A profecia de Dn 11: 1-45 fala dos casamentos políticos e guerras entre reis Selêucidas e Ptolomeus, o fim do período Helenístico e início do período Hasmoneano. Há uma relação com Tito.

The prophecy of Dan. 11: 1-45 talks about political marriages and wars between Seleucids and Ptolemies kings, the end of the Hellenistic period and the beginning of the Hasmonean period. It is also related to Titus.


Profecia de Dn 11: 1-45



Período profético de Daniel: 605-536 AC. O livro de Daniel foi provavelmente escrito entre 536 e 530 AC, pouco depois de Ciro conquistar a Babilônia em 539 AC, mas relata a história e as visões deste profeta desde o reinado de Nabucodonosor. Ciro, o imperador da Pérsia (Ciro II ou Ciro, o grande), foi quem ordenou a volta dos judeus em 538 AC (1º retorno dos exilados a Jerusalém). Reinou de 559 a 530 AC (como rei dos Persas, Medos, Lídios e Babilônios). Daniel ocupou os principais postos governamentais sob Nabucodonosor, Belsazar, Dario (o medo) e Ciro, tendo sua última visão às margens do rio Tigre. Em Daniel 11: 1 está escrito: “Mas eu [quem estava falando era o anjo enviado pelo Senhor, Gabriel ou outro anjo], no primeiro ano de Dario, o Medo, me levantei para o fortalecer e animar [animar Dario]”. Dario, o Medo, que sucedeu Belsazar, descendente de Nabucodonosor, rei da Babilônia, subiu ao poder com sessenta e dois anos de idade, nomeado por Ciro, o Persa, como governador desta mesma satrapia. Esse Dario, o Medo, é outra pessoa, diferente de Dario II (Ne 12: 22), o Dario o persa, que governou a Babilônia e a Pérsia (424–404 AC) depois de Artaxerxes. É diferente também de Dario I, sucessor de Cambises, que governou de 522 a 486 AC, quando se deu início à construção do templo de Jerusalém (520–516 AC).

Os reis Babilônicos foram:
• Nabopolassar – 626-605 AC.
• Nabucodonosor II – 605-562 AC.
• Evil-Merodaque (Evil-Marduque, Amel-Marduque, Amel-Marduk) – 562-560 AC.
• Neriglissar ou Nergal-sharezer (cunhado de Evil-Merodaque, a quem ele assassinou para tomar o poder): 559–556 AC. O nome Acadiano de Neriglissar é Nergal-šar-uṢur, que significa ‘O deus Nergal preserva/defende o rei’. Seu nome é mencionado como um dos oficiais de alta patente do rei Nabucodonosor II no livro de Jeremias 39: 13 (‘Nergal-Sarezer’).
• Labashi Marduque (Labashi-Marduk, Labaši-Marduk), filho de Neriglissar – reinou por nove meses (556 AC), e foi deposto pelos sacerdotes.
• Nabonido (Nabonadius) – 556-539 AC, e cujo filho, Belsazar, agiu como co-regente. Nabonido era casado com Nitócris, filha de Nabucodonosor.
Em 539 AC, Ciro II ou Ciro o Grande invade a Babilônia e incorpora este reino ao império Medo-Persa, fazendo dele uma satrapia sob o governo de Dario, o Medo.

Vamos colocar primeiro o texto bíblico de Dn 11: 1-45. A versão bíblica mais usada aqui é a ARA, às vezes completada pela NVI.

• Dn 11:
1 Mas eu [quem estava falando era o anjo enviado pelo Senhor, Gabriel ou outro anjo], no primeiro ano de Dario, o medo, me levantei para o fortalecer e animar [animar Dario].
2 Agora, eu te declararei a verdade: eis que ainda três reis se levantarão na Pérsia, e o quarto será cumulado de grandes riquezas mais do que todos; e, tornado forte por suas riquezas, empregará tudo contra o reino da Grécia.
3 Depois, se levantará um rei poderoso, que reinará com grande domínio e fará o que lhe aprouver.
4 Mas, no auge, o seu reino será quebrado e repartido para os quatro ventos do céu; mas não para a sua posteridade, nem tampouco segundo o poder com que reinou, porque o seu reino será arrancado e passará a outros fora de seus descendentes.
5 O rei do Sul será forte, como também um de seus príncipes; este será mais forte do que ele, e reinará, e será grande o seu domínio.
6 Mas, ao cabo de anos, eles se aliarão um com o outro; a filha do rei do Sul casará com o rei do Norte, para estabelecer a concórdia; ela, porém, não conservará a força do seu braço, e ele não permanecerá, nem o seu braço, porque ela será entregue, e bem assim os que a trouxeram, e seu pai, e o que a tomou por sua naqueles tempos.
7 Mas, de um renovo da linhagem dela, um se levantará em seu lugar, e avançará contra o exército do rei do Norte, e entrará na sua fortaleza, e agirá contra eles, e prevalecerá.
8 Também aos seus deuses com a multidão das suas imagens fundidas, com os seus objetos preciosos de prata e ouro levará como despojo para o Egito; por alguns anos, ele deixará em paz o rei do Norte.
9 Mas, depois, este avançará contra o reino do rei do Sul e tornará para a sua terra.
10 Os seus filhos farão guerra e reunirão numerosas forças; um deles virá apressadamente, arrasará tudo e passará adiante; e, voltando à guerra, a levará até à fortaleza do rei do Sul.
11 Então, este se exasperará, sairá e pelejará contra ele, contra o rei do Norte; este porá em campo grande multidão, mas a sua multidão será entregue nas mãos daquele.
12 A multidão será levada, e o coração dele se exaltará; ele derribará miríades, porém não prevalecerá.
13 Porque o rei do Norte tornará, e porá em campo multidão maior do que a primeira, e, ao cabo de tempos, isto é, de anos, virá à pressa com grande exército e abundantes provisões.
14 Naqueles tempos, se levantarão muitos contra o rei do Sul; também os dados à violência dentre o teu povo se levantarão para cumprirem a profecia, mas cairão.
15 O rei do Norte virá, levantará baluartes e tomará cidades fortificadas; os braços do Sul não poderão resistir, nem o seu povo escolhido, pois não haverá força para resistir.
16 O que, pois, vier contra ele fará o que bem quiser, e ninguém poderá resistir a ele; estará na terra gloriosa, e tudo estará em suas mãos.
17 Resolverá vir com a força de todo o seu reino, e entrará em acordo com ele, e lhe dará uma jovem em casamento, para destruir o seu reino; isto, porém, não vingará, nem será para a sua vantagem.
18 Depois, se voltará para as terras do mar e tomará muitas; mas um príncipe fará cessar-lhe o opróbrio e ainda fará recair este opróbrio sobre aquele.
19 Então, voltará para as fortalezas da sua própria terra; mas tropeçará, e cairá, e não será achado.
20 Levantar-se-á, depois, em lugar dele, um que fará passar um exator [NVI: ‘cobrador de impostos’] pela terra mais gloriosa do seu reino; mas, em poucos dias, será destruído, e isto sem ira nem batalha.
21 Depois, se levantará em seu lugar um homem vil, ao qual não tinham dado a dignidade real; mas ele virá caladamente e tomará o reino, com intrigas.
22 As forças inundantes serão arrasadas de diante dele; serão quebrantadas, como também o príncipe da aliança.
23 Apesar da aliança com ele, usará de engano; subirá e se tornará forte com pouca gente.
24 Virá também caladamente aos lugares mais férteis da província e fará o que nunca fizeram seus pais, nem os pais de seus pais: repartirá entre eles a presa, os despojos e os bens; e maquinará os seus projetos contra as fortalezas, mas por certo tempo.
25 Suscitará a sua força e o seu ânimo contra o rei do Sul, à frente de grande exército; o rei do Sul sairá à batalha com grande e mui poderoso exército, mas não prevalecerá, porque maquinarão projetos contra ele.
26 Os que comerem os seus manjares o destruirão, e o exército dele será arrasado, e muitos cairão traspassados.
27 Também estes dois reis se empenharão em fazer o mal e a uma só mesa falarão mentiras; porém isso não prosperará, porque o fim virá no tempo determinado.
28 Então, o homem vil tornará para a sua terra com grande riqueza, e o seu coração será contra a santa aliança; ele fará o que lhe aprouver e tornará para a sua terra.
29 No tempo determinado, tornará a avançar contra o Sul; mas não será nesta última vez como foi na primeira,
30 porque virão contra ele navios de Quitim, que lhe causarão tristeza; voltará, e se indignará contra a santa aliança, e fará o que lhe aprouver; e, tendo voltado, atenderá aos que tiverem desamparado a santa aliança.
31 Dele sairão forças que profanarão o santuário, a fortaleza nossa, e tirarão o sacrifício diário, estabelecendo a abominação desoladora.
32 Aos violadores da aliança, ele, com lisonjas, perverterá, mas o povo que conhece ao seu Deus se tornará forte e ativo.
33 Os sábios entre o povo ensinarão a muitos; todavia, cairão pela espada e pelo fogo, pelo cativeiro e pelo roubo, por algum tempo.
34 Ao caírem eles, serão ajudados com pequeno socorro; mas muitos se ajuntarão a eles com lisonjas.
35 Alguns dos sábios cairão para serem provados, purificados e embranquecidos, até ao tempo do fim, porque se dará ainda no tempo determinado.
36 Este rei fará segundo a sua vontade, e se levantará, e se engrandecerá sobre todo deus; contra o Deus dos deuses falará coisas incríveis e será próspero, até que se cumpra a indignação; porque aquilo que está determinado será feito.
37 Não terá respeito aos deuses de seus pais, nem ao desejo de mulheres, nem a qualquer deus, porque sobre tudo se engrandecerá.
38 Mas, em lugar dos deuses, honrará o deus das fortalezas; a um deus que seus pais não conheceram, honrará com ouro, com prata, com pedras preciosas e coisas agradáveis.
39 Com o auxílio de um deus estranho, agirá contra as poderosas fortalezas, e aos que o reconhecerem, multiplicar-lhes-á a honra, e fá-los-á reinar sobre muitos, e lhes repartirá a terra por prêmio.
40 No tempo do fim, o rei do Sul lutará com ele, e o rei do Norte arremeterá contra ele com carros, cavaleiros e com muitos navios, e entrará nas suas terras, e as inundará, e passará.
41 Entrará também na terra gloriosa, e muitos sucumbirão, mas do seu poder escaparão estes: Edom, e Moabe, e as primícias dos filhos de Amom.
42 Estenderá a mão também contra as terras, e a terra do Egito não escapará.
43 Apoderar-se-á dos tesouros de ouro e de prata e de todas as coisas preciosas do Egito; os líbios e os etíopes o seguirão.
44 Mas, pelos rumores do Oriente e do Norte, será perturbado e sairá com grande furor, para destruir e exterminar a muitos.
45 Armará as suas tendas palacianas entre os mares contra o glorioso monte santo; mas chegará ao seu fim, e não haverá quem o socorra.

Vamos, então, descobrir o que tudo isso significa:

• Dn 11: 2-4: “Agora, eu te declararei a verdade: eis que ainda três reis se levantarão na Pérsia (Ciro, Cambises II e Dario I), e o quarto (Xerxes) será cumulado de grandes riquezas mais do que todos; e, tornado forte por suas riquezas, empregará tudo contra o reino da Grécia. Depois (Do reinado dos descendentes de Xerxes), se levantará um rei poderoso (Alexandre, o Grande), que reinará com grande domínio e fará o que lhe aprouver. Mas, no auge, o seu reino será quebrado e repartido para os quatro ventos do céu (Entre seus quatro generais); mas não para a sua posteridade, nem tampouco segundo o poder com que reinou, porque o seu reino será arrancado e passará a outros fora de seus descendentes (o filho de Alexandre com sua esposa Roxana, Alexandre IV, morreu assassinado aos 13 anos de idade, assim como a própria Roxana e a mãe de Alexandre o grande, Olímpia, todos mortos por seu general Cassandro)”.

Aqui, a bíblia se refere a Alexandre o Grande (332 AC). Este fato também é relatado em Dn 8: 5-8; 20-22, onde a bíblia fala que o carneiro com dois chifres simboliza a Média e a Pérsia, e o bode peludo simboliza a Grécia. Um único chifre fala do poder de Alexandre, o Grande, se quebrando e dando lugar a quatro chifres (símbolo dos seus quatro generais), e que depois, de um dos chifres sai um único chifre pequeno que se torna forte para o sul, para o oriente e para a terra gloriosa (Dn 8: 9 = Israel), simbolizando Antíoco IV Epifânio (175-164 AC).


Visão de Daniel: O carneiro e o bode


O reino da Grécia também é simbolizado no livro de Daniel por outro animal:
• Dn. 7: 6: “Depois disto, continuei olhando, e eis aqui outro, semelhante a um leopardo, e tinha nas costas quatro asas de ave; tinha também este animal quatro cabeças, e foi-lhe dado domínio”.


Leopardo com asas


• Dn 11: 5: “O rei do Sul será forte, como também um de seus príncipes; este será mais forte do que ele, e reinará, e será grande o seu domínio” (ARA);
“O rei do Sul se tornará forte, mas um dos seus príncipes se tornará ainda mais forte que ele e governará o seu próprio reino com grande poder” (NIV).
O reino do Sul se refere ao Egito, ao sul da Palestina. “O rei do Sul será forte” = Ptolomeu I Sóter; “como também um de seus príncipes” = um dos generais de Alexandre, o Grande: Seleucos I Nicator (para quem a Síria foi dada), que reinou com mais poder que Ptolomeu I Sóter.

• Dn 11: 6: “Mas, ao cabo de anos, eles se aliarão um com o outro; a filha do rei do Sul casará com o rei do Norte, para estabelecer a concórdia; ela, porém, não conservará a força do seu braço, e ele não permanecerá, nem o seu braço, porque ela será entregue, e bem assim os que a trouxeram, e seu pai, e o que a tomou por sua naqueles tempos”.
“Ao cabo de anos” = por volta de 50 anos depois (o neto de Seleucos I Nicator: Antíoco II Theos); “Eles se aliarão um com o outro” = os descendentes de Ptolomeu I Sóter e Seleucos I Nicator, respectivamente, Ptolomeu II Filadelfo e Antíoco II Theos.
“A filha do rei do Sul casará com o rei do Norte” = casamento de Berenice Sira (filha de Ptolomeu II Filadelfo e Arsínoe I) com Antíoco II Theos, o terceiro rei selêucida (261-246 AC) para selar a paz com o Egito na Segunda Guerra Síria.

• Dn 11: 7-9: “Mas, de um renovo da linhagem dela, um se levantará em seu lugar, e avançará contra o exército do rei do Norte, e entrará na sua fortaleza, e agirá contra eles, e prevalecerá. Também aos seus deuses com a multidão das suas imagens fundidas, com os seus objetos preciosos de prata e ouro levará como despojo para o Egito; por alguns anos, ele deixará em paz o rei do Norte. Mas, depois, este avançará contra o reino do rei do Sul e tornará para a sua terra”.
“Um renovo da linhagem dela” = o irmão de Berenice Sira, Ptolomeu III Evérgeta, voltou a invadir a Síria, a Cilícia e conquistou todas as terras até o rio Eufrates (Terceira Guerra Síria ou Guerra Laodiciana).

• Dn 11: 10-14: “Os seus filhos farão guerra e reunirão numerosas forças; um deles virá apressadamente, arrasará tudo e passará adiante; e, voltando à guerra, a levará até à fortaleza do rei do Sul. Então, este se exasperará, sairá e pelejará contra ele, contra o rei do Norte; este porá em campo grande multidão, mas a sua multidão será entregue nas mãos daquele. A multidão será levada, e o coração dele se exaltará; ele derribará miríades, porém não prevalecerá. Porque o rei do Norte tornará, e porá em campo multidão maior do que a primeira, e, ao cabo de tempos, isto é, de anos, virá à pressa com grande exército e abundantes provisões. Naqueles tempos, se levantarão muitos contra o rei do Sul; também os dados à violência dentre o teu povo se levantarão para cumprirem a profecia, mas cairão”.
“Os seus filhos farão guerra” = guerras entre o reino Selêucida e Ptolomaico pelo Egito, Síria e Palestina, principalmente entre os reinados dos reis Selêucidas: Seleuco II Calínico, Seleuco III Cerauno e Antíoco III (246-187 AC), e dos reis Ptolomaicos: Ptolomeu III Evérgeta, Ptolomeu IV Epifânio e Ptolomeu V Epifânio (246-181 AC).

• Dn 11: 15-16: “O rei do Norte virá, levantará baluartes e tomará cidades fortificadas; os braços do Sul não poderão resistir, nem o seu povo escolhido, pois não haverá força para resistir. O que, pois, vier contra ele fará o que bem quiser, e ninguém poderá resistir a ele; estará na terra gloriosa, e tudo estará em suas mãos”.
“O rei do Norte” = Antíoco, o Grande (Antíoco III Magno) em 200-198 AC, que se apodera do Egito, da Palestina e da Celessíria.

• Dn 11: 17: “Resolverá vir com a força de todo o seu reino, e entrará em acordo com ele, e lhe dará uma jovem em casamento, para destruir o seu reino; isto, porém, não vingará, nem será para a sua vantagem”;
“Virá com o poder de todo o seu reino e fará uma aliança com o rei do sul. Ele lhe dará uma filha em casamento a fim de derrubar o reino, mas o seu plano não terá sucesso e em nada o ajudará” (NVI).
“Lhe dará uma jovem em casamento” = referência ao casamento de Cleópatra I (filha de Antíoco III Magno) com o rei egípcio Ptolomeu V Epifânio (reinado: 203-181 AC).

• Dn 11: 18-19: “Depois, se voltará para as terras do mar e tomará muitas; mas um príncipe fará cessar-lhe o opróbrio e ainda fará recair este opróbrio sobre aquele. Então, voltará para as fortalezas da sua própria terra; mas tropeçará, e cairá, e não será achado” (ARA)
“Então ele voltará a atenção para as regiões costeiras e se apossará de muitas delas, mas um comandante reagirá com arrogância à arrogância dele e lhe dará fim. Depois disso ele se dirigirá para as fortalezas de sua própria terra, mas tropeçará e cairá, para nunca mais aparecer” (NVI).
“Terras do mar” = ilhas da Grécia. “mas um príncipe” ou “um comandante” = referência a Públio Cornélio Cipião Africano, chamado ‘o Velho’, um general Romano durante a Segunda Guerra Púnica (218-202 AC) e um estadista da República Romana (período de vida: 236-183 AC), o que está em acordo com a data de governo de Antíoco III, o Grande (reinado: 223-187AC). A presença de Públio Cornélio Cipião Africano ali simboliza Roma entrando no leste pela primeira vez.

• Dn 11: 20: “Levantar-se-á, depois, em lugar dele, um que fará passar um exator pela terra mais gloriosa do seu reino; mas, em poucos dias, será destruído, e isto sem ira nem batalha” (ARA);
“Seu sucessor enviará um cobrador de impostos para manter o esplendor real. Contudo, em poucos anos ele será destruído, sem necessidade de ira nem combate” (NVI).
“Um exator” ou “um cobrador de impostos” = uma referência a Seleuco IV Filopatro (187-175 AC), filho de Antíoco III Magno. Ele deu ordem ao seu comandante Heliodoro para cobrar impostos no templo de Jerusalém a fim de pagar a indenização de guerra exigida por Roma (por causa do que seu pai fez), mas este encontrou oposição do sumo sacerdote e retornou. No mesmo ano, Seleuco IV Filopator foi assassinado (envenenado) por Heliodoro. Ele tinha 60 anos quando morreu.

Dn 11: 21-28: “Depois, se levantará em seu lugar um homem vil (Antíoco IV Epifânio), ao qual não tinham dado a dignidade real; mas ele virá caladamente e tomará o reino, com intrigas. As forças inundantes serão arrasadas de diante dele; serão quebrantadas, como também o príncipe da aliança. Apesar da aliança com ele, usará de engano; subirá e se tornará forte com pouca gente. Virá também caladamente aos lugares mais férteis da província e fará o que nunca fizeram seus pais, nem os pais de seus pais: repartirá entre eles a presa, os despojos e os bens; e maquinará os seus projetos contra as fortalezas, mas por certo tempo. Suscitará a sua força e o seu ânimo contra o rei do Sul, à frente de grande exército; o rei do Sul sairá à batalha com grande e mui poderoso exército, mas não prevalecerá, porque maquinarão projetos contra ele. Os que comerem os seus manjares o destruirão, e o exército dele será arrasado, e muitos cairão traspassados. Também estes dois reis se empenharão em fazer o mal e a uma só mesa falarão mentiras; porém isso não prosperará, porque o fim virá no tempo determinado. Então, o homem vil tornará para a sua terra com grande riqueza, e o seu coração será contra a santa aliança; ele fará o que lhe aprouver e tornará para a sua terra” (ARA);

“Ele será sucedido por um ser desprezível, a quem não tinha sido dada a honra da realeza. Este invadirá o reino quando o povo se sentir seguro, e se apoderará do reino por meio de intrigas. Então um exército avassalador será arrasado diante dele; tanto o exército como um príncipe da aliança serão destruídos. Depois de um acordo feito com ele, agirá traiçoeiramente, e com apenas um pequeno grupo chegará ao poder. Quando as províncias mais ricas se sentirem seguras, ele as invadirá e realizará o que nem seus pais nem seus antepassados conseguiram: distribuirá despojos, saques e riquezas entre seus seguidores. Ele tramará a tomada de fortalezas, mas só por algum tempo. Com um grande exército juntará suas forças e sua coragem contra o rei do sul. O rei do sul guerreará mobilizando um exército grande e poderoso, mas não conseguirá resistir por causa dos golpes tramados contra ele. Mesmo os que estiverem sendo alimentados pelo rei tentarão destruí-lo; seu exército será arrasado, e muitos cairão em combate. Os dois reis, com seu coração inclinado para o mal, sentarão à mesma mesa e mentirão um para o outro, mas sem resultado, pois o fim só virá no tempo determinado. O rei do norte voltará para a sua terra com grande riqueza, mas o seu coração estará voltado contra a santa aliança. Ele empreenderá ação contra ela e depois voltará para a sua terra” (NVI).

“Um homem vil” ou “um ser desprezível” = Antíoco IV Epifânio (175-164 AC) usou de todos os artifícios de mentira, engano, astúcia, lisonjas e crueldade como ninguém fizera antes dele. Epifânio significa: “ilustre” ou “que se manifesta com esplendor”. Para se manter no poder, ele não tinha qualquer escrúpulo. Sua ascensão ao trono da Síria foi através de intrigas e engano e tinha sede de conquista, derramando o sangue dos seus adversários em muitas guerras. Enriqueceu com os despojos das guerras, quando lutou contra o Egito. A bíblia o chama de “homem vil”, porque fingindo amizade e aliança, entrou no Egito e se apoderou do reino de Ptolomeu VI Filometor (“príncipe da aliança”). “O rei do sul guerreará mobilizando um exército grande e poderoso” ou “O rei do sul guerreará mobilizando um exército grande e poderoso” = Ptolomeu VIII Evérgeta II ou Ptolomeu VIII Fiscon – 182-116 AC. Ele tinha realmente um grande e poderoso exército em torno de si e podia, como diz a História, vencer o próprio Antíoco Epifânio; mas seu plano foi frustrado pela traição dentro de seu próprio exército, pois seus generais não concordavam com a sua ambição de incorporar o seu reino ao reino Selêucida. De ambos os lados existia grande multidão, os dois exércitos extremamente numerosos. Entretanto, a ambição predominava, e o rei do Sul (Egito) foi o mais envolvido (“mas não conseguirá resistir por causa dos golpes tramados contra ele. Mesmo os que estiverem sendo alimentados pelo rei (seus generais) tentarão destruí-lo; seu exército será arrasado, e muitos cairão em combate”). Durante alguns anos, os Ptolomeus e Selêucidas fizeram vários tratados, com a finalidade de encontrar a paz entre os dois impérios, mas seus corações tinham um só intento: enganar um ao outro (“Os dois reis, com seu coração inclinado para o mal, sentarão à mesma mesa e mentirão um para o outro”). Estes dois reis (do Norte e do Sul), segundo alguns historiadores, se referem novamente a Antíoco Epifânio e Ptolomeu VI Filometor. “O homem vil tornará para a sua terra” ou “O rei do norte voltará para a sua terra” = a primeira expedição de Antíoco IV Epifânio contra o Egito em 170 AC, quando conquistou Pelúsio, no delta do Nilo. Mas dificuldades em sua pátria (traições por parte do seu próprio povo contra ele) o forçaram a deixar o Egito. No caminho de volta (levando muito despojo), ele saqueou Jerusalém e o tesouro do templo. Ele tentou uma segunda expedição contra o Egito para tomar Alexandria em 168 AC, mas interrompida por intervenção de Roma, através do cônsul Caio Popílio Lenas.

• Dn 11: 29-30: “No tempo determinado, tornará a avançar contra o Sul; mas não será nesta última vez como foi na primeira, porque virão contra ele navios de Quitim, que lhe causarão tristeza; voltará, e se indignará contra a santa aliança, e fará o que lhe aprouver; e, tendo voltado, atenderá aos que tiverem desamparado a santa aliança”.
“Tornará a avançar contra o Sul” = a segunda expedição de Antíoco IV Epifânio contra o Egito, mas interrompida por intervenção de Roma (cônsul Caio Popílio Lenas). “Navios de Quitim” é uma provável referência a Roma ou Grécia. Quitim foi um dos filhos de Javã (filho de Jafé, filho de Noé – Gn 10: 4; 1 Cr 1: 7), ancestral dos gregos, e cujos descendentes se estabeleceram em Chipre e ocupavam-se no comércio marítimo. A Septuaginta traduz a palavra ‘Quitim’ em Daniel 11: 30 como romaíoi (ρωμαίοι) = romanos.

• Dn 11: 31: “Dele sairão forças que profanarão o santuário, a fortaleza nossa, e tirarão o sacrifício diário, estabelecendo a abominação desoladora” (NVI: o sacrilégio terrível).
Este trecho está se referindo a Antíoco IV, quando cometeu sacrilégio matando um porco (animal imundo) no altar. Também pode se referir à instalação da estátua de Zeus no templo. Jesus relatou o mesmo fato com as palavras: “Quando, pois, virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel no lugar santo (quem lê entenda – Mt 24: 15)” e “Quando, pois, virdes o abominável da desolação situado onde não deve estar (quem lê entenda – Mc 13: 14)”, extraído de Dn 9: 27; Dn 11: 31; Dn 12: 11.

Isso se repetiria com a destruição do templo pelos romanos em 70 DC, além de ter também uma relação com os atos de profanação do templo e da cidade de Jerusalém pelo Anticristo. Antíoco IV enviou um grande exército contra Jerusalém e tomou-a em ataque relâmpago; matou 40.000 pessoas; vendeu muitos judeus como escravos; ele instalou a estátua de Zeus no templo; mandou sacrificar um porco no altar e borrifar o sangue no templo; invadiu o Santo dos Santos e pilhou os vasos de ouro e outros utensílios do templo, no valor de mil talentos; ele também interferiu na escolha do sumo sacerdote e do governador de Judá. A interpretação escatológica vê o Anticristo tipificado em tudo isso.

Houve uma diferença entre a atitude de Pompeu quando entrou em Jerusalém em 63 AC, anexando a província da Judéia à República Romana, e a atitude de Tito, em 70 DC. Pompeu entrou no Santo dos Santos com seus oficiais, o que era um grave insulto para os judeus. Entretanto, por respeito à santidade do templo, ordenou que nada fosse removido ou danificado. Pompeu considerou necessário, talvez, demonstrar seu poder ao entrar no templo, mas mostrou sua disposição de respeitar a fé judaica e deixar seu lugar sagrado inviolado, a não ser que os judeus o forçassem a destruí-lo.

Tito, ao contrário, cercou a cidade com três legiões sobre o lado oeste e uma legião sobre o Monte das Oliveiras, a leste. Tito cortou os alimentos e a água à cidade; permitiu a entrada de alguns judeus para celebrar a Páscoa negando depois sua saída. Após tentativas frustradas de negociação entre judeus e romanos, Tito entrou com as legiões, destruindo a parte exterior das muralhas e crucificando os desertores judeus em torno das muralhas. Os judeus já estavam se rendendo por causa da fome. Os romanos tiraram vantagem desta fragilidade, rompendo as partes internas das muralhas e penetrando na cidade. Eles tomaram a Fortaleza Antônia, que era não somente uma torre forte de vigia, mas também a residência do procurador romano quando estava em Jerusalém. Mais de um milhão de cidadãos (segundo Flávio Josefo), ou noventa e sete mil (segundo outros historiadores), foram assassinados durante o sítio, a maioria deles judeus. Milhares de pessoas foram capturadas e escravizadas. Muitos escaparam para locais próximos do Mediterrâneo. Sob o comando de Tito, os soldados também invadiram o templo, após ser incendiado por uma tocha de fogo lançada contra ele. A cidade foi saqueada e os objetos sagrados levados para Roma.

Esse fato foi retratado em forma de relevo no Arco de Tito, em Roma. O Arco de Tito, todo feito de mármore, foi erigido como um triunfo comemorando a conquista de Jerusalém, e construído em 81 DC após a morte do imperador. No Arco pode-se ver esculpidos a mesa com os pães da proposição, as trombetas de prata e a Menorá (o candelabro de sete lâmpadas). No arco de Tito, pode-se ler a seguinte inscrição:
“SENATVS·POPVLVSQVE·ROMANVS· DIVO·TITO·DIVI·VESPASIANI· (FILIO)VESPASIANO·AVGVSTO”, que significa: “O senado e o povo romano [dedicam] ao divino Tito Vespasiano Augusto, filho do divino Vespasiano”.

• Dn 11: 32: “Aos violadores da aliança, ele, com lisonjas, perverterá, mas o povo que conhece ao seu Deus se tornará forte e ativo”.
“Os violadores da aliança” = alguns judeus incrédulos, que facilitaram a infiltração de Antíoco Epifânio na Cidade Santa. No futuro, “Os violadores da aliança” pode se referir àqueles que serão enganados pelo Anticristo no início da Grande Tribulação (Dn 9: 27).
“O povo que conhece ao seu Deus se tornará forte” = refere-se aos Macabeus, a partir de 167 AC. Nos dias do Anticristo, será “os remanescentes da Igreja, do Israel espiritual de Deus”. Naqueles dias também haverá fiéis que desafiarão o poder hostil do Anticristo (Besta), mesmo que isso lhes custe a própria vida (Ap 6: 9-11; Ap 12: 11).

• Dn 11: 33-35: “Os sábios entre o povo ensinarão a muitos; todavia, cairão pela espada e pelo fogo, pelo cativeiro e pelo roubo, por algum tempo. Ao caírem eles, serão ajudados com pequeno socorro; mas muitos se ajuntarão a eles com lisonjas. Alguns dos sábios cairão para serem provados, purificados e embranquecidos, até ao tempo do fim, porque se dará ainda no tempo determinado” (ARA);
“Aqueles que são sábios instruirão a muitos, mas por certo período cairão à espada e serão queimados, capturados e saqueados. Quando caírem, receberão uma pequena ajuda, e muitos que não são sinceros se juntarão a eles. Alguns dos sábios tropeçarão para que sejam refinados, purificados e alvejados até a época do fim, pois isso só acontecerá no tempo determinado” (NVI).

“Os sábios entre o povo” = no tempo dos Macabeus, homens com percepção espiritual circulavam entre o povo ensinando as Escrituras e continuaram pregando, mesmo sob perseguição e morte. Muitos desses sábios morreram, mas aqueles que sobreviveram permaneceram puros até o fim. A espada, fogo, cativeiro e roubo são um sumário das tribulações da vida e dos sofrimentos dos homens e mulheres fiéis desde a ressurreição de Jesus até hoje, em todas as partes do mundo, durante o processo de purificação de suas almas, o que acontece igualmente conosco. Sábios são aqueles que compreenderam os propósitos e os retos caminhos de Deus, têm prazer neles e compartilham o seu conhecimento e experiência com outras pessoas, para que elas também recebam a vida eterna. Aos olhos de Deus, sábio é aquele que conhece e pratica a verdade. Eles viverão para sempre na presença do seu Deus.

Este texto também pode ser uma referência às duas testemunhas mártires da Grande Tribulação (Ap 11: 3-14). Naqueles dias de tantas trevas, eles ensinarão a muitos, mas depois serão mortas pela Besta que subiu do mar (Abismo – Ap 11: 7), para que o seu testemunho tenha um maior valor.
“no tempo determinado” = refere-se à época do Evangelho de Cristo, à época do Espírito Santo e do crescimento da Igreja Primitiva, e também à Grande Tribulação.

• Dn 11: 36-39: “Este rei fará segundo a sua vontade, e se levantará, e se engrandecerá sobre todo deus; contra o Deus dos deuses falará coisas incríveis e será próspero, até que se cumpra a indignação; porque aquilo que está determinado será feito. Não terá respeito aos deuses de seus pais, nem ao desejo de mulheres [NVI, nem pelo deus preferido das mulheres], nem a qualquer deus, porque sobre tudo se engrandecerá. Mas, em lugar dos deuses, honrará o deus das fortalezas; a um deus que seus pais não conheceram, honrará com ouro, com prata, com pedras preciosas e coisas agradáveis. Com o auxílio de um deus estranho, agirá contra as poderosas fortalezas, e aos que o reconhecerem, multiplicar-lhes-á a honra, e fá-los-á reinar sobre muitos, e lhes repartirá a terra por prêmio”.

Explicando

O Deus dos deuses = O Deus de Israel.
Não terá respeito aos deuses de seus pais = os deuses sírios, nem mesmo Baal.
Nem ao desejo de mulheres [NVI, nem pelo deus preferido das mulheres] = aqui, pelo fato de o contexto estar falando de deuses, é muito provável que esteja se referindo a Adônis, deus grego também chamado Tamuz (em Babilônico; ou Dumuzid, o deus mesopotâmico dos pastores, e também associado com o crescimento das plantas), venerado pelas mulheres, até pelas mulheres judias (Ez 8: 14: “Levou-me à entrada da porta da Casa do Senhor, que está no lado norte, e eis que estavam ali mulheres assentadas chorando a Tamuz”). Neste versículo de Ezequiel, o profeta recebe de Deus a revelação sobre as abominações praticadas em Jerusalém, entre elas, a atitude das mulheres que estavam chorando no Templo por esse deus estrangeiro. O culto ao Tamuz da Mesopotâmia era aceito pelos judeus exilados. Tamuz é aquele que morre e renasce a cada ano, o deus adorado pelas mulheres judias. A prova disso é que o nome do 4º mês judaico pós-exílico, que corresponde a Junho–Julho do nosso calendário cristão, é justamente ‘Tamuz’, coincidindo com o tempo de colheita de uvas. Tamuz em hebraico significa: ‘escondido’, ‘filho da vida’. Uma forte evidência de que Tamuz era o mesmo deus grego Adônis é o festival de Adonia, comemorado com flores e frutas, como foi dito acima em relação ao nome do mês judaico correspondente a Junho–Julho do nosso calendário cristão. Adônis (grego: Αδωνις) é um herói da mitologia grega no período helenístico, amado por Afrodite e Perséfone. Ele nasceu de uma relação incestuosa entre Myrrha (Em Português, Mirra ou Esmirna) e seu pai Kinyras (Cíniras, em Português; também chamado Theias), rei de Chipre (ou Assíria / Síria), e passa uma parte do seu tempo no reino dos vivos e outra no submundo, ou reino dos mortos. Foi morto ainda jovem por um javali selvagem enquanto caçava. Ártemis ou Artemísia (para os gregos) ou Diana (para os romanos) era a deusa da lua e da caça. Ela enviou um javali para matar Adônis como um castigo pela sua arrogância em dizer que ele era melhor caçador do que ela. Os festivais de Adonia em Atenas, em Alexandria e no mundo romano (5º ao 4º século AC) celebram tanto a sua morte pelas mãos de Ártemis quanto o seu amor por Perséfone (do reino dos mortos) e Afrodite (no reino dos vivos). Esses festivais eram caracterizados pelo alto número de mulheres participando, por sua alegria e libertinagem (Afrodite ou Vênus era a deusa do amor, da beleza e da sexualidade), e pelo seu ritual de luto. Eram muito conhecidos os jardins de Adônis, cujas plantas depois de cortadas eram postas em vasos com a sua imagem, feita de madeira, e depressa murchavam (Perséfone era a deusa das ervas, flores, frutos e perfumes). O culto de Adônis era concebido como um deus morrendo e ressuscitando. A cidade de Biblos na Fenícia era dedicada a Adônis. O culto de Adônis em Biblos era praticamente o mesmo culto fenício / cananeu a ‘Baal’. Esse deus não era somente uma deidade da primavera ou um espírito da vegetação, mas um importante deus de cidade, comparável a Baal-Melcarte em Tiro, e Eshmun, em Sidom. Na Síria e na Palestina, Adônis era chamado por um título (Baal, Adon) em vez do nome próprio.
Nem a qualquer deus = os deuses de outras nações.
Porque sobre tudo se engrandecerá [Em inglês, a bíblia escreve: “pois ele se considerará maior do que todos eles”].
O deus das fortalezas = este parece ser Júpiter, ou Zeus, o deus supremo dos romanos e gregos. Na Concordância Lexicon Strong, a palavra hebraica usada para ‘fortaleza’ pode ser escrita de várias maneiras: ma`owz ou mauwz ou mahoz ou mauz, sendo a mais conhecida ‘mahoz’, cujo plural é Mahuzzim (‘fortalezas’). Ela tem vários significados: um lugar fortificado; uma defesa, força, fortaleza (como uma fortaleza militar, uma cidade fortemente fortificada adequada para uma grande guarnição), rocha, fortalecer, forte, fortaleza (um local que tenha sido fortificado de modo a protegê-lo contra ataques). Além de simbolizar a força da glória e do dinheiro de Roma, o ‘deus das fortalezas’ (Zeus ou Júpiter, seu equivalente romano) pode ser chamado o deus das forças da natureza, pois para os gregos, Zeus, na mitologia grega, é o pai dos deuses e dos homens, e que exercia a autoridade sobre os demais deuses olímpicos. É o deus dos raios na mitologia grega, o rei dos deuses, o deus do céu, do trovão e relâmpago, o deus da lei, da ordem e da justiça. Na Síria, na Fenícia e em Canaã, Baal era considerado o Deus supremo, inclusive tendo poder sobre as forças da natureza e os fenômenos atmosféricos.
Um deus que seus pais não conheceram, honrará com ouro, com prata, com pedras preciosas e coisas agradáveis = Júpiter (um deus que os ancestrais de Antíoco Epifânio da Síria não conheceram) seria adorado com ouro e prata, com pedras preciosas e com coisas agradáveis, porque, através disso, todos os homens o teriam em admiração por seu poder e riqueza.
Com o auxílio de um deus estranho = os deuses greco-romanos que Antíoco IV Epifânio adotou, como o deus grego Zeus (Júpiter para os romanos), cuja estátua ele colocou em Jerusalém. Júpiter era filho de Saturno e Cibele, e conhecido como o deus romano do dia, comumente identificado com o deus grego Zeus. Também era chamado de Jove (Jovis). Júpiter se casou com Juno, a filha preferida de Cibele. Seus filhos foram: Marte, Minerva e Vênus. Na mitologia romana, Marte é o pai de Rômulo e Remo os lendários fundadores de Roma.
• Agirá contra as poderosas fortalezas, ou seja, as muralhas de Jerusalém e as do templo. A palavra hebraica para ‘fortalezas’ continua sendo ma`owz ou mauwz ou mahoz ou mauz, com o mesmo significado: um lugar fortificado; uma defesa, força, fortaleza, rocha, fortalecer, forte. Entretanto, a expressão ‘as poderosas fortalezas’ pode ser entendida como: ‘fortalezas de munições’, uma fortificação, castelo ou cidade fortificada; figurativamente, um defensor, cercada por uma cerca, fortaleza. Da raiz primitiva = batsar = ser isolado (inatacável, ou seja, inacessíveis por altura ou fortificação), cortado, defesa ou cerca, fortificar, coisas poderosas, restringir, forte, parede erguida, reter. Neste versículo, a expressão ‘poderosas fortalezas’ se refere ao templo de Jerusalém e seus muros, pois no v. 31 ele é chamado de ‘o santuário de força’ ou ‘o santuário, a fortaleza nossa’. Lá, Antíoco colocou a estátua desse deus estranho (Júpiter do Olimpo).
E aos que o reconhecerem (“Os violadores da Aliança” – Dn. 11: 32), multiplicar-lhes-á a honra, e fá-los-á reinar sobre muitos (talvez, até, o sumo sacerdote e o governador de Judá); e lhes repartirá a terra por prêmio = Antíoco fará com que aqueles que ministram a este ídolo reinem sobre muitos, colocá-los-á em postos de poder e confiança, e eles dividirão a terra por preço, ou seja, receberão um ‘salário’ extra por adorarem o deus estranho; em outras palavras, ‘a glória e o dinheiro de Roma’, pois o dinheiro é uma força e um deus. Assim, as pessoas não fiéis a Deus (‘os violadores da aliança’) honrarão o deus das fortalezas com vastos tesouros dedicados a ele (ou ‘os deuses das fortalezas’: Mahuzzim).

No que se refere aos tempos apocalípticos, isso se refere a um rei (governante) que agirá segundo a sua própria vontade, um homem que chega ao poder, prospera, cresce em força e, então, investe contra o Deus de Israel. Repetirá os feitos de Antíoco IV Epifânio. Esse rei assume o papel de divindade: “o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus” (2 Ts 2: 4). É o que está escrito em Dn 11: 38-39: “Mas, em lugar dos deuses, honrará o deus das fortalezas [o deus do poder]; a um deus que seus pais não conheceram [pode se referir à auto-adoração ou a um deus diferente do que foi adorado por seus ancestrais], honrará com ouro, com prata, com pedras preciosas e coisas agradáveis. Com o auxílio de um deus estranho, agirá contra as poderosas fortalezas [as muralhas de Jerusalém e do templo, o que aconteceu no passado, e à cidade de Jerusalém dos tempos da Grande Tribulação], e aos que o reconhecerem [‘Os violadores da Aliança’ – Dn 11: 32], multiplicar-lhes-á a honra, e fá-los-á reinar sobre muitos, e lhes repartirá a terra por prêmio”.

• Dn 11: 40-45: “No tempo do fim, o rei do Sul lutará com ele, e o rei do Norte arremeterá contra ele com carros, cavaleiros e com muitos navios, e entrará nas suas terras, e as inundará, e passará. Entrará também na terra gloriosa, e muitos sucumbirão, mas do seu poder escaparão estes: Edom, e Moabe, e as primícias dos filhos de Amom. Estenderá a mão também contra as terras, e a terra do Egito não escapará. Apoderar-se-á dos tesouros de ouro e de prata e de todas as coisas preciosas do Egito; os líbios e os etíopes o seguirão. Mas, pelos rumores do Oriente e do Norte, será perturbado e sairá com grande furor, para destruir e exterminar a muitos. Armará as suas tendas palacianas entre os mares contra o glorioso monte santo; mas chegará ao seu fim, e não haverá quem o socorra”.

Antíoco IV se envolveu na Sexta Guerra da Síria contra o Egito (170-168 AC) e seus reis (os irmãos Ptolomeu VI Filometor e Ptolomeu VIII Evérgeta II), conquistando a estratégica cidade de Pelúsio (no extremo nordeste do delta do Nilo). Os etíopes e os líbios o ajudaram. Ele tentou uma segunda expedição contra o Egito para tomar Alexandria em 168 AC, mas interrompida por intervenção de Roma, que enviou o cônsul Caio Popílio Lenas para essa cidade. Antíoco IV, que já havia tomado Chipre e Mênfis, voltou para Alexandria, mas se encontrou com o cônsul romano em Elêusis, nas cercanias da capital. Ali, Caio Popílio Lenas lhe deu um ultimato em nome do senado romano para que ele saísse imediatamente de Chipre e do Egito. Antíoco optou por obedecer.

Em 168-167 AC, na volta da guerra contra o Egito, Antíoco IV Epifânio conquistou Jerusalém que passou a ser permanentemente controlada por soldados. Ele estabeleceu seu pavilhão real (suas tendas) entre o Mar Mediterrâneo e o Mar Morto, em Israel, na cidade de Emaús, perto de Jerusalém. Dali ele deu todo o poder aos seus capitães para prosseguir a guerra contra os judeus com o maior rigor. Ele colocou sua tenda lá como se tivesse tomado a posse da gloriosa montanha sagrada. Ele não se importou com Edom, Moabe e Amom porque eles foram seus aliados, ajudando-o a invadir Israel. Antíoco IV cometeu sacrilégio matando um porco (animal imundo) no altar do templo. Ele procurou estabelecer o helenismo à força, instituindo como lei a destruição dos exemplares das Escrituras e proibindo o culto judaico: a observância do shabbat, as proibições alimentares e até a circuncisão. No Templo de Jerusalém foi instalada uma estátua do deus grego Zeus (Júpiter para os romanos). Esta situação (romanização e helenização da Judéia) gerou descontentamento entre os judeus fiéis como Matatias e seus filhos: Simão, Judas (o macabeu), Eleazar, João e Jônatas (a família Hasmoneana, conhecida como Macabeus). Os Macabeus acabaram por expulsar as tropas de Antíoco IV de Jerusalém. A Revolta dos Macabeus durou de 167-160 AC. O rei selêucida chegou ao termo do seu reinado no ano 164 AC, com uma doença grave (Cogita-se que um câncer, uma doença ‘sem socorro’ – “e não haverá quem o socorra”), vindo a falecer em 162 AC.

Voltando um pouco para Dn 11: 31: “Dele sairão forças que profanarão o santuário, a fortaleza nossa, e tirarão o sacrifício diário, estabelecendo a abominação desoladora”. Segundo alguns teólogos, o termo “abominação desoladora” ou “sacrilégio terrível” (NVI), ou seja, desolação, pesar, tristeza, devastação, mencionado por Jesus em Mt 24: 15 e Mc 13: 14 se refere a Dn 12: 11: “Depois do tempo em que o sacrifício diário for tirado, e posta a abominação desoladora (cf. Dn 9: 26-27), haverá ainda mil duzentos e noventa dias”.

Dn 9: 26-27 diz:

26 Depois das sessenta e duas semanas, será morto o Ungido [a primeira vinda de Jesus e Sua morte] e já não estará; e o povo de um príncipe que há de vir destruirá a cidade e o santuário [Refere-se a Tito, que destruiu Jerusalém e o templo], e o seu fim será num dilúvio, e até ao fim haverá guerra; desolações são determinadas [como num dilúvio de sangue derramado em guerra após guerra. Até os tempos do fim, Israel e Jerusalém sofrerão guerras, é o que quer dizer].
27 Ele fará firme aliança com muitos, por uma semana; na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares; sobre a asa das abominações virá o assolador, até que a destruição, que está determinada, se derrame sobre ele [NVI: “E numa ala do templo será colocado o sacrilégio terrível, até que chegue sobre ele e o fim que lhe está decretado”]. No documento original em hebraico, de acordo com a nota de rodapé da NVI, está escrito: “E aquele que causa desolação virá sobre o pináculo do templo abominável, até que o final que está determinado seja derramado sobre a cidade assolada”.

A bíblia se refere aos tempos do fim e ao Anticristo, que estabelecerá esta desolação (‘sacrilégio terrível’ – Dn 11: 31; Dn 12: 11; Dn 9: 27) na segunda metade da semana profética de Daniel. Este é o nosso próximo assunto: Profecias de Daniel e João – Apocalipse.

Este texto se encontra no 1º volume do livro:


livro evangélico: Deus está presente na História

Deus está presente na História vol. 1 (PDF)

Deus está presente na História vol. 2

Deus está presente na História vol. 3

God is present in History vol. 1 (PDF)

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God is present in History vol. 3



Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti

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