As Guerras Judaico-Romanas durante os séculos I-II EC: a 1ª foi travada por Tito Vespasiano (a destruição do Templo de Jerusalém); a 2ª na Diáspora, e a 3ª liderada por Simão ben Kosba ou Bar Kokhba (Filho da Estrela).


As Guerras Judaico-Romanas



As Guerras Judaico-Romanas

Neste estudo nós vamos falar sobre as três guerras ou revoltas judaicas que aconteceram nos séculos I-II DC (EC), não apenas por uma insatisfação por parte dos judeus depois de séculos de opressão romana, mas como um cumprimento das profecias de Jesus, em especial a 1ª Guerra Judaico-Romana, que terminou com a destruição do Templo de Jerusalém por Tito. As duas outras que se seguiram também dizem respeito às Suas profecias em relação a muitos homens que viriam para libertar Israel, se dizendo o Messias. Seu povo nunca desistiu da esperança de um Libertador Davídico. A 1ª revolta judaica ocorreu no reinado de Vespasiano, da dinastia Flaviana, a 2ª e a 3ª ocorreram durante o reinado de dois imperadores da Dinastia Nerva-Antonina: Trajano e Adriano.

A Primeira Guerra Judaico-Romana

Um dos acontecimentos mais marcantes do governo de Vespasiano foi a primeira Guerra Judaico-Romana (66-73 DC, às vezes chamada de Grande Revolta Judaica, a primeira de três grandes rebeliões dos judeus da Judéia contra o Império Romano. Começou no ano 66 DC, inicialmente devido a tensões religiosas entre gregos e judeus com protestos contra taxações e ataques a cidadãos romanos. Depois, as legiões romanas sob o comando de Tito (Tito Flávio Vespasiano Augusto) sitiaram Jerusalém e destruíram o centro da resistência rebelde em 01 de agosto de 67 DC, culminando com a destruição do templo em algum momento de agosto de 70 DC, derrotando as restantes forças judaicas [3 ½ anos]. Existe uma referência a 30 de agosto de 70 DC [Bunson, Matthew (1995). A Dictionary of the Roman Empire. Oxford University Press. p. 212. ISBN 978-0-19-510233-8], mas talvez esteja um pouco desconectada do que os judeus chamam Tisha B’Av (9º dia do mês de ’Abh).

Houve uma diferença entre a atitude de Pompeu quando entrou em Jerusalém em 63 AC, anexando a província da Judéia à República Romana, e a atitude de Tito, em 70 DC. Pompeu entrou no Santo dos Santos com seus oficiais, o que era um grave insulto para os judeus. Entretanto, por respeito à santidade do templo, ordenou que nada fosse removido ou danificado. Pompeu considerou necessário, talvez, demonstrar seu poder ao entrar no templo, mas mostrou sua disposição de respeitar a fé judaica e deixar seu lugar sagrado inviolado, a não ser que os judeus o forçassem a destruí-lo.

Tito, ao contrário, cercou a cidade com três legiões (V Macedonica, XII Fulminata, XV Apollinaris) sobre o lado oeste e uma legião (X Fretensis) sobre o Monte das Oliveiras, a leste. Ele cortou os alimentos e a água à cidade; permitiu a entrada de alguns judeus para celebrar a Páscoa negando depois sua saída. Após tentativas frustradas de negociação entre judeus e romanos, Tito entrou com as legiões, destruindo a parte exterior das muralhas e crucificando os desertores judeus em torno delas. Os judeus já estavam se rendendo por causa da fome. Os romanos tiraram vantagem desta fragilidade, rompendo as partes internas das muralhas e penetrando na cidade. Eles tomaram a Fortaleza Antônia, que era não somente uma torre forte de vigia, mas também a residência do procurador romano quando estava em Jerusalém. Mais de um milhão de cidadãos (segundo Flávio Josefo), ou noventa e sete mil (segundo outros historiadores), foram assassinados durante o sítio, a maioria deles judeus. Milhares de pessoas foram capturadas e escravizadas. Muitos escaparam para locais próximos do Mediterrâneo.


Destruição de Jerusalém por Tito


A primeira muralha da cidade, a mais interna, foi construída no século II AC pelos primeiros reis Hasmoneanos sobre as fundações de um muro anterior construído pelos reis de Judá, porque depois que Neemias reconstruiu a cidade no tempo dos persas, ela foi novamente invadida pelas tropas de Antíoco Epifânio, e mais uma vez ficou sem a integridade dos seus muros durante o tempo dos Macabeus. Essa 1ª muralha cercava a cidade baixa e a alta, formando o núcleo de Jerusalém. Depois, com o crescimento da cidade, a segunda muralha foi construída mais ao norte, estendendo a proteção para bairros mais novos e distritos comerciais. Por volta da década de 40 DC, a cidade foi se expandindo ainda mais para o norte, levando à construção da terceira muralha (iniciada pelo rei Herodes Agripa I por volta de 42 DC), protegendo o subúrbio de Bezeta, mas sua construção foi interrompida pelo imperador Cláudio (41-54 DC) por medo de uma revolta judaica ou, então, devido à morte de Agripa em 44 DC. Porém, quando a revolta judaica começou em 66 EC, os rebeldes judeus completaram o terceiro muro para fortalecer a cidade contra o iminente ataque romano. Devido à sua construção apressada, a terceira muralha era mais fraca do que as anteriores, deixando um ponto vulnerável nas defesas da cidade que os romanos explorariam mais tarde durante o cerco. Os romanos iniciaram seu ataque à cidade justamente pela a terceira muralha recém-concluída. Cinco dias depois, os aríetes romanos violaram a seção do meio da segunda muralha.


Mapa do cerco de Jerusalém em 70 DC

Progresso do exército romano durante o cerco de Jerusalém por Tito – 70 DC (3 muralhas)


Assim, em três semanas, o exército romano quebrou as duas primeiras muralhas da cidade, mas a resistência judaica os impediu de penetrar na terceira muralha, a mais espessa e a mais antiga das três. Era o décimo sétimo de Tamuz (Tamuz = Jun-Jul), quando a primeira brecha foi feita na muralha pelos romanos, e três semanas depois, no dia 9 de Av, seu exército conseguiu penetrar no Templo, saqueá-lo e destruí-lo [Flávio Josefo – A Guerra dos Judeus livro IV, capítulos 1 a 4].

Os romanos incendiaram o Templo (há divergência quanto ao fato de ser por ordem de Tito ou apenas por uma tocha lançada acidentalmente por algum soldado). A resistência continuou até setembro, mas finalmente as partes superior e inferior da cidade também foram tomadas e a cidade foi totalmente queimada. O Palácio de Herodes caiu em 7 de setembro e a cidade ficou completamente sob controle romano em 8 de setembro. Tito poupou apenas as três torres da cidadela Herodiana (Phasaelus, Hippicus e Mariamne) como testemunho do antigo poder da cidade, bem como grande parte do muro que cercava a cidade no lado oeste. De acordo com os historiadores, esta muralha foi poupada para proporcionar um acampamento para aqueles que estavam na guarnição [na Cidade Alta]; as torres [os três fortes] também foram poupadas, a fim de demonstrar às gerações futuras o tipo de cidade que Jerusalém era, quão bem fortificada, e que os valorosos romanos haviam subjugado; mas as demais partes das muralhas e da cidade foram destruídas até o chão.

Com a destruição do complexo do templo, os romanos começaram a destruir sistematicamente Jerusalém, a partir da cidade baixa até o tanque de Siloé; ela foi totalmente incendiada. A cidade foi saqueada e os objetos sagrados levados para Roma. Na muralha sul do templo, os romanos sacrificaram águias aos seus deuses.


As três torres deixadas por Tito

Imagem acima: Modelo do Palácio de Herodes em Jerusalém mostrando a Primeira Muralha e, da esquerda para a direita, suas três torres: Fasael, Hípico e Mariane.
No lado norte do Palácio de Herodes, junto à muralha, estavam as três grandes torres que o protegiam:
1. A Torre Fasael era a maior e foi batizada em homenagem a Fasael, o irmão de Herodes, e tinha 45 metros de altura;
2. A Torre Hípico foi batizada em homenagem a um amigo de Herodes e tinha 40 metros de altura; foi reconstruída sobre base original e passou a ser conhecida como Torre de Davi.
3. Torre Mariane I – tinha 23 metros de altura; era a mais bela e foi construída em homenagem à Mariane I, a segunda esposa de Herodes, que ele mandou matar.


Os três líderes da 1ª Revolta Judaica


Três líderes zelotes dominavam Jerusalém na época, se opondo aos outros dois partidos político-religiosos (Saduceus e Fariseus) e a outros grupos extremistas como os sicários. Esses líderes eram Simão bar Giora, João de Giscala e Eleazar ben Simon. Embora sendo zelotes, os três líderes tinham grupos separados, que também rivalizavam entre si, tomando conta de partes diferentes da cidade e do templo. Não se sabe como Eleazar ben Simon morreu. Depois da invasão de Tito, Simão bar Giora e João de Giscala se renderam aos romanos. Eles foram levados como cativos acorrentados para Roma para glorificar o triunfo de Tito. João de Giscala foi condenado à prisão perpétua. Simon bar Giora foi executado; morreu com uma corda em volta do pescoço, arrastado para o Fórum e jogado para baixo da rocha Tarpeia (uma rocha no monte Capitolino). Outras fontes históricas dizem que ele foi enforcado na prisão Mamertina (o nome medieval dado a uma prisão construída por volta de 640–616 AC). Não se sabe exatamente se o apóstolo Pedro foi aprisionado ali. Paulo aguardou seu julgamento por Nero numa casa ao sul do Campo de Marte.

As três fortalezas: Herodium, Machaerus e Massada

Após a queda de Jerusalém e a destruição da cidade e do Templo, ainda havia algumas fortalezas em que os rebeldes continuaram resistindo: Herodium, Machaerus e Massada. Tanto Herodium (Heródio) quanto Machaerus (Maquero) caíram para o exército romano nos próximos dois anos, com Massada permanecendo como a fortaleza final dos rebeldes judeus.

O Heródio (em latim: Herodium; hebraico, herodion: הרודיון) é uma colina circular a 11,1 km ao sul de Jerusalém, no deserto da Judéia (A distância real é um pouco mais de 12,5 km) e 5 km a sudeste de Belém. Era um palácio fortificado construído entre em 22–15 AC por Herodes, o Grande, e onde foi também enterrado em 4 AC. Durante a 1ª Grande Revolta Judaica, os rebeldes judeus esconderam-se ali das legiões romanas, mas foram derrotados em 71 DC. Eles tinham transformado a sala de jantar de Herodes numa sinagoga. Sessenta anos depois, no início da 3ª Grande Revolta Judaica (ocorreu 132–135 DC), Bar Kokhba e outros guerrilheiros judeus (131-132 DC) o retomaram e se esconderam lá nas suas ruínas e as tornaram um forte impenetrável, defendendo-o por quase três anos dos melhores soldados de Roma. Simão Bar Kokhba fez do Herodium seu quartel-general secundário, sob o comando de Yeshua ben Galgula. Evidências arqueológicas para a revolta foram encontradas em todo o local, desde os edifícios externos até o sistema de água sob a montanha. Dentro do sistema de água, foram descobertas paredes de apoio construídas pelos rebeldes e outro sistema de cavernas foi encontrado. Dentro de uma das cavernas, foi encontrada madeira queimada que era datada do tempo da revolta [fonte: Wikipédia].


Herodium
Heródio (Herodium)


Maquero (ou Maqueronte; em Latim, Machaerus; em grego, Machairoús, Μαχαιροῦς, do grego antigo: μάχαιρα, makhaira [uma espada]; Hebraico: מכוור; mechver) era uma colina fortificada situada hoje na Jordânia a 24 quilômetros ao sudeste da foz do rio Jordão, na costa leste do Mar morto. A fortaleza foi construída pelo rei Hasmoneu, Alexandre Janeu em torno de 90 AC e destruída por Aulo Gabínio, general de Pompeu, em 57 AC. Depois, foi reconstruída pelo rei Herodes o Grande em 30 AC para ser uma base militar, controlando os territórios a leste do rio Jordão. Depois de sua morte, a fortaleza passou a seu filho Herodes Antipas, que nesse período prendeu ali a João Batista e o decapitou. Após a morte de Antipas em 39 DC, a fortificação ficou sobe o comando de Herodes Agripa I até 44 DC, e depois sob o controle direto de Roma. Em 66 DC, foi reduto dos rebeldes judeus durante a Primeira Guerra Judaico-Romana. A fortaleza caiu depois do Heródio, pelo general romano Lucílio Basso.


Maquero
Maquero (Machaerus) – Panorama


Um dos últimos atos dessa guerra [os últimos 3 ½ anos] foi a destruição da Fortaleza de Massada em 16/04/73 DC, um planalto escarpado a sudoeste do Mar Morto, uma fortaleza natural construída por Herodes o Grande entre 37 e 31 AC, como palácio e um lugar de refúgio em caso de revolta. Massada (מצדה, metzada), significa ‘lugar seguro’ ou ‘fortaleza’. A fortaleza também continha armazéns com um suprimento abundante de alimentos, quartéis, um arsenal e uma série de cisternas (com capacidade em torno de 40.000 metros cúbicos) que eram reabastecidas com água da chuva. Massada foi ocupada pelos sicários rebeldes no tempo da sua destruição pelos romanos. Os sicários eram um grupo extremista dentro do partido dos zelotes. Segundo Flávio Josefo, antes que as tropas romanas entrassem na fortaleza, os 960 sicários incendiaram todos os edifícios, exceto os depósitos de alimentos, e mataram-se uns aos outros para não serem prisioneiros. Apenas duas mulheres e cinco crianças foram encontradas vivas. Entretanto, outros estudiosos dizem que há outras evidências arqueológicas quanto a esse relato e Josefo pode ter se confundido, se referindo a um evento semelhante durante o Cerco de Josapata (Yodfat), na baixa Galiléia, em 20 de julho de 67 DC, quando ele mesmo se rendeu aos romanos para não morrer junto com seu único companheiro rebelde que sobrou dentro da caverna onde estavam escondidos.


Vista aérea de Massada Localização Maquero, Heródio e Massada

Vista aérea de Massada com o Mar Morto no fundo; Localização do Heródio, Maquero e Massada

Flávio Josefo

A Primeira Guerra Judaico-Romana foi documentada pelo escritor Flávio Josefo. Vamos ler um pouco sobre sua biografia.

Flávio Josefo (grego antigo: Ἰώσηπος, Iṓsēpos; 37/38–100 DC, aos 62-63 anos, em Roma), nascido Yosef ben Matityahu (hebraico: יוֹסֵף בֵּן מַתִּתְיָהוּ), José, filho de Matias, variante de Matatias ou Mateus, foi um historiador e líder militar judeu-romano. Depois de se tornar cidadão romano, passou a ser conhecido como Tito Flávio Josefo (Titus Flavius Josephus). Ele nasceu em Jerusalém em uma das famílias ricas da elite. Sua mãe era uma mulher aristocrática, descendente da dinastia real de Hasmoneanos. Seu pai era Matias, um sacerdote judeu e, segundo o próprio Flávio Josefo, da ordem sacerdotal do Jeoiaribe (1 Cr 24: 7), que foi a primeira das 24 ordens de sacerdotes no Templo em Jerusalém, descendente de Eleazar, filho de Arão. Por isso, Josefo chama a si mesmo descendente da 4ª geração do ‘Sumo Sacerdote Jônatas’, referindo-se a Alexandre Janeu. Mas isso é um pouco estranho, pois Alexandre Janeu, da linhagem Hasmoneana, era da linhagem de Matatias, pai de Judas Macabeu, que não era de linhagem de Eleazar, filho de Arão, ao contrário de Jeoiaribe (1 Cr 24: 7). O irmão mais velho de Josefo também se chamava Matias. Os dois foram criados em Jerusalém. Josefo era um estudioso judeu e ele mesmo se definia como um líder aristocrático tradicional.

Em 64 DC, com mais ou menos 27-28 anos de idade, Josefo foi enviado em uma embaixada para Roma para garantir a libertação de um número de sacerdotes judeus que eram mantidos prisioneiros. Nero os libertou e Josefo cumpriu sua missão com sucesso.


Retrato imaginário de Josefo

Retrato imaginário de Josefo – Thomas Addis Emmet, 1880


Ao retornar a Jerusalém em 66 DC, ele presenciou a eclosão da Primeira Guerra Judaico-Romana. Os judeus da Judéia, incitados pelos zelotes fanáticos, expulsaram o procurador romano e estabeleceram um governo revolucionário em Jerusalém. Josefo e outros sacerdotes aconselharam um acordo, mas foram arrastados relutantemente para a rebelião. Apesar de sua posição moderada, ele foi nomeado comandante militar da Galiléia, mas sofreu oposição de João de Giscala e seus partidários zelotes. Apesar de não apoiar uma resistência armada, Josefo começou a fortalecer as cidades do norte contra as próximas invasões romanas.

Josefo fortificou várias cidades e aldeias na Baixa e na Alta Galiléia. Interessante citar algumas delas:

I) Baixa Galiléia:
• Tiberíades, também chamada Tibériade, Tiberias ou Tibérias (em hebraico: טְבֶרְיָה, transl. Tveryah; em árabe transl. Ṭabariyyah), é uma cidade no distrito norte de Israel, às margens do mar da Galiléia, o qual é também chamado de Mar de Tiberíades (Jo 6: 1), Lago de Genesaré (Lc 5: 1) e Mar de Quinerete (Nm 34: 11; Dt 3: 17; Js 11: 2; Js 12: 3; Js 13: 27: Js 19: 35; 1 Rs 15: 20, Kinaroth, Kinneroth, Kinnereth, Chinnereth – Strong #3672, em hebraico, כנרת), que, por sua vez, provém da palavra kin·nō·wr, כנור, Strong #3658, que significa: harpa, lira. É interessante notar, realmente, o formato do lago visto por satélite tem o formato de uma harpa. Antipas construiu no ano de 20 DC a capital de sua tetrarquia, dando-lhe o nome de Tiberíades em homenagem ao imperador romano Tibério. A cidade foi construída sobre as ruínas de uma pequena aldeia chamada Rakkat (ARA – Racate – Js 19: 35). Hoje tem uma população em torno de 39.900 habitantes.

• Bersabe hoje é identificada com local de Khirbet es-Saba ou Khirbet Abu esh-Sheba; conhecida como Berseba da Galiléia ou Khirbet Berseba, uma ruína no topo de uma colina a menos de um quilômetro da vila de Kafr ‘Inan ou Kefr ʿAnan, a leste de er-Rameh e sudoeste de Safed.

• Selamin é o nome hebraico da vila, que também era conhecida como Tzalmon, Selame, Salamis, Zalmon e Khurbet es Salâmeh (a Ruína de Salameh), hoje as ruínas de uma aldeia judaica na Baixa Galiléia durante o período do Segundo Templo, capturada pelo exército imperial romano em 64 DC.

• Jafa: em árabe, Yafa an-Naseriyye ou Jafa de Nazaré, ou simplesmente, Jafa, Yafa, Kfar Yafia; ou em hebraico: Yafi, é uma cidade árabe em Israel. Faz parte da área metropolitana de Nazaré, mas também é uma localidade árabe. Em 2022 tinha 19.704 habitantes, 70% muçulmanos e 30% cristãos. Em 67 DC ela era a maior aldeia da Galiléia e foi conquistada por Tito e pelo futuro imperador Marco Úlpio Trajano (98-117 DC) que era um soldado de 23 anos de idade na época [‘Vida’ (n. 37 e 45) e ‘A Guerra Judaica’ (Livro 3, capítulo 7, versículo 31)].

• Tariquéia, Tarichaea ou Tarichaia (Ταριχαία), em grego, que significa literalmente, ‘o local de processamento de peixes’, estava localizada na costa do Mar da Galiléia. O local histórico correto de localização é incerto. Tarichaia foi uma das primeiras aldeias da Galiléia a ter sofrido um ataque de Roma, durante a Primeira Guerra Judaico-Romana. Hoje só se podem ver ruínas. Tarichaea é mencionada nos escritos de Josefo (‘Antiguidades dos Judeus’ 14.120; 20.159; ‘A Guerra Judaica’ 1.180; 2.252; ‘Vita’ 32, e outros).

II) Alta Galiléia:
• Jamnith ou Jabnith [em hebraico, Yavnit (יבנית)], era outra cidade da Galiléia, hoje o sítio arqueológico de Tel Yavne, que fica a sudeste da cidade moderna, Yavne (יַבְנֶה). O nome em grego era Iamneith (Ἰαμνειθ). Em árabe, ‘Yibnah’. Em latim, ‘Iamnia’. No período romano, era conhecida como ‘Iamnia’ ou ‘Jamnia’. Sob o domínio romano tardio e bizantino, Yavne tinha uma população mista de cristãos, judeus e samaritanos. No período medieval, era conhecida como Ibnit / Abnit / Ovnit. Durante o período das cruzadas, era conhecida como ‘Ibelin’. Durante os períodos otomano e britânico, era conhecida como ‘Yibna’.

• Sepph (Σέπφ), uma cidade fortificada na Alta Galiléia mencionada nos escritos do historiador judeu romano Josefo, é hoje a cidade de Safed, Sáfad ou Sáfed, em hebraico, צְפַת Tzfat, romanizado: Ṣəfaṯ (significa ‘esperança’), no Norte da Galiléia, a mais alta da Galiléia, 800-937 metros acima do nível do mar.

• Mero ou Merote é identificada por alguns historiadores com um local mais ao norte, Marun er-Ras de hoje, no sul do Líbano. Outros a identificam com Marus ou Meron (מֵירוֹן) ou (Herbôubar Meron), um moshav no norte de Israel. Está localizada nas encostas do Monte Meron na Alta Galiléia, perto de Safed. A associação de Meron com a antiga cidade cananéia de Merom ou Maroma é geralmente aceita pelos arqueólogos. No período do Segundo Templo, Merom era conhecido como Meron. Moshav é um tipo de comunidade rural israelense, onde cada família tem a sua própria fazenda, cada trabalhador rural recebe um lote individual e obtém o lucro daquilo que produz. Já nos kibutz a produção é coletiva, a renda é dividida conforme a produção e as necessidades de cada um. Ela é baseada nos princípios do sionismo trabalhista (combinação de socialismo e sionismo); ali bens e meios de produção são de propriedade coletiva. A palavra ‘kibutz’ significa ‘reunião’ ou ‘juntos’ em hebraico. O plural de kibutz é kibutzim. Muitos kibutzim modificaram a sua abordagem coletiva tradicional e passaram para a privatização.

• Achabare se refere à aldeia de Khirbet al-‘Uqeiba, identificado como a aldeia romana Achabare ou Acchabaron. Khirbet al-‘Uqeiba foi povoada até 1904. Durante o período do Segundo Templo, Josefo Flávio observou a rocha de Acchabaron entre os lugares na Alta Galiléia, que ele fortificou como uma preparação para a Primeira Revolta Judaica, enquanto liderava as forças rebeldes contra os romanos na Galiléia. Este local é identificado com cavernas situadas ao longo dos penhascos ao sul de ’Akbara, uma aldeia árabe 2,5 km ao sul do município israelense de Safed ou Safad. A vila atual foi reconstruída em 1977, perto da que foi destruída em 1948 durante a guerra da Palestina de 1947-1949.

Em 67 DC, sob o comando do general Vespasiano, os romanos chegaram à Galiléia e em 47 dias rapidamente quebraram a resistência judaica no norte e em Jotapata, onde Josefo estava.

Enquanto estava confinado em Jotapata (Yodfat), Josefo afirmou ter recebido uma revelação divina que mais tarde o levou a prever que Vespasiano se tornaria imperador. Ele escreveu que sua revelação lhe ensinara três coisas: que Deus, o criador do povo judeu, decidiu puni-los; que a sorte tinha sido dada aos romanos; e que Deus o havia escolhido ‘para anunciar as coisas que estão por vir’.

Depois que a cidade de Jotapata caiu, os romanos invadiram, matando milhares; os sobreviventes cometeram suicídio. De acordo com Josefo, ele se refugiou em uma caverna próxima com 40 de seus companheiros em julho de 67 DC. Os rebeldes judeus votaram a favor de perecer, em vez de se render. Josefo, mostrando a eles o pecado do suicídio para Deus, propôs que cada homem, por sua vez, deveria matar seu próximo, e isso seria determinado ao lançar sortes. Josefo escolheu ficar por último, e assim, sobraram só ele e um dos seus companheiros. Então, se renderam a Vespasiano e Tito e se tornaram prisioneiros.

Levado acorrentado diante de Vespasiano, Josefo afirmou que as profecias messiânicas judaicas (provavelmente Dn 9: 24, 26) que iniciaram a Primeira Guerra Judaico-Romana fizeram referência a Vespasiano tornar-se imperador romano. Em resposta, este decidiu mantê-lo como escravo e provavelmente intérprete. Nos dois anos seguintes, permaneceu prisioneiro no acampamento romano. Depois que Vespasiano se tornou imperador em 69 DC, ele concedeu a Josefo sua liberdade. Ele interpretou a destruição do Templo como um sinal de que Deus havia se voltado para os romanos devido aos pecados judaicos, pedindo submissão à autoridade romana. Ele se tornou um conselheiro e amigo próximo de Tito, filho do imperador, servindo como seu tradutor durante o prolongado cerco a Jerusalém em 70 DC, durante o qual seus pais foram mantidos como reféns por Simon bar Giora.

A primeira esposa de Josefo morreu no cerco de Jotapata, mas segundo outras fontes, ela morreu junto com os pais de Josefo no cerco de Jerusalém em 70 DC. A segunda esposa era uma judia capturada e logo o abandonou na Judéia.

Após a queda de Jerusalém e a destruição do Templo, em 71 DC ele foi para Roma na comitiva de Tito, e passou a residir em Roma, onde recebeu cidadania romana e pensão; ele desfrutou da renda de uma propriedade livre de impostos na Judéia. Embora ele use apenas o nome de ‘Josefo’ em seus escritos, historiadores posteriores se referem a ele como ‘Flávio Josefo’, confirmando que ele adotou o nome de Flávio de seus patronos, como era o costume entre os libertos.

Em Roma, Josefo escreveu todas as suas obras conhecidas: ‘A Guerra Judaica’ (75 DC), onde ele registrou a Grande Revolta Judaica contra a ocupação romana (66-70 DC), incluindo o cerco de Massada; e ‘Antiguidades dos judeus’ (94 DC), onde ele relata a história do mundo de uma perspectiva judaica para uma audiência grega e romana. Essas obras fornecem informações sobre o judaísmo do primeiro século e o contexto do cristianismo primitivo.

Em 71, Josefo acompanhou Vespasiano a Alexandria e conheceu sua terceira esposa, uma judia alexandrina, com quem teve três filhos, dos quais apenas Flávio Hircano (Flavius Hyrcanus) sobreviveu à infância. Mais tarde, ele se divorciou dela.

Em 75 DC, ele se casou com uma judia de Creta, que era membro de uma família aristocrática. Eles tiveram dois filhos Flávio Justo (Flavius Justus) e Flávio Simônides Agripa (Flavius Simonides Agrippa).

Ele era visto com desconfiança pelos romanos por ser um judeu e era odiado pelos judeus por sua apostasia. Segundo fontes da época, não havia heroísmo em seu caráter, e sim uma bajulação que o fez conquistar sua liberdade e a confiança dos inimigos dos judeus.

Ele foi descrito por Harris em 1985 como um judeu helenista, que achava o judaísmo compatível com o pensamento greco-romano. Antes do século XIX, o estudioso Nitsa Ben-Ari diz que seu trabalho foi evitado por muitos, pois era controverso como o de um traidor do seu povo, pois não cometeu suicídio na Galiléia e, após sua captura, aceitou o patrocínio dos romanos.
Segundo seus críticos, como escritor e historiador, Josefo é especialmente tendencioso quando sua própria reputação está em jogo. Pessoalmente, ele era vaidoso, insensível e egoísta. Mas ele permaneceu fiel às suas crenças farisaicas e fez o que pôde para seu povo. Até mesmo sua obra ‘Antiguidades dos judeus,’ escrita para o público grego e romano, segundo seu ponto de vista buscava trazer a eles uma visão honrosa do povo judeu.

Os estudiosos o identificaram tradicionalmente como um fariseu. Alguns autores o retrataram como um membro dos zelotes e como um traidor da nação judaica. Em meados do século XX, os estudiosos reformularam o conceito moderno de Josefo. Eles o consideram um fariseu, mas o descrevem em parte como patriota e um historiador de alguma posição. Em seu livro de 1991, Steve Mason argumentou que Josefo não era um fariseu, mas um sacerdote aristocrata ortodoxo que se associou à escola filosófica dos fariseus como uma questão de deferência, e não por associação voluntária. Ele mesmo se definia como um líder aristocrático tradicional.

Ele faleceu em Roma por volta de 100 DC aos 62-63 anos.

Fonte de pesquisa: wikipedia.org; crystalinks.com e Enciclopédia Britânica.

A Segunda Guerra Judaico-Romana

A Segunda Guerra Judaico-Romana (chamada em hebraico, מרד הגלויות, mered ha’galoyot, ‘rebelião do exílio’; ou מרד התפוצות, mered hitpotzot, ‘rebelião da Diáspora’), em latim: ‘Tumultus Iudaicus’, refere-se a uma série de revoltas envolvendo comunidades judaicas da Diáspora, ou seja, judeus que viviam na Babilônia, Chipre e África, por exemplo, Egito (Alexandria, Mênfis e Leontópolis) e na Líbia (chamada de Cirenaica), durante os anos finais do reinado de Trajano (115-117 DC), quando sua ida para a Mesopotâmia favoreceu o movimento rebelde. Após a supressão da revolta na Mesopotâmia em 116 DC, Trajano nomeou o general romano Quintus Lusius Quietus cônsul e governador da Judéia; e nesse clima, Israel também aderiu à revolta. Por isso, ela passou a ser conhecida como ‘A Guerra de Kitos’, que venceu a revolta na Judéia. Kitos era uma maneira errada de se pronunciar o nome do general romano Quintus Lusius Quietus. Em outras palavras, ‘A Guerra de Kitos’ se restringe às batalhas travadas na Judéia, em conseqüência da revolta judaica ocorrida na Diáspora.

Várias causas são sugeridas para essa Segunda Revolta Judaica, mas uma prevalece como a mais provável. Após a destruição do Templo de Jerusalém, o governo romano transformou a contribuição anual que os judeus da Diáspora enviavam para a manutenção de seu Templo, em um imposto destinado ao Templo de Júpiter Capitolino, no monte Capitolino, em Roma. Muitos judeus recusaram-se a pagar o imposto e um clima de revolta espalhou-se pelas comunidades judaicas de várias cidades do mundo helênico: Alexandria, por exemplo. O templo judeu de Leontópolis (na província de Heliópolis), no extremo sul do Delta do Nilo, foi fechado pelo imperador Vespasiano, por medo de revoltas lá.


2ª Guerra Judaico-Romana – A guerra de Kitos


Em 115 DC, no governo de Trajano, as tropas romanas na África combateram os Partas na Mesopotâmia, mas assim que eles se retiraram da África as revoltas judaicas voltaram em diferentes pontos do império: na Cirenaica (atual Líbia), no Egito e em Chipre. Embora vencendo os partas aos poucos e avançando para o leste, Trajano teve que retroceder, porque os rebeldes judeus nos territórios que ele acabara de conquistar investiram contra as guarnições romanas deixadas ali pelo imperador. Os judeus de Cirenaica, Egito e Chipre começaram a atacar os soldados romanos e chacinando os habitantes greco-romanos dessas regiões. Na Turquia e na Mesopotâmia, outros judeus aderiram à rebelião; na Cirenaica, vários templos greco-romanos foram destruídos e a rebelião seguiu para Alexandria, Hermópolis e Mênfis (no Egito).

Na Cirenaica (atual Líbia), as forças judaicas lançaram ataques contra as populações grega e romana sob a liderança de Andreas, conhecido também como Lukuas (parece que foi Dião Cássio que deu a ele esse nome grego, ao invés de ‘Andreas’). A narrativa da revolta sob Lukuas é contada por Eusébio de Cesaréia, Dião Cássio mais dois historiadores. Muito pouco se sabe sobre sua vida e carreira política além dessas referências passageiras. Não há evidência real de uma conexão religiosa com Lukuas e o título de ‘Rei’ (dado por Eusébio de Cesaréia) ou ‘Rei dos Judeus’ atribuído mais tarde. Isso foi inventado. Supostamente sua chegada de Cirenaica tenha tido certa influência nos confrontos entre comunidades judaicas e seus vizinhos gregos, mas não há provas irrefutáveis quanto a isso. Os gregos, apoiados pelos camponeses egípcios e romanos, retaliaram, massacrando os judeus de Alexandria.

Em Chipre, milhares de cidadãos gregos morreram nas mãos dos judeus, mas houve retaliação por parte de uma legião romana (a VII Legião Cláudia, também conhecida como ‘Legio VII Claudia Pia Fidelis’, ou seja, ‘Sétima Legião Cláudia, Fiel e Leal’, cujo símbolo era um touro e tinha sido fundada por Pompeu na Hispânia em 65 AC. Permaneceu até o final do século IV DC na região do Danúbio). Artêmio liderava a revolta em Chipre (Ele devastou a ilha e a cidade de Salamina).

Então em 116 DC, Trajano enviou o general romano Lúsio Quieto (Quintus Lusius Quietus) para governar a Judéia e para debelar a revolta, que se prolongou até 117 DC. Quintus Lusius Quietus, chamado de ‘Príncipe Mouro’, era de origem bérbere (bárbaros que viviam ao norte da África, e que chamavam a si próprios de ‘homens livres’). Kitos era uma maneira errada de se pronunciar seu nome. Trajano já o havia nomeado comandante da cavalaria e ele se distinguiu por sua bravura em duas duras batalhas. Depois ocupou o cargo de cônsul e salvou o exército romano da destruição na guerra contra os Partas, por isso era adorado pelos legionários.


2ª Guerra Judaico-Romana – A guerra de Kitos


Conforme mencionado por fontes rabínicas, Quintus Lusius Quietus foi enviado da Mesopotâmia para a Judéia e sitiou a cidade de Lida, onde os judeus rebeldes resistiam e se reuniram sob a liderança de Juliano e Pappus. A angústia tornou-se cada vez maior. Os judeus foram totalmente dizimados por Lúsio. Muitos dos judeus rebeldes (mencionados no Talmude como os ‘mortos de Lida’) foram executados. Pappus e Juliano tornaram-se mártires entre os judeus.

Trajano morreu durante a campanha contra o partas, sendo sucedido por Adriano. Quintus Lusius Quietus, a quem Trajano tinha em alta conta, foi discretamente destituído de seu comando pelo Imperador Adriano, que o assassinou em circunstâncias desconhecidas no verão de 118.

A situação no país permaneceu tensa para eles, e no reinado de Adriano, esse imperador transferiu a Legio VI Ferrata permanentemente para Cesaréia Marítima, na Judéia. No seu governo a Judéia voltaria a empreender a 3ª grande insurreição: a revolta de Bar-Kochba.

A Terceira Guerra Judaico-Romana

A Terceira Guerra Judaico-Romana (ou ‘A Revolta de Bar Kochba’) ocorreu após a viagem do Imperador Adriano (117-138) ao oriente entre 130 e 131 DC, deixando clara a sua intenção de reavivar o helenismo na região da Judéia. Tinha a intenção de reconstruir Jerusalém como uma cidade grega, com estátuas, banhos públicos e centros ruidosos de vida profana.

A Cidade Santa foi reconstruída pelo imperador Adriano em 131 DC sobre as ruínas deixadas pela imensurável destruição de Tito (70 DC) e, segundo a sua vontade, ela recebeu o nome de Élia Capitolina (em Latim: Colonia Aelia Capitolina). A palavra latina Élia é derivada do termo Árabe, Iliya, que os muçulmanos, em certa época, costumavam usar para Jerusalém (outros dizem que era por causa do nome de nascimento do imperador: César Públio Élio Trajano Adriano – Caesar Publius Aelius Traianus Hadrianus); ‘Capitolina’, porque a nova cidade foi dedicada a Júpiter Capitolino (Zeus para os gregos), a quem foi construído um templo no lugar do templo Judaico de Jerusalém. Junto ao Gólgota (onde Jesus foi crucificado) ergueu-se um templo à deusa grega Afrodite (Vênus para os romanos).

A antiga Província da Judéia passou a chamar-se Síria Palestina, uma forma de tentar apagar a memória da presença judaica na região, fazendo com que os judeus se lembrassem dos filisteus (Philistines), os antigos habitantes da região nos tempos bíblicos. Os judeus ficaram proibidos de entrar em Aelia Capitolina sob pena de morte, exceto na Páscoa.

No Édito de Adriano foi proibida a circuncisão (considerada pelos romanos como uma mutilação) e, por causa da resistência dos judeus, também foi proibido o ensino da Torá e a ordenação de novos rabinos.

Assim, no final do seu reinado surgiu no interior da Judéia a terceira revolta judaica contra o Império Romano ou ‘A Terceira Guerra Judaico-Romana’ (de 132 ao final de 135 e início de 136 DC). Ela também é conhecida como a ‘guerra do extermínio’ (מלחמת השמדה milchamet hashmada) ou a ‘revolta de Bar Kochba’ (מֶרֶד בַּר כּוֹכְבָא, Mereḏ Bar Kōḵḇāʾ).

Das três revoltas, essa é a que parece ter menos informações históricas precisas, tanto em relação ao próprio líder quanto aos relatos dos combates; os livros apócrifos judaicos são incoerentes e há muitas histórias rabínicas contadas de maneira diferente, pois Simão Bar Kokhba teve muitos apoiadores, mas também muitos opositores. Pelo menos, as poucas evidências arqueológicas encontradas recentemente nos garantem que ele foi um personagem real, houve uma guerra extremamente difícil e violenta de ambas as partes e que deixou sua marca evidente na história dos judeus e das demais nações. Relatos detalhados de certos métodos de tortura, de ambos os lados, acabam se tornando tendenciosos, entretanto, nos mostra até que ponto a crueldade humana pode dominar a mente de alguém.


Revolta de Bar Kochba


A cidade foi ocupada por legionários romanos e guardada pela X Legião Fretensis (a ‘Décima Legião do Estreito’; Fretensis significa ‘passagem estreita)’, criada pelo imperador Caio Júlio César Otaviano Augusto (César Augusto) em 41-40 AC para lutar as guerras civis da República Romana e essa legião perdurou, pelo menos, até a 1ª década do século V, mais precisamente 410 DC.

A revolta foi comandada por Shimon ben Kozba (Simão ben Kosba), que viria a ser conhecido pelo nome de Bar Kokhba ou Kochba (em aramaico significa ‘Filho da Estrela’), que os judeus acreditavam ser o Messias de Israel e governou em Jerusalém por dois anos e meio. Seus rivais o chamavam de ‘Bar Kosiba’, que significa ‘filho da mentira’.

O novo estado independente cunhou suas próprias moedas: 1) a tetradracma de prata com o Templo no anverso e a palavra ‘Jerusalém’; no reverso, um lulav (לוּלָב, um ramo de tamareira) e etrog (cidra), juntamente com a inscrição “Ano 1 da liberdade de Israel” e 2) o denário de prata com duas trombetas no anverso e a frase: “Pela liberdade de Jerusalém”; e no reverso, uma lira com a frase: “Ano 2 da liberdade de Israel” escrito em alfabeto Paleo-Hebraico.

Os historiadores não sabem o seu nome verdadeiro; o nome Shimon ben Kozba provém das fontes rabínicas. Outra evidência palpável da revolta foi um conjunto de papiros contendo as ordens de Bar Kokhba durante o último ano da revolta, encontrado na ‘Caverna das Letras’ no deserto da Judéia pelo arqueólogo israelense Yigael Yadin.


Moeda antiga (tetradracma) de Bar Kochba

Moeda antiga da Judéia com uma tamareira, mostrando o nome do líder da revolta, Simeon bar Kokhba

Um denário da época de Bar Kokhba


Na imagem a cima: o denário de prata com duas trombetas no anverso e a frase: “Pela liberdade de Jerusalém”; e no reverso, uma lira com a frase: “Ano 2 da liberdade de Israel” escrito em alfabeto Paleo-Hebraico.

Na verdade, quem lhe deu este novo nome (Bar Kokhba) foi o rabino Aquiba (Akiva ben Yosef, 40-135 DC), pois havia reconhecido nele o Messias Davídico. Ele se baseou em Nm 24: 17: “uma estrela procederá de Jacó, de Israel subirá um cetro.” Não há evidências claras de que ele mesmo afirmava ser o Messias. Bar Kochba foi nomeado nasi (נָשִׂיא ‘príncipe’) do estado provisório dos rebeldes, e grande parte da população da Judéia o considerava o messias do judaísmo que restauraria a independência nacional judaica. Nasi era o nome dado ao príncipe do Sinédrio Judaico, o líder do Sinédrio no período do segundo templo e no período romano. Por outro lado, a facção judaica que era contrária ao confronto com os romanos, criticava a atitude do rabino Aquiba. Bar Kochba suspeitou erroneamente que seu tio idoso, o Rabino Elazar HaModai (conhecido também como Eleazar de Modi’im), conhecia seus segredos militares. Enfurecido, ele o chutou e o matou [essa referência não é histórica, mas de livros apócrifos e fontes rabínicas]. Os judeus tiveram suas esperanças frustradas e seus rivais o chamaram de ‘Bar Kosiba’, que significa ‘filho da mentira’. Aquiba negou-se a obedecer o Édito de Adriano, continuando a dirigir o povo judaico. Surpreendido ensinando a Torah, foi condenado e esfolado vivo.

A extensão exata do controle de Bar Kokhba permanece incerta. É amplamente aceito que os rebeldes mantinham toda a Judéia, incluindo as montanhas, o deserto e partes do norte do deserto de Negev. Entretanto, alguns estudiosos acham que o controle rebelde pode ter se estendido além da Judéia, como Galiléia e Golã. Em 2015 foram identificadas 40 cavernas que serviram de esconderijo na época da revolta, algumas contendo moedas cunhadas de Bar Kokhba, sugerindo que Samaria também foi incluída, assim como os judeus de Peréia.


Parte de Israel sob controle de Bar Kochba

Parte de Israel sob controle de Bar Kochba (em azul)


Os guerrilheiros judeus atacaram civis e legionários romanos. O general romano Sexto Júlio Severo, com dez legiões e tropas auxiliares (ao todo, cerca de cem mil homens), usou a mesma tática dos guerrilheiros judeus: dividiu suas forças em grupos de pequenas unidades móveis, comandadas por tribunos e centuriões, formando grupos de reação rápida que podiam responder prontamente, sempre que chegavam relatórios de atividades de guerrilha. Além disso, localizou e cercou os redutos rebeldes, obrigando-os à rendição ou à morte por fome. Os romanos também sofreram perdas consideráveis.

Várias legiões romanas foram mobilizadas: Legio X Fretensis (Judéia), Legio II Traiana Fortis (Alexandria), Legio VI Ferrata (Cesaréia Marítima), Legio III Gallica (Síria), Legio III Cyrenaica (Arábia romana), Legio XXII Deiotariana (Alexandria), Legio X Gemina (Panônia, na região do Danúbio, atual Áustria), Legio XV Apollinaris (Turquia), Legio V Macedonica (Macedônia, Mésia e Dácia), Legio XI Claudia (Mésia Inferior, nos Bálcãs). São mencionadas também coortes da Legio XII Fulminata (Turquia) e coortes de Legio IV Flavia Felix (Mésia superior). A Legio XXII Deiotariana e a Legio XV Apollinaris tiveram muitos soldados mortos.

Bar Kokhba foi morto em 135 DC pelos romanos em seu reduto em Betar (Em hebraico bíblico: בֵּיתַּר, Bēttar, uma cidade fortificada nas montanhas da Judéia, 9 km a sudoeste de Jerusalém; hoje Battīr, Cisjordânia. Dizem que a força militar para o cerco ali foi de 10–12.000 soldados. Uma inscrição em pedra com caracteres latinos descoberta perto da cidade mostra que a V Legião Macedônica e a XI Legião Cláudia participaram do cerco. Eles também mataram cerca de 580.000 civis judeus em 4 de agosto de 135 EC, o 9º dia de Av.

Em 1952 e 1960-61, várias cartas de Bar Kokhba para seus tenentes foram descobertas no deserto da Judéia. Foi uma guerra longa e sangrenta com muitos combates e mais de dois anos de duração e com vitória de Roma.

Os romanos escravizaram e massacraram muitos judeus da Judéia e muitos deles foram banidos. Dião Cássio diz que cerca de 50 esconderijos dos rebeldes foram localizados e eliminados, 985 vilas judias foram destruídas na campanha e 580 mil judeus mortos pela espada (além dos que morreram por fome). Os escravos foram levados para Roma; eram vendidos nos mercados de escravos, e os mais inaptos para o trabalho eram levados às arenas, sendo mortos por gladiadores ou por animais selvagens. Lucius Claudius Cassius Dios (conhecido por Dião Cássio, Cássio Dio ou Dio Cássio) foi um notável historiador romano do século II-III DC e funcionário público. Escreveu cerca de oitenta livros em vinte e dois anos, mostrando a história de Roma.

Após o fim da revolta, a maioria dos judeus restantes viveu fora de Israel, especialmente na Babilônia, na Galiléia e nas Colinas do Golan. Apesar de ‘A Diáspora’ ter começado no séc. VI AC, depois do exílio na Babilônia e, especialmente após 70 DC, com a destruição de Jerusalém por Tito, essa guerra eliminou definitivamente qualquer possibilidade de renascimento de um judaísmo centrado no Templo de Jerusalém e na sua linhagem de sacerdotes Levíticos. O judaísmo se tornou uma expressão meramente religiosa e cultural, e não mais política, situação essa que se perpetuaria até o surgimento do sionismo no século XIX. A devastação demográfica foi tão grande que levou vários anos para repovoar a Judéia.

Plano urbano da cidade Élia Capitolina (Aelia Capitolina)

Como eu falei no início do texto, a nova cidade foi dedicada a Júpiter Capitolino (Zeus para os gregos), a quem foi construído um templo no lugar do templo Judaico de Jerusalém. Junto ao Gólgota (onde Jesus foi crucificado) ergueu-se um templo à deusa grega Afrodite (Vênus para os romanos).

A cidade Aelia Capitolina do Imperador Adriano foi construída segundo plano urbano de uma cidade romana, onde grandes avenidas que se cruzavam. A rua principal (Cardo Máximo) começava no norte e atravessava a cidade até o sul e se cruzava com a central rota Leste-Oeste (o Decúmano).

Como o Monte do Templo bloqueava a rota para o oriente do decúmano máximo, foi construído do lado oriental um cardo principal que desce até o vale do Tiropeão, e dois decúmanos correm apenas para o norte do Monte do Templo, sendo que o do norte faz uma linha em ziguezague contornando o muro norte do templo. O outro cardo (no sentido N/S) secundário do lado oeste, era mais curto terminando no acampamento da guarnição romana (mais tarde, ele foi removido pelos bizantinos e o cardo secundário estendido para alcançar as margens expandidas ao sul da cidade). Os dois cardos convergiam numa praça semicircular antes do Portão de Damasco.


Aelia Capitolina

Aelia Capitolina – Jerusalém reconstruída por Adriano


Nessa praça, foi construído um monumento em forma de coluna, uma coluna da vitória romana e sobre ela, uma estátua do imperador Adriano; por isso, o nome árabe para o portão de Damasco é árabe Bāb al-‘Āmūd, que significa ‘portão da coluna’. Na verga do portão do século II, e que foi tornado visível pelos arqueólogos debaixo do portão otomano de hoje, está inscrito o nome romano da cidade após 130 EC, Aelia Capitolina, o nome que o Imperador Adriano deu a Jerusalém, quando a transformou numa cidade helenística. O portão romano de Adriano foi construído como um arco triunfal autônomo, e só depois de algum tempo, no final do século III ou no começo do século IV, é que se construíram as muralhas protetoras ao redor de Jerusalém, ligando-as ao portão existente.


Ruínas do Portão de Damasco do período Romano

Restos do portão do período romano sob o Portão de Damasco. Este foi o único portão remanescente na muralha mais ocidental da Cidade Velha de Jerusalém.


Portão de Damasco atual

Portão de Damasco atual


No cruzamento do decúmano máximo com o cardo mínimo, ele construiu o templo de Vênus, e no cruzamento do cardo mínimo com o decúmano mínimo ele construiu o Fórum. O templo de Vênus foi demolido mais tarde pelo imperador romano Constantino para a edificação da Igreja do Santo Sepulcro.

Também há outro Fórum menor ao norte da cidade, na segunda linha do decúmano mínimo. Nos cruzamentos dos dois decúmanos com o cardo mínimo, ele pôs dois tetrápilos (tetrápilo, em grego: Τετράπυλον; Tetrápylon, plural tetrapyla; lit. ‘quatro portões’; também conhecido como quadrifronte, em latim: quadrifrons; lit. ‘quatro frentes’). Há outro tetrápilo (3º) no cruzamento do decúmano máximo com o cardo máximo. O tetrápilo é um tipo de monumento da arquitetura romana de forma cúbica, com passagens arqueadas em duas direções, em ângulos retos, com um portão em cada um dos quatro lados, sendo geralmente construído em cruzamentos de ruas. Eles aparecem na arquitetura romana antiga, geralmente em forma do arco triunfal em cruzamentos significativos ou pontos geográficos importantes.


Tetrápilo

O Tetrápilo do Norte em Gerasa, Jordânia

O que aconteceu com a Aelia Capitolina de Adriano depois de sua morte?

Uma geração posterior de judeus à época de Adriano retornou a Jerusalém e começou a reconstruí-la, mas a maioria dos judeus restantes viveu fora de Israel, especialmente na Babilônia, na Galiléia e nas Colinas de Golã. A região da Síria Palestina passou a se subordinar ao Império Romano do Oriente (Império Bizantino) no final do século III e foi subdividida em Palestina Prima (ou Palestina I) e Palestina Secunda (ou Palestina II). No século VI, a Palestina Salutar foi separada. Na época de Constantino I (306–337), os judeus receberam permissão de entrar na cidade, mas até o século VII (390-630, durante o período bizantino), os judeus foram novamente proibidos. A Palestina Prima era composta por Judéia, Samaria, litoral, Peréia e foi província do Império Bizantino no período de 390-630, mas logo passando para os muçulmanos. A Palestina Secunda compreendia a Galiléia, o baixo vale de Jezreel, vale de Bete Seã, a região para leste da Galiléia ao sul das colinas de Golã e a porção ocidental da antiga Decápolis, com capital em Citópolis. Cafarnaum e Nazaré eram capitais principais.

Em 637, o Califa Omar, o Califado Ortodoxo (632-661) conquistou Jerusalém e a província romana da Palestina Prima (composta por Judéia, Samaria, litoral e Peréia), província do Império Bizantino, e os judeus foram autorizados a regressar à cidade. No lugar do templo, os muçulmanos construíram o Domo da Rocha e a Mesquita de Al Aqsa. Em 1099, os cruzados conquistaram Jerusalém e mataram judeus e muçulmanos. No séc. XIII, os turcos muçulmanos (os Aiúbidas) sob Saladino, expulsaram os cruzados de Jerusalém. Saladino permitiu que os judeus e os muçulmanos pudessem voltar e morar na cidade. Em 1244, Jerusalém foi saqueada por outros adeptos do Islamismo (os tártaros corásmios), que dizimaram a população cristã da cidade e afastaram os judeus. O Império Corásmio era uma dinastia muçulmana sunita (islamismo ortodoxo) que adquiriu costumes persas.

Em 1516, os turcos otomanos (islâmicos sunitas, ou seja, ortodoxos) sob o sultão Suleiman, o Magnífico (1494-1566), conquistaram a cidade e muitos judeus exilados da Espanha em 1492 vieram para Jerusalém, aumentando seu número até o século XVIII. Em 1846, os judeus formavam a maioria da população de Jerusalém, e a Cidade Velha murada se tornou pequena para eles. Em 1917, a cidade passou para o governo britânico, que a dividiu em quatro bairros: Muçulmano, Cristão, Judeu e Armênio, mas os muçulmanos dominavam o Muro Ocidental (‘Kotel’ ou ‘Qotel’, que significa ‘muro’). Em 1948, a Cidade Velha de Jerusalém passou da Grã Bretanha para a Jordânia, e os judeus dividiram sua cidade com os jordanianos, mesmo com a declaração do Estado de Israel em 14 de Maio de 1948. Em 1967, após Guerra dos Seis Dias (envolvendo Síria, Egito, Jordânia e Iraque), Israel ocupou Jerusalém Oriental e afirmou soberania sobre toda a cidade, restabelecendo o domínio sobre o muro oeste do Monte do Templo (o Muro das Lamentações) e fazendo ali uma praça (Western Wall Plaza – a Praça do Muro Oeste), hoje sob jurisdição judaica. O Monte do Templo permaneceu sob a jurisdição islâmica.


Aelia Capitolina – restos na muralha sul do Templo

Restos da cidade de Aelia Capitolina


Fonte de pesquisa para textos e imagens:
• https://en.wikipedia.org/
• https://pt.wikipedia.org/
• https://www.ancient-origins.net/
• https://pt.chabad.org/
• https://www.britannica.com/
• https://www.crystalinks.com/josephus.html
• https://www.crystalinks.com/josephius.html

Este texto se encontra no tema em anexo:


As Guerras Judaico-Romanas – Estudo bíblico (PDF)

As Guerras Judaico-Romanas (PDF)

The Jewish-Roman Wars (PDF)


Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti

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