Explicação sobre Zc 11-12: a parábola do Bom Pastor e a traição de Judas Iscariotes; ‘Dispensacionalismo’, ‘Amilenismo’, ‘Milênio’; zelotes, sicários, saduceus, fariseus e essênios. Quem são as duas testemunhas mártires (Ap 11: 3-4; Zc 4: 11; 14)?

Explanation of Zech 11-12: the parable of the Good Shepherd and the betrayal of Judas Iscariot; ‘Millennium’, ‘Dispensationalism’, ‘Amillennialism’; Zealots, Sicarii, Pharisees, Sadducees and Essenes. The two witnesses (Rev. 11: 3-4; Zech 4: 11; 14).


Explicação de Zacarias 11–12




Zacarias profetizou no período de 520-480 AC, durante o reinado de Dario I (522-486 AC). A partir do capítulo 9 se inicia a segunda parte do livro de Zacarias, o qual se refere às suas profecias no período em que já era idoso (Zc 9–14). No capítulo 11, ele faz uma profecia messiânica sobre a traição de Judas Iscariotes (Zc 11: 13 cf. Mt 27: 9-10) e a parábola do Bom Pastor. No capítulo 12, Zacarias faz uma profecia apocalíptica, dizendo que os judeus verão Aquele a quem traspassaram, e que haverá o momento do arrependimento de Israel por ter negado Jesus como Messias (Zc 12: 10 cf. Ap 1: 7). Desde a época do Perído Intertestamentário havia partidos político-religiosos em Jerusalém (os Saduceus, Fariseus e Essênios, e mais tarde, os Zelotes e Sicários), que estavam em constante desacordo, o que no século I DC propiciou a destruição de Jerusalém por Tito.


Profeta Zacarias

Capítulo 11

• Zc 11: 1-3: “Abre, ó Líbano, as tuas portas, para que o fogo consuma os teus cedros. Geme, ó cipreste [NVI: pinheiro], porque os cedros caíram [NVI: o cedro caiu], porque as mais excelentes árvores são destruídas; gemei, ó carvalhos de Basã, porque o denso bosque foi derribado. Eis o uivo dos pastores, porque a sua glória é destruída! [NVI: os seus formosos pastos foram devastados] Eis o bramido dos filhos de leões, porque foi destruída a soberba do Jordão! [NVI: Ouçam o rugido dos leões; pois a rica floresta do Jordão foi destruída]”.

Isso mostra a força de Deus derrubando a soberba, a altivez e o poder dos homens. Aqui, Deus pode estar se referindo às nações ímpias do Período Intertestamentário como Seus instrumentos para punir os inimigos do Seu povo e colocar Israel numa situação de preparo para a vinda do Messias. A grande cadeia de montanhas do Líbano parecia inexpugnável, mas Deus poderia trazer o inimigo justamente por lá. O Líbano é famoso por causa de sua coberta de densa floresta. Ampla precipitação de chuva de novembro a março e as cadeias de pedra calcária dão origem a muitas fontes e riachos. Ao sul das montanhas há cultivo de jardins, bosques de oliveiras, vinhedos e pomares de frutas (amoras, figos, maçãs, damascos, nozes) e pequenos campos de trigo. A vegetação florestal é de murtas, coníferas e enormes cedros. Portanto, o Líbano, na bíblia, era símbolo de fertilidade, prosperidade, tirar gozo e proveito da vida e de uma plantação. O cedro e o cipreste (muitas vezes, traduzido como ‘abeto’) simbolizam imponência e realeza. O cedro do Líbano é uma majestosa conífera de madeira durável, por isso Davi construiu sua casa com cedro e Salomão, o templo, assim como o segundo templo de Esdras também foi reconstruído com essa madeira. O cedro pode atingir quarenta metros de altura e os escritores antigos usavam-no como símbolo da estatura de um homem (Ez 31: 3; Am 2: 9), igualmente de força, majestade e poder (Ct 3: 9), altivez, dureza, inflexibilidade (Sl 29: 5).


Mapa de Israel no período pós-exílio
Mapa de Israel no período pós-exílio


O profeta descreve os três limites de Israel pós-exílio; Líbano (norte), Basã (ou Gileade – a nordeste) e Amom (a leste, na Transjordânia).
Nesta profecia de Zacarias o Líbano é comandado a abrir as suas portas e suas fortificações para os gregos, provavelmente, pois foi por Tiro que Alexandre iniciou sua ação na Fenícia, na Palestina e na Filístia, a caminho da sua conquista do Egito.
O fogo das guerras contra o inimigo queimaria as casas de grandes e pequenos, até palácios. A bíblia diz (Zc 11: 2): “Geme, ó cipreste [NVI: pinheiro], porque os cedros caíram [NVI: o cedro caiu], porque as mais excelentes árvores são destruídas; gemei, ó carvalhos de Basã, porque o denso bosque foi derribado”.

Isso significa que todos são chamados a chorar e a gemer, pois as misérias virão sobre todos. Os rebanhos e manadas foram dispersos, seus formosos pastos foram devastados, ou seja, sua glória e sua honra. A soberba do Jordão fala sobre as grandes florestas às margens deste rio, onde os leões jovens impunham sua autoridade e seu pavor. A palavra ‘leões’, aqui pode se referir a reis, sendo que ‘filhos de leões’ são os príncipes daquela região a leste do rio, por exemplo: Tobias, o amonita, na época que Neemias veio (Ne 2: 19; Ne 5: 17-18; Ne 6: 1), ou os reis daquela nação durante o Período Helenístico, e que eram favoráveis para com os Selêucidas (Dn 11: 41).

Zc 11: 4-14 – A parábola do bom pastor: “Assim diz o Senhor, meu Deus: Apascenta as ovelhas destinadas para a matança [NVI: Pastoreie o rebanho destinado à matança]. Aqueles que as compram matam-nas e não são punidos; os que as vendem dizem: Louvado seja o Senhor, porque me tornei rico; e os seus pastores não se compadecem delas [NVI: Nem os próprios pastores poupam o rebanho]. Certamente, já não terei piedade dos moradores desta terra, diz o Senhor; eis, porém, que entregarei os homens, cada um nas mãos do seu próximo e nas mãos do seu rei; eles ferirão a terra, e eu não os livrarei das mãos deles. Apascentai, pois, as ovelhas destinadas para a matança, as pobres ovelhas do rebanho [NVI: Eu me tornei pastor do rebanho destinado à matança, os oprimidos do rebanho]. Tomei para mim duas varas: a uma chamei Graça [NVI: Favor], e à outra, União; e apascentei as ovelhas. Dei cabo dos três pastores num mês. Então, perdi a paciência com as ovelhas, e também elas estavam cansadas de mim [NVI: Porque eu me cansei deles e o rebanho me detestava]. Então, disse eu: não vos apascentarei; o que quer morrer, morra, o que quer ser destruído, seja, e os que restarem, coma cada um a carne do seu próximo. Tomei a vara chamada Graça [NVI: Favor] e a quebrei, para anular a minha aliança, que eu fizera com todos os povos [NVI: nações]. Foi, pois, anulada naquele dia; e as pobres [NVI: aflitos] do rebanho, que fizeram caso de mim, reconheceram que isto era palavra do Senhor. Eu lhes disse: se vos parece bem, dai-me o meu salário; e, se não, deixai-o [NVI: se não, não me paguem]. Pesaram, pois, por meu salário trinta moedas de prata [NVI: Então eles me pagaram trinta moedas de prata]. Então, o Senhor me disse: Arroja isso ao oleiro, esse magnífico preço em que fui avaliado por eles. Tomei as trinta moedas de prata e as arrojei ao oleiro, na Casa do Senhor [NVI: as atirei no templo do Senhor, para o oleiro]. Então, quebrei a segunda vara, chamada União, para romper a irmandade entre Judá e Israel”.

• v. 4: ‘Assim diz o Senhor, meu Deus: Apascenta as ovelhas destinadas para a matança [NVI: Pastoreie o rebanho destinado à matança]’.
Aqui, provavelmente, o profeta recebe uma orientação de Deus quanto às Suas ovelhas, pois elas estavam sendo negligenciadas e, provavelmente, receberiam um tratamento cruel por parte dos seus líderes, num futuro próximo. Nós podemos ver uma referência ao papel de Jesus como o Bom Pastor, que viria para apascentar Suas ovelhas para que não fossem mortas nas mãos de Satanás (Jo 10: 10-11). Depois da construção do templo, ou melhor, da profecia sobre os dois ungidos, Josué e Zorobabel (Zc 4: 1-14; Zc 6: 9-15), o profeta não menciona mais nada sobre o governo e o sacerdócio em Judá, mas pelo que podemos ler em Neemias e Malaquias, o entusiasmo inicial se transformou numa apatia; houve um esfriamento nas coisas espirituais, e o que passou a ocupar a mente das pessoas foi o temor da Grécia. Por isso, o que parece aqui é que o profeta está sendo chamado para alertar as pessoas quanto ao que estava acontecendo para que o pior pudesse ser evitado. Ao que parece, este versículo e os seguintes levam aos acontecimentos do período helenístico, ao mesmo tempo em que nos faz imaginar o que Zacarias poderia estar tentando transmitir ao seu povo no presente.

• v. 5: ‘Aqueles que as compram matam-nas e não são punidos; os que as vendem dizem: Louvado seja o Senhor, porque me tornei rico; e os seus pastores não se compadecem delas [NVI: Nem os próprios pastores poupam o rebanho]’.
Essa situação não parece ser algo presente, pois no tempo de Zacarias o governador de Judá, teoricamente, era Zorobabel, e não era propenso a tais práticas. Caso esta situação esteja relacionada à época de Neemias (mais ou menos, 445-430 AC – cf. Ne 5: 1-12; 15), parece ter sido contornada de uma maneira efetiva por ele, como líder civil de Judá, e por Esdras, como líder religioso. Um pouco mais à frente, na época de Malaquias (450-400 AC) e no período em que Neemias parece ter voltado à Pérsia (após 12 anos da sua vinda – Ne 13: 6 – 433 AC), o que parecia acontecer era um desrespeito às coisas santas e uma negligência dos sacerdotes em relação ao seu ofício (Ml 1: 6-14; Ml 2: 8-9; Ml 2: 10-16; Ml 3: 14), fazendo seu povo desviar por falta da verdadeira palavra de Deus. Havia roubo nos dízimos e nas ofertas, mas não parecia haver uma crueldade no trato com os judeus por parte dos seus líderes. Por isso, nós podemos pensar que isso começou a acontecer após 333 AC, com a subida de Alexandre e do império grego, mais especificamente, durante o período Selêucida sobre Israel (198-167 AC – após o reinado de Antíoco III, também chamado Antíoco III Magno ou Antíoco, o Grande – 223-187 AC), pois no período Ptolomaico (323-198 AC) Israel foi tratado de maneira tolerante pelos egípcios.

O que sabemos é que Antíoco III garantiu aos judeus a liberdade de culto e permitiu-lhes cobrar impostos destinados ao templo de Jerusalém. Seu filho Seleuco IV Filopator reinou em seu lugar no período de 187-175 AC. Antíoco IV Epifânio era o filho mais novo de Antíoco III Magno e irmão de Seleuco IV Filopator. Governou a Síria entre 175-164 AC. Nessa época, a Judéia era governada por sumo sacerdotes (os ‘pastores’ descritos por Zacarias) que, corrompidos e com sede de poder, não se importavam mais com o povo; eram pastores imprestáveis. Isso nos conduz ao versículo seguinte, onde entenderemos o que Deus estava dizendo sobre puni-los.

• v. 6: ‘Certamente, já não terei piedade dos moradores desta terra, diz o Senhor; eis, porém, que entregarei os homens, cada um nas mãos do seu próximo e nas mãos do seu rei; eles ferirão a terra, e eu não os livrarei das mãos deles’.
Quando se fala ‘entregarei os homens, cada um nas mãos do seu próximo’ nós pensamos numa guerra civil. E ‘seu rei’ se refere ao rei Selêucida, em especial a Antíoco IV Epifânio (175-164 AC). No período helenístico ocorreu a ascensão de um partido judaico pró-helênico que se desenvolveu pela primeira vez na diáspora judaica de Alexandria e Antioquia (na Síria), e depois se espalhou para a Judéia, por exemplo, na família dos Tobíadas, da qual Menelau ou Menaém, o sumo sacerdote, provavelmente fazia parte, sendo um desses simpatizantes. Os Tobíadas eram da terra de Amom. Willreich (um bispo alemão de Bremen, Alemanha, século IX) os associa com Tobias, o servo amonita mencionado por Neemias, e que veio do distrito jordaniano oriental.

Quando Antíoco IV Epifânio se tornou governante do Império Selêucida em 175 AC, ele substituiu o sumo sacerdote Onias III (185-175 AC) por Jason (175-172 AC), e Menelau foi colocado como segundo homem no sacerdócio. Para Antíoco IV, o sumo sacerdote era apenas um governador local dentro do seu reino, mas para os judeus ortodoxos o sumo sacerdote era alguém nomeado por Deus. Em 172 AC, Menelau foi enviado por Jason a Antioquia para pagar o tributo anual para Antíoco IV, e aproveitou a oportunidade para subornar o rei e ganhar o cargo de sumo sacerdote. Conseguiu o que queria, com o apoio dos Tobíadas; o povo se revoltou, apoiando Jason, mas pôde apenas se submeter diante das tropas de soldados ciprianos enviados por Antíoco para subjugar qualquer oposição dos seguidores do antigo sumo sacerdote. Além disso, as tropas foram enviadas para coletar o tributo que Menelau havia prometido. Com o auxílio de seu irmão Lisímaco, Menelau roubou vasos sagrados do templo e os deu ao rei Selêucida, enquanto Jason fugiu de Jerusalém e encontrou refúgio na terra dos amonitas. O sumo sacerdote Onias III acusou publicamente Menelau de roubar o templo, mas este o matou. Menelau foi preso pelo assassinato de Onias e acusado perante Antíoco, mas com suborno ele se livrou do julgamento. Ele continuou a saquear os tesouros do templo até que seu irmão Lisímaco morreu num outro tumulto em Jerusalém em 170 AC.

Antíoco IV Epifânio se envolveu na Sexta Guerra da Síria contra o Egito (170 AC) e seus reis, conquistando a estratégica cidade de Pelúsio (no nordeste do delta do Nilo), mas foi forçado a deixar o Egito devido às dificuldades em sua pátria (traições por parte do seu próprio povo contra ele). No caminho de volta (levando muito despojo), ele saqueou Jerusalém e o tesouro do templo. Voltou para Alexandria, tentando tomar o Egito numa segunda expedição em 168 AC, mas fracassou. Depois deste episódio, ele centrou a sua atenção na Judéia, procurando também levar o helenismo definitivamente para lá e anexá-la a Roma; não apenas na Judéia, mas também na Fenícia. Durante o reinado do seu pai Antíoco III Magno os judeus já se encontravam divididos em dois partidos, um dito ‘piedoso’ (tradicional) e outro que favorecia a helenização e a romanização, sendo este último mais rico e composto por pessoas mais importantes diante da sociedade, como Menelau. Antíoco apoiou este último partido. Nesta época, Jason fez uma tentativa fracassada de recuperar o controle de Jerusalém. Fugiu de novo para Amom, depois para Egito e morreu na Lacedemônia (ou Lacônia, na Grécia, na região do Peloponeso, cuja capital era Esparta).

Então, na volta da segunda guerra contra o Egito (168-167 AC), Antíoco IV Epifânio conquistou Jerusalém, que passou a ser permanentemente controlada por soldados. Enviou um grande exército contra a cidade e tomou-a em ataque relâmpago; matou 40.000 pessoas; vendeu muitos judeus como escravos. Ali, Antíoco IV cometeu sacrilégio, mandando sacrificar um porco no altar e borrifar o sangue no templo; invadiu o Santo dos Santos e pilhou os vasos de ouro e outros utensílios sagrados, no valor de mil talentos. Ele procurou estabelecer o helenismo à força, instituindo como lei a destruição dos exemplares das Escrituras e proibindo o culto judaico: a observância do shabbat, as proibições alimentares e até a circuncisão. Alguns historiadores relatam que, além de ele saquear o templo e matar as 40.000 pessoas referidas acima, as mães que circuncidavam seus bebês foram mortas junto com suas famílias. Daniel se refere a isso (Dn 11: 31: ‘Dele sairão forças que profanarão o santuário, a fortaleza nossa, e tirarão o sacrifício diário, estabelecendo a abominação desoladora’). No Templo de Jerusalém foi instalada uma estátua do deus grego Zeus (Júpiter para os romanos). Antíoco IV deixou Menelau governando os judeus como sumo sacerdote.

O profeta Daniel também comenta sobre a atitude de alguns judeus incrédulos, entre eles Menelau, que facilitaram a infiltração de Antíoco Epifânio na Cidade Santa. O profeta os chama de ‘os violadores da aliança’ (Dn 11: 32: ‘Aos violadores da aliança, ele, com lisonjas, perverterá, mas o povo que conhece ao seu Deus se tornará forte e ativo’). ‘O povo que conhece ao seu Deus se tornará forte’ se refere aos Macabeus e aos judeus que resistiram à tentativa de helenização. Esta situação (romanização e helenização da Judéia) gerou descontentamento entre os judeus fiéis como Matatias e seus filhos: Simão, Judas (o Macabeu), Eleazar, João e Jônatas (a família Hasmoneana, conhecida como Macabeus). Macabeu significa ‘martelo’. Eles viviam num vilarejo chamado Modi’in, a mais ou menos trinta e dois quilômetros a oeste de Jerusalém e trinta e cinco quilômetros a sudeste de Tel Aviv, no local hoje conhecido como Modi’in-Maccabim-Reut.

A revolta eclodiu quando um grupo de gregos reuniu os habitantes do vilarejo na praça onde fora erguido um altar com ídolos. O general grego exigiu que João fizesse oferendas naquele lugar. Este, porém, recusou-se veementemente e sua atitude fez irromper a revolta, pois seu pai, Matatias, matou um judeu helenista que deu um passo a frente para oferecer sacrifício a um ídolo. Os estudiosos modernos dizem que tudo começou numa guerra civil entre judeus tradicionalistas e judeus helenizados em Jerusalém (por isso Zacarias escreve: ‘entregarei os homens, cada um nas mãos do seu próximo e nas mãos do seu rei; eles ferirão a terra, e eu não os livrarei das mãos deles’ – Zc 11: 6). O que começou como uma guerra civil e como uma rebelião religiosa foi gradualmente se transformando em uma guerra de libertação nacional, quando o reino da Síria se uniu aos judeus helenistas em seu conflito com os tradicionalistas. Matatias e seus cinco filhos fugiram para o deserto de Judá. Matatias faleceu já em idade avançada, e seu filho, Judas Macabeu, foi nomeado general. Ele adotou a estratégia de guerrilhas, pegando o inimigo em ataques-surpresa. Os Macabeus acabaram por expulsar as tropas de Antíoco IV de Jerusalém. Em 162 AC Menelau foi executado, e Antíoco V Eupator (o filho e sucessor de Antíoco IV) colocou Álcimo (162-153 AC) em seu lugar. Seu comandante, Lísias, concordou com um compromisso político que restaurou a liberdade religiosa dos judeus. A Revolta dos Macabeus durou de 167 AC a 160 AC. Judas queria retomar Jerusalém para purificar o templo. Ao chegar lá, encontrou apenas desolação, ruínas, ídolos e estátuas por toda parte. Mas ele e seu exército purificaram ritualmente o templo, restabelecendo o culto judaico tradicional. Judas Macabeu faleceu e foi sucedido por seu irmão Jônatas Macabeu, que se tornou sumo sacerdote em Jerusalém (153-143 AC).

• v. 7: ‘Apascentai, pois, as ovelhas destinadas para a matança, as pobres ovelhas do rebanho [NVI: Eu me tornei pastor do rebanho destinado à matança, os oprimidos do rebanho]. Tomei para mim duas varas: a uma chamei Graça [NVI: Favor; KJV: Beleza], e à outra, União; e apascentei as ovelhas’.
A versão ARA diz: ‘Apascentai’ – o verbo está no imperativo, na segunda pessoa do plural, como uma ordem de Deus, mas para quem? O profeta estaria falando em nome de Deus para os líderes?
Entretanto, na NVI está escrito em primeira pessoa, ou seja, que ele tomou a decisão: ‘Eu me tornei pastor do rebanho destinado à matança, os oprimidos do rebanho’.
Nas versões em inglês (NRSV, KJV, NIV), o versículo é igualmente colocado na primeira pessoa do singular, significando o profeta, representando o papel de Deus para com o seu povo.

Podemos dizer que, da mesma forma que com Jeremias e Ezequiel, Zacarias estava encenando a palavra que recebeu do Senhor, e pegou uma vara, à qual deu o nome de ‘Graça’ [NVI: Favor], e outra, à qual deu o nome de ‘União’, da mesma maneira que Deus estava lidando com o Seu povo: com graça (favor, misericórdia) e trazendo a ele a união. Há também uma relação disso com o pastoreio de Jesus.

A palavra ‘Graça’, em hebraico, é nô’am (Strong #5278), que significa: prazer, satisfação, esplendor; beleza, sentimento agradável, encanto, suavidade. É derivada de uma raiz primitiva (na’em – Strong #5276), que significa: ser agradável (literal ou figurativamente): andar com beleza, ser um prazer, ser agradável, ser doce.

A palavra ‘União’, em hebraico, é Chabal ou Chêbel (Strong #2254), que significa: enrolar com força (como uma corda), isto é, ligar; especificamente, por uma promessa, penhor, juramento; figurativamente, perverter, destruir, se retorcer em dor (especialmente de parto); banda, faixa, produzir, coisa corrupta, corruptamente, ofender, colocar em penhor, tomar em penhor, tomar uma promessa, estragar, arruinar, botar a perder, trabalho de parto, trabalho penoso, reter.
Em se tratando do profeta e do povo da antiga aliança, Deus diz que estava derramando sobre eles o Seu favor e Sua misericórdia, Sua bela ordem de governo e Sua satisfação. Isso seria agradável a eles. Também era uma promessa de união entre Seus filhos no período pós-exílio, Judá e Efraim, pela misericórdia divina derramada em resposta à obediência dos seus corações à palavra vinda da boca de Seus profetas; mais exatamente, a misericórdia divina derramada sobre governantes civis e eclesiásticos submissos a Ele. Com seus corações amolecidos pelo amor de Deus, a união se tornaria mais fácil entre os irmãos. O povo ainda é descrito como ‘rebanho da matança’ (cf. v.4), mas as ovelhas também são chamadas ‘as pobres ovelhas do rebanho’ (expressão é repetida no v.11) o que provavelmente significa o remanescente fiel dentro de Israel.

Jesus, como uma figura do Bom Pastor, uniria judeus e gentios debaixo da graça, do favor imerecido de Deus, numa só família: Sua Igreja (Jo 10: 16). As ovelhas destinadas para a matança nas mãos de Satanás, as oprimidas, as pobres de espírito que sentiam sede da Sua palavra, essas encontrariam o descanso e o consolo de um verdadeiro pastor, pois Ele era ao mesmo tempo o Rei e o sacerdote delas. As ovelhas humildes, pobres, oprimidas, podem se referir aos discípulos e aos seguidores de Cristo, as que foram escolhidas para serem dEle e para ouvirem a Sua voz (Jo 10: 4; 11; 27-28; Jo 1: 12-13).
Da mesma forma que o profeta estava dizendo que pegou as duas varas e começou a apascentar as ovelhas, Jesus começou Seu ministério na terra apascentando Suas ovelhas, as ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 10: 6).

• v. 8 (ARA): ‘Dei cabo dos três pastores num mês. Então, perdi a paciência com as ovelhas, e também elas estavam cansadas de mim’ [NVI: Em um só mês eu me livrei dos três pastores. Porque eu me cansei deles e o rebanho me detestava], ou [NRSV, em inglês: Em um mês eu descartei os três pastores, pois eu me tornei impaciente com eles, e eles também me detestavam].
• ‘Dei cabo’, ‘eu me livrei’, ‘eu descartei’ – isso significa ficar livre de alguma coisa, de alguém ou de um aborrecimento, ou seja, isso deixou de incomodar. Não significa, necessariamente, que o problema foi eliminado matando pessoas, mas que, de alguma forma, esses pastores deixaram de ser um problema para o Bom Pastor.

• A segunda pergunta passa a ser: qual a identidade desses três pastores?
Se pensarmos no AT na pessoa de Deus Pai como o autor desta decisão, não é possível saber quem eram eles, da mesma forma em se tratando do profeta que, provavelmente, entrou em choque com os líderes do seu povo pelo ato de obedecer a Deus e pastorear as ovelhas, como lhe fora ordenado; afinal, Zacarias era sacerdote. É comum a interpretação desses personagens bíblicos como: o rei, o profeta e o sacerdote. Mas no caso de Zacarias não havia rei governando o seu povo, a não ser um imperador ímpio, como os persas (no presente) e os gregos (no futuro). Caso Zorobabel ainda estivesse vivo e no posto de governador de Judá, não parecia ser oposição ao profeta; tampouco Josué, o sumo sacerdote, a figura do Messias Renovo. No caso de Zacarias, poderia ser outros sacerdotes levitas, separados para ensinar, mas que no momento estavam afastados do caminho de Deus.

O que importa para nós aqui é Jesus, uma vez que esta profecia diz respeito ao Seu ministério e ao Seu papel de Bom Pastor das Suas ovelhas. Então, os três pastores podem dizer respeito aos mestres da lei: saduceus, fariseus e escribas, pois foi com eles que Jesus mais discutiu. O sumo sacerdote e os sacerdotes levitas que desempenhavam sua função no templo não eram Seus oponentes declarados, presentes nas Suas pregações e nos Seus milagres. Eles eram informados pelos mestres da lei, e só o viram de perto dentro do Sinédrio, e conversaram pessoalmente com Ele na hora do Seu julgamento. Podemos dizer que eles estavam por trás dos bastidores, enquanto os mestres da lei é que instigavam o povo abertamente contra Ele e contra Sua doutrina.

• A terceira expressão importante é: ‘num mês’ ou ‘em um só mês’. Da mesma forma que no comentário anterior não se pode afirmar nada em relação ao profeta nem a alguma atitude de Deus no AT em relação a esse período de tempo. O que se pode pensar é que, em se tratando de Jesus, o mês da Páscoa foi o mês em que todas as profecias se cumpriram quanto à Sua missão como Messias e Redentor de Israel, em especial o dia de Sua morte, quando ficou claro para todos o que Deus estava fazendo com Seu povo: um novo começo, uma nova criação, o fim de uma dispensação, o término de uma aliança que, por si só, já tinha se mostrado falida (Hb 8: 13). Então, ao morrer na cruz, Jesus manifestou claramente o que havia pregado por três anos como a doutrina verdadeira do Pai, acabando de vez com a doutrina venenosa e corrupta dos mestres da lei e com o seu ‘pastoreio’ sobre Israel. Ele morreu, ressuscitou, entrou novamente na Sua glória e, ficou livre dos três pastores definitivamente. Eles não mais o importunariam, nem às Suas ovelhas, que estavam agora separadas para uma nova vida e uma nova missão. Elas tinham agora um novo dono, um novo mestre, e não mais se submeteriam à matança e ao abate de Satanás, mas tinham a vida eterna.

• A bíblia também diz: ‘Então, perdi a paciência com as ovelhas, e também elas estavam cansadas de mim’.
Se pensarmos em Zacarias dizendo isso, ficamos novamente sem explicações em relação a essa afirmação; por isso, podemos entender que era Deus Pai falando que Sua paciência com Seu povo havia se esgotado, depois de milênios de tentativas de reconciliação. Seu povo se recusava a se submeter a Ele, apesar do que já tinha sofrido, o que implica um novo juízo para a correção dos seus caminhos; na verdade, uma ‘última chance’ ou um ‘preparo’ para a vinda do Messias (cf. v. 9-10).
Por isso, o versículo nos leva a pensar novamente em Jesus, contra o qual o desprezo e oposição de Israel foram bem nítidos e declarados (cf. v. 12, quando Ele é avaliado em trinta moedas de prata). O NT fala sobre isso em algumas passagens do Seu ministério:

• ‘Perdi a paciência com as ovelhas’ – Mt 23: 1-36 (repreende os escribas e fariseus); Mt 21: 43 (“Portanto, vos digo que o reino de Deus vos será tirado e será entregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos”); Lc 13: 34-35 (“Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir teus filhos como a galinha ajunta os do seu próprio ninho debaixo das asas, e vós não o quisestes! Eis que a vossa casa vos ficará deserta. E em verdade vos digo que não mais me vereis até que venhais a dizer: Bendito o que vem em nome do Senhor!”).

• ‘E também elas estavam cansadas de mim’ – Mt 26: 3-5 (“Então, os principais sacerdotes e os anciãos do povo se reuniram no palácio do sumo sacerdote, chamado Caifás; e deliberaram prender Jesus, à traição, e matá-lo. Mas diziam: Não durante a festa, para que não haja tumulto entre o povo”); Mt 27: 23; 25 (“Que mal fez ele? Perguntou Pilatos. Porém cada vez clamavam mais: Seja crucificado!... E o povo todo respondeu: Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos”); Jo 1: 11 (“Veio para o que era seu, e os seus não o receberam”); Jo 8: 43-44; 47 (“Qual a razão por que não compreendeis a minha linguagem? É porque sois incapazes de ouvir a minha palavra. Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhes os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira;... Quem é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso, não me dais ouvidos, porque não sois de Deus”); Jo 10: 25-26 (“Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo disse, e não credes. As obras que eu faço em nome de meu Pai testificam a meu respeito. Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas”).

• v. 9: ‘Então, disse eu: não vos apascentarei; o que quer morrer, morra, o que quer ser destruído, seja, e os que restarem, coma cada um a carne do seu próximo’ – em relação ao povo do Antigo Testamento, Deus fala através do profeta que o Seu juízo já está determinado. Seu povo vai ser novamente entregue à espada, à fome, às divisões, aos sítios de suas cidades pelos inimigos. O Império Grego sob Alexandre e seus sucessores foram os instrumentos de Deus para disciplinar Seu povo. Como foi comentado no versículo 6 sobre Antíoco IV e os Selêucidas, o que ocorreu com os judeus fez parte do juízo do Senhor, acrescido pelas guerras civis que ficaram mais evidentes na época dos Macabeus e do período Hasmoneano (estes líderes também brigaram entre si).

Em 65–64 AC, o Império Selêucida foi anexado à República Romana. Assim, terminou também o Período Hasmoneano, e teve início o Período Romano, quando Pompeu invadiu Jerusalém (63 AC) e Herodes, o Grande, subiu ao poder como rei (37-4 AC). Antígono (40-37 AC) foi o último rei da dinastia Hasmoneana, que alguns dizem ter sido executado por Herodes, o Grande, em 37 AC. Durante a dinastia Herodiana as coisas não ficaram melhores para Israel. Herodes era filho de Antípatro, um Idumeu (ou Edomita), colocado pelo general romano Pompeu como procurador da Palestina em 67 AC. Antípatro prosperou na corte dos últimos soberanos Hasmoneus e passou a governar a Judéia após a ocupação romana. Herodes, o Grande, se casou com Mariamne I (sua 2ª esposa, neta do sumo sacerdote João Hircano II e sobrinha de Antígono, o último sumo sacerdote da dinastia Hasmoneana) e nomeou Ananelus (37-36 AC) para o cargo sacerdotal, sendo este sucedido por Aristóbulo III da Judéia (36 AC), com 17 anos de idade. Aristóbulo III era cunhado de Herodes, o Grande, e irmão de Mariamne I; foi assassinado por Herodes, que já havia assassinado João Hircano II da Judéia 36 AC. Ananelus voltou a ser sumo sacerdote (36-30 AC), e depois dele, Joshua ben Fabus (30-23 AC). A linhagem sacerdotal se segue com: Simon ben Boethus (pai de Mariamne II, que se casou com Herodes, o Grande; 3ª esposa) → Joazar ben Boethus (4 AC) → Eleazar ben Boethus (4-3 AC) → Anás (6-15 DC – Ananus ben Seth ou Anás ben Sete, o pai, o Anás dos Evangelhos) → Caifás (18-36 DC, genro de Anás: Lc 3: 2; Jo 18: 13. E foi escolhido pelos romanos para o cargo). Os cinco filhos de Anás também serviram como sumo sacerdotes: Eleazar ben Anás (16-17 DC), Jônatas ben Anás (36-37 DC, depois da morte de Caifás), Teófilo ben Anás (37-41 DC), Matias ben Anás (43 DC), Anás ben Anás (63 DC).

Herodes, o Grande, não só interferiu de maneira danosa na escolha dos sumo sacerdotes, como foi um péssimo governante civil, transmitindo esse mau comportamento para seus descendentes.
Quanto à profecia de Zacarias (Zc 11: 9), parece que o julgamento divino decorrente dela continuou após a vinda de Jesus e Sua rejeição pelo povo judeu (cf. v.12), pois Ele mesmo confirmou a palavra do Pai ao se referir à destruição de Jerusalém por Tito (“Mas Jesus lhe disse: Vês estas grandes construções? Não ficará pedra sobre pedra, que não seja derribada” – Mc 13: 2 – cf. Mt 24: 2; Lc 21: 6).

Na época dos romanos, diferentemente da época pós-exílio, Israel era composto pela terra de Judá, Samaria, Iduméia e Galiléia, todas essas regiões englobadas sob o nome de Província da Judéia (ou Palestina), debaixo do governo de Roma.

Os partidos político-religiosos em Jerusalém

A Judéia (Palestina) no século I DC estava dividida por muitos partidos em constante desacordo, o que propiciou a entrada de Tito ali.
Os Zelotes tinham sua origem no revolucionário Judas Galileu (At 5: 37) que em 6 DC liderou uma revolta contra o pagamento de impostos a Roma. Os rebeldes em Jerusalém no momento da invasão romana eram do grupo dos zelotes, dos sicários e de outros grupos extremistas não mencionados por nome pelos historiadores.
Os Sicários parecem ter sido um grupo mais extremista dentro do partido radical separatista dos zelotes, que tentaram expulsar da Judéia os romanos e seus simpatizantes. Os sicários (em latim: sicarius, ‘homem da adaga’; pl. sicarii) utilizavam a ‘sica’, um tipo de adaga pequena, escondida em seus mantos, e com essas adagas eles agiam em reuniões públicas, atacando os romanos ou os judeus simpatizantes. Os sicários, os zelotes e outros tipos de revolucionários invadiram Jerusalém em 66 DC e, por algum tempo, conseguiram livrá-la dos romanos, retomando o controle do templo. Mas a própria população os expulsou e a cidade voltou a ficar à mercê de Roma. O historiador Flávio Josefo responsabiliza os zelotes por incitar a revolta que conduziu à destruição de Jerusalém e do Templo.

Além desses grupos extremistas havia outros partidos político-religiosos que também estavam em oposição constante: os Fariseus, os Saduceus e os Essênios, que surgiram durante a fase do período Ptolomaico, em especial, durante o reinado de Ptolomeu II Filadelfo (250-198 AC).

Fariseus (do hebraico פרושים) eram um grupo de devotos à Torá, que surgiram quase que concomitantemente com os outros dois no séc. II AC. Foram os criadores da instituição da sinagoga. Depois da destruição do templo por Tito e da queda do poder dos saduceus, os fariseus tiveram uma maior influência dentro da comunidade judaica e se tornaram os precursores do judaísmo rabínico. Fariseu significa ‘separado’, ‘santo’. O nome, em latim, é Pharisaeus; que vem do grego antigo, Φαρισαίος (Pharisaios), e do hebraico, prushim ou perushim, que procede da raiz parash, que significa ‘separar’, ‘afastar’, pois era um partido religioso judeu caracterizado pela oposição aos outros religiosos de sua época e pela observância exageradamente rigorosa das prescrições legais da Torá e das tradições que eles haviam estabelecido. Provavelmente, os fariseus tiveram sua origem nos ‘hassidim’ (os piedosos), que apoiaram a revolta dos Macabeus (167-160 AC). Entre o período de 160-63 AC, os Macabeus lideraram a nação como reis e sacerdotes, mas isso provocou divisões na sociedade israelita porque os Macabeus não eram da linhagem de Davi nem de Zadoque (descendente de Arão) e, portanto, não poderiam ocupar nem o cargo civil nem o sacerdotal. Por isso, encontraram oposição por parte dos Saduceus, que se diziam pertencer à linhagem de Zadoque, portanto, com direito ao sumo sacerdócio. Mais tarde os fariseus deixaram de disputar o posto de governante civil da nação, mas não se afastaram totalmente da política, pois se achando peritos em religião, eles acabaram por controlar a religião do Estado judaico e usavam os meios políticos para atingir os fins espirituais. Mas nunca deixavam de pensar no interesse público, pois julgavam importante o ensino das escrituras e das tradições dos antepassados à população judaica. Acreditavam que a lei oral existia e era tão autorizada e inspirada por Deus quanto a Torá ou lei escrita. Faziam parte do Sinédrio, que era um tribunal formado por sacerdotes, anciãos e escribas, o qual julgava as questões cerimoniais ou administrativas referentes a uma tribo ou a uma cidade, os crimes políticos importantes etc. Correspondia à Suprema Corte Judaica ou Tribunal de Justiça. Eles também participavam da liderança da sinagoga e do seu culto, assim como das escolas. Alguns fariseus tinham a função de escribas.

Os escribas, do hebraico Sõpherïm, também chamados doutores ou mestres da lei, eram técnicos no estudo da lei de Moisés (Torá). Surgiram depois do exílio babilônico e exerciam influência principalmente na Judéia, mas também podiam ser encontrados na Galiléia e entre a dispersão judaica. Junto com os fariseus, foram os criadores do culto na sinagoga. Alguns deles eram membros do Sinédrio. Os escribas tiveram sua importância aumentada depois do ano 70 DC. Transmitiam fielmente as Escrituras hebraicas. Tinham tríplice função: a) Preservavam a lei, portanto, eram responsáveis pela transmissão escrita dos manuscritos e pela interpretação dos mesmos. b) Tinham discípulos e faziam conferências no templo. c) Eram chamados doutores da lei e mestres da lei, por serem juízes do Sinédrio. Não eram pagos pelo serviço que prestavam para ele; tinham que ganhar a vida por outros meios.

Os Saduceus eram uma seita ou um grupo de judeus presentes na Judéia desde o período do 2º templo, e surgiram por volta do século II AC. Alguns estudiosos afirmam que os saduceus eram descendentes de Zadoque (em hebraico: Tsadoq, צדוק, que significa ‘justo’) um sacerdote descendente de Eleazar, filho de Arão (1 Cr 6: 4-8). Ele oficiou como sacerdote nos tempos de Davi e Salomão. Desde o tempo dos Macabeus os saduceus discordavam dos fariseus. Os saduceus eram inicialmente partidários do helenismo, enquanto que os fariseus eram da facção ortodoxa. Seus membros eram considerados como a elite religiosa, social e econômica na Judéia; por isso, detinham o poder político no Sinédrio. Cumpriam várias funções políticas, sociais e religiosas, dentre as quais, a manutenção do Templo. Discordavam dos fariseus na questão da lei oral, a qual eles não aceitavam, negavam a ressurreição, anjos e espíritos (At 23: 8). Perduraram até algum tempo depois de 70 DC, quando o templo e a cidade de Jerusalém foram destruídos pelos romanos, mas deixaram sua marca em todas as tendências anti-rabínicas dos primeiros séculos (DC) e da época medieval.
O conflito entre estes dois partidos (Saduceus e Fariseus) foi o desastre dos últimos anos da cidade de Jerusalém.

Os Essênios eram um movimento místico-religioso (sem orientação política) que rejeitava os sumos-sacerdotes apontados pelos Selêucidas ou pelos Hasmoneus, por considerá-los ilegítimos. O nome ‘essênio’ (em grego: essaioi; em síriaco: essaya ou essenoí; no aramaico: chasajja; e em latim: esseni) significa ‘piedoso’. Eles tinham como doutrina a renúncia dos prazeres da carne para poderem atingir a santidade espiritual. Viviam em Qumran (ou Khirbet Qumran, nome do atual local arqueológico, que em hebraico significa: ‘ruína da mancha cinzenta’) que era um lugar localizado na Cisjordânia (na Antiguidade, localizada a oeste do rio Jordão e do Mar Morto) a mais ou menos mil e seiscentos quilômetros noroeste do Mar Morto, a doze quilômetros de Jericó e vinte e dois quilômetros de Jerusalém. A colônia de Qumran era conhecida como ‘fortaleza dos piedosos’, e comportava de 200 a 300 pessoas. Ela foi abandonada em 31 AC, após um incêndio e um terremoto, mas foi reconstruída e permaneceu até o século I DC, quando em 68 DC os romanos a destruíram. O nome ‘Qumran’ é moderno; ele é derivado de ‘qamar’, que em árabe significa: ‘lua’. O nome do local no período do Segundo Templo foi provavelmente, Secacah, que significa: ‘cidade do sal’. Hoje, Qumran se resume apenas a ruínas. Os essênios eram muito preocupados com a limpeza do corpo (se lavavam constantemente) como um símbolo da purificação da alma. Faziam voto de Nazireado (consagração a Deus, não cortando os cabelos, não tomando vinho ou qualquer produto derivado da uva e não tocando em cadáveres – Nm 6: 1-21), por isso eram chamados Nazireus (uma palavra que, muitas vezes, é erroneamente traduzida como ‘Nazarenos’). Os Essênios guardavam o nome de Deus o (tetragrama sagrado – YHWH) dado a Moisés no Sinai, ao contrário dos demais judeus (principalmente Fariseus e Saduceus) que não podiam pronunciá-lo. Eles acreditavam que o ser humano era o tabernáculo de Deus na terra, não construído por mãos humanas, e também aguardavam o Messias. Alguns dos primeiros cristãos eram essênios. Essa compreensão (‘o ser humano era o tabernáculo de Deus na terra’) também era compartilhada pelos Fariseus, integrantes da comunidade de escribas e sábios.


Fariseu Saduceu
Essênio Zelote
Fariseu, Saduceu, Essênio, Zelote


A luta pelo poder entre os líderes dessas três facções (saduceus, fariseus e zelotes) era sangrenta e mortal. E isso propiciou a entrada de Tito na Judéia e na cidade.

Quebradas as duas varas (Graça e União) / A profecia sobre Judas Iscariotes

• v. 10: ‘Tomei a vara chamada Graça [NVI: Favor] e a quebrei, para anular a minha aliança, que eu fizera com todos os povos [NVI: nações]’.

Deus fala através da boca e da atitude do profeta, que está quebrando Seu pacto com Israel. O Senhor pegou Sua vara chamada ‘Graça’ e a quebrou, removendo o Seu favor sobre os judeus, até sobre os que estavam dispersos entre as diversas nações (a Diáspora Judaica), e isso afetaria também a todos os povos. Como? Deus tinha dito a Abraão: “Abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn 12: 3). E em Gálatas, Paulo repete: “Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos” (Gl 3: 8). Assim os judeus foram inicialmente escolhidos e abençoados por Deus para que pudessem ser luz para outros povos, i.e, para que estes pudessem conhecer a luz da verdade através do Deus de Abraão. Ao quebrar essa vara (Graça), a aliança estava sendo quebrada com os judeus e, conseqüentemente, com todos os povos, por isso o profeta escreveu: ‘para anular a minha aliança, que eu fizera com todos os povos’.

Mas pela rejeição por parte dos judeus, o Senhor já estava confirmando aqui em Zacarias que o Messias viria para quebrar verdadeiramente esta antiga aliança e fazer uma nova, onde tanto judeus como gentios (gowy = povos, nações, gentios) pudessem ser justificados do pecado e reatar a amizade com Ele. Por isso, Paulo escreveu: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado em madeiro), para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido” (Gl 3: 13-14).
Para que o povo entendesse, o profeta quebrou a vara diante dele, mostrando através desse ato o que aconteceria com Jesus, ou seja, na cruz Ele anulou a primeira aliança de Deus, feita desde Abraão com Seu povo (Hb 8: 13). Assim, eles não seriam mais governados por Sua bela ordem de governo, nem continuaria na união fraterna (cf. v. 14, a vara chamada ‘União’ também foi quebrada). Jesus veio trazendo uma nova doutrina, quebrando a forma civil de governo que os judeus conheciam, anulando a lei Mosaica e as ordenanças carnais que eles criaram para eles mesmos (em especial no período exílico e pós-exílico).

• v. 11: ‘Foi, pois, anulada naquele dia; e as pobres [NVI: aflitos] do rebanho, que fizeram caso de mim, reconheceram que isto era palavra do Senhor’.
‘Naquele dia’, portanto, se refere ao dia da morte de Jesus, pois os Seus seguidores e todos os que o aceitaram como Salvador, Messias e Filho de Deus, ou seja, as ‘pobres ovelhas do rebanho’, os ‘remanescentes de Israel’, entenderam que isso já havia sido anunciado (Lc 24: 25-27; 31-32; 44-48).

• v. 12-13: ‘Eu lhes disse: se vos parece bem, dai-me o meu salário; e, se não, deixai-o [NVI: se não, não me paguem]. Pesaram, pois, por meu salário trinta moedas de prata [NVI: Então eles me pagaram trinta moedas de prata]. Então, o Senhor me disse: Arroja isso ao oleiro, esse magnífico preço em que fui avaliado por eles. Tomei as trinta moedas de prata e as arrojei ao oleiro, na Casa do Senhor [NVI: as atirei no templo do Senhor, para o oleiro]’ – o profeta parece estar vivendo essa situação, pois está escrito: ‘Eu lhes disse: se vos parece bem, dai-me o meu salário; e, se não, deixai-o. Pesaram, pois, por meu salário trinta moedas de prata’. Depois ele escreve: ‘Então, o Senhor me disse: Arroja isso ao oleiro, esse magnífico preço em que fui avaliado por eles. Tomei as trinta moedas de prata e as arrojei ao oleiro, na Casa do Senhor’.

• Trinta moedas de prata era o valor da vida de um escravo (Êx 21: 32). Foi o preço combinado entre Judas e os principais sacerdotes para trair Jesus, entregando-o a eles: “Então, um dos doze, chamado Judas Iscariotes, indo ter com os principais sacerdotes, propôs: Que me quereis dar, e eu vo-lo entregarei? E pagaram-lhe trinta moedas de prata. E, desse momento em diante, buscava ele uma boa ocasião para o entregar” (Mt 26: 14-16).
• O Senhor pediu a Zacarias para ser avaliado pelo povo quanto ao merecimento de Suas ações diante deles. Como homens poderiam avaliar a Deus? Mas eles avaliaram Seu trabalho através do profeta em apenas trinta moedas de prata.
• ‘Pesaram, pois, por meu salário trinta moedas de prata’ – era a forma de fazer um pagamento em dinheiro naquela época, pesando-o numa balança.
• No v. 13 Deus fala com o profeta para lançar as trinta moedas de prata ao oleiro, na Casa do Senhor, pois Ele rejeitava esse preço ignóbil pelo qual eles avaliaram Seu verdadeiro pastor. De maneira irônica Ele usou a palavra ‘magnífico’ para descrever esse valor. Esse era o preço da ingratidão e da rebeldia de Israel, assim como a rejeição do real pastor. Por isso, o rebanho sofreria, pois havia desprezado a ‘graça’ do Senhor derramada sobre Seu povo e a ‘união’ que Ele havia trazido à nação, congregando-o dos povos para os quais foram exilados e dando condições a Israel e Judá de refazerem sua irmandade.

Judas Iscariotes também atirou de volta aos sacerdotes as trinta moedas de prata adquiridas pelo seu ato de traição: “Então, Judas, atirando para o santuário as moedas de prata, retirou-se e foi enforcar-se. E os principais sacerdotes, tomando as moedas, disseram: Não é lícito deitá-las no cofre das ofertas, porque é preço de sangue. E, tendo deliberado, compraram com elas o campo do oleiro, para cemitério de forasteiros. Por isso, aquele campo tem sido chamado, até o dia de hoje, Campo de sangue. Então, se cumpriu o que foi dito por intermédio do profeta Jeremias: Tomaram as trinta moedas de prata, preço em que foi estimado aquele a quem alguns dos filhos de Israel avaliaram; e as deram pelo campo do oleiro, assim como me ordenou o Senhor” (Mt 27: 5-10).

• v. 14: ‘Então, quebrei a segunda vara, chamada União, para romper a irmandade entre Judá e Israel’ – ao quebrar a segunda vara ‘união’, o profeta estava mostrando que Deus quebrava da mesma forma a unidade entre Israel e Judá. Ele tentou uni-los após o retorno do exílio, mas não foi possível. Assim, eles seriam mais uma vez uma nação dividida, diante de uma invasão inimiga (império grego e romano).
Com a morte de Jesus na cruz, diante de uma nação politicamente já separada (Judéia-Samaria, Galiléia-Peréia e Ituréia-Traconites), Ele quebrou a primeira aliança baseada na lei mosaica que os governava e os mantinha unidos debaixo dela. Ele veio para unir Israel numa só igreja debaixo do Seu governo espiritual. Os judeus tradicionais que rejeitaram Sua doutrina e tentaram manter as tradições e os sacrifícios no templo, se viram forçados a aceitar a dissolução de tudo isso com a destruição do mesmo por Tito em 70 DC. A luta de três facções rivais (Saduceus, Fariseus e zelotes) dentro de Jerusalém sob o cerco romano foi um dos fatores que os conduziram à destruição da cidade e do templo e a uma nova dispersão dos israelitas pelo mundo.

Zc 11: 15-17 – A parábola do pastor insensato:15 O Senhor me disse: Toma ainda os petrechos [NVI: os utensílios] de um pastor insensato, 16 porque eis que suscitarei um pastor na terra, o qual não cuidará das que estão perecendo [NVI: um pastor que não se preocupará com as ovelhas perdidas], não buscará a desgarrada, não curará a que foi ferida, nem apascentará a sã; mas comerá a carne das gordas e lhes arrancará até as unhas [NVI: arrancando as suas patas]. 17 Ai do pastor inútil [NVI: imprestável], que abandona o rebanho! A espada lhe cairá sobre o braço e sobre o olho direito [NVI: Que a espada fira o seu braço e fure o seu olho direito!]; o braço, completamente, se lhe secará, e o olho direito, de todo, se escurecerá [NVI: Que o seu braço seque completamente, e fique totalmente cego o seu olho direito!]”.

Aqui o Senhor fala para o profeta pegar os utensílios de um pastor insensato, como uma forma de mostrar ao Seu povo o que ainda iria acontecer com Israel e com um governante diferente do Bom Pastor (cf. Ez 34: 11-31). Esse governante não zelaria pelo Seu rebanho; não traria de volta as ovelhas perdidas, nem curaria suas feridas, pelo contrário, as destruiria. Ezequiel falou dessa forma sobre os reis de Judá anteriores ao exílio (Ez 34: 1-10). Zacarias falava agora sobre líderes que viriam após Zorobabel, tanto judeus como gentios de nações estrangeiras. Ou podemos levar isso para o tempo depois de Cristo, quando Seus conterrâneos O rejeitaram e os judeus foram dispersos pelo mundo.
De qualquer maneira, nós podemos pensar que o pastor insensato é a figura de todos os homens perversos que assolaram Jerusalém ao longo dos séculos, desde o AT, em especial após o retorno do exílio. Por terem rejeitado o verdadeiro Pastor, eles terão a orientação do pastor insensato, cujo ápice será nos últimos tempos com o surgimento do Anticristo e do falso profeta (Dn 11: 36-39; 2 Ts 2: 1-12; Ap 13: 1-10; 11-18).
‘Eis que suscitarei um pastor na terra’ – isso significa que por permissão divina este homem perverso cometerá suas atrocidades em Israel.

• v. 17: ‘Ai do pastor inútil [NVI: imprestável], que abandona o rebanho! A espada lhe cairá sobre o braço e sobre o olho direito [NVI: Que a espada fira o seu braço e fure o seu olho direito!]; o braço, completamente, se lhe secará, e o olho direito, de todo, se escurecerá [NVI: Que o seu braço seque completamente, e fique totalmente cego o seu olho direito!]’ – Esse capítulo de Zacarias termina com um terrível ‘ai’ dirigido ao pastor insensato (imprestável) que abandona o rebanho. E a maldição de Deus sobre ele é que a espada fira o seu braço e fure o seu olho direito; que o braço se seque completamente, e fique totalmente cego o seu olho direito. Não trabalhou como deveria; portanto, seu braço secará. Isso significa a perda do poder secular. Não vigiou, dormiu e deixou o reino das trevas tomar conta; portanto, ficará totalmente cego o seu olho direito. Isso significa a perda do conhecimento e do discernimento espiritual necessários para a liderança. O braço é o símbolo do poder, enquanto que o olho simboliza a inteligência.

Capítulo 12 – A salvação de Jerusalém / O arrependimento dos habitantes de Jerusalém

Introdução:

A partir deste capítulo, a interpretação fica um pouco mais difícil, pois se refere ao período da Grande Tribulação e da maneira que Deus vai lidar especialmente com os judeus no final dos tempos. As explicações que dou abaixo são explicações cristãs evangélicas, não as explicações judaicas.

É como se o Espírito Santo usasse Zacarias (Zc 12: 1-2; Zc 14: 1-15) para deixar escrito com mais detalhes a batalha do Armagedom, a guerra final descrita de três maneiras diferentes [Ap 16: 12-21 (6º e 7º flagelos ou taças da ira de Deus); Ap 19: 19-21; Ap 20: 7-10] entre Jesus e o Dragão (Satanás – Ap 20: 7-10), a Besta do mar (o Anticristo – Ap 13: 1-10; Ap 19: 20) e o falso profeta (a besta da terra – Ap 13: 11; Ap 16: 13; Ap 19: 20). Podemos notar, daqui para frente, nos próximos capítulos de Zacarias, o teor nitidamente judaico nas figuras de linguagem, e na ‘necessidade’ quase que imperativa de mostrar algo bastante físico, material, palpável, para um povo que não tinha a consciência das realidades espirituais.

Milênio, dispensacionalismo e amilenismo

Zacarias traz uma mensagem cheia de figuras de linguagem aos judeus daquela época e, muito possivelmente, com a sua compreensão de um milênio sob a ótica judaica (Zc 14: 9-11; Zc 14: 16-21): o cumprimento das promessas de Deus feitas a eles, i.e., as profecias referentes à restauração de Israel como nação, na sua própria terra, dotada de um trono literal, de um rei Davídico literal, de um templo literal, e de um sistema de sacrifícios literal, que será cumprido ao pé da letra, salientando, excessivamente, o lado materialista de tudo isso. Essa teoria se chama: dispensacionalismo. A igreja cristã interpreta isso como um tempo de mil anos quando os justos reinarão na terra com Cristo.

Muitos expositores sentem que a idéia de um Milênio ou Reino Messiânico não pode ser encaixada no quadro bíblico escatológico [Ap 20: 1-6 diz respeito à vitória dos santos martirizados (Ap 20: 4 – ‘as almas dos decapitados’ – versão ARA), que se encontram no céu, os martirizados pela Besta]. Segundo esta teoria, a segunda vinda inaugurará imediatamente a consumação, o julgamento final, e os novos céus e nova terra (Ap 21: 1; Is 65: 17; Is 66: 22; 2 Pe 3: 13; 1 Co 15: 24-28). Esse ponto de vista é chamado amilenismo [Fonte: O Novo Dicionário da Bíblia – J. D. Douglas – edições vida nova, 2ª edição 1995 / Nota do comentário deste parágrafo: cf. G.E. Ladd, Crucial Questions about the Kingdom of God, 1952, pg. 141 & segs.]. Tanto os Evangelhos, como as cartas de Paulo e as cartas gerais não falam de milênio.

Milênio’ foi uma concepção criada por estudiosos judeus no período pós-exílico e Intertestamentário para endossar uma crença e uma esperança de redenção e regeneração de Israel de uma maneira física e excessivamente material, pois interpretaram erroneamente as palavras dos profetas e não esperavam que o seu Messias viesse de outra forma, por isso não creram nEle. Mesmo porque os profetas de Deus nunca usaram a palavra Messias (Mashiach – mâshiyach – משיח) para se referir ao Salvador espiritual de Israel. Essa palavra só está claramente escrita, em referência a Jesus, no livro de Daniel (Dn 9: 25-26 – ‘O Ungido’), quando um anjo anuncia ao profeta que o Messias surgiria e seria morto 62 semanas proféticas após a reedificação de Jerusalém, antes da cidade e do templo serem novamente destruídos (o que aconteceu em 70 DC pelos romanos).

O que precisa ficar bem claro é que ‘milênio’ ou ‘Reino Messiânico’ foi uma palavra e uma expressão criadas pelos judeus da Antiguidade, para suprir a sua necessidade de explicação do cumprimento das promessas de Deus feitas a eles, inclusive baseada em livros apócrifos judaicos, como por exemplo, ‘O Primeiro Livro de Enoque’, e erroneamente interpretadas pela igreja de Cristo sobre o versículo de Apocalipse (Ap 20: 1-6). Os capítulos 91–108 desse livro se chama ‘A Epístola de Enoque’ e dá uma exposição profética do reinado de mil anos do Messias. Nessa epístola a história do mundo usa uma estrutura de dez períodos (denominados ‘semanas’), dos quais sete referem-se ao passado e três a eventos futuros (o julgamento final). O clímax ocorre na sétima parte da décima semana, onde ‘novo céu aparecerá’ e ‘haverá muitas semanas sem número para sempre, e tudo permanecerá em bondade e justiça’. Quem já leu alguns trechos do livro pode perceber o alto conteúdo místico dele, sem nenhum embasamento bíblico.

Reino Messiânico, na verdade, diz respeito à vinda do Messias, o que já ocorreu há 2.000 anos; e escatológico ou apocalíptico diz respeito à Sua segunda vinda, trazendo Sua justiça e a consumação do século. ‘Escatologia’ é uma palavra que deriva de duas raízes gregas: ‘escatos’ (ἔσχατος), que significa ‘último’; e ‘logia’ (λογία), que significa ‘estudo’, portanto, o estudo das ‘coisas do fim’, ‘o fim dos tempos’. Em sentido amplo, a palavra escatologia, ou a expressão ‘coisas do fim’ pode ser aplicada para o fim de uma vida individual, o fim dos tempos, o fim do mundo ou da natureza do Reino de Deus. Em termos gerais, a escatologia cristã enfoca o destino final das almas individuais e de toda a ordem criada, com base principalmente nos textos bíblicos do Antigo e do Novo Testamento.

Assim, nós podemos chamar Isaías e outros profetas de profetas ‘messiânicos’ porque apontaram para a vinda do Messias. E podemos chamar de profetas apocalípticos, aqueles que contêm uma mensagem de Deus para o final dos tempos (ou seja, a derrota definitiva do mal e a vida eterna com Deus).

Não há motivo para se pensar num milênio material quando sabemos que a vinda de Cristo foi um plano de Deus Pai que surpreendeu a humanidade no que ela pensava a respeito da Sua justiça e da Sua capacidade de restituir Seus filhos. O pensamento dos profetas daquela época, embora sendo usados por Deus para revelar Seus projetos aos homens, estava permeado com a opinião humana e a visão limitada de algo que não conseguiam entender nem imaginar (“Os espíritos dos profetas estão sujeitos aos próprios profetas” – 1 Co 14: 32).

Na Sua primeira vinda, Jesus cumpriu as profecias a respeito do Messias (com os diversos nomes que foram lhe dados pelo próprio Deus através dos Seus profetas verdadeiros), trazendo a vitória sobre o pecado e a morte e, conseqüentemente, a vida eterna. Mas pela incredulidade nas Suas palavras e pela rejeição da Sua doutrina, Deus Pai deixou escrito o que vai ter que fazer nos últimos dias (cf. Dn 12: 1-3; 10-12). Por isso, o profeta Zacarias faz alusão ao ataque de Jerusalém por forças estrangeiras e a vitória dada pelo Senhor (Zc 12: 1-9), seguida pelo arrependimento dos judeus (Zc 12: 10-14), pois verão Aquele a quem traspassaram (Zc 12: 10; Ap 1: 7; Jo 19: 37). Há uma referência a Jesus no capítulo 13 quando o Bom Pastor é ferido (Jesus é preso e crucificado), e as ‘ovelhas’ são dispersas: Zc 13: 7.

Durante o período da Grande Tribulação (Dn 12: 1; Ap 7: 14) aparecerão o Anticristo (2 Ts 2: 3; 2 Ts 2: 7-12; Dn 9: 27; Dn 11: 31; Dn 12: 11) e o falso profeta (Dn 9: 27; Dn 12: 1-2; Mt 24: 15-31; Mc 13: 3-27; Lc 21: 5-28; Ap 7: 14), entre outros personagens escatológicos. Mas o falso profeta só vai enganar aqueles que não aceitaram e nem vão aceitar Jesus como o Messias e Filho de Deus, pois os que o aceitarem e o reconhecerem como o Messias esperado serão os remanescentes salvos (Zc 13: 9; Ap 7: 4-8).

As duas testemunhas mártires

Durante o segundo período da Grande Tribulação também aparecerão as duas testemunhas mártires, descritas em Ap 11: 3-14. Se pensarmos do ponto de vista judaico (como pensam os Dispensacionalistas), elas trarão avivamento ao povo da antiga aliança no papel de rei e sacerdote (como Josué e Zorobabel – Zc 4: 11; 14 – ‘as duas oliveiras à direita e à esquerda do candelabro’, ‘os dois raminhos de oliveira’ – cf. Ap 11: 4), fazendo frente ao Anticristo (o qual reivindicará o papel de governante civil) e ao falso profeta que, além de enganar o povo com falsa profecia, também desejará o papel de sacerdote no meio dos judeus. Elas profetizarão por 3 ½ anos em nome do Senhor para converter os judeus a Jesus. Quando elas tiverem concluído o seu testemunho, elas serão mortas pela besta que surge do abismo (Ap 11: 7) e muitos ímpios se alegrarão, mas depois de 3 ½ dias (Ap 11: 11), o Espírito de Deus as ressuscitará e serão arrebatadas. Virá juízo divino sobre a cidade. Do ponto de vista judaico e Dispensacionalista, essa cidade aqui é Jerusalém, a cidade onde Cristo foi crucificado e morto.

Entretanto, sob o ponto de vista amilenista, as duas testemunhas mártires representam a própria Igreja de Cristo (composta por judeus e gentios) testemunhando durante a História, proclamando o evangelho; e só no tempo do fim o Senhor permitirá que o Anticristo se levante contra elas. As testemunhas são a representação do povo de Deus que prega e profetiza a palavra durante o período entre a 1ª e a 2ª vinda de Jesus. Quando concluírem seu testemunho, a besta do abismo as vencerá (Ap 11: 7). Mas elas ressuscitarão depois de 3 ½ dias (Ap 11: 11).

O momento da regeneração de Israel descrito na bíblia (At 1: 6; Mt 19: 28; Mc 10: 40; Lc 22: 28-29) vai corresponder ao momento do seu arrependimento (na época da segunda vinda de Cristo – Zc 12: 10-14; Zc 13: 1-6; 9 cf. Dn 12: 11-12) e à abertura do seu entendimento para Jesus Cristo como o verdadeiro Messias, antes julgamento final, com a separação entre os que herdam a vida eterna e os que vão para o inferno (Mt 25: 31-46; Mt 16: 27; Mt 19: 28). Assim, Israel terá o direito de viver na Nova Jerusalém espiritual (Zc 14: 7-11; Ap 21: 1-8; Ap 22: 1-5; Ap 22: 12-17).

Quando Jesus veio a terra, Ele veio trazendo um reino espiritual, nos dando consciência das coisas sobrenaturais para vencermos nossos verdadeiros inimigos, mas não removeu de nós a parte material. Ele sabe que precisamos das coisas materiais na terra. O que Ele fez foi uma priorização de valores (colocar o reino de Deus e Sua justiça em primeiro lugar e todas as coisas nos serão acrescentadas: Mt 6: 33; Lc 12: 30-34). Jesus virou a mesa dos cambistas no templo porque viu uma distorção ali, fazendo comércio na Casa de Seu Pai. Por isso é que Zacarias (Zc 14: 20-21) escreve que a regeneração e a glória futura da cidade de Deus incluem a santidade. Não haverá comércio, nem mercadores no Templo (‘cananeus’, em algumas traduções bíblicas, significa ‘comerciantes – Zc 14: 21c).

Portanto, na nova Jerusalém a nossa nova vida será espiritual (glorificada, mais especificamente), pois já estaremos ‘desprendidos’ dessas coisas materiais. Quando a bíblia se refere a ouro e pedras preciosas na nova Jerusalém, talvez ela esteja se referindo à glória, à abundância, à plenitude e ao resplendor de Deus; coisas difíceis de serem descritas pela mente humana.

Cristo está atualmente entronizado à direita de Deus (Mc 16: 19; Rm 8: 34; 1 Pe 3: 22); porém, Seu reino não é evidente para o mundo, por isso Ele voltará de maneira visível para os que não crêem, e para realizar o Seu juízo. Após Sua vitória, quando tudo estiver sujeito a Ele, Seu reino será passado ao Pai (1 Co 15: 24-28).

O Senhor aparecerá no céu, arrebatará Seus santos que estiverem vivos (com seu corpo glorificado) e ressuscitará o corpo dos santos que já morreram. Fará o Seu juízo sobre os que têm a marca da besta (Ap 13: 16-17; Ap 15: 7; Ap 16: 1-2; 3; 4; 8; 10-11; 12; 18-21; Ap 18: 9-10; 21) e lidará com as trevas (1 Co 15: 24-26; 28; Ap 19: 11-21; Ap 19: 11-21; Ap 20: 10). O último inimigo a ser destruído é a morte (1 Co 15: 26; Ap 20: 14). Em outras palavras, a segunda vinda inaugurará imediatamente a consumação, o julgamento final e os novos céus e nova terra (Ap 21: 1; Is 65: 17; Is 66: 22; 2 Pe 3: 13; 1 Co 15: 24-28).

Depois dessa introdução, fica mais fácil e simples explicar o capítulo 12 de Zacarias

• Zc 12: 1: “Sentença pronunciada pelo Senhor contra Israel [NVI: Esta é a palavra do Senhor para Israel]. Fala o Senhor, o que estendeu o céu, fundou a terra e formou o espírito do homem dentro dele”.

Depois que o Senhor falou sobre os dois pastores e deixou entendido que o pastor insensato é a figura de todos os homens perversos que assolaram Jerusalém ao longo dos séculos, Ele profere, agora, uma mensagem de julgamento sobre todos os poderes mundiais que estiverem contra Sua cidade santa no final dos tempos. Pela importância da revelação, Ele diz que Ele é o Deus que estendeu o céu, estabeleceu a terra e colocou o espírito dentro do homem. Assim, Deus reafirma Sua soberania sobre o mundo, sobre os homens e sobre toda a criação, e deixa claro através do profeta que era esse Deus que estava falando.

• Zc 12: 2: “Eis que eu farei de Jerusalém um cálice de tontear para todos os povos em redor e também para Judá, durante o sítio contra Jerusalém [NVI: Farei de Jerusalém uma taça que embriague todos os povos ao seu redor, todos os que estarão no cerco contra Judá e Jerusalém]”.

O Senhor anuncia um cerco futuro à cidade de Jerusalém por muitas nações, mas Ele dará uma resposta à altura dessa invasão, ou seja, Ele fará com que a cidade seja um cálice de tontear para esses povos. O cálice é o símbolo da ira de Deus, algo que tem um limite e uma capacidade de comportar as iniqüidades dos homens, e traz um completo estado de atordoamento (desorientação física) e confusão (desorientação mental), como se fosse ‘bebida forte’, como diz a bíblia. Alguns profetas escreveram sobre esse cálice: Is 51: 17; 22; Jr 13: 13; Jr 25: 15-28; Jr 51: 7.

• Zc 12: 3: “Naquele dia, farei de Jerusalém uma pedra pesada para todos os povos; todos os que a erguerem se ferirão gravemente; e, contra ela, se ajuntarão todas as nações da terra [NVI: Naquele dia, quando todas as nações da terra estiverem reunidas para atacá-la, farei de Jerusalém uma pedra pesada para todas as nações. Todos os que tentarem levantá-la se machucarão muito]”.

Jerusalém não só será como um cálice com bebida forte que atordoa, mas será como uma pedra pesada, e quem tentar erguê-la vai se ferir, ou seja, o povo de Jerusalém cairá sobre os que tentaram oprimi-los com seu domínio; será um resultado inesperado na guerra.

• Zc 12: 4-5: “Naquele dia, diz o Senhor, ferirei de espanto [NVI: porei em pânico] a todos os cavalos e de loucura os que os montam [NVI: deixarei loucos os seus cavaleiros]; sobre a casa de Judá abrirei os olhos e ferirei de cegueira a todos os cavalos dos povos [NVI: cegarei todos os cavalos das nações]. Então, os chefes [NVI: líderes] de Judá pensarão assim: Os habitantes de Jerusalém têm a força do Senhor dos Exércitos, seu Deus [NVI: Os habitantes de Jerusalém são fortes porque o Senhor dos Exércitos é o seu Deus]”.

Da mesma forma que o Senhor usou essa metáfora para expressar a Sua ação contra os exércitos inimigos no passado (Gideão, Josué, os sírios no tempo de Eliseu, Josafá, Ló – os cidadãos de Sodoma), Ele volta a usá-la neste versículo para um estado de caos e pânico (loucura e cegueira) que tomarão conta dos cavalos e dos cavaleiros durante o ataque. A cavalaria aqui serve para descrever todo veículo usado em guerra, como os cavalos eram animais usados pelos exércitos orientais para este fim. Deus também fala sobre abrir os olhos do Seu povo para que vejam que Ele se importa com eles e os está defendendo; também diz respeito à abertura do seu entendimento para as coisas espirituais, algo que eles não conseguiam ter antes por causa da sua rebeldia. Os habitantes de Judá reconhecerão que Jerusalém tem a vitória porque o Senhor dos Exércitos é o seu Deus.

• Zc 12: 6: “Naquele dia, porei os chefes de Judá como um braseiro ardente debaixo da lenha e como uma tocha entre a palha; eles devorarão [NVI: consumirão], à direita e à esquerda, a todos os povos em redor, e Jerusalém será habitada outra vez no seu próprio lugar, em Jerusalém mesma [NVI: Jerusalém permanecerá intacta em seu lugar]”.

Completando o raciocínio acima, os judeus não triunfarão apenas porque Deus traz confusão e caos aos exércitos inimigos, mas porque seus comandantes receberão Seu poder, organização e competência, como se fossem fogo destruindo palha ou madeira.

• Zc 12: 7: “O Senhor salvará primeiramente as tendas de Judá, para que a glória da casa de Davi [NVI: a honra da família de Davi] e a glória dos habitantes de Jerusalém não sejam exaltadas acima de Judá [NVI: não seja superior à de Judá]”.

O Senhor dará vitória nas áreas mais afastadas e com menos defesa (‘as tendas de Judá’ – cf. Ez 38: 11-12), para que todos percebam que o livramento veio Dele, não da força humana, e para que os grandes não se gloriem sobre os pequenos. ‘As tendas de Judá’ pode se referir não apenas aos mais fracos tecnicamente, como também aos mais fracos espiritualmente.

• Zc 12: 8-9: “Naquele dia, o Senhor protegerá os habitantes de Jerusalém; e o mais fraco dentre eles, naquele dia, será como Davi, e a casa de Davi será como Deus, como o Anjo do Senhor diante deles. Naquele dia, procurarei destruir todas as nações que vierem contra Jerusalém”.

Aqui o Senhor já não fala das tendas de Judá, mas dos habitantes de Jerusalém e diz que até o mais fraco deles se sentirá forte e confiante para lutar, como Davi com uma simples funda destruiu o gigante Golias na força da sua fé em Deus. O Senhor será sua força, ainda que os exércitos inimigos sejam mais numerosos e mais preparados. ‘O mais fraco dentre eles’ diz respeito aos judeus de todas as classes.
‘A casa de Davi será como Deus, como o Anjo do Senhor diante deles’ – isso mostra uma restauração na linhagem real da casa de Davi como governante civil em Israel, que terá de volta sua força de liderança, não vacilará, e irá com segurança adiante do povo, levando-o à vitória, como a coluna de nuvem ou de fogo, ou o Anjo do Senhor (a figura de Jesus, comum de se ver no AT) ia à frente dos israelitas em qualquer batalha para abrir o caminho para eles.
No versículo 9, Ele confirma que naquele dia destruirá as nações que vierem contra o Seu povo, mostrando a fidelidade às Suas promessas, bem como a Sua soberania sobre todas as coisas. Ele usa o verbo ‘destruir’, significando algo definitivo, que não se levantará mais.

Zc 12: 10-14 – O arrependimento dos habitantes de Jerusalém:

• Zc 12: 10-11: “E sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém derramarei o espírito (ou Espírito – nota NVI) da graça e de súplicas; olharão para aquele a quem traspassaram (cf. Jo 19: 37; Ap 1: 7); pranteá-lo-ão como quem pranteia por um unigênito e chorarão por ele como se chora amargamente pelo primogênito. Naquele dia, será grande o pranto em Jerusalém, como o pranto de Hadade-Rimom, no vale de Megido [NVI: como os que choraram em Hadade-Rimom no vale de Megido]”.

Depois da vitória material dada ao Seu povo é necessário o tratamento espiritual através do arrependimento. ‘O espírito da graça e de súplicas’ diz respeito ao Espírito Santo, que será derramado sobre a nação, dos mais humildes aos mais importantes, levando-os a buscar a Deus em oração (Jr 29: 12-13; Ez 39: 29; Jl 2: 28-29). Jesus disse que é o Espírito Santo que convence do pecado, do juízo e da justiça (Jo 16: 8). Através do Espírito Santo, seus corações estarão propícios à súplica e ao arrependimento. Portanto, a resposta de Deus a essa busca os levará ao entendimento da salvação e da razão da morte de Jesus na cruz como propiciador dos pecados da humanidade. Aí, sim, seus olhos enxergarão Aquele a quem traspassaram. Os judeus do passado o fizeram fisicamente; os da presente geração, que se recusam a aceitá-lo, o crucificam de novo, ou seja, ‘desfazem’ o benefício do Seu sacrifício, negando Sua salvação e expondo Seu nome à vergonha, excluindo-o de suas vidas (Hb 6: 6b: “... de novo, estão crucificando para si mesmos o Filho de Deus e expondo-o à ignomínia”). Os judeus que conseguirem se lembrar dos escritos proféticos também se lembrarão do que está escrito em Is 53: 5: “Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (como os judeus da época de Zacarias devem ter se lembrado, mesmo que não conseguissem alcançar o entendimento profundo do que isso significava). O luto nacional será comparado ao da morte do rei Josias no vale de Megido (2 Cr 35: 24-25). Hadade-Rimom significa ‘o trovejador’ e, provavelmente, era uma localidade neste vale. Aventa-se a hipótese de estar relacionada com a idolatria a Baal (O Novo Dicionário da Bíblia – J. D. Douglas – edições vida nova, 2ª edição 1995), por causa do título ‘o trovejador’, pois Baal era o senhor das tempestades e outras manifestações naturais ligadas à atmosfera (raio e o trovão), além de ser o grande deus da fertilidade dos cananeus. Talvez, a moderna Rummanah, na planície de Jezreel, corresponda à localização de Hadade-Rimom, citada por Zacarias. Assim, a menção do luto de Hadade-Rimom pode ser uma referência às cerimônias de adoração pagãs ou ao evento da morte de Josias, mortalmente ferido na Batalha de Megido (609 AC).

• Zc 12: 12-14: “A terra pranteará [NVI: Todo o país chorará], cada família à parte; a família da casa de Davi à parte, e suas mulheres à parte; a família da casa de Natã à parte, e suas mulheres à parte; a família da casa de Levi à parte, e suas mulheres à parte; a família dos simeítas [NVI: a família de Simei] à parte, e suas mulheres à parte. Todas as mais famílias, cada família à parte, e suas mulheres à parte”.

O pranto nacional abrangerá todas as famílias de todas as classes sociais. Cada um chorará por si mesmo, enfrentará a sua tristeza a sós (‘cada família à parte’, ‘suas mulheres à parte’). Do mais simples israelita até o mais nobre, todos se converterão arrependidos ao Senhor.
‘A terra pranteará’ = a terra de Israel pranteará
‘A família da casa de Davi’ = reis (a liderança política de Israel)
‘A família da casa de Natã’ = profetas
‘A família da casa de Levi’ = sacerdotes
‘A família dos simeítas’ = a família de Simei, filho de Gérson, filho de Levi (Nm 3: 21). Simei é colocado separadamente, mesmo fazendo parte dos levitas, significando uma categoria diferente dentro de Israel a serviço de Deus, ou seja, os que não servem diretamente a Deus num ministério sacerdotal, mas cuidam de Sua casa e tem um chamado para servi-lo, seja ele qual for; auxiliam os sacerdotes no seu ofício. Por exemplo: Levi gerou Gérson, Coate e Merari. Foi dos descendentes de Coate que nasceram Moisés, Arão e Miriã. A família de Coate cuidava dos utensílios do Tabernáculo, após Arão e seus filhos os cobrirem; aí eles os carregavam, inclusive a arca da Aliança. Arão e seus filhos cuidavam do sacerdócio propriamente dito, de servir no Santo dos Santos e no Lugar Santo. A família de Gérson cuidava de carregar as cortinas e os reposteiros, assim como os demais utensílios da tenda da congregação, que não os objetos sagrados; e a família de Merari era responsável pelos objetos, pelas estacas e por tudo o mais que estava no pátio externo da tenda da congregação, além das tábuas do Tabernáculo.
‘Todas as mais famílias, cada família à parte’ = leigos, o povo comum.
Depois do pranto e da liberação do perdão de Deus, Israel conhecerá a alegria da salvação: Is 59: 20 / Rm 11: 25-26.

Este texto se encontra no 3º volume do livro:


livro evangélico: Os profetas menores

Os profetas menores vol. 1 (PDF)

Os profetas menores vol. 2

Os profetas menores vol. 3

The minor prophets vol. 1 (PDF)

The minor prophets vol. 2

The minor prophets vol. 3

Sugestão de leitura:


livro evangélico: Profeta, o mensageiro de Deus

Profeta, o mensageiro de Deus (PDF)

Prophet, the messenger of God (PDF)

Sugestão para download:


tabela de profetas AT

Tabela dos profetas (PDF)

Table about the prophets (PDF)



Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti

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