, estabelecendo o culto a si mesmo. Mas nem Jesus, nem as cartas do NT e nem os profetas sugeriram a reconstrução do templo em Jerusalém (3º templo). No documento original em hebraico, de acordo com a nota de rodapé da NVI, está escrito: “E aquele que causa desolação virá sobre o pináculo do templo abominável, até que o final que está determinado seja derramado sobre a cidade assolada”, o que pode sugerir que o próprio Anticristo construirá um templo abominável onde ele possa ser adorado.

Se pensarmos que ‘asas’ neste texto tem um sentido de ‘proteção’, nós até podemos imaginar (no sentido espiritual) que a frase: ‘sobre a asa das abominações virá o assolador’ significa que o Anticristo virá cobrindo, protegendo e permitindo todo tipo de abominação que possa ser colocada no templo do Senhor (quer dizer: em lugar do culto verdadeiro a Deus dentro de cada coração dos que não têm aliança verdadeira com Cristo, ou seja, a igreja não selada com Seu sangue), pois ele também estará debaixo da cobertura do ‘senhor das abominações’ que é Satanás; tudo isso por permissão de Deus, até que o Seu Santo projeto esteja cumprido.

Por causa das abominações cometidas pelas pessoas profanas contra o Santo, o Senhor não só destruirá a cidade santa, como permitirá que a sua desolação continue até o tempo determinado, quando o poder do mundo for julgado e o domínio for dado aos santos do Altíssimo (Dn 7: 26-27). A palavra ‘desolação’ significa: um estado de completo vazio ou destruição. Ele destruirá o Anticristo e seus seguidores também. Essa é outra forma de descrever a cena da vinda de Jesus e Seu julgamento sobre os agentes do mal (Ap 19: 11-21).

Mesmo que o espírito do Anticristo já esteja entre nós (significando: a idéia, a força predominante, a índole, a tendência, o pensamento contrário a Cristo), o Anticristo só será conhecido em forma de um homem na segunda metade da Grande Tribulação, quando ele mostrará seu verdadeiro caráter:

• Dn 9: 27: “Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele” [ou: “E numa ala do templo será colocado o sacrilégio terrível, até que chegue sobre ele e o fim que lhe está decretado”; ou ainda: “E aquele que causa desolação virá sobre o pináculo do templo abominável, até que o final que está determinado seja derramado sobre a cidade assolada”].

• 1 Jo 2: 22-23: “Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Este é o anticristo, o que nega o Pai e o Filho”.

• 1 Jo 4: 2-4: “Nisto reconheceis o Espírito de Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo. Filhinhos, vós sois de Deus e tendes vencido os falsos profetas, porque maior é aquele que está em vós do que aquele que está no mundo”.

• 2 Ts 2: 3: “Ninguém, de nenhum modo, vos engane, porque isto [ele se refere à segunda vinda de Cristo] não acontecerá sem que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniqüidade, o filho da perdição [‘filho do pecado’, ou ainda ‘perdição’, em grego: apoleias = ruína ou perda física ou espiritual, danação (condenação ao inferno), destruição, morte, perdição, perecer, caminho pernicioso, desperdício, devastação]”.

• 2 Ts 2: 6-12: “E, agora, sabeis o que o detém [a lei, por isso ele vai aparecer num tempo em que não há mais lei (anomia = falta de lei, desrespeito ou violação da lei)], para que ele seja revelado somente em ocasião própria. Com efeito, o mistério da iniqüidade já opera e aguarda somente que seja afastado aquele que agora o detém [quem faz a lei acontecer, ou seja, o governo institucionalizado. Por isso, ele surgirá quando não houver lei, quando houver confusão política e social e apostasia religiosa]; então, será, de fato, revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e o destruirá pela manifestação de sua vinda. Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder (‘Poder’, em Grego, neste texto: dunamis ou dunameiδυναμει – Strong #g1411 = habilidade, poder para gerar milagres), e sinais (Grego: semeion = milagre, sinal, maravilha, símbolo, prova), e prodígios (Grego: teras ou terata ou terasin = de afinidade incerta, um prodígio ou presságio, maravilha, um sinal, um símbolo, uma prova) da mentira, e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos. É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça [Deus permite que sejam enganados pelo inimigo, pois não crêem na Sua verdade]”.

Visões e profecias do apóstolo João no livro de Apocalipse

I) A besta que emerge do mar

A besta que emerge do mar (Ap 13) é o Anticristo, que exercerá a função de rei ou governante. Ele irá governar o mundo na segunda metade da Grande Tribulação. O espírito do anticristo significa um sistema de governo, impérios, reis, um estado totalitário oposto à obra de Deus, como foi o poderoso Império Romano, pois o mar representa o mundo, as nações incrédulas:

Ap 13: 1-3: “Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças e, sobre os chifres, dez diademas e, sobre as cabeças, nomes de blasfêmia. A besta que vi era semelhante a leopardo, com pés como de urso e boca como de leão. E deu-lhe o dragão o seu poder, o seu trono e grande autoridade. Então, vi uma de suas cabeças como golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta”.

O animal visto por João corresponde ao quarto animal visto por Daniel (Dn 7: 7), onde os dez chifres são dez reis que sairão desse reino (se referindo a Roma – na visão de Daniel e de João) e representam a última forma de poder mundial anticristão, representado pelos incrédulos, um império de dez reis confederados abrangendo a esfera de autoridade da Roma Antiga. Ap 13: 4-10 se refere diretamente ao imperador, que é a Besta: “e adoraram o dragão porque deu a sua autoridade à besta; também adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem pode pelejar contra ela? Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias e autoridade para agir quarenta e dois meses [3 ½ anos]; e abriu a boca em blasfêmias contra Deus, para lhe difamar o nome e difamar o tabernáculo, a saber, os que habitam no céu. Foi-lhe dado, também, que pelejasse contra os santos e os vencesse. Deu-se-lhe ainda autoridade sobre cada tribo, povo, língua e nação; e adorá-la-ão todos os que habitam sobre a terra, aqueles cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida do Cordeiro (Ap 13: 8; Ap 17: 8; Ap 20: 15; Ap 21: 27) que foi morto desde a fundação do mundo. Se alguém tem ouvidos, ouça. Se alguém leva para cativeiro, para cativeiro vai. Se alguém matar à espada, necessário é que seja morto à espada. Aqui está a perseverança e a fidelidade dos santos”.

O culto imperial, na província da Ásia Menor evidentemente sugeriu algumas de suas características a João.

Portanto, para a época de João, a besta que emerge do mar significa um imperador do poderoso Império Romano. O mar representa o mundo, as nações incrédulas: Ap 17: 15: “Falou-me ainda: As águas que viste, onde a meretriz [a cidade de Roma; a igreja apóstata, prostituída com as abominações mundanas] está assentada, são povos, multidões, nações e línguas”. O termo “besta” vem do grego “thêrion” (= animal perigoso), e é representado por um grande e feroz animal que, dentro do simbolismo bíblico, representa um poderoso reino, um grande império.

Ap 13: 1-2: “Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças, e sobre os chifres, dez diademas e, sobre as cabeças, nomes de blasfêmia. A besta que vi era semelhante a leopardo, com pés como de urso e boca como de leão. E deu-lhe o dragão o seu poder, o seu trono e grande autoridade”.

Aqui João descreve a besta: semelhante a leopardo, com pés como de urso e boca como de leão. Ela também tinha dez chifres e sete cabeças e, sobre os chifres, dez diademas (NVI, ‘coroas, uma sobre cada chifre’) e, sobre as cabeças, nomes de blasfêmia (cf. Dn 7: 8; 11; 20; 24). Vamos nos lembrar da aparência dos animais vistos por Daniel (Dn 7: 1-28): leão com asas de águia nas costas (Dn 7: 4 = simbolizava a Babilônia); urso com três costelas na boca (simbolizava os reinos da Média e da Pérsia. As três costelas se referem ao Egito, Babilônia e Lídia, conquistados pelo Império Medo-Persa. Eles eram chamados de ‘costelas’ porque o fortaleceram; e ‘entre os dentes’ porque foram moídos, triturados pelos Medos e Persas); leopardo com quatro asas de ave costas e quatro cabeças (Simboliza a Grécia); e o quarto animal com aparência espantosa e terrível, com grandes dentes de ferro, extremamente forte (Dn 7: 7), devorando tudo ao seu redor e portando em sua cabeça dez chifres (Dn 7: 7; Dn 7: 19; Dn 7: 24 = Roma). Seus chifres são emprestados da quarta fera do livro de Daniel (Dn 7: 7); suas sete cabeças indicam que sua autoridade derivará do dragão (Ap 12: 3; Ap 12: 17). Mais tarde, nós veremos como João interpreta tudo isso.


Animais vistos por Daniel
Os animais vistos por Daniel (Dn 7: 1-28)


Os três animais: o leopardo, o urso e o leão (encontrados em Dn 7: 4-6 como símbolos dos impérios que precederam Roma) infundiram todas as suas características nas qualidades do Império Romano: a rapidez de conquista dos macedônios (gregos), a força e a tenacidade (= afinco, constância, obstinação) de propósito dos persas e a voracidade babilônica. Após a sua queda, o Império Romano se transformou em reinos separados, cessando a forma imperial de governo. Mesmo assim, ele continuou a existir. A cabeça golpeada de morte simboliza a falta de um imperador para governá-lo. A profecia de Ap 13: 3 simboliza restauração da forma imperial de governo; mais do que um império confederado, a cabeça cuja ferida mortal foi curada significa que existe um imperador novamente (a Besta), portanto, o império foi restaurado.

Vários personagens na História foram considerados o Anticristo: para Daniel, ele foi personificado na pessoa de Antíoco IV Epifânio; Tito Vespasiano foi outro imperador considerado uma figura do anticristo escatológico, pois destruiu Jerusalém e o Templo em 70 DC de forma bastante violenta e perseguiu os cristãos e os judeus. Para João, o Anticristo era Nero, pois supostamente incendiou Roma durante a noite de 18 para 19 de julho de 64 DC, sendo que o incêndio durou 5 a 6 dias, e depois culpou os cristãos. As opiniões divergem quanto a esse evento entre os escritores antigos: Suetônio, Dião Cássio, Tácito e outros. Depois da morte de Nero, surgiu uma lenda de que ele ressuscitaria. Domiciano foi considerado o segundo Nero (Entre muitas atrocidades que cometeu, esse imperador exilou João na ilha de Patmos). No séc. XVI, o Anticristo era a figura do Papa, segundo o reformista João Calvino. A frase que está escrita em letras latinas na mitra do Papa, ‘Vicarivs Filii Dei’, i.e., ‘substituto do Filho de Deus’ inspiraram essa visão entre os reformadores da igreja. Hitler e muitos outros governantes na Era Contemporânea também foram considerados ‘anticristos’, pois infundiram terror e morte, perseguiram a igreja e tentaram destruir o Cristianismo. Mas o Anticristo se levantará mesmo no final dos tempos, na época da segunda vinda de Jesus.

Assim, o Anticristo (A Besta que emerge do mar) exercerá a função de rei ou governante. Ele irá governar o mundo na segunda metade da Grande Tribulação. Na 1ª metade, o Anticristo se mostrará favorável, tentando unificar países e pacificar o mundo e prometerá solução para os problemas mundiais, mas na 2ª metade ele revelará seu verdadeiro caráter. Ele vai unir todas as nações sob o seu poder econômico, político e militar contra a verdadeira Igreja de Cristo, mas o Messias, Jesus, vai derrotá-lo:

• Ap 16: 14b; 16; 17; 21: “... e se dirigem [rãs = demônios] aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a peleja do grande Dia do Deus Todo-Poderoso... Então, os ajuntaram no lugar que em hebraico se chama Armagedom... Então, derramou o sétimo anjo a sua taça pelo ar, e saiu grande voz do santuário, do lado do trono, dizendo: Feito está!... também desabou do céu sobre os homens grande saraivada, com pedras que pesavam cerca de um talento; e, por causa do flagelo da chuva de pedras, os homens blasfemaram de Deus, porquanto o seu flagelo era sobremodo grande”.

Armagedom” é a palavra grega usada no Textus Receptus; em Latim, se fala ‘Harmagedon’; e em Hebraico, o nome é ‘Megiddo’ ou ‘Esdrelon’). Megido = lugar de tropas; Armagedom = monte de Megido, monte do lugar das multidões. A batalha de Armagedom – Não são quatro batalhas, mas uma só descrita de várias maneiras: Ap 16: 14; 16; Ap 17: 14; Ap 19: 19-21; Ap 20: 7-10.

• Ap 17: 14: “Pelejarão eles [a besta e os reis da terra que ela convocou, além do falso profeta] contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os chamados, eleitos e fiéis que se acham com ele”.

• Ap 19: 17-21: “Então, vi um anjo posto em pé no sol, e clamou com grande voz, falando a todas as aves que voam pelo meio do céu: Vinde, reuni-vos para a grande ceia de Deus, para que comais carnes de reis, carnes de comandantes, carnes de poderosos, carnes de cavalos e seus cavaleiros, carnes de todos, quer livres, quer escravos, tanto pequenos como grandes. E vi a besta e os reis da terra, com os seus exércitos, congregados para pelejarem contra aquele que estava montado no cavalo e contra o seu exército. Mas a besta foi aprisionada, e com ela o falso profeta que, com os sinais feitos diante dela, seduziu aqueles que receberam a marca da besta e eram os adoradores da sua imagem. Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre. Os restantes foram mortos com a espada que saía da boca daquele que estava montado no cavalo. E todas as aves se fartaram das suas carnes.”

• Ap 20: 7-10: “Quando, porém, se completarem os mil anos, Satanás será solto da sua prisão e sairá a seduzir as nações que há nos quatro cantos da terra, Gogue e Magogue, a fim de reuni-las para a peleja. O número dessas é como a areia do mar. Marcharam, então, pela superfície da terra e sitiaram o acampamento dos santos e a cidade querida; desceu, porém, fogo do céu e os consumiu. O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos”.

II) A besta que emerge da terra

A besta que emerge da terra (Ap 13) representa a religião apóstata, a saber, o falso profeta:

Ap 13: 11-18: “11 Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas falava como dragão. 12 Exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença. Faz com que a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada. 13 Também opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à terra, diante dos homens. 14 Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à besta, àquela que, ferida à espada, sobreviveu; e lhe foi dado comunicar fôlego [vida] à imagem da besta, para que não só a imagem falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta. A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome. Aqui está a sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Ora, esse número é seiscentos e sessenta e seis”.

O Falso Profeta (A besta que emerge da terra) representa a religião apóstata. Enquanto que os chifres da besta que emerge do mar (Ap 13: 1) são políticos (reis), atuando no mundo físico, o poder do falso profeta (A besta que emerge da terra) é manso, atua no âmbito espiritual, utilizando-se de piedade e persuasão, enganando as pessoas. Os dois chifres representam a estrutura de poder religioso que começou em Israel com o sacerdote e com o profeta; neste caso, a falsa profecia e o falso sacerdócio, por isso, Jesus falou sobre os falsos profetas. Pretendendo ser um cordeiro, o Falso Profeta é, na verdade, um lobo em pele de ovelha. Usará de prodígios de mentira (2 Ts 2: 9), virá a enganar as pessoas fazendo-os acreditar na besta (a besta do mar ou Anticristo: Ap 13: 1-10) como se ela fosse o Messias prometido. Israel, por exemplo, sempre viu o Messias como um líder físico, material, se manifestando com poder no mundo natural, um rei (semelhante a Davi, por exemplo) que um dia virá livrá-los do poder opressor dos gentios. Ele vai unir todas as religiões sob uma mesma doutrina (sincretismo religioso), exigindo que o Anticristo seja adorado como um deus. Já podemos ver hoje esse sincretismo religioso citado acima nas seitas ocultistas misturadas com as doutrinas da igreja, nas seitas orientais se infiltrando no Ocidente, a influência cada dia maior do satanismo, das seitas que se valem da invocação de mortos e no culto dado ao homem (humanismo). O humanismo é uma perspectiva ou sistema de pensamento que atribui importância primordial aos assuntos humanos acima dos assuntos divinos ou sobrenaturais. As crenças humanistas enfatizam o valor potencial e a bondade dos seres humanos, enfatizam as necessidades humanas comuns e buscam apenas formas racionais de resolver os problemas humanos. O Falso Profeta vai fazer sinais e prodígios no engano e mentira:

• 2 Ts 2: 9: “Ora, o aparecimento do iníquo [aqui se refere ao Anticristo, o poder anticristão do mundo, aliado ao falso profeta, o poder anticristão do sistema religioso] é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder (Grego: dunamis ou dunamei – δυναμει – Strong #g1411 = habilidade, poder para gerar milagres), e sinais (Grego: semeion = milagre, sinal, maravilha, símbolo, prova), e prodígios da mentira (prodígio, em grego: teras ou terata ou terasin = de afinidade incerta, um prodígio ou presságio, maravilha, um sinal, um símbolo, uma prova)”.
• Ap 13: 12-15: “Exerce toda a autoridade da primeira besta na sua presença. Faz com que a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada. Também opera grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à terra, diante dos homens. Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais que lhe foi dado executar diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a terra que façam uma imagem à besta, àquela que, ferida à espada, sobreviveu; e lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a imagem falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta”.
• Ap 19: 20: “Mas a besta foi aprisionada, e com ela o falso profeta que, com os sinais feitos diante dela, seduziu aqueles que receberam a marca da besta e eram os adoradores da sua imagem. Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre”.

Mas o falso profeta só vai enganar aqueles que não aceitaram e nem vão aceitar Jesus como o Messias e Filho de Deus (Ap 13: 8, os que não estão inscritos no Livro da Vida do Cordeiro), pois a Igreja verdadeira, fiel a Cristo, aquelas pessoas que O aceitarem e O reconhecerem como Senhor e Salvador resistirão ao falso profeta e à Besta, não apostatarão.

Outra coisa que acho importante aqui é a palavra grega usada para ‘terra’ (5 vezes neste trecho de Ap 13: 11-18): ‘ge’ (γῆ, Strong #1093), que significa: a forma contraída de uma palavra primitiva com os significados de: solo, conseqüentemente, uma região, ou a parte sólida ou a totalidade do globo terrestre (incluindo seus ocupantes): a terra, solo, terra, região, país, habitantes de uma região, país, terra, chão, terra, mundo. Por conseguinte, nós podemos dizer aqui que se trata do planeta Terra, de maneira completa; as bestas terão domínio universal:

• Ap 3: 10: “Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra”.

• Lc 21: 35: “Pois há de sobrevir a todos os que vivem sobre a face de toda a terra.”

III) A besta que emerge do abismo

• Ap 11: 7: “Quando tiverem [se refere às duas testemunhas mártires], então, concluído o testemunho que devem dar, a besta que surge do abismo pelejará contra elas, e as vencerá, e matará”.

A besta que surge do abismo (cf. Dn 7: 3; 20-21; 25; Ap 13: 5-7; Ap 17: 8), se a compararmos com essas referências, é o próprio Anticristo (A besta que emerge do mar). O fato de estar escrito ‘abismo’ sugere que seu poder é satânico. Além do que, as referências estão colocadas em seções distintas do livro de Apocalipse:
Ap 11: 7 (3ª seção – Capítulos 8–11)
Ap 13: 1; 5-7 (4ª seção – Capítulos 12–14)
Ap 17: 3; 8 (6ª seção – Capítulos 17–19)

Abismo = os gregos empregavam essa palavra em referência ao submundo dos espíritos, um imenso buraco sem fundo nas profundezas da terra, onde os espíritos maus ficavam presos até o castigo final. A palavra usada para ‘abismo’ é ‘abussos’ ou ‘abussou’, e transmite a idéia de um lugar tão profundo que chega a ser insondável (cf. Lc 8: 31). ‘abussos’ ou ‘abussou’ = sem fundo, incomensuravelmente profundo, infernal, abismo, profundo, poço sem fundo. Eles também usam a palavra ‘phrear’ = poço, cova, um buraco no chão (cavado para obter ou conter água ou outros propósitos), i.e., uma cisterna ou poço; figuradamente, um abismo (como uma prisão), poço, cova, buraco.

A palavra hebraica para abismo pode ser escrita como thowm ou thom ou tehôm, significando um abismo (como uma massa de afluência de água), especialmente a afluência de água profunda (do mar principal ou o abastecimento de água subterrânea), lugar profundo, profundidade.

Em Gn 1: 2, a palavra hebraica tehôm (lugar profundo) foi traduzida como abismo: “A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas”, com referência à idéia primitiva de uma vasta massa de água sobre a qual flutuaria o mundo ou com referência ao mundo inferior (habitação de demônios, o lugar dos mortos, o lugar de tormento – Sheol = inferno).

• Ap 9: 1-2: “O quinto anjo tocou a trombeta, e vi uma estrela [um anjo] caída do céu na terra. E foi-lhe dada a chave do poço do abismo. Ela abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço como fumaça de grande fornalha, e, com a fumaceira saída do poço, escureceu-se o sol e o ar”.

• Ap 9: 11: “e tinham sobre eles [os gafanhotos, personificação dos demônios liberados para atormentar os homens], como seu rei, o anjo do abismo, cujo nome em hebraico é Abadom, e em grego, Apoliom”.

Abadom ou Apoliom é o anjo satânico do abismo, cujo nome, em grego, significa ‘Destruidor’ (figura de Satanás). Em hebraico, ’abhaddôn significa ‘Destruidor, i.e., Anjo Destruidor’ ou ‘lugar de destruição’ e é regularmente traduzido como tal em certas versões no AT para denominar a região dos mortos. Esta região era considerada pelos antigos judeus como “inferno”, seol em hebraico, hades e geenna em grego.

Abadom (o ‘Destruidor’, de Ap 9: 11) pode ser o demônio que foi liberado para matar todos os primogênitos do Egito, embora a ARA seja a única versão mais conhecida que usa letra maiúscula em Êx 12: 23 (o ‘Destruidor’), sugerindo um nome próprio, um ‘Anjo Destruidor’. Nas demais versões está com letra minúscula, em Português e em inglês, sugerindo um ação destruidora resultante da ação do próprio Deus (shachath; Strong #7843: arruinar; destruir, corromper, perecer, perder, estragar):

• Êx 12: 12-13: “Porque, naquela noite, passarei pela terra do Egito e ferirei na terra do Egito todos os primogênitos, desde os homens até aos animais; executarei juízo sobre todos os deuses do Egito. Eu sou o Senhor. O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito”.
• Sl 78: 49: “Lançou contra eles o furor da sua ira: cólera, indignação e calamidade, legião de anjos portadores de males (se referia ao Destruidor e seus demônios)”.
• Êx 12: 23: “Porque o Senhor passará para ferir os egípcios; quando vir, porém, o sangue na verga da porta e em ambas as ombreiras, passará o Senhor aquela porta e em ambas as ombreiras, passará o Senhor aquela porta e não permitirá ao Destruidor que entre em vossas casas, para vos ferir”.

A palavra abismo ainda pode ser encontrada em:
• Ap 20: 1-3: “Então, vi descer do céu um anjo; tinha na mão a chave do abismo [grego: abussou] e uma grande corrente. Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos; lançou-o no abismo [grego: abussou], fechou-o e pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações até se completarem os mil anos. Depois disto, é necessário que ele seja solto pouco tempo”.

IV) A Grande Meretriz

• Ap 17: 1-18: “1 Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas, 2 com quem se prostituíram os reis da terra; e, com o vinho de sua devassidão, foi que se embebedaram os que habitam na terra. 3 Transportou-me o anjo, em espírito, a um deserto e vi uma mulher montada numa besta escarlate, besta repleta de nomes de blasfêmia, com sete cabeças e dez chifres. 4 Achava-se a mulher vestida de púrpura e de escarlata, adornada de ouro, de pedras preciosas e de pérolas, tendo na mão um cálice de ouro transbordante de abominações e com as imundícias da sua prostituição. 5 Na sua fronte, achava-se escrito um nome, um mistério: BABILÔNIA, A GRANDE, A MÃE DAS MERETRIZES E DAS ABOMINAÇÕES DA TERRA. Então, vi a mulher embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus; e, quando a vi, admirei-me com grande espanto. 7 O anjo, porém, me disse: Por que te admiraste? Dir-te-ei o mistério da mulher e da besta que tem as sete cabeças e os dez chifres e que leva a mulher: 8 a besta que viste, era e não é, está para emergir do abismo e caminha para a destruição. E aqueles que habitam sobre a terra, cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida desde a fundação do mundo, se admirarão, vendo a besta que era e não é, mas aparecerá. 9 Aqui está o sentido, que tem sabedoria: as sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada. São também sete reis, 10 dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou; e, quando chegar, tem de durar pouco. 11 E a besta, que era e não é, também é ele, o oitavo rei, e procede dos sete, e caminha para a destruição. 12 Os dez chifres que viste são dez reis, os quais ainda não receberam reino, mas recebem autoridade como reis, com a besta, durante uma hora. 13 Têm estes um só pensamento e oferecem à besta o poder e a autoridade que possuem. 14 Pelejarão eles contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os chamados, eleitos e fiéis que se acham com ele. 15 Falou-me ainda: As águas que viste, onde a meretriz está assentada, são povos, multidões, nações e línguas. 16 Os dez chifres que viste e a besta, esses odiarão a meretriz, e a farão devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo. 17 Porque em seu coração incutiu Deus que realizem o seu pensamento, o executem à uma e dêem à besta o reino que possuem, até que se cumpram as palavras de Deus. 18 A mulher que viste é a grande cidade que domina sobre os reis da terra”.

O livro de Apocalipse foi escrito por João, o apóstolo de Jesus (90–95 DC), às províncias da Ásia Menor (atual Turquia), durante o governo do imperador Domiciano (81-96 DC), enquanto ele estava prisioneiro na ilha de Patmos (Ap 1: 9). Morreu de morte natural, em Éfeso, 100 ou 103 DC, quando tinha 94 anos, após ter sido solto da prisão no governo de Nerva, imperador romano que sucedeu Domiciano.

• Ap 17: 1-4: “Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas, com quem se prostituíram os reis da terra; e, com o vinho de sua devassidão, foi que se embebedaram os que habitam na terra. Transportou-me o anjo, em espírito, a um deserto e vi uma mulher montada numa besta escarlate, besta repleta de nomes de blasfêmia, com sete cabeças e dez chifres. Achava-se a mulher vestida de púrpura e de escarlata, adornada de ouro, de pedras preciosas e de pérolas, tendo na mão um cálice de ouro transbordante de abominações e com as imundícias da sua prostituição”.

A mulher identificada como meretriz é vista no deserto, sentada sobre uma besta de cor escarlate. A descrição da besta de cor escarlate a associa claramente com a besta do mar, o Anticristo (ou a besta do abismo – cf. Dn 7: 3; 20-21; 25; Ap 11: 7; Ap 13: 1; 5-7; Ap 17: 3; 8), enquanto eles perseguem ferozmente o povo de Deus (v. 13-14). Como o dragão, esta besta também tem a cor vermelha (Ap 12: 3).
Ela está assentada sobre ‘muitas águas’, o que quer dizer que essa religião apóstata e misturada com o sistema profano anticristão do mundo tem uma influência mundial (cf. v. 15: “Falou-me ainda: As águas que viste, onde a meretriz está assentada, são povos, multidões, nações e línguas”).

“Achava-se a mulher vestida de púrpura e de escarlata, adornada de ouro, de pedras preciosas e de pérolas, tendo na mão um cálice de ouro transbordante de abominações e com as imundícias da sua prostituição” – isso mostra sua riqueza, ostentação, tentando impressionar o mundo e seduzindo as pessoas.

• Ap 17: 5: “Na sua fronte, achava-se escrito um nome, um mistério: BABILÔNIA, A GRANDE, A MÃE DAS MERETRIZES E DAS ABOMINAÇÕES DA TERRA”. Isso é uma comparação interessante com o costume da Roma antiga, onde as prostitutas carregavam seus nomes na fronte. A religião falsa, ou seja, a adoração a outros deuses, que não apenas ao único e verdadeiro Deus, é chamada por Ele de prostituição espiritual. A palavra ‘mistério’ está explicada no v. 7-8.

• Ap 17: 6: “Então, vi a mulher embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus; e, quando a vi, admirei-me com grande espanto”.

A mulher chamada de Babilônia está embriagada com o sangue dos santos e dos mártires cristãos (Mt 24: 21), assim como pelo vinho da sua prostituição (Ap 17: 2). Tanto a violência quanto a prostituição são repugnantes ao Senhor, pois perseguem o povo de Deus. Nesse versículo o ódio da mulher pelo cristianismo fica claro. Estar embriagada com o sangue dos santos indica uma época de um massacre fora do comum. O Império Romano prestava culto aos imperadores. Os cristãos se opuseram; então, veio o martírio. Roma Papal sob o regime da inquisição condenou milhões de fiéis à morte. No século XX, as guerras mundiais, com o Holocausto, conseqüentemente, ‘a cortina de ferro’ e ‘a cortina de bambu’ e os países islâmicos com suas perseguições ao cristianismo levaram milhões de fiéis a Cristo à morte.

• Ap 17: 7-8: “O anjo, porém, me disse: Por que te admiraste? Dir-te-ei o mistério da mulher e da besta que tem as sete cabeças e os dez chifres e que leva a mulher: A besta que viste, era e não é, está para emergir do abismo e caminha para a destruição. E aqueles que habitam sobre a terra, cujos nomes não foram escritos no Livro da Vida desde a fundação do mundo, se admirarão, vendo a besta que era e não é, mas aparecerá”.

Para a época de João, a besta que emerge do mar, ou do abismo (é a mesma entidade), significa o poderoso Império Romano; para as demais épocas, foi representado por muitos impérios pagãos. No caso do Anticristo escatológico, um estado totalitário oposto à obra de Deus. Isso significa que a visão deste texto não é apenas para os dias de João, nem apenas para a Idade Média, por exemplo, mas para toda a história da igreja e para os tempos do fim. Os imperadores romanos incorporaram, por assim dizer, o espírito do anticristo, pois se levantaram contra Deus e Sua doutrina trazida por Jesus. Mas ainda não se personificou no Anticristo escatológico, que trará a vitória final de Cristo sobre o mal. O Anticristo só terá poder sobre aqueles que não têm seus nomes escritos no Livro da Vida do Cordeiro.

• Ap 17: 9-10 – “Aqui está o sentido, que tem sabedoria: as sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada. São também sete reis, dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou; e, quando chegar, tem de durar pouco”.

Como vimos anteriormente, ‘bestas’ (animais de aparência terrível) são símbolos de impérios. O anjo lhe disse que as sete cabeças são sete montes e também sete reis.
• ‘Montes’ pode ser uma referência às sete colinas ao longo do rio Tibre, uma designação bem conhecida da cidade de Roma (“nos quais a mulher está sentada”), influenciando povos, multidões, nações e línguas, mas pode se referir também aos sucessivos impérios mundiais, já que montes são símbolos de reinos e impérios da terra (Sl 30: 7; Jr 51: 25; Dn 2: 35; 44-45). O Anticristo se incorporou nos imperadores romanos, mas também pode se referir aos impérios que já passaram (antes do império Romano) e também caíram, e aos que ainda vêm.
• “Caíram cinco” – além dos sete montes se referirem às sete colinas de Roma, sobre a qual a religião corrompida está sentada, as sete cabeças, os sete montes, simbolizam os grandes impérios da História que já passaram: Egito, Assíria, Babilônia, Pérsia e Grécia.
• “Um existe” significa o Império Romano, no qual João estava inserido e que duraria materialmente até o século XV (1453), mas continuaria a exercer sua influência espiritual.
• “E o outro ainda não chegou; e, quando chegar, tem de durar pouco” – o sétimo rei ou reino. Isso está ligado aos próximos versículos (v. 11-12), sobre os dez reis:

• Ap 17: 11-12: “E a besta, que era e não é, também é ele, o oitavo rei, e procede dos sete, e caminha para a destruição. Os dez chifres que viste são dez reis, os quais ainda não receberam reino, mas recebem autoridade como reis, com a besta, durante uma hora”.

Significa que o espírito anticristão se materializou em vários governantes ao longo da História, mas ainda não é o personagem real, o 8º rei, que desencadeará a volta de Cristo e a restauração de todas as coisas, ou seja, o Anticristo escatológico. Os dez reis (os dez reis contemporâneos) serão os reinos do mundo (‘o sétimo rei’ ou ‘o sétimo reino’) que darão suporte ao Anticristo escatológico, mas terão pouco tempo de duração (‘Uma hora’) e deles surgirá o Anticristo (‘o 8º rei’), que reivindicará honra e soberania total. Eles todos se reunirão contra o Cordeiro para o Armagedom (v. 14), mas serão destruídos, da mesma forma que o Anticristo será morto pela espada que sai da boca de Jesus (“e caminha para a destruição”). Podemos pensar que o sétimo império mundial é uma espécie de império romano revitalizado sobre o qual o Anticristo estabelece a autoridade imperial de um ditador, e se tornará o 8º e último rei exigindo autoridade universal.

• Ap 17: 13-14: “Têm estes um só pensamento e oferecem à besta o poder e a autoridade que possuem. Pelejarão eles contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os chamados, eleitos e fiéis que se acham com ele”.

Os dez reis que ainda não receberam a coroa são os dez reis contemporâneos. Quando João escreveu sobre a besta do mar em Ap 13: 3 (“Então, vi uma de suas cabeças como golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta”), ele estava dizendo que o poderoso Império Romano (a besta que emerge do mar, na figura de um líder e um império confederado) mesmo depois de dividido e fragmentado entre muitas nações e sem um único imperador para governar (‘a cabeça golpeada de morte’), no futuro encontrará restauração da sua forma imperial de governo, pois terá um imperador novamente (a Besta).
Esses reis receberão o poder por pouco tempo (‘durante uma hora’) e darão suporte ao Anticristo. Vão se unir (Batalha do Armagedom) para pelejar contra o Cordeiro, mas não prevalecerão. Isso significa o mundo em colapso e derrotado na 2ª vinda de Cristo. A igreja acompanha a vitória do Cordeiro (v. 14). A igreja são os eleitos de Deus, os fiéis a Ele, os que crêem; que buscam santidade e a vida com Deus; portanto, são irrepreensíveis.

• Ap 17: 15: “Falou-me ainda: As águas que viste, onde a meretriz está assentada, são povos, multidões, nações e línguas”.

Da mesma forma que João usa duas figuras de linguagem para descrever a igreja de Cristo (‘noiva’ e cidade, a ‘nova Jerusalém’), ele também usa duas imagens para descrever a igreja apóstata, corrompida: ‘Babilônia’ e ‘meretriz’. Aqui fica claro que a meretriz é conhecida pela sua influência mundial (“assentada sobre muitas águas”, i.e., nações, povos, multidões e línguas); portanto, ela age no mundo e usa a cultura do mundo; é o sistema eclesiástico de Satanás que fala em nome de Deus, está misturada num sincretismo religioso e político que leva pessoas à apostasia e à falsa salvação. Mas ela não é neutra, ela se opõe a Deus, ela é anticristã. Roma tolerava todos os deuses das nações, mas não tolerou o Cristianismo verdadeiro; por isso perseguiu os cristãos. Prosseguindo na sua descrição da meretriz, João mostra que ela é conhecida também pela riqueza, vaidade, pompa, arrogância, prostituição espiritual, violência, crueldade, sede de conquista, ganância e ostentação de poder e uma ambição sem limites, querendo atingir as multidões e impressionar o mundo pela sua aparência (v. 4-5). Nesse ponto, a cidade de Roma no tempo dos imperadores ou a cidade de Babilônia de Nabucodonosor não eram diferentes da cidade de Nínive do tempo dos assírios, descrita por Sofonias e Naum: uma cidade arrogante e muito confiante em si mesma, sanguinária (pois vivia da guerra e de seus despojos), conhecida por sua crueldade, cheia de mentiras e de roubo (Na 3: 1) e de prostituição espiritual pela infinidade de deuses com os quais ela corrompia as outras nações; ‘mestra de feitiçarias’, que desencaminhava muitos povos (Na 3: 4); cidade mercantilista (Na 3: 16), gananciosa e insaciável, que devorava o que via pela frente (Na 3: 17). Da mesma forma que a Babilônia, a cidade de Nínive tinha um grande suprimento de água e uma riqueza muito grande (Na 2: 2-4; 7-9).

• Ap 17: 16-17: “Os dez chifres que viste e a besta, esses odiarão a meretriz, e a farão devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo. Porque em seu coração incutiu Deus que realizem o seu pensamento, o executem à uma e dêem à besta o reino que possuem, até que se cumpram as palavras de Deus”.

Deus provocará uma guerra interna no reino da besta, ou seja, os reis se voltarão contra a meretriz (Ap 17: 16-17) porque Deus incutiu essa idéia nos pensamentos deles (v. 17), e eles irão destruí-la totalmente. O Anticristo, o homem da iniqüidade, cujo poder político sempre foi oposto a Deus ao longo dos séculos, e com maior intensidade no final dos tempos, usa a religião de acordo com suas conveniências, mas no fim se voltará contra a religião apóstata e a destruirá. As religiões que apóiam o Anticristo também vão ser destruídas por ele. Ele procurará uma única religião. Ele se posicionará como rei supremo e como um deus (no lugar do Deus verdadeiro – cf. Dn 11: 36; Mt 24: 15; 2 Ts 2: 4).

• Ap 17: 16: “Os dez chifres que viste e a besta, esses odiarão a meretriz, e a farão devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo” – Como essa descrição é parecida com a do juízo de Deus sobre a Babilônia (Ap 18: 8), parece que o Senhor usa os exércitos da besta como Seu instrumento de juízo sobre o reino do Anticristo (cap. 18) antes que eles mesmos sejam destruídos (Ap 19: 19-21). Como foi Deus mesmo que incutiu essa divisão, isso prova a Sua soberania. Ele nunca perdeu o controle sobre a História.

• Ap 17: 18: “A mulher que viste é a grande cidade que domina sobre os reis da terra”.
Como já expliquei acima, a mulher na visão de João (v. 1-6) é Roma, símbolo da grande cidade da Babilônia (Ap 16: 19) e também a antiga mãe das prostituições (Ap 17: 5). Dessa forma, a influência Satânica dessa cidade sobre os líderes mundiais continuou desde Babel, através da Babilônia até Roma (v. 9-10), sua clássica manifestação no primeiro século depois de Cristo.

A bíblia diz que no final, a vitória vai ser de Jesus:

Ap 20: 10; 14-15: “O diabo, o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se encontram não só a besta como também o falso profeta; e serão atormentados de dia e de noite, pelos séculos dos séculos... Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo”.

Conclusão

Anticristo ainda não é uma pessoa; é símbolo de um poder do mal contra tudo que simboliza Cristo (o Espírito de amor de Deus), e que nos dias de hoje se manifesta com um espírito contrário a Jesus (aqui, a palavra ‘espírito’ não se refere a uma entidade espiritual específica, mas significa: a idéia, a força predominante, a índole, a tendência, o pensamento), logicamente debaixo da atuação de Satanás e Principados e Potestades, usando o que está no mundo: a ciência, a tecnologia, o dinheiro, o conhecimento, a fama e governantes que exercem muita influência, e até a religião (líderes religiosos), levando grandes massas de pessoas ao engano, com novas doutrinas, falsos ensinos e falsas profecias; enfim, tudo que tenta mostrar que é mais forte do que o Deus verdadeiro e que se ergue como um deus no espírito e na vida das pessoas, afastando-as da verdade e da simplicidade de Jesus.

João também chamou essa força anticristã de Babilônia, não apenas se referindo à antiga cidade da Caldéia ou a Roma, como também ao sistema mundial confuso, perverso e profano, antagônico ao Reino de Deus, usando não apenas a religião (a igreja apóstata, prostituída com as abominações mundanas, isto é, o sistema religioso do Anticristo, que se iniciou com o Romanismo no NT), mas igualmente os poderes seculares (como o sistema monetário mundial, o comércio e a política) para oprimir e tentar roubar a fé na palavra de Deus pregada por Jesus.

O Anticristo (A besta que emerge do mar) será realmente manifesto (2 Ts 2: 3; 2 Ts 2: 7-12; Dn 9: 27; Dn 11: 31; Dn 12: 11) na pessoa de um líder político, um governante ímpio (Ap 13: 1-10 – simbolizando o Império romano) aliado a dez reis, e auxiliado por um líder religioso, o falso profeta (A besta que emerge da terra – Ap 13: 11-15), no período da Grande Tribulação (Dn 9: 27; Dn 12: 1-2; Mt 24: 15-31; Mc 13: 3-27; Lc 21: 5-28; Ap 7: 14). Na 1ª metade, o Anticristo se mostrará favorável às nações, mas na 2ª metade ele revelará seu verdadeiro caráter. Ele vai unir todas as nações sob o seu poder econômico, político e militar contra a verdadeira Igreja de Cristo, mas o Messias (Jesus) vai derrotá-lo: Ap 16: 14b; 16; 17; 21; Ap 17: 14; Ap 19: 17-21; Ap 20: 7-10.

O Falso Profeta (a Besta que emerge da terra) tem um poder manso, agindo no âmbito espiritual. Fará prodígios de mentira (2 Ts 2: 9), levando as pessoas de toda a Terra acreditarem na besta do mar (Anticristo: Ap 13: 1-10) como se ela fosse o Messias prometido. Mas o falso profeta não poderá enganar aqueles cujos nomes estão inscritos no Livro da Vida do Cordeiro, pois a Igreja verdadeira, fiel a Cristo, não apostatará da fé.

A besta do abismo (cf. Dn 7: 3; 20-21; 25; Ap 11: 7; Ap 13: 1; 5-7; Ap 17: 3; 8) é, na verdade, o próprio Anticristo (a besta que emerge do mar). Ao lado das bestas, a bíblia revela o gerador de tudo isso: Satanás, representado pela figura do dragão, mas todos eles serão derrotados por Jesus, que os lançará para dentro do lago de fogo e enxofre (Ap 20: 10; 14).

Quanto à identidade real dos futuros dez reis confederados nós ainda não temos certeza. Só se sabe que reis de várias nações se coligarão em Israel para a grande batalha do Armagedom, onde o Anticristo (o último poder anticristão) será derrotado na segunda vinda de Cristo (Ap 19.11-20), junto com a besta e o falso profeta. Esses reis são interpretados por alguns estudiosos como os povos bárbaros que ocuparam a Terra após a queda do Império Romano do Ocidente (476 DC): Alamanos (Alemanha); Francos (França); Burgúndios (Suíça); Anglo-Saxões (Inglaterra); Visigodos (Espanha); Suevos (Portugal); Lombardos (Rússia e divisões); Vândalos (África do Norte; Mediterrâneo); Hérulos (Itália); Ostrogodos (Áustria). Outros teólogos dizem que poderá ser uma coligação de nações do Ocidente; e outros, uma Europa unificada.

Este texto se encontra no 1º volume do livro:


livro evangélico: Deus está presente na História

Deus está presente na História vol. 1 (PDF)

Deus está presente na História vol. 2

Deus está presente na História vol. 3

God is present in History vol. 1 (PDF)

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Sugestão para download:


Lista dos imperadores romanos (PDF)

Lista dos imperadores romanos (PDF)

List of Roman Emperors (PDF)


Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti

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