Significado de palavras e expressões hebraicas bíblicas: Mazzaroth, Tehom; Tohu VaVohu; Abadom ou Apoliom; Urim e Tumim; o tanque de Silóe; ‘até que venha Siló’; Nazireu; Tefilin (Filactérios), Talit, Mezuzá, Megilot e Mikveh (micvê) ou Mikvá.

The meaning of some Hebrew biblical words and expressions: Mazzaroth, Tehom; Tohu VaVohu; Abaddon or Apollyon; Urim and Thummim; the pool of Siloam; ‘until Shiloh comes’; Nazirite; Tefillin (Phylacteries), Tallit, Mezuzah, Megilot and Mikveh or Mikvah.


Palavras hebraicas bíblicas




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1) Mazzaroth

Em Jó 38: 31-32 está escrito: “Ou poderás tu atar as cadeias do Sete-estrelo [se refere à constelação de Plêiades] ou soltar os laços do Órion? Ou fazer aparecer os signos do Zodíaco* ou guiar a Ursa** com seus filhos?” [NVI: Pode fazer surgir no tempo certo as constelações (ou a estrela da manhã)? Ou fazer sair a Ursa com seus filhotes?].

Zodíaco*, aqui, não tem nenhuma referência à astrologia ou aos “signos”. Em astronomia, o zodíaco é o anel de constelações em linha elíptica, que é o caminho aparente do sol em toda a esfera celeste ao longo do ano. Em sua maioria as constelações têm nomes de animais, daí o nome ‘Zodiacais’, do grego zōdiakos; ‘zoo’, que quer dizer ‘animal’ e ‘diakós’, que quer dizer ‘círculo’, ou ‘círculo dos animais’. A palavra hebraica usada neste texto é Mazzaroth (Mazzâroth), cujo significado é incerto e, nas inúmeras traduções bíblicas, é entendido como: constelações, zodíaco, estrelas, estrelas em sinais do sul, estrela da manhã, estrela do dia, lúcifer, luciferum (vulgata latina). Esta palavra, Mazzaroth (Mazzâroth), só aparece esta vez na bíblia (Jó 38: 32). Os doze nomes das doze constelações do zodíaco são de origem pré-diluviana.

Quanto à palavra Ursa** neste verso, se refere a Arcturus (escrita na KJV: “Canst thou bind the sweet influences of Pleiades or loose the bands of Orion? Canst thou bring forth Mazzaroth in his season? or canst thou guide Arcturus with his sons?” – “Podes tu atar as cadeias das Plêiades ou soltar os laços do Órion? Ou fazer surgir Mazzaroth (as constelações) no tempo certo? ou podes tu guiar Arcturus com seus filhos?”), que é a estrela mais brilhante no hemisfério Norte e a quarta estrela mais brilhante no céu (1º, o nosso sol; 2º Sirius, 3º Pollux). Acima de Arcturus, há quarto estrelas mais brilhantes – Rigel, Aldebaran, Betelgeuse, Antares. Arcturus possui o mesmo nome do antigo grego Arktouros, que significa “guardião do urso”, porque é a estrela mais brilhante próxima às Ursas Maior e Menor. O tamanho de Arcturus é aproximadamente 30 vezes maior que o do Sol. Está cerca de 33 anos-luz de distância do sistema solar e brilha 110 vezes mais do que este. Grande parte da luz que emana é infravermelha e invisível ao olho humano. Maior que Arcturus é Antares, que está distante 600 anos-luz da Terra, é 700 vezes maior que nosso sol e brilha 10 mil vezes mais do que este. Está na Constelação de Escorpião. Nesta proporção, o nosso sol é invisível.


Zodíaco Plêiades
À esquerda, o Zodíaco (Mazzaroth). À direita as Plêiades (Sete-Estrelo) – grupo de 7 estrelas chamadas ‘Estrelas Azuis’

Grandes Estrelas
As grandes estrelas – nosso sol, Sirius, Pollux, Arcturus, Rigel, Aldebaran, Betelgeuse e Antares.

Órion
A constelação de Órion. A estrela branca brilhante no alto à direita é Aldebaran

2) Tohu VaVohu

Em Gn 1: 2 está escrito: “A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas” – cf. Jr 4: 23: “Olhei para a terra, e ei-la sem forma e vazia; para os céus, e não tinham luz”.
Vamos comparar com a bíblia hebraica (Gn 1: 1-2):

1 Bereshit bara Elohim et hashamayim veet haarets (No princípio criou Deus os céus e a terra).
2 Vehaarets haytah tohu vavohu vechosher al pney tehom veruach Elohim merachefet al pney hamayim (E a terra era sem forma e vazia, além de trevas sobre a face da profundeza (abismo); e o Espírito de Deus repousava sobre a face das águas).

A palavra usada para ‘criou’ é ‘bara’ (pronuncia-se ‘bará’), que indica uma criação de algo a partir do nada.
A expressão Tohu VaVohu seria explicado como: ‘um substrato amorfo e maleável a partir do qual todos os outros elementos se formaram’. O Rabino Rashi, no século XI, se referiu àquela expressão como um ‘vazio incrível’. Já o Rabino Samson Raphael Hirsch descreve Tohu VaVohu como: ‘surpreendentemente caótica’. Mas o significado da expressão Tohu VaVohu é ‘um substrato amorfo e maleável’ a partir do qual todos os outros elementos se formaram. Mesmo porque a tradução diz: “E a terra era sem forma e vazia”. Ela não diz: “E se tornou sem forma e vazia”. Portanto, não poderia haver caos. Satanás, ao cair, não deixou caos na Terra porque ela ainda não havia sido formada. Ele deixou o caos no mundo espiritual. Em Isaías está escrito:
• Is 45: 18: “Porque assim diz o Senhor, que criou os céus, o Deus que formou a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a criou para ser um caos, mas para ser habitada: Eu sou o Senhor, e não há outro”.

Isso quer dizer que o Senhor fez a Terra, provavelmente, a partir de gases e nuvens de poeira cósmica, que não têm forma de nada, como podemos ver nas chamadas ‘nebulosas’, ou seja, regiões de formação estelar, o ‘berçário’ de um grande número de planetas e de sistemas planetários do Universo.

3) Tehom

Os escritores bíblicos concebiam o céu físico como uma taça invertida, o firmamento, onde o sol fazia a sua peregrinação diária através dele e onde havia janelas através das quais a chuva podia cair: “No ano seiscentos da vida de Noé, aos dezessete dias do segundo mês, nesse dia romperam-se todas as fontes do grande abismo, e as comportas dos céus se abriram” (Gn 7: 11). A palavra hebraica tehôm (lugar profundo), foi traduzida como abismo: “A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas” (Gn 1: 2), com referência à idéia primitiva de uma vasta massa de água sobre a qual flutuaria o mundo (o corresponderia às águas subterrâneas, como os lençóis freáticos e artesianos e aquíferos, por exemplo) ou com referência ao mundo inferior (habitação de demônios, o lugar dos mortos, o lugar de tormento). Por isso, está escrito que Lúcifer foi lançado para o lugar dos mortos, “para o mais profundo abismo” – Is 14: 15: “Contudo serás precipitado para o reino dos mortos [Sheol = inferno], no mais profundo abismo [em hebraico: bowr, Strong #953, que significa: uma cova, um buraco (especialmente usado como cisterna ou prisão), cisterna, masmorra, fonte, poço, buraco, cova]” cf. Mt 11: 23; Lc 10: 15 (ARA) – ‘abismo’ é substituído nestas duas passagens por ‘inferno’ (em grego, Hades, o equivalente da palavra hebraica Seol). Mas nós podemos notar que as palavras usadas para ‘abismo’ (em português) são diferentes das usadas em hebraico.

4) Abadom ou Apoliom

Na bíblia, apenas três anjos têm seus nomes revelados: Miguel, Gabriel e Apoliom (Abadom) o anjo descrito no Apocalipse (Ap 9: 11: “e tinham sobre eles [os gafanhotos, personificação de demônios], como seu rei, o anjo do abismo, cujo nome em hebraico é Abadom, e em grego, Apoliom”).

Abadom é o anjo satânico do abismo, cujo nome em grego significa: Destruidor; em hebraico, ’abhaddôn significa: lugar de destruição e é regularmente traduzido como tal em certas versões no Antigo Testamento para denominar a região dos mortos. Esta região era considerada pelos antigos judeus como “inferno”, Seol em hebraico, Hades e Geenna em grego, este último nome proveniente de ge (vale de) hinnõm (Hinom), onde eram feitos sacrifícios idólatras ao sul de Jerusalém (principalmente a Milcom, também chamado de Malcom ou Moloque, deus amonita). O significado de ‘Hinom’ é desconhecido; alguns sugerem: ‘ben Hinom’, filho de Hinom (2 Cr 28: 3; 2 Rs 23: 10 – ‘vale dos filhos de Hinom’), dando a entender que é um nome próprio. Em Jr 7: 32 e Jr 19: 6 o nome é alterado pelo profeta para ‘vale da matança’. É também chamado de ‘Vale de Tofete’ (‘local de fogo’, ‘local de queima’ ou ‘local de torrefação’) pelos Cananeus (Jr 7: 31-32). Também tem o significado de ‘fornalha’, ‘fogueira’ (Is 30: 33), ‘lugar de chama ou aborrecimento’.


Vale de Hinom
Vale de Hinom


A região dos mortos era considerada pelos antigos judeus como ‘inferno’: Seol (em hebraico: sheol – Strong #7585: sepultura, inferno, poço, mundo inferior, submundo), Hades e Geenna em grego. Os judeus achavam que o Seol era semelhante a uma concha onde os mortos permaneciam e eram submetidos a julgamento. Ali poderia haver um lugar separado para os justos e para os perversos. Tendo ou não essa interpretação, o que sabemos é que no AT os que morreram não tiveram a chance de ter a salvação vinda por Jesus, o Messias, da maneira como conhecemos hoje. Talvez por isso, Pedro escreveu que Cristo, quando morreu e ressuscitou do hades, do inferno, pregou para os antigos escolhidos (1 Pe 3: 18-19), dando-lhes a chance de conhecer a Sua salvação. A palavra Hades (em grego: hadés, άδης – Strong #g86) provém de ‘a’ (como uma partícula negativa) e ‘eido’, mais propriamente: invisível, ou seja, ‘Hades’, ou o local (estado) das almas que partiram; inferno, sepultura. A outra palavra grega, Geenna (em grego: Gehenna, γεεννης – Strong #g1067), como foi explicado antes, provém de ‘ge’ (vale de) ‘hinnõm’ (Hinom), onde eram feitos sacrifícios idólatras ao sul de Jerusalém ou um lugar de punição para criminosos; também usado como sinônimo de castigo eterno ou inferno. A palavra Geena pode ser encontrada no NT em: Mt 5: 22; 29; 30; Mt 10: 28; Mt 11: 23; Mc 9: 43; 45; 47; Lc 12: 5; Tg 3: 6. A palavra Hades está escrita em: Lc 10: 15; Lc 16: 23; Ap 1: 18; Ap 6: 8; Ap 20: 14. Em 2 Pe 2: 4, na nossa tradução, ‘inferno’, está escrita a palavra grega ‘tártaro’ (em grego: tartaroó, ταρταρωσας – Strong #g5020, ser lançado no inferno; o mais profundo abismo do Hades; ser encarcerado em eterno tormento). Mas quanto ao texto de 1 Pe 3: 18-19, não está explicitamente a palavra Hades (inferno), ele apenas sugere: “Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito, no qual, também foi e pregou aos espíritos em prisão”. Parece haver uma diferença entre as palavras Hades e Geenna, pois Hades transmite a idéia de ‘local (estado) das almas que partiram; inferno, sepultura’, ao passo que Geenna parece se referir a algo mais forte que a simples sepultura ou morte física; ela sugere a morte espiritual, o verdadeiro inferno ou castigo eterno, como vemos na definição.

O ‘Devorador’ (de Ml 3: 11) ou Abadom (o ‘Destruidor’, de Ap 9: 11) é o demônio que foi liberado para matar todos os primogênitos do Egito. Ali, o Destruidor (o “anjo do abismo” ou “o anjo de morte”) passou por cima das casas marcadas com o sangue do cordeiro e não as tocou:
• Êx 12: 12-13: “Porque, naquela noite, passarei pela terra do Egito e ferirei na terra do Egito todos os primogênitos, desde os homens até aos animais; executarei juízo sobre todos os deuses do Egito. Eu sou o Senhor. O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito”.
• Êx 12: 23: “Porque o Senhor passará para ferir os egípcios; quando vir, porém, o sangue na verga da porta e em ambas as ombreiras, passará o Senhor aquela porta e em ambas as ombreiras, passará o Senhor aquela porta e não permitirá ao Destruidor que entre em vossas casas, para vos ferir”.
• Êx 12: 27: “Respondereis: É o sacrifício da Páscoa [Pessach = passar por cima] ao Senhor, que passou por cima das casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu os egípcios e livrou as nossas casas. Então, o povo se inclinou e adorou”.

5) O Tanque de Siloé

A palavra Siloé (Shilôah, em hebraico שלח) – traduzido como “Enviado” – é escrita em grego no NT (Grego Textus Receptus) como Siloam (silôam, σιλωαμ), e pode ser encontrada três vezes na bíblia: 1) Ne 3: 15 (“Açude de Selá” – ARA; “Tanque de Siloé” – NVI; em hebraico, neste texto de Neemias: Selá – שלון – shelach); 2) Is 8: 6 (“as águas de Siloé”); 3) Jo 9: 7 (“tanque de Silóe”).
O tanque de Siloé foi construído pelo rei Ezequias para trazer água a Jerusalém.

Ezequias foi rei de Judá (2 Rs 18–20; 2 Cr 29–32; Is 22 e Is 36–39), e seu período de reinado foi de 729 a 687 AC:
1) 729 AC (como co-regente de Acaz, seu pai), sendo que no 6º ano (722 AC) ocorreu a queda de Samaria (reino do Norte de Israel).
2) 716 (como único ocupante do trono) a 687 AC (no 14º ano do seu reinado – 701 AC – houve a invasão de Judá por Senaqueribe. O reinado de Senaqueribe, rei da Assíria vai de 705 a 681 AC).

No 14º ano do seu reinado subiu Senaqueribe, rei da Assíria, contra todas as cidades de Judá e as tomou. Para tentar escapar do invasor, Ezequias preferiu fazer um acordo de paz e pagar-lhe tributo. Assim, deu-lhe trezentos talentos de prata (10.200 kg) e trinta talentos de ouro (1.020 kg), além de toda a prata que se achou na Casa do Senhor e nos tesouros da sua casa. Arrancou o ouro que cobria as ombreiras e as portas do templo e o deu ao inimigo (2 Rs 18: 16). Este, entretanto, enviou mensageiros, que foram também recebidos pelos enviados de Ezequias. Através de palavras mentirosas, os mensageiros de Senaqueribe procuraram tirar a confiança de Ezequias no Senhor e ameaçaram destruir a cidade, colocando medo no povo e diminuindo sua confiança no rei. Os mensageiros reais vieram até Ezequias e lhes contaram as palavras do inimigo. O rei os enviou ao profeta Isaías que lhes deu palavras de consolo e força, exortando-os a confiar no livramento do Senhor e profetizando-lhes uma palavra que falou aos seus corações (2 Rs 19: 6-7).

Ezequias se perturbava pelo jugo assírio. Ao preparar-se para a invasão, ele edificou as defesas de Jerusalém (2 Cr 32: 3-5) e salvaguardou o suprimento de água da cidade construindo o túnel de Siloé (2 Rs 20: 20 e Is 22: 9). Siloé (Shilôah, em hebraico: enviado) era uma das principais fontes de suprimento de água de Jerusalém, ligada à fonte de Giom (גיחון – ‘Gichon’ – Strong #1521, derivada de ‘giyach’, que significa ‘corrente’ [de água], ‘córrego’, ‘esguicho’, ‘irromper’, ‘jorrar’), localizada no lado ocidental do vale do Cedrom, numa caverna natural do vale, a sudeste de Jerusalém e que, por sua vez, despejava água na cidade por meio de um canal aberto. Da fonte de Siloé, o canal desaguava no poço antigo ou de baixo (Birket el-Hamra). Quando Ezequias se viu diante da ameaça de Senaqueribe, tapou todas as fontes, todos os riachos e canais subsidiários que conduziam ao ribeiro que corria pelo meio da terra (2 Cr 32: 3-4). O rei em seguida enviou as águas do Giom superior por meio de um conduto ou túnel de dois metros de altura até uma cisterna ou poço superior (Birket Silwãn) no lado oeste da cidade de Davi (2 Cr 32: 30). Defendeu a nova fonte de suprimento com uma rampa (2 Cr 32: 30).


Siloé-mapa Siloé-mapa
Túnel de Ezequias

1. Fonte de Giom;
2. Túnel de Ezequias;
3. Poço Superior de Siloé (Birket Silwan);
4. Poço Inferior ou Antigo (Birk el-Hamra);
5. Túmulo de Sebna, o Mordomo (mordomo do rei Ezequias) no vale de Cedrom, no local onde os reis da Casa de Davi eram enterrados.


Túnel de Ezequias
Túnel de Ezequias

Tanque de Siloé
Tanque de Silóe


A construção do túnel de Ezequias foi supreendente em matéria de engenharia, pois era algo bastante avançado para aquela época, e podemos dizer que a mão de Deus em todo o projeto é inegável. Embora o profeta não tenha deixado os detalhes dados pelo Senhor a Ezequias, nós podemos ver pelas evidências arqueológicas encontradas hoje que os trabalhadores cavaram um túnel estreito (só dá para um homem passar) de dois metros de altura em rocha sólida por uma distância de 540 metros (1.200 côvados), que é seu comprimento, e ainda deixando uma parede de rocha de aproximadamente 45 metros (100 côvados) acima deles. Duas equipes cavaram em direção uma à outra, tendo por base o som das picaretas até se encontrarem no centro. ‘Quando faltavam apenas 3 côvados (1,35 metro) a voz de um homem foi ouvida chamando sua contraparte’, como consta dos registros do tunelamento encontrados em uma pedra com uma inscrição onde se pode ler o nome de Ezequias, e que hoje está de posse de muçulmanos.


Túnel de Ezequias – inscrição
Túnel de Ezequias – inscrição

Túnel de Ezequias
Túnel de Ezequias – águas

6) O que significa a expressão ‘até que venha Siló?’

Ela foi proferida por Jacó em Gn 49: 1-28, quando abençoou seus filhos.
Vamos ler a passagem toda.
• Gn 49: 1-28 (as bênçãos de Jacó sobre seus filhos): “Depois, chamou Jacó a seus filhos e disse: Ajuntai-vos, e eu vos farei saber o que vos há de acontecer nos dias vindouros: Ajuntai-vos e ouvi, filhos de Jacó; ouvi a Israel, vosso pai. Rúben, tu és meu primogênito, minha força e as primícias do meu vigor, o mais excelente em altivez e o mais excelente em poder. Impetuoso como a água, não serás o mais excelente, porque subiste ao leito do teu pai e o profanaste; subiste à minha cama [ele se referia ao fato de Rúben coabitar com sua concubina]. Simeão e Levi são irmãos; as suas espadas são instrumentos de violência. No seu conselho, não entre a minha alma; com o seu agrupamento, minha glória não se ajunte; porque no seu furor mataram homens, e na sua vontade perversa jarretaram touros [ele se referia à traição de Simeão e Levi, matando os homens de Hamor, pai de Siquém, com quem a filha de Jacó, Diná, tinha casado. O povo de Hamor tinha feito um pacto de se unir com Jacó e por isso, circuncidaram todos os do sexo masculino; entretanto, enquanto estavam sarando das feridas no acampamento, Simeão e Levi foram até lá e mataram todos eles – Gn 34: 1-31]. Maldito seja o seu furor, pois era forte, e a sua ira, pois era dura; dividi-los-ei em Jacó e os espalharei em Israel. Judá, teus irmãos te louvarão; a tua mão estará sobre a cerviz dos teus inimigos; os filhos de teu pai se inclinarão a ti. Judá é leãozinho; da presa subsiste, filho meu. Encurva-se e deita-se como leão e como leoa; quem o despertará? O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de em entre seus pés, até que venha Siló (*); e a ele obedecerão os povos. Ele amarrará o seu jumentinho à vide e o filho da sua jumenta, à videira mais excelente; lavará as suas vestes no vinho e a sua capa, em sangue de uvas. Os seus olhos serão cintilantes de vinho, e os dentes, brancos de leite. Zebulom habitará na praia dos mares e servirá de porto aos navios, e o seu limite se estenderá até Sidom. Issacar é jumento de fortes ossos, de repouso entre os rebanhos de ovelhas. Viu que o repouso era bom e que a terra era deliciosa; baixou os ombros à carga e sujeitou-se ao trabalho servil. Dã julgará o seu povo, como uma das tribos de Israel. Dã será serpente junto ao caminho, uma víbora junto à vereda, que morde os talões do cavalo e faz cair o seu cavaleiro por detrás. A tua salvação espero, ó Senhor! Gade, uma guerrilha o acometerá; mas ele a acometerá por sua retaguarda. Aser, o seu pão será abundante e ele motivará delícias reais. Naftali é uma gazela solta; ele profere palavras formosas. José é um ramo frutífero, ramo frutífero junto à fonte; seus galhos se estendem sobre o muro. Os flecheiros lhe dão amargura, atiram contra ele e o aborrecem. O seu arco, porém, permanece firme, e seus braços são feitos ativos pelas mãos do Poderoso de Jacó, sim, pelo Pastor e pela Pedra de Israel, pelo Deus de teu pai, o qual te ajudará, e pelo Todo-Poderoso, o qual te abençoará com as bênçãos dos altos céus [espirituais], com bênçãos das profundezas [emocionais], com bênçãos dos seios e da madre [materiais]. As bênçãos de teu pai excederão as bênçãos de meus pais até ao cimo dos montes eternos; estejam elas sobre a cabeça de José e sobre o alto da cabeça do que foi distinguido entre seus irmãos. Benjamim é lobo que despedaça; pela manhã devora a presa e à tarde reparte o despojo. São estas as doze tribos de Israel; e isto lhes falou seu pai quando os abençoou; a cada um deles abençoou segundo a bênção que lhe cabia”.

(*) “Até que venha Siló”. Foi em Siló que a tenda da congregação foi armada nos primeiros dias depois da conquista da Terra Prometida (Js 18: 1), e foi esse o principal santuário dos israelitas durante o tempo dos juízes (Jz 18: 31). Pelo tempo de Eli (o sacerdote) e seus filhos, o santuário já se tornara uma estrutura bem estabelecida de adoração centralizada. Depois de Siló, a arca da Aliança mudou várias vezes de lugar, pois foi roubada pelos inimigos (filisteus), até ser transferida para Baalim de Judá, também chamada de Quiriate-Jearim ou Quiriate-Baal (Js 18: 14; 1 Sm 7: 1-2; 1 Cr 13: 5) para a casa de Abinadabe e seus filhos, Uzá e Aiô (2 Sm 6: 2-3); dali foi para casa de Obede-Edom (provavelmente um filisteu de Gate e que morava perto de Jerusalém – 2 Sm 6: 10; 1 Cr 13: 13-14; 1 Cr 15: 25 – segundo: “O Novo Dicionário da Bíblia – J. D. Douglas – edições vida nova, 2ª edição 1995”), de onde Davi (como rei) a tomou e a levou até o monte Sião, a cidade de Davi, até conquistar seu lugar definitivo no templo de Jerusalém construído por Salomão (o povo sacrificava no altar do holocausto colocado no alto em Gibeão – 1 Cr 16: 39; 1 Cr 21: 29; 2 Cr 1: 3-5 – mas a arca ficou em Jerusalém, numa tenda que Davi construiu para ela: 1 Cr 15:1; 1 Cr 16: 1; 37-39; 2 Cr 1: 3-5; 1 Rs 3: 4; 15). A expressão usada por Jacó: “até que venha Siló”, em referência a Judá, em hebraico: ‘adh kï-yãbhô’ shïlõh, pode ser traduzida de várias maneiras. As duas mais cabíveis a meu ver são: 1) “Até que ele [em referência a Judá] venha a Siló”, cumprindo o que está escrito em Js 18: 1, quando, numa reunião, a tribo nobremente rejeitou a proeminência que havia desfrutado anteriormente (na peregrinação pelo deserto). 2) Emendando-se shïlõh para shellõh e traduzindo a frase como faz a Septuaginta (a versão grega do AT), “até que aquilo que é dele venha”, isto é, “as coisas reservadas para ele”, talvez aqui seja uma referência a Davi ou uma referência messiânica [ele = Jesus].

7) O Tumim e o Urim

O sacerdote do AT tinha duas pedrinhas no peitoral das suas vestes: o Tumim e o Urim – Êx 28: 30 (Arão); 1 Sm 23: 6; 9-14 (Davi e Abiatar). Eram dois objetos achatados por meio dos quais a vontade de Deus era consultada. Os dois tinham de um lado escrita a palavra Urim, derivada de ’ãrar (amaldiçoar); de outro estava escrita a palavra Tumim de tãmam (ser perfeito). Se ao lançar as sortes, as duas faces do Urim ficassem para cima, significava um ‘não’ de Deus. Se fossem os dois Tumim, significava ‘sim’, e se fosse um Urim e outro Tumim, significava ‘sem resposta’. Como no AT não havia a distribuição do Espírito Santo sobre todas as pessoas, somente sobre o líder com o qual Deus falava pessoalmente (no caso, Moisés, irmão de Arão), as consultas a Ele eram feitas pelo sacerdote através desses dois objetos. Mas somente aos sacerdotes isso era delegado. Depois da vinda de Jesus, o Espírito Santo começou a falar com todos os Seus filhos (At 1: 23-26 é a única vez no NT que se menciona a sorte (sorteio) como meio de escolha divina; At 13: 1-3 – aqui já havia profetas, por meio dos quais o Espírito Santo falava). O mais importante para nós, hoje, é que devemos consultar o Senhor sempre, em todas as circunstâncias das nossas vidas, e ouvir com clareza a voz do Seu Espírito em nosso coração para podermos tomar a direção correta.


Tumim e Urim
Tumim e Urim

8) Nazireu, Nazireado

Nazireu vem do hebraico nãzïr (vinha), derivado de nãzar: separar, consagrar, abster-se, comparada com a palavra nezer: diadema ou coroa de Deus, algumas vezes identificada com os cabelos compridos dos nazireus. Embora na lei de Moisés se fale sobre o nazireado (Nm 6: 1-21), a origem da prática é pré-mosaica e obscura (semitas e outros povos primitivos). Existiam três regras a serem respeitadas pelo nazireu:

1) Renunciar ao vinho e bebidas tóxicas, vinagre, uvas, passas e tudo o que provém da vinha, desde as sementes até as cascas (Nm 6: 3-4), para manter sua integridade e santidade e não ser possuído por qualquer espírito que não o de Deus (Pv 20: 1 e Lv 10: 9-11). Assim, se aproximava Dele de modo mais digno. O significado espiritual para nós dessa abstinência é renunciar às paixões carnais e aos descontroles emocionais, se submetendo ao controle do Espírito Santo.

2) Não cortar os cabelos (Nm 6: 5). Os cabelos, para os judeus daquela época, simbolizavam a sede da vida, assim como a vinha (nãzïr = vinha não podada – Lv 25: 5; 11; no final do período do voto os cabelos eram queimados sobre o altar – Nm 6: 18- 19). Para nós o significado espiritual desta prática é não sair da cobertura espiritual de Deus, mas ter consciência da Sua proteção e da presença do Seu Espírito.

3) Não se aproximar de qualquer cadáver (Nm 6: 6), até mesmo no caso de parentes e isso se aplicava também ao sumo sacerdote (Arão não pôde chorar a morte dos seus filhos Nadabe e Abiú que foram mortos pelo Senhor por queimar incenso no altar sem Sua ordem, nem ir ao enterro, pois era o sumo sacerdote: Lv 10: 6-7). Outras referências: Lv 21: 1-4 e 10-12. Para nós, o significado disso é não voltar a tocar no que é velho, nas coisas passadas.


Nazireu
O longo cabelo do Nazireu, como o de Sansão


O nazireado era normalmente praticado para se conseguir certos favores da parte de Deus. Alguns faziam o voto temporário (no mínimo por trinta dias, como no caso de Paulo – At 18: 18; At 21: 23-24); outros o fizeram como voto vitalício: Samuel, Sansão, João Batista.

9) Tefilin (Filactérios)

Em Mt 23: 5 está escrito: “Praticam, porém, todas as suas obras com o fim de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactérios e alongam as suas franjas” (ARA). Na NVI está escrito: “Tudo o que eles [Jesus se referia aos escribas e fariseus] fazem é para serem vistos pelos homens. Eles fazem seus filactérios bem largos e as franjas das suas vestes bem longas”.

A palavra grega neste versículo de Mateus 23 é ‘filactérios’ (filatério, em grego: phulaktérion, φυλακτήριον – Strong #G5440); no plural: filactérios (Phulakteria, φυλακτηρια), também é mencionado em Dt 6: 8 como: thothâphoth (טוטפת – Strong #2903), traduzido como testeira ou frontal.

‘Filactérios’ (em grego) equivale à palavra hebraica ‘tefilin’ (a forma plural de ‘tefilá’). As referências bíblicas em relação aos ‘tefilin’ podem ser encontradas em Êx 13: 9; Êx 13: 16; Dt 6: 8 e Dt 11: 18. Apesar de tefilin ser a forma plural de tefilá, a palavra ‘tefilin’ é raramente usada no singular.

Tefilin ou filactérios são duas pequenas caixas de couro contendo pergaminhos inscritos com versículos da Torá e atadas às mãos e às frontes: Êx 13: 9; Êx 13: 16; Dt 6: 8; Dt 11: 18. Os filactérios são usados por judeus praticantes nas orações da manhã durante a semana, em especial ao recitar o ‘Shemá Israel’ (Sh’ma Yisrael – ‘Ouve, Israel’ – Dt 6: 4-9).

Estes trechos da Torá (Êx 13: 1-10; Êx 13: 11-16; Dt 6: 4-9; Dt 11: 13-21) são conhecidos pelos judeus como Shemá Israel, em especial o 3º texto, o de Dt 6: 4-9. ‘O Shemá Israel’ inicia com: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” (Dt 6: 4-5). Mas é lido juntamente com os demais trechos de Êx 13: 1-16 (Vehayá Ki Yeviachá – ‘quando eu te trouxer’: “Quando o Senhor te houver introduzido na terra dos cananeus, e dos heteus, e dos amorreus, e dos heveus, e dos jebuseus, a qual jurou a teus pais te dar, terra que mana leite e mel, guardarás este rito neste mês” – Êx 13: 5); Êx 13: 2 (Cadêsh Li – ‘consagra-me’ ou ‘santifica para mim’: “Consagra-me todo primogênito; todo que abre a madre de sua mãe entre os filhos de Israel, tanto de homens como de animais, é meu”) e Dt 11: 13-21 (Vehaiá Im Shamoa – ‘E acontecerá que, se deres ouvidos’: “Se diligentemente obedecerdes [shãma‘ be: ‘deres ouvidos a’] a meus mandamentos que hoje vos ordeno, de amar o Senhor, vosso Deus, e de o servir de todo o vosso coração e de toda a vossa alma,...” – Dt 11: 13).

Tefilin (תפילין) não é uma palavra encontrada na bíblia. Nos textos hebraicos nós podemos encontrar a palavra thothâphoth (טוטפת – Strong #2903 – Êx 13: 9; Êx 13: 16; Dt 6: 8; Dt 11: 18), que significa ‘testeira’, na nossa tradução em Português, ‘frontais’. Na Versão Concordante do Antigo Testamento (CVOT), a palavra thothâphoth é escrita como ‘zkrun’ ou ‘zikkâron’ (Strong #2146) = ‘memorial’ (זכרון ou ולזכרון – Êx 13: 9), ou ‘tutphth’ (ttphth) = frontais, testeiras (Êx 13: 16; Dt 6: 8; Dt 11: 18). A Septuaginta (a versão grega da Torah) traduz thothâphoth – ἀσαλευτόν – por ‘algo imutável’. Muito provavelmente, a palavra ‘tefilin’ foi criada por rabinos desde o final do período do segundo templo até a era medieval.

Segundo outros pesquisadores, ‘tefilin’ pode ser derivado do verbo aramaico ‘pleitear’, ‘orar’, intimamente relacionado com a palavra hebraica ‘tefilá’, ‘oração’, ‘prece’. Jacob ben Asher (século XIV EC) sugere que ‘tefilin’ é derivado do hebraico ‘pelilah’, ‘a justiça, a prova’, como um ato, sinal e prova da presença de Deus entre o povo judeu.

A única menção ao nome ‘tefilin’ no NT ocorre em Mt 23: 5, onde está escrita a palavra grega ‘filactérios’, quando Jesus repreende os fariseus e diz que só o que eles fazem é tornar os seus filactérios cada vez mais largos. ‘Filactério’ significa literalmente: ‘um amuleto’; deriva do grego ‘phylacterion’ ou ‘phulaktérion’ (phulaktērion) – φυλακτήριον (Strong #G5440), cujo plural é ‘Phulakteria’ (φυλακτηρια, filactérios) e uma forma grega antiga de phylássein, φυλάσσειν, ou phylássō (φυλάσσω – Strong #G5442) que significa ‘guardar, preservar, proteger, eu mantenho, eu guardo, eu observo’, explicando a utilização destes objetos como proteção e que se refere, na verdade, a ‘amuletos’.

Na época de Jesus, um filactério era uma cápsula de pergaminho contendo pequenos rolos de pergaminho com os textos hebraicos, afixados no braço esquerdo ou na testa dos homens na oração matinal e considerada como uma proteção (daí o nome filactério, ‘amuleto’) contra os espíritos malignos. Eles também eram amarrados no punho e na testa significando como a Palavra de Deus deve regular todo comportamento e pensamento.

A Torá ordenava que eles fossem ser usados para servir como um sinal e memorial que Deus tirou os filhos de Israel do Egito. Por exemplo, em Dt 11: 18 está escrito; “Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma; atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por frontal entre os olhos”.

Nós podemos pensar que Deus estivesse falando apenas sobre escrever os Dez Mandamentos nos rolos, ou então, sobre guardar os mandamentos do Senhor, amá-lo e servi-lo com todo o coração e de toda a alma, se nos basearmos na seqüência do texto, que se inicia em Dt 10: 2 (quando o Senhor escreveu as palavras da aliança nas segundas tábuas de pedra que Moisés lavrou), seguindo com os versículos 12-13, onde Moisés mostra ao povo o que o Senhor espera deles (“Agora, pois, ó Israel, que é que o Senhor requer de ti? Não é que temas o Senhor, teu Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o ames, e sirvas ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma, para guardares os mandamentos do Senhor e os seus estatutos que hoje te ordeno, para o teu bem?”), passando a Dt 11: 1 (“Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, e todos os dias guardarás os seus preceitos, os seus estatutos, os seus juízos e os seus mandamentos”), Dt 11: 8 (“Guardai, pois, todos os mandamentos que hoje vos ordeno, para que sejais fortes, e entreis, e possuais a terra para onde vos dirigis”) e, finalmente, a Dt 11: 13 (“Se diligentemente obedecerdes a meus mandamentos que hoje vos ordeno, de amar o Senhor, vosso Deus, e de o servir de todo o vosso coração e de toda a vossa alma”). A palavra ‘alma’ aqui, em hebraico é nephesh (Strong #5315), que vem da palavra ‘naphash’, e significa: ‘uma alma, ser vivo, vida, eu, pessoa, desejo, paixão, apetite, emoção’. Isso nos faz pensar que o que Deus queria deles é que lhe obedecessem e aos Seus mandamentos com todo o seu ser: corpo (força física e os recursos materiais que tinham), inteligência (mente, espírito), emoções e sentimentos (alma) e vontade (coração). E que escrevessem isso no braço e na testa para não se esquecerem do Senhor e de Sua aliança com eles.

Isso pode ficar mais claro em Dt 6: 4-8, onde Ele fala sobre como Israel deveria pensar no Seu Deus, pois Ele é o único Senhor: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” (Dt 6: 4-5). Isso, então deveria estar gravado nos seus corações e escrito num rolo para ser atado ao braço e à testa dos israelitas (Dt 6: 6; 8): “Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração;... Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos”. Ele diz claramente para manter estas palavras no coração (“Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força”), na mão e entre os olhos, ou seja, sentir, pensar e agir como Ele o faz.

Os textos bíblicos para tefilin são obscuros no sentido literal, segundo os estudiosos judeus, pois para eles o texto de Dt 11: 18 não especifica o que ‘atar por sinal na mão’; também não deixou clara a forma como isso deveria ser feito. Rabinos determinaram os textos a serem colocados nos tefilin e lidos (como é o caso do Shemá, descrito acima). E foi o Talmude (escrito por volta de 500 EC) que explicou e deu forma ao que é para ser ligado ao corpo.

O tefilin-mão ou tefilin-braço (shel yad) é colocado na parte superior do braço, a correia é enrolada com sete voltas no braço, mão e dedos e fica próxima do coração, enquanto o tefilin-cabeça (shel rosh) é colocado acima da testa.


Um conjunto de tefilin na tradição Ashkanazi
Um conjunto de tefilin na tradição Ashkanazi

Imagem acima (fonte: wikipedia.org): Um conjunto de tefilin na tradição Ashkanazi, feito como uma peça única de couro de vaca em vez de couro de ovelha, incluindo o tefilá-braço (à esquerda) e a tefilá-cabeça (à direita). O termo ‘Asquenazes’ ou ‘Asquenazim’ diz respeito aos judeus provenientes da Europa Central e Oriental e provém da palavra hebraica medieval para a Alemanha (Ashkenaz – אשכנז). Em hebraico, o singular é ‘ashkenazi’ e o plural, ashkenazim. Atualmente, o termo asquenazita se refere aos descendentes daqueles primeiros judeus da Europa Oriental, espalhados por todo mundo após o Holocausto. Asquenaz foi um dos descendentes de Noé, por meio de Gomer, filho de Jafé (Gn 10: 3; 1 Cr 1: 6), e que habitou o distrito de Ascania, uma área entre os mares Cáspio e Negro. Esse povo foi aliado dos Mannai, em Acadiano (ou Mini, em hebraico), contra os Assírios no século VII AC. Essa revolta é refletida em Jr 51: 27. Os asquenazes podem ser identificados com os Citas, mencionados por Heródoto. A Cítia corresponde hoje aos seguintes países: Romênia, Bulgária, Ucrânia, Rússia, Kazaquiatão e Usbequistão, anteriormente integrante da URSS.


soldado ora com tefilin no braço

Imagem acima (fonte: wikipedia.org): O tenente Asael Lubotzky das Forças de Defesa de Israel durante a Segunda Guerra do Líbano ora com tefilin no braço.


Tefilin-braço (shel yad)

Imagem acima (fonte: wikipedia.org): Tefilin-braço (shel yad) na mão esquerda com padrão da letra ש (shin), de acordo com uma das opiniões Ashkenazi. A grande letra ש (Shin) representa שדי (Shaddai), um dos nomes pelos quais Deus era conhecido na Antiguidade: El-Shaddai, o Deus Todo-Poderoso.

10) Talit

Neste texto, Jesus não apenas menciona os filactérios ou tefilin, mas também o ‘tsitsit’, escrito na ARA como ‘franjas’. E a palavra ‘franja’ é escrita em grego como kraspedon (κράσπεδον – Strong #G2899), correspondendo à palavra hebraica tsitsith (ציצת – Nm 15: 38 – Strong #6734), que significa: borla; franja, mecha (de cabelo), trança. Kraspedon significa: franja, borla, canto, borda, bainha; uma margem, isto é, uma franja ou borla.

Tsitsit (no hebraico ציצת ou ציצית) é o conjunto de franjas do talit, que servem como um meio de fazer os judeus se lembrarem dos mandamentos de Deus. O mandamento sobre o tsitsit encontra-se em duas passagens da Torá: Nm 15: 38-41; Dt 22: 12 (onde está escrito ‘borlas’ – ARA).

O mandamento a respeito das franjas é mencionado duas vezes na Torá em:
• Nm 15: 37-41: “Disse o Senhor a Moisés: Fala aos filhos de Israel e dize-lhes que nos cantos (kanaph, כנפי – Strong #3671) das suas vestes façam borlas (tsitsith – Strong #6734) pelas suas gerações; e as borlas (tsitsith – Strong #6734) em cada canto (kanaph, כנפי – Strong #3671), presas por um cordão azul. E as borlas (tsitsith – Strong #6734) estarão ali para que, vendo-as, vos lembreis de todos os mandamentos do Senhor e os cumprais; não seguireis os desejos do vosso coração, nem os dos vossos olhos, após os quais andais adulterando, para que vos lembreis de todos os meus mandamentos, e os cumprais, e santos sereis a vosso Deus. Eu sou o Senhor, vosso Deus, que vos tirei da terra do Egito, para vos ser por Deus. Eu sou o Senhor, vosso Deus”.
• Dt 22: 12: “Farás borlas (franjas) nos quatro cantos do manto com que te cobrires”.

O talit (no hebraico moderno, também conhecido como talit gadol, se referindo ao xale grande), talet (em Sefaradi, judaico-espanhol) ou talis (em Iídiche, judaico-alemão) é um xale feito de seda, lã ou linho, que tem franjas (tsitsiot, plural, ou tsitsi, singular) em suas extremidades. O plural de talit em hebraico é talitot. O plural iídiche é taleisim. É usado pelos homens como uma cobertura na hora das preces judaicas, principalmente no momento da oração feita pela manhã (Shacharit) e no momento da oração na sinagoga.

Ele foi planejado por Deus para lembrar Seu povo da importância da obediência aos Seus mandamentos e da Sua cobertura e autoridade sobre eles. Em outras palavras, as franjas funcionam como lembrete de todos os mandamentos da Lei, advertindo o homem contra as inclinações do coração (símbolo dos sentimentos e das emoções e a sede da vontade e das decisões) e dos olhos (símbolo da sabedoria e do intelecto, gerando o desejo), os dois ‘provocadores do pecado’. Sobre o talit ter quatro cantos, isso significa que em qualquer uma das direções (norte, sul, leste e oeste) que os israelitas se voltassem, as franjas os tornariam conscientes da presença de Deus. As franjas eram, portanto, colocadas nos quatro cantos do manto.

Quanto à sua medida, ao número de nós, ao número das franjas e ao tecido a ser usado não há referência bíblica, diferentemente do que vemos em relação ao tabernáculo e aos utensílios sagrados, cujas medidas precisas foram dadas a Moisés.

Há dois tipos de talit: o talit catan (pequeno), também chamado de tsitsit, usado durante o dia debaixo da camisa; e o talit gadol (grande), usado somente na Prece Matinal.


Talit Gadol
Talit Gadol – listras pretas de acordo com a tradição Ashkenazi – wikipedia.org

Talit catan Talit catan embaixo da camisa
Talit catan (pequeno), também chamado de tsitsit, usado durante o dia debaixo da camisa.


Segundo os conhecimentos rabínicos, interpreta-se que os objetivos principais deste acessório são:
• Isolar quem está orando do mundo à sua volta, ajudando-o a se concentrar durante a oração.
• Criar um ambiente de igualdade entre os que estão orando na sinagoga, tendo então, concordância com uma cobertura homogênea que estaria sobre as roupas das pessoas ali. Dessa forma se deixaria de lado a posição social ou financeira das mesmas.

O termo tsitsit lembra o tsits, a placa de ouro usada pelo cohen gadol, o sumo sacerdote, na qual estavam gravadas as palavras “Santidade ao Senhor” (Êx 28: 36: “Farás também uma lâmina de ouro puro e nela gravarás à maneira de gravuras de sinetes: Santidade ao Senhor”). Essa placa de ouro era atada com um cordão azul na mitra (Êx 28: 37) que ficava na cabeça do sumo sacerdote. Tsits significa: ‘fitar’ porque era usado na testa um lugar visível a todos. Assim, essa palavra denota que as franjas devem ser vistas, portanto, sua melhor tradução é: ‘franjas à mostra’ (i.e., as franjas ligadas à veste, a fim de serem vistas).


A mitra do sumo sacerdote
A mitra do sumo sacerdote onde está gravada a frase “Santidade ao Senhor na placa de ouro”


As franjas à mostra despertam no homem uma consciência direta da Presença Divina. Esta era a função especial que tinha o fio azul (פתיל תכלת; pəthiyl = fio, e azul = tək·ā’·leth, tekeleth ou techelet, תכלת – Strong #8504), cuja coloração (um azul-celeste profundo ou turquesa ou azul-violeta segundo os pesquisadores) era obtida através da extração do pigmento do Chilazon, um molusco atualmente extinto. Hoje a cor azul é obtida a partir de outro molusco, o Hexaplex trunculus, pertencente à família Muricidae, moluscos conhecidos pelo nome comum de ‘murex’. O azul se assemelha à cor do mar ou do céu, a cor do trono de Deus, segundo a interpretação da Antiguidade. Para nós, o fio azul representa o Espírito Santo.

Por muitos séculos desde o exílio do povo judeu da Terra de Israel, os tsitsit têm sido usados sem o fio ‘azul’ (‘techelet’), embora tenha havido uma tentativa de retorno nos últimos cem anos.

O talit usado pelos judeus de hoje é feito de seda, lã ou linho, mas sempre de um mesmo tecido (Dt 22: 11: “Não te vestirás de estofos de lã e linho juntamente”; Lv 19: 19: “Guardarás os meus estatutos; não permitirás que os teus animais se ajuntem com os de espécie diversa; no teu campo, não semearás semente de duas espécies; nem usarás roupa de dois estofos misturados”). Em Dt 22: 11, nós podemos entender que essa observação se refira figurativamente a não misturar as coisas do mundo com as coisas de Deus, a santidade com a impureza, pois a lã fazia suar, e na Antiguidade, o suor era considerado como sinal de impureza. O tecido de lã e linho entrelaçado é chamado shatnez.

Até aqui nós podemos ver que essas foram as únicas diretrizes dadas por Deus quanto ao talit: fazer franjas nas bordas dos quatro cantos do manto (Dt 22: 12) presas por um cordão azul (ou seja, fios retorcidos com um cordão azul entre eles, como o cinto do sacerdote – Nm 15: 38 cf. Êx 39: 5; Êx 28: 8) para que eles se lembrassem de todos os mandamentos do Senhor e os cumprissem. Em outras palavras, uma ordem simples e com um objetivo claro e simples.

Entretanto, desde o final do período do segundo templo até a era medieval, os rabinos acrescentaram outros detalhes. Eles descrevem cinco nós nos tsitsit do talit, significando os cinco Livros de Moisés (Torá) e oito fios em cada uma das franjas dos cantos do manto sugerindo os oito órgãos do corpo que estimulam o homem a pecar (ouvidos, olhos, boca, nariz, mãos, pés, genitais e coração), ao invés do coração e dos olhos, como foi escrito em Nm 15: 39. Tanto o talit como as franjas precisam ser do mesmo material (lã, seda ou linho) ou pelo menos que os fios sejam de lã. O comprimento dos fios e do talit varia de acordo com as diversas linhas de pensamento do judaísmo e das suas comunidades ao redor do mundo e é geralmente baseado na medida antiga do côvado ou ‘amá’ (que gira em torno de 48 cm, para a medida do talit judaico). Na Antiguidade, o xale de oração usado pelos homens era como um manto retangular que parecia um cobertor.


franjas do Talit
Tsitsit sem o fio azul – Foto: DRosenbach – wikipedia.org

O talit do sacerdote (talit cohen)

Imagem acima: um talit usado pelo cohen (sacerdote). Um conjunto de tsitsit, quatro borlas ou ‘franjas’ com fios azuis produzidos a partir de um corante à base de trúnculo Hexaplex – amarrado de acordo com a opinião do Sefer ha-Chinuch. Sefer ha-Chinuch (hebraico: ספר החינוך, ‘Livro da Educação’) é um texto rabínico judeu que discute sistematicamente os 613 mandamentos da Torá (baseado no sistema de contagem de Maimônides). Foi publicado anonimamente na Espanha do século 13. Hexaplex trunculus é uma espécie de molusco pertencente à família Muricidae, moluscos geralmente conhecidos pelo nome de ‘murex’, alguns deles de grandes dimensões e com conchas com formas e cores pouco usuais – wikipedia.org.



Um talit dobrado
Um talit dobrado; fios de lã. Foto: Mushki Brichta

Um talit branco Sefardita

Imagem acima: Um talit branco, de acordo com algumas tradições Sefarditas. Sacerdote no Muro das Lamentações durante a Festa de Succot (Festa dos Tabernáculos). Sefarditas são os judeus da Península Ibérica. Os judeus italianos são chamados Romanitas; os da Grécia, Romaniotas. E os Judeus do Oriente Médio, os do mundo islâmico, são chamados de Mizrahim. Os judeus que viviam na Itália desde os tempos romanos, distintos dos Sefarditas e dos Asquenazim, às vezes são referidos na literatura hebraica como Italkim, o plural de Italki, uma palavra emprestada do adjetivo ‘italicu’ ou ‘italicum’, que significa ‘Itálico’; em latim, ‘Romano’ ou ‘Romanita’. Italkit também é usado no hebraico moderno como o nome do idioma italiano. Eles falam tradicionalmente uma variedade de línguas judaico-italianas. Os costumes e ritos religiosos dos judeus de rito italiano podem ser vistos como uma ponte entre as tradições Ashkenazi e Sefardita, mostrando semelhanças entre as duas; eles estão ainda mais próximos dos costumes dos judeus Romaniotas da Grécia. Foto: Eliel Joseph Schafler – wikipedia.org.

11) Mezuzá

A Mezuzá está intimamente ligada ao Tefilin. É um pequeno pedaço de pergaminho (chamado klaf) inscrito em preto com as passagens bíblicas de Dt 6: 4-9; Dt 11: 13-21 (vs. 18; 20) e Nm 15: 37-41, integrantes do ‘Shemá Israel’ (Sh’ma Yisrael), que é enrolado e colocado em uma caixa decorativa afixada nos batentes das portas das casas e marcada com a palavra Shaddai, ‘Todo-Poderoso’.

O ‘Shemá Israel’ começa com a frase: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força” (Dt 6: 4-5). A Mezuzah deve ser colocada no umbral direito de cada porta da casa, sinagoga ou estabelecimento judaico como uma lembrança do Criador, exceto nos banheiros, lavanderias e armários pequenos demais para se qualificar como quartos.

O pergaminho (klaf) é preparado por um escriba (‘sofer stam’) qualificado e treinado no estudo das leis religiosas relevantes e na arte de esculpir a pena e praticar a escrita. O pergaminho contém versos escritos em tinta preta indelével com uma pena especial feita de uma pena ou, em casos raros, de um junco, e é então enrolado e colocado dentro da caixa, do lado direito da porta. As caixas são feitas de vários materiais: prata, metais preciosos, madeira, pedra, cerâmica, peltre (uma liga de estanho com chumbo e antimônio) e até mesmo polímero de argila. Sobre ela se recita uma bênção.

A palavra Mezuzah (מזזות – Strong #4201) é o substantivo feminino singular de Mezuzoth, que significa ‘batentes’, ‘umbrais’. Ela está escrita na bíblia:
• Dt 6: 9: “E as escreverás nos umbrais (mezuzoth) de tua casa e nas tuas portas”.
• Dt 11: 20: “Escrevei-as nos umbrais (mezuzoth) de vossa casa e nas vossas portas”.

Há instruções na lei judaica também quanto à sua conservação a cada sete anos.

A Mezuzá é geralmente colocada a sete palmos de altura do chão, em ângulo, apontando para dentro do estabelecimento com a extremidade de cima (no caso dos judeus asquenazitas, também chamados de asquenazes ou asquenazim, provenientes da Europa Central e Oriental), enquanto os judeus sefarditas (os judeus da Península Ibérica) posicionam as suas mezuzoth verticalmente. Eles a beijam quando passam pela porta para lembrá-los das orações que estão contidas ali dentro e os princípios do judaísmo que elas carregam.

Vamos reler Dt 6: 4-6; 8-9: “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te ordeno estarão no teu coração;... Também as atarás como sinal na tua mão, e te serão por frontal entre os olhos. E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas”.

Embora tenha sido dada inicialmente por Deus como um lembrete de Suas leis, da mesma forma que os tefilin, a sua forma e interpretação posterior dadas por rabinos nas eras que se seguiram acabaram por trazer à Mezuzá uma conotação de amuleto, inclusive por outras palavras escritas no verso dela, a fim de repelir o mal; ou, então, como um dispositivo de proteção contra a ira divina.

No verso do pergaminho estão escritas as letras hebraicas ש (Shin), ד (Dalet) e י (Yod), que forma o acróstico das palavras hebraicas ‘Shomer Daltot Israel’, ‘Guardião das casas de Israel’. Muitos estojos de mezuzá também são marcados na parte da frente com a letra hebraica ש (Shin), para Shaddai.

O procedimento é segurar a mezuzá contra o local em que será fixada e, em seguida, recitar uma bênção: “Bendito és tu, ó nosso Deus, Rei do Universo, que nos santificou pelos Seus mandamentos e ordenou-nos que afixássemos uma mezuzá”. Depois da bênção, ela é afixada no batente da porta. A crença no poder protetor da mezuzá também prevalece nos tempos modernos. Aproximadamente, três quartos dos adultos em Israel acreditam que a mezuzá literalmente guarda suas casas.

Para nós, cristãos, a Mezuzá tem um significado: A nossa casa (tanto o nosso corpo, como o santuário do Espírito, quanto a nossa moradia física) já está debaixo da vontade e do domínio do Senhor, bem como da proteção do Seu sangue e da Sua palavra. É como a marca do sangue do cordeiro nas portas das casas, protegendo os hebreus do Destruidor que veio para matar os primogênitos do Egito. Quando o inimigo vê a marca do sangue de Jesus sobre as nossas vidas, ele não pode tocar em nós.


Mezuzá Mezuzá Macedônica

Imagem à esquerda: A grande letra ש (Shin) representa שדי (Shaddai), um dos nomes pelos quais Deus era conhecido na Antiguidade: El-Shaddai, o Deus Todo-Poderoso. Na parte inferior está escrita a palavra Jerusalém (ירושלים) – foto – Derekcohen – wikipedia.org.

Imagem à direita: Uma mezuzá Sefardita Macedônica, como é aceita pelo Judaísmo rabínico; o estojo da mezuzá é vertical e mostra a letra hebraica ש (Shin). Na parte inferior está escrita a palavra Israel (ישראל) – foto – Pretoria Travel – wikipedia.org.

12) Megilot

Os cinco rolos ou cinco Megilot (Em hebraico, חמש מגילות – Hamesh Megillot ou Chomeish Megillos; plural de Megilá) são parte dos ‘Escritos’ (Ketuvim) judaicos do AT. Os cinco rolos são: Cântico dos cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes e Ester. O substantivo feminino ‘megillah’ (מגילת – Strong #4039) significa: ‘rolo, volume, rolo de pergaminho’, e procede da palavra hebraica ‘galal’, que significa ‘um rolo’ (i.e., um livro). A palavra Megillah está escrita em alguns versículos do AT como, por exemplo: Sl 40: 7; Jr 36: 2; 4; 6; 14; 20; 21; 23; 25; 27; 28; 29; 32; Ez 2: 9 (rolo = megillah; livro = sepher – ספר – Strong #5612); Ez 3: 1; 2; 3; Zc 5: 1; 2.

Cântico dos cânticos (hebraico: Shir ha-Shirim; שיר השירים) – lido no Sábado da Páscoa [no mês de Nisã ou Abibe – Março-Abril] pelos judeus provenientes da Europa Central e Europa Oriental (Asquenazes ou Asquenazim). Os judeus italianos (Romanitas ou Italkim) o lêem no Naariv (Oração da noite) no primeiro e segundo dia da Páscoa. Os judeus da Grécia (Romaniotas) e os judeus da Península Ibérica (Sefarditas) provavelmente seguem os costumes italianos. Já os judeus do Oriente Médio (Mizrahim, os do mundo islâmico) lêem o rolo publicamente semanalmente, no início do Shabbat (sábado) e na Páscoa. É lido por ocasião da Páscoa, pois ela celebra a libertação do povo judeu do Egito e simboliza o amor entre Deus e Israel, levando-o ao Sinai para conhecê-lO, ouvir Sua voz e ‘casar’ com Ele (da mesma forma que o livro de cânticos descreve o amor entre um casal).

Rute (hebraico: Rut; רות) – o rolo é lido antes da leitura da Torá na manhã da Festa de Pentecostes (Shavuot) [Mês de Sivã ou Siwãn – Maio-Junho], em especial pelos judeus Asquenazes. Para os judeus, Shavuot celebra a entrega da Torá e sua aceitação voluntária por Israel no deserto. Esse livro mostra: 1) como um não-judeu passa a ser parte da comunidade judaica, aceitando voluntariamente a Aliança de Deus com Seu povo através da Torá; 2) a ancestralidade parcialmente não-judaica da dinastia de Davi por causa de Rute, sua bisavó, que passou de moabita a judia. 3) Deixa o exemplo concreto da legislação social da Torá sendo aplicada em Israel, através da lei do levirato, do sistema previdenciário para os mais pobres (podemos dizer assim, em relação a ‘respigar espigas’ deixadas pelos ceifeiros) e do tratamento para com os estrangeiros.

Lamentações (hebraico: Eikhah ou Kinnot; איכה) – o rolo é lido no 9º dia do mês de ’Abh (Julho-Agosto), o dia do jejum do 5º mês, em todas as comunidades judaicas. Esse jejum instituído pós-exílio babilônico se referia ao mês em que o templo foi queimado (2 Rs 25: 8). Esse livro, que era um cântico de lamento pela destruição do Primeiro Templo, também se tornou um livro para lamento da destruição do Segundo Templo, e a data rabínica estabelecida para lamentar essa destruição foi chamada de Tisha B’Av (9º dia do mês de ’Abh). Para eles, a destruição do Templo envolve o abandono da própria presença divina com eles. ‘Lamentações’ reflete esse sentimento de abandono pela perda da segurança da sua pátria e da aprovação de Deus.

Eclesiastes (hebraico: Kohelet; קהלת) é lido publicamente em algumas comunidades em especial os Asquenazes ou Asquenazim no sábado da festa dos Tabernáculos, Sucot (Setembro-Outubro; mês de Tisri). Em outras comunidades, ele não é lido. Eclesiastes é quase que uma inversão dos livros de sabedoria, com uma visão um tanto cética e pessimista da existência humana no mundo, quando Salomão, já velho, vê a futilidade e a vaidade da vida de prazeres que ele teve. A escolha aparentemente irônica desse livro para ser lido na festa das Cabanas, na qual Deus pede uma alegria especial e intensa, ajuda a valorizar e aproveitar a vida nesse mundo com muita alegria.

Ester (Hebraico: Ester; אסתר) – o rolo é lido em todas as comunidades judaicas na Festa de Purim (Fevereiro-Março, mês de ’adhar). A leitura pública é feita duas vezes: na noite de Purim e de novo na manhã seguinte. Purim celebra a salvação do povo judeu do massacre pelos persas. O livro conta a história de Ester e seu tio Mordecai na Diáspora, conseguindo superar uma ameaça existencial voltada a todo o povo judeu morando longe de sua terra. Apesar de o nome de Deus não ser mencionado diretamente no livro, mesmo em condições adversas Seu povo deve ter esperança na libertação de toda opressão.


Megillah Ester

Megillah Ester

1ª imagem acima: Pergaminho do livro de Ester. Foto: Göttiguen – wikipedia.org.

2ª imagem acima: Outro pergaminho do livro de Ester do século XIII-XIV, na cidade de Fez, Marrocos, guardado no Museu de Quai Branly em Paris. Tradicionalmente, um rolo de Ester recebe apenas um rolete, fixado em seu lado esquerdo, ao invés dos dois usados para um rolo da Torá. Foto: Deror avi – wikipedia.org.

13) Micvê ou Mikvá

Uma palavra que não é encontrada na bíblia, em relação a lavar o corpo para ser limpo de impureza ritual é Mikveh (micvê, mikvé) ou Mikvá (מקווה), pl. mikva’ot, mikvoth, mikvot; ou mikves (em iídiche). Mikveh ou Mikvah é a imersão ritual em água utilizada no judaísmo.

Na verdade, a bíblia usa algumas expressões com: ‘banhar todo seu corpo em água’ (Lv 15: 13; 16 – as imundícias do homem e da mulher: sêmen e menstruação), ‘banhar-se-á em água’ (Lv 15: 5; 8 – as imundícias do homem e da mulher), ‘cumpridos os dias da sua purificação’ (Lv 12: 6 – a purificação da mulher pós-parto) ou ainda ‘banhará o corpo com água’ (Lv 14: 9 – a purificação do leproso).

A palavra Mikveh ou Mikvah (miqvah, Strong #4724) como usado na bíblia hebraica significa, literalmente, ‘uma coleção de água’ em sentido geral, ou seja, um reservatório, vala. Várias normas bíblicas especificam que imersão total em água era necessária para recuperar a pureza ritual após a pessoa entrar em contato com algo considerado impuro e, assim, poder entrar no templo novamente. No caso de tocar em cadáver era necessário que a pessoa fosse limpa pela água purificadora (com as cinzas da novilha vermelha – Nm 19: 9).

Também era e ainda é usada a lavagem com água:
• Por mulheres judias para alcançar a pureza ritual após a menstruação ou no parto;
• Por homens judeus para alcançar a pureza ritual.
• Como parte de um procedimento tradicional para a conversão ao judaísmo.
• Para imergir utensílios adquiridos recentemente e utilizados para servir e comer.
Mikveh antigos que datam de antes do final do primeiro século podem ser encontrados em toda a terra de Israel, bem como nas comunidades históricas da diáspora judaica. Nos tempos modernos Mikveh podem ser encontrados na maioria das comunidades no judaísmo ortodoxo.

Em Lv 12: 6 a palavra usada para ‘purificação’ não é Mikveh, e sim thohor ou tãhõr (טהור), que significa ‘puro’, e de onde derivam as palavras ‘purificação, pureza, limpeza’: “E, cumpridos os dias da sua purificação por filho ou filha, trará ao sacerdote um cordeiro de um ano, por holocausto, e um pombinho ou uma rola, por oferta pelo pecado, à porta da tenda da congregação”.

Mikveh, provavelmente, está relacionado com a palavra Miklachat – מקלחת, que significa ‘banho’ (de chuveiro, de chuva, de neve), mas foi dada mais tarde, com a Mishná, a compilação da chamada ‘Lei Oral’, no século II da Era Comum em Jerusalém. O Talmude, completado por volta de 500 EC, traz comentários sobre a Mishná e a Torá, usando o Midrash. A metodologia para interpretar a Mishná encontra-se no Midrash, que tem raiz na palavra darash, que quer dizer ‘inquirir’, ‘investigar’.


mikvá mikvá

1ª imagem: Um mikvá escavado nas ruínas de Qumran (wikipedia.org – foto: Saintjennifer) e 2ª imagem: Um mikvá em Besalu, Catalunha, Espanha (wikipedia.org – foto: Arie Darzi)

mikveh

Um mikveh em Speyern (Oeste da Alemanha), que remonta a 1128 DC – Foto: Chris 73 (wikipedia.org).

Este texto se encontra no livro:


livro evangélico: O Senhor quer falar com Seu povo

O Senhor quer falar com Seu povo (PDF)

The Lord wants to talk to His people (PDF)


Fonte de pesquisa para alguns textos e imagens: wikipedia.org



Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti

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