Estudo bíblico: as profecias sobre o nascimento de Jesus, os três magos, a tradição do Natal e os símbolos ligados a ela (Papai Noel, árvore de Natal, presépio). Como eram a manjedoura e o estábulo?

Biblical study: the prophecies about the birth of Jesus, the three magi, the Christmas tradition and the symbols linked to it (Santa Claus, Christmas tree, Nativity scene). What were and the manger and stable like?


Estudo sobre Natal

Antes de iniciar o texto de estudo, um recado:

Mensagens em vídeo Há muitas mensagens e músicas de Natal em vídeo (em Português e em Inglês), lindas mesmo, compartilhadas com meu Google Drive. Se estiver assistindo pelo celular, abra com o navegador, em modo paisagem e com tela cheia. Elas estão na página deste site: “Músicas Cristãs de Natal e Mensagens”; basta seguir o link em azul.

Em primeiro lugar, vamos nos lembrar de algumas das profecias do Antigo Testamento a respeito do Messias:
• Is 7: 14: “Portanto, o Senhor mesmo vos dará um sinal: eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel”.

A profecia se cumpriu quando José recebeu a visita do anjo de Deus em sonho e, Maria, a anunciação do anjo:
• Mt 1: 18-23: “Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: estando Maria, sua mãe, desposada com José, sem que tivessem antes coabitado, achou-se grávida pelo Espírito Santo. Mas, José, seu esposo, sendo justo e não a querendo infamar, resolveu deixá-la secretamente. Enquanto ponderava nestas coisas, eis que lhe apareceu, em sonho, um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles. Ora, tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor por intermédio do profeta: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus conosco)”.
• Lc 1: 26-38: “No sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado, da parte de Deus, para uma cidade na Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com certo homem da casa de Davi, cujo nome era José; a virgem chamava-se Maria. E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Alegra-te, muito favorecida! O Senhor é contigo. Ela, porém, ao ouvir esta palavra, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que significaria esta saudação. Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim. Então, disse Maria ao anjo: Como será isto, pois não tenho relação com homem algum? Respondeu-lhe o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus. E Isabel, tua parenta, igualmente concebeu um filho na sua velhice, sendo esta já o sexto mês para aquela que diziam ser estéril. Porque para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas. Então, disse Maria: Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra. E o anjo ausentou-se dela”.


Anunciação do anjo a Maria


Outras profecias dizem:
• Is 9: 1-7: “Mas para a terra que estava aflita [o profeta se referia ao reino de Judá sob ameaça do jugo assírio] não continuará a obscuridade. Deus, nos primeiros tempos, tornou desprezível a terra de Zebulom e a terra de Naftali; mas, nos últimos, tornará glorioso o caminho do mar, além do Jordão, Galiléia dos gentios. O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz. Tens multiplicado este povo, a alegria lhe aumentaste; alegram-se eles diante de ti, como se alegram na ceifa e como exultam quando repartem os despojos. Porque tu quebraste o jugo que pesava sobre eles, a vara que lhes feria os ombros e o cetro do seu opressor, como nos dias dos midianitas; porque toda bota com que anda o guerreiro no tumulto da batalha e toda veste revolvida em sangue serão queimadas, servirão de pasto ao fogo. Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, desde agora e para sempre. O zelo do Senhor dos exércitos fará isto”.
• Is 11: 1-2: “Do tronco de Jessé [pai de Davi] sairá um rebento [um filho, Davi], e das suas raízes um renovo [das suas raízes = da sua descendência, da sua árvore genealógica; um renovo = Jesus]. Repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria e entendimento, o Espírito de conselho e fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor” [confirmando Sua unção como Messias, que nasceria da casa de Davi].
• Is 42: 1: “Eis aqui o meu servo [referência a Jesus], a quem sustenho; o meu escolhido, em quem a minha alma se compraz; pus sobre ele o meu Espírito, e ele promulgará o direito para os gentios”.
• Jr 23: 5-6: “Eis que vêm dias, diz o Senhor, em que levantarei a Davi um Renovo justo; e, rei que é, reinará e agirá sabiamente, e executará o juízo e a justiça na terra. Nos seus dias, Judá será salvo, e Israel habitará seguro; será este o seu nome, com que será chamado: Senhor, Justiça Nossa”.
• Jr 30: 21: “O seu príncipe [referência a Jesus] procederá deles, do meio deles [Israel e Judá] sairá o que há de reinar; fá-lo-ei aproximar, e ele se chegará a mim; pois quem de si mesmo ousaria aproximar-se de mim? – diz o Senhor”.
• Ez 37: 24: “O meu servo Davi [referência a Jesus] reinará sobre eles; todos eles terão um só pastor, andarão nos meus juízos, guardarão os meus estatutos e os observarão”.
• Mq 5: 2: “E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”.
• Jo 7: 42: “Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi e da aldeia de Belém, donde era Davi?”

Todas elas se cumpriram quando Jesus nasceu em Belém de Judá, uma cidade na parte montanhosa de Judá chamada Efrata (diferente de Belém, outra cidade na tribo de Zebulom), local dos ancestrais do rei Davi, de onde viria o Messias. Os textos se encontram em:
• Lc 2: 1-14: “Naqueles dias, foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do império para recensear-se. Este, o primeiro recenseamento, foi feito quando Quirino era governador da Síria. Todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. José também saiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, para a Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém, por ser ele da casa e família de Davi, a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Estando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os dias, e ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. Havia, naquela mesma região, pastores que viviam nos campos e guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite. E um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor. O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isso vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura. E, subitamente, apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem”.
• Mt 2: 1-6: “Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, em dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém. E perguntaram: Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo. Tendo ouvido isso, alarmou-se o rei Herodes, e, com ele, toda a Jerusalém; então, convocando todos os principais sacerdotes e escribas do povo, indagava deles onde o Cristo deveria nascer. Em Belém da Judéia, responderam eles, porque assim está escrito por intermédio do profeta: E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as principais de Judá; porque de ti sairá o guia que há de apascentar a meu povo, Israel”.
• Mt 2: 9-11: “Depois de ouvirem o rei, partiram; e eis que a estrela que viram no Oriente os precedia, até que, chegando, parou sobre onde estava o menino. E, vendo eles a estrela, alegraram-se com grande júbilo. Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra”.


Nascimento de Jesus

Origem do Natal e o nascimento de Jesus

O Natal é uma das festas mais importantes do Cristianismo, junto com a Páscoa e o Pentecostes. Ele celebra o nascimento de Jesus Cristo, embora não haja confirmação alguma a favor desta data (25 de dezembro) como Seu verdadeiro nascimento. Natal tem origem do latim natális, derivado do verbo nascor, nascéris, natus sum, nasci, significando: nascer, ser posto no mundo. Em inglês, a palavra que designa o Natal (Christmas) provém das palavras latinas: Cristes maesse (em inglês: Christ’s Mass, missa de Cristo). A festa é celebrada no dia 25 de dezembro, geralmente, pelas as várias denominações cristãs, data esta que foi instituída no século IV pela Igreja Ocidental (A primeira celebração de Natal em Roma ocorreu, provavelmente, no ano 336 DC) e desde o século V pela Igreja Oriental. Em Roma, 25 de dezembro era a data em que os romanos comemoravam o início do inverno ou solstício de inverno, festividade romana dedicada ao nascimento do deus sol invencível (Dies Natalis Solis Invicti). Solstício se refere à época em que o sol passa pela sua maior declinação (afastamento) boreal (Norte) ou austral (Sul), e durante o qual cessa de afastar-se do equador. A Saturnália, festividade em honra ao deus Saturno, era comemorada de 17 a 22 de dezembro; era um período de alegria e troca de presentes. O título ‘Invictus’ era também aplicado a três outras divindades: El Gabal (o deus sol de Heliogábalo, na Síria), o deus persa Mitra e também a Marte. O dia 25 de dezembro era tido também como o do nascimento do misterioso deus persa Mitra, o Sol da Virtude, provavelmente também conhecido pelos romanos como Mitras, o deus que estava presente na carne e no sangue do touro e, quando consumido, concedia salvação àqueles que tomavam parte da refeição sacrificial. Assim, em vez de proibir as festividades pagãs, o ‘romanismo’ forneceu-lhes um novo significado: uma ‘linguagem cristã’, uma ‘adaptação’ ao que já existia. Em outras palavras: o ‘nascimento do deus sol invencível’, passou a adquirir um caráter cristão; na verdade, uma tentativa fracassada de converter pagãos. Por causa de sua origem não-bíblica, essa festividade foi proibida na Grã-Bretanha e em algumas colônias americanas no século XVII. Mas os velhos costumes logo voltaram, e alguns novos foram acrescentados. O Natal voltou a ser um grande feriado religioso.

O nascimento de Jesus se deu por volta de dois anos antes da morte do rei Herodes, o Grande, que ocorreu por volta de 4 AC. Assim, o ano mais correto para o nascimento de Jesus seria 6 AC, não o ano ‘zero’ como é contado pelo Anno Domini (Ano do Senhor, em latim), introduzido primeiro na Europa Ocidental no século VIII. A partir daí, foi feita a separação entre os eventos ocorridos antes de depois de Cristo (AC e DC, este último também chamado de EC – Era Comum). Segundo a bíblia, Herodes, antes de morrer, mandou matar os meninos de Belém até os 2 anos de idade (Mt 2: 16).

Esse assassinato de Herodes, que incluiu não mais que algumas dúzias de crianças, por causa do tamanho pequeno de Belém, não ficou registrado em outros escritos históricos. Flávio Josefo apenas menciona sua crueldade para com todos os homens (Antig. xvii 8.1). ‘Dois anos para baixo’ não significa necessariamente que Jesus teria dois anos de idade na época, mas mostra que Herodes não queria se arriscar a perder seu trono para uma criança. A idade por ele determinada para a morte das crianças era uma medida de segurança de sua parte.

Ainda segundo a bíblia, antes do nascimento de Jesus, Otávio César Augusto decretou que todos os habitantes do império fossem se recensear, cada um na sua cidade natal (Lc 2: 1-14). Segundo Lucas, este primeiro recenseamento fora ordenado quando o cônsul Públio Sulplício Quirino (Publius Sulpicius Quirinius) era governador da Síria, província imperial romana. Na verdade, ele era apenas um comandante militar (um ‘legado’) em operações na província da Síria (10-7 AC), sob as ordens diretas do Imperador Romano (César), e nomeado para comandar a guerra contra os homanadensianos, enquanto a administração civil da província estava nas mãos do governador Caio Sentio Saturnino (Gaius Sentius Saturninus). Homanadensianos ou homanadenses eram guerreiros das tribos das montanhas da Cilícia no Sudeste da Ásia Menor, atual Turquia, onde estava a cidade de Tarso (local de nascimento de Paulo), e que se opunham ao governo de Roma. Sabe-se que os governadores da Província da Síria durante a parte final do governo do Rei Herodes foram: Caio Sentio Saturnino (9-6 AC), e o seu sucessor, Quintílio Varo (Publius Quinctilius Varus – 6-4 AC). Quirino (Publius Sulpicius Quirinius) só foi governador da Síria em 6 DC (6-12 DC), após o banimento de Herodes Arquelau (filho de Herodes, o Grande) como tetrarca da Judéia e Samaria e que morreu no exílio neste mesmo ano. Aí, sim, o próprio Quirino conduziu um censo na Síria e Israel (o recenseamento mencionado pelo historiador Flávio Josefo e por Gamaliel em At 5: 37). Este censo (o 2º) tinha o propósito de taxação e por isso houve resistência por parte de Galileus liderados por Judas Gaulanitis (Gaulanitis estava localizada na Transjordânia, sob a tetrarquia de Filipe), ou Judas de Gamala (ou Gamla, que em aramaico significa: ‘o camelo’, pois foi uma cidade construída numa colina íngreme em forma de corcunda de camelo), ou Judas da Galiléia (Atos 5: 37 – ‘Judas, o galileu’), que fundou o partido dos zelotes. Por isso, o censo a que Lucas se refere em Lc 2: 1, do qual José e Maria fizeram parte, foi conduzido, na verdade, quando Quintílio Varo (Publius Quinctilius Varus) era o governador da Síria (6-4 AC), e Quirino (Publius Sulpicius Quirinius), apenas um legado. Flávio Josefo também menciona em suas obras que houve uma revolta judaica após a morte de Herodes em 4 AC, no governo de Varo, que reagiu crucificando 2.000 rebeldes judeus. Por isso, os historiadores dizem que Lucas pode ter se confundido ao escrever o nome de Quirino, ao invés de Quintílio, ao se referir ao censo na época do nascimento de Jesus (Lc 2: 1). Ou, talvez, a atuação de Quirino fosse historicamente mais proeminente naquele momento, e por isso, seu nome foi colocado no evangelho. Outra possibilidade seria que naquele momento Quirino estivesse também no comando militar das outras províncias romanas e tivesse ordens do próprio imperador romano para realizar o censo.

A viagem de Nazaré a Belém – distantes uns cento e cinqüenta quilômetros uma cidade da outra – deveria ter sido muito cansativa para Maria, que estava em adiantado estado de gravidez. Enquanto estavam em Belém, Maria teve o seu filho primogênito (Mt 1: 25, Lc 2: 7; Mc 6: 3). Envolveu-o em faixas de panos e o deitou em uma manjedoura, porque não havia lugar disponível para eles na hospedaria. Maria necessitava de um local tranqüilo e isolado para o parto.

Aqui eu quero fazer um comentário sobre o fato de Maria ter enfaixado o menino Jesus.

O nascimento de uma criança, no Oriente Médio em especial, obedecia a certos padrões e tinha um significado. Enfaixar o recém-nascido era uma prática comum na Antiguidade, mostrando que ele era bem cuidado. Primeiro o cordão umbilical era cortado e a criança era lavada com água, para remover do seu corpo o líquido amniótico e o sangue presente ao nascimento. O bebê era então esfregado com uma pequena quantidade de sal e azeite de oliva, para ajudar a limpar e desinfetar a pele. Algumas tribos do deserto esfregavam sal na pele da criança recém-nascida para que esta suportasse melhor o calor, o que significa: proteção, fortalecimento e resistência às condições adversas. Outro significado dessa prática, igualmente importante para os judeus, é que o sal era acrescentado a cada oferta no altar do sacrifício no Tabernáculo e no Templo. Muito provavelmente, as mães israelitas viam esse costume em relação aos seus bebês como uma maneira simbólica de oferecer seu filho ao serviço do Senhor; de dedicá-lo a Deus.


Recém nascido esfregado com sal e azeite


Depois disso o bebê era envolto em longas faixas de linho ou algodão, o que ajudava a prover conforto à criança; as faixas apertadas repetiriam, por assim dizer, a sensação do conforto do útero. Em algumas ocasiões as bandagens eram marcadas de alguma forma para se saber de quem era o bebê. Alguns estudiosos dizem que eram bordadas com símbolos da ancestralidade da criança. O menino Jesus foi envolto em faixas como era o costume da época.


O menino Jesus foi envolto em faixas


Maria, então, deitou o bebê numa manjedoura (Lc 2: 7). As manjedouras eram na verdade feitas de pedra ao invés de madeira por causa da abundância de pedra em Israel. Essas manjedouras eram de vários tamanhos e geralmente tinham de 6 a 8 polegadas, ou seja, 15,24 a 20,32 centímetros de profundidade.


Manjedoura
Manjedoura


As casas na época de Jesus eram geralmente construídas de pedra ou tijolos secos ao sol, e como a madeira era um recurso escasso, esta era reservada para o telhado, as portas, móveis e utensílios domésticos. O telhado era comumente feito de uma camada grossa de barro espalhado por cima de uma coberta de juncos apoiada sobre traves. Não era tão endurecido como os de hoje, que contêm concreto, portanto, as casas não tinham muita dificuldade de serem abertas pelo teto, como aconteceu com o paralítico de Cafarnaum que foi trazido a Jesus para ser curado. Bastava apenas remover as vigas e a palha do telhado. Algumas poucas casas tinham um cômodo extra no andar superior que era chamado “o quarto de profeta”, em referência à casa da sunamita, que construiu um quarto para o profeta Eliseu, e que nos tempos de Jesus era chamado de ‘hospedaria’ ou ‘estalagem’ ou ‘pousada’ (em grego: κατάλυμα katalymati ou kataluma, Strong #g2646, que significa estalagem, quarto de hóspedes), pois ali os judeus recebiam e abrigavam um hóspede. Assim, a hospedaria era um cômodo para hóspedes numa casa de família ou um abrigo público, e não uma grande construção com vários quartos individuais como é hoje, por isso, se diz que Jesus nasceu num estábulo, pois não havia lugar para eles na hospedaria; nenhum conhecido deles ou nenhuma família em Belém naquele momento acolheu José, Maria e Jesus. Naquela época, a estrebaria ou estábulo era, em geral, uma peça anexa à casa.


Casas na época de Jesus
Casas na época de Jesus

Casas na época de Jesus
Como era o teto


A bíblia diz que os pastores estavam nos campos cuidando das ovelhas na noite que Jesus nasceu. O mês judaico de Kislev (Quisleu), correspondente aproximadamente à segunda metade de Novembro e primeira metade de Dezembro era um mês frio e chuvoso. O mês seguinte é Tebete, em que ocorrem as temperaturas mais baixas do ano, com nevadas ocasionais nos planaltos, impossibilitando alguém de ficar de pé do lado de fora de uma casa devido ao frio. Entretanto, nós lemos em Lc 2: 8: “Havia, naquela mesma região, pastores que viviam nos campos e guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite”, portanto, viviam ao ar livre e mantinham vigias sobre os rebanhos à noite, perto do local onde Jesus nasceu. Como estes fatos seriam impossíveis para um período de inverno rigoroso, é provável que Jesus não pudesse ter nascido no dia em que o Natal é celebrado, e sim no outono (de Setembro-Outubro a Novembro-Dezembro). Os rebanhos saíam para os campos em Março e se recolhiam nos princípios de Novembro, mais uma evidência de que o nascimento de Jesus não se deu no inverno (por volta de Dezembro). No evangelho de Lucas (Lc 1: 5) está escrito que Zacarias, pai de João Batista era do turno de Abias (o 8º turno de sacerdotes – 1 Cr 24: 10), que desempenhava suas funções por volta de Junho-Julho (15 dias por ano, pois eram 24 turnos de sacerdotes). Foi nesta época que Isabel deve ter engravidado, no mês de Tamuz. Maria recebeu a notícia da anunciação do anjo seis meses depois (Lc 1: 26), por volta de Dezembro-Janeiro (mês de Tebete). Como a gravidez normal dura nove meses, Jesus deve ter nascido por volta de Setembro-Outubro (mês de ’Ethãnïm), no calendário Judaico.

Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, chegaram do Oriente a Jerusalém, até Herodes, uns magos guiados por uma estrela que, segundo a descrição de Mateus (Mt 2: 1-11), anunciou o nascimento do Messias e os levou ao local onde Ele se encontrava.


Estrela de Belém


Os magos (gr. Magoi) que vinham do Oriente a Jerusalém (Mt 2: 1-3; 9-12) não eram reis. Isso foi uma informação dada, provavelmente, por volta do século III por Tertuliano, de Cartago, na África, dizendo que eram reis. Ele deve ter se inspirado no Sl 68: 28-29: “Reúne, ó Deus, a tua força, força divina que usaste a nosso favor, oriunda do teu templo em Jerusalém. Os reis te oferecerão presentes”. Entretanto, o Sl 68 não é considerado, a priori, um salmo messiânico, como o Sl 72: 9-11 também não é, embora fale de presentes ao rei justo. Assim, os magos eram sacerdotes astrólogos, talvez seguidores de Zoroastro ou Zaratustra, nascido na Média, no século VII AC, que divinizava os astros e formava magos. Eram considerados sábios, e por isso, conselheiros de reis, como foram os sábios que estiveram ao lado de Nabucodonodor (rei babilônico), no tempo do profeta Daniel. Em outras palavras: os magos eram astrólogos reais que, pela vontade de Deus, ouviram Sua voz e reconheceram que um Rei maior do que todos os outros iria nascer para trazer a salvação à humanidade. Dessa forma, esses magos que vieram para visitar Jesus (por vontade divina) podiam ter vindo da Babilônia, Mesopotâmia ou da Pérsia (região do Irã). Em Mt 2: 1 está escrito: “Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, em dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém”. Portanto, quantos eram e os seus nomes (Gaspar, Melchior e Baltazar), não foram revelados nos evangelhos canônicos. Deduz-se terem sido três magos por causa dos três tipos de presentes. A bíblia também não menciona em que tipos de animais os magos vieram montados, o que indicaria, muito possivelmente, a sua procedência correta. Outro fator muito importante, no caso dos magos e da estrela, tem a ver com a existência de uma grande comunidade de raiz judaica na antiga Babilônia, o que, sem dúvida, teria permitido o conhecimento das profecias messiânicas dos judeus e a sua posterior associação de simbolismos com os fenômenos celestes que ocorriam.

Uma parte da comunidade judaica permaneceu nestes locais (Babilônia, Mesopotâmia ou da Pérsia) após o retorno de alguns exilados com Esdras (458 AC) e Neemias a Jerusalém (445 AC) para a reconstrução do templo e dos muros da cidade. Em Ed 7: 9, a bíblia mesmo relata o tempo de viagem de Esdras desde a Babilônia até Jerusalém: 4 meses (do 1º ao 5º mês), ou seja, desde a cidadela de Susã até a Cidade Santa, que equivale a uma distância de mais ou menos 1.600 km. Isso significava uma jornada de 10 a 13 km por dia no máximo, viajando em caravanas, com mulheres e crianças e bagagens (como foi com os patriarcas no AT). Podemos extrapolar esse raciocínio para os magos, dizendo que sua jornada até Belém deve ter sido de 3 a 4 meses e bastante sincronizada com o nascimento de Jesus, pois conhecendo os fenômenos astronômicos relacionados ao nascimento do Messias de Israel, eles estavam bastante interessados em ver o recém-nascido Rei dos Judeus o mais breve possível, até mais do que Seu próprio povo, para poder testemunhar sobre isso, além de fortalecer sua fé. Isso é um símbolo de que Jesus nasceu para todos: Judeus e Gentios.


Os três magos


Estou escrevendo isso por causa de um pensamento que me ocorreu, estando eu a assistir a vários filmes sobre o nascimento de Jesus e comparando com a tradição dos doze dias que eles levaram até encontrar Maria, José e Jesus e Lhe entregar seus presentes, ou outros filmes que relatam dois anos para os magos encontrarem Jesus. Os dois evangelistas que descrevem o fato são Mateus e Lucas, com relatos cronológicos diferentes um do outro.

O que sabemos é que na região de Belém havia e ainda há várias grutas de pedra calcária que têm servido como abrigo para homens e animais. Foi em grutas deste tipo que Jesus pode ter nascido, pois também seriam usadas como abrigo para animais como bois, jumentos e até ovelhas, portanto, não seria tão estranha a presença de uma manjedoura ali. Outros historiadores já preferem a idéia de se tratar de um estábulo, não de pedra calcária, mas de madeira, onde haveria uma manjedoura junto aos animais.


Caverna na Judéia


Minha dúvida em si não gira em torno do local do nascimento de Jesus, e sim do momento em que os magos Lhe deram os presentes, pois não me parece muito provável a demora de dois anos após o nascimento do Senhor para que eles o vissem; pelo contrário, devem tê-lo visto na mesma noite do Seu nascimento, assim como os pastores (ou no máximo doze dias depois), pois o fenômeno astronômico da estrela estava em seu apogeu. Dessa forma, Deus cumpriria a promessa em relação ao Seu Filho, que viria trazendo a redenção para grandes e pequenos, poderosos e humildes, judeus e gentios igualmente. O momento logo após Seu nascimento era mais do que propício para este encontro, simbolizando o encontro de toda a humanidade com um único Rei, sacerdote e Salvador.


o menino Jesus


Muitos estudiosos do assunto permanecem acreditando nos doze dias descritos na tradição, alegando que Maria e José saíram dali para uma casa, onde ficaram após o nascimento de Jesus. Isso se baseia no fato da descrição de Mt 2: 11: “Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra”. A polêmica gira em torno da palavra ‘casa’, mas se formos para a Concordância Lexicon Strong, que usa a bíblia de King James, nós podemos ver que a palavra ‘casa’, em grego, é ‘oikia’ (oiκία) ou ‘oikian’ (oiκίαν), que quer dizer: ‘Propriedade, residência (abstratamente), mas geralmente (concretamente) uma morada (literal ou figurativamente – ‘an abode’, em Inglês); por implicação, uma família (especialmente empregados domésticos), uma casa, agregado familiar’. A bíblia de estudo léxico grego descreve a palavra ‘oikia’ como: uma casa, um edifício habitado, uma habitação, uma morada, os internos de uma casa (se referindo aos empregados domésticos), a família, propriedade, riqueza, bens. De tudo isso, o que me chamou a atenção foram as palavras: ‘uma habitação’ e ‘uma morada’. A gruta não era a habitação ou a morada (‘an abode’, descrita na Concordância Lexicon Strong) onde aquela família estava? E, como eu disse anteriormente, a estrebaria ou estábulo era uma peça anexa à casa, não era? Portanto, o que ouvimos sobre a tradição dos doze dias pode não ser tão correto. Pior ainda a hipótese dos dois anos de demora para os magos entregarem seus presentes a Jesus. Mesmo porque a bíblia escreve em Mt 2: 1-2: “Tendo Jesus nascido em Belém da Judéia, em dias do rei Herodes, eis que vieram uns magos do Oriente a Jerusalém. E perguntaram: Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e viemos para adorá-lo”.

A medicina considera uma criança recém-nascida com tendo até 1 mês idade; bebê, entre 2º e 18º mês (2 meses a 1 ano e seis meses) e criança, do 18º mês até 12 anos idade. Portanto, se os magos falam recém-nascido, Jesus não poderia ter dois anos de idade. Além do que em Mt 2: 11 (“Entrando na casa, viram o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se, o adoraram; e, abrindo os seus tesouros, entregaram-lhe suas ofertas: ouro, incenso e mirra”), a palavra ‘menino’ na nossa tradução, em grego é escrita como ‘paidion’ (παιδίον – Strong #G3813), um diminutivo neutro de ‘pais’ que significa: uma criancinha, um bebê, um pequenino; um infante (de ambos os sexos), i.e. (corretamente), um bebê, ou (por extensão) um menino ou menina meio crescido; figurativamente, um cristão imaturo.

O que sabemos com certeza é que Mateus e Lucas escreveram versículos que se complementam na questão do tempo de permanência de José, Maria e Jesus em Israel. Eles o levaram para ser circuncidado com oito dias de vida (Lc 2: 21; Lv 12: 3) de acordo com a Lei de Moisés, e depois de quarenta dias, passados os dias da purificação (Lv 12: 2-4), Ele foi apresentado no templo, onde Maria e José levaram um par de rolas e dois pombinhos (Lc 2: 22-24; Lv 12: 8). Assim, Maria e José só teriam ficado em Belém até completar os 40 dias da purificação (Lc 2: 22 cf. Lv 12: 2-4). Depois Mateus relata a fuga para o Egito, onde ficaram por mais ou menos 2 anos, até a morte de Herodes o Grande em 4 AC (Mt 2: 13-23). Ao regressarem, foram morar em Nazaré da Galiléia, onde a bíblia diz (Mt 2: 23b): “Ele será chamado Nazareno”. Aqui, muitos confundem a palavra ‘Nazareno’ com ‘Nazireu’. Nazareno é que nasce ou vive em Nazaré, na Galiléia. Seu nome (Nazaré) é possivelmente derivado do termo aramaico naçerath, ‘torre de vigia’. Outra derivação sugerida é de neçer, ‘broto’, o que poderia identificar Jesus com o ‘Renovo de Justiça, Renovo de Davi ou Raiz de Davi’, como os profetas chamavam o Messias de Israel. O clima temperado daquela região faz as flores florescerem e os frutos surgirem abundantemente. Talvez, por isso, o nome neçer, ‘broto’. Ou então, estejam se referindo à profecia de Is 9: 1-2: “Mas para a terra que estava aflita não continuará a obscuridade. Deus, nos primeiros tempos, tornou desprezível a terra de Zebulom e a terra de Naftali; mas, nos últimos, tornará glorioso o caminho do mar, além do Jordão, Galiléia dos gentios. O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz”. Nazireu, por sua vez, vem do hebraico nãzïr (vinha), derivado de nãzar: separar, consagrar, abster-se, comparada com a palavra nezer: diadema ou coroa de Deus, algumas vezes identificada com os cabelos compridos dos Nazireus, consagrados a Deus, como Sansão e Samuel, por exemplo, e muito provavelmente, João Batista.

A natureza real da estrela de Belém é ainda incerta. Não se sabe se houve uma conjunção de Saturno, Júpiter e/ou Vênus na constelação de Peixes, como acreditavam os astrólogos em relação à época do nascimento do Messias (Kepler sugeriu uma conjunção de Saturno e Júpiter na constelação de Peixes por volta de 7 AC). Mais uma razão para descartar a hipótese de que os magos só chegaram a ver Jesus quando Ele já tinha dois anos de idade, pois eles podem ter visto os sinais celestiais se manifestarem antes do nascimento do Messias, mas com este evento o fenômeno astronômico chegaria ao seu ápice e desapareceria; não perduraria por dois anos após Jesus nascer. A estrela foi realmente algo sobrenatural de Deus para anunciar o nascimento de Jesus cumprir a profecia do AT (Nm 24: 17), como muitos eventos sobrenaturais aconteceram também na Sua morte, no momento da crucificação e da ressurreição. Mais absurda ainda é a hipótese de uma estrela intermitente no céu, que apareceria primeiro aos pastores de dois anos depois aos magos.

Outra coisa que nos importa aqui são os tipos de presentes dados a Jesus pelos magos, como que confirmando mais uma vez, seu conhecimento dos escritos proféticos judaicos e sua fé num Deus único que veio ao mundo para salvar os homens, sejam judeus ou gentios. Eles Lhe trouxeram ouro, incenso e mirra.


Ouro, incenso e mirra


O ouro era um dos três metais mais usados; era obtido com mais raridade, freqüentemente aparece depois da prata e é mencionado juntamente com ela em grandes quantidades no pagamento de tributos (2 Rs 18: 14; 1 Rs 9: 10-14); usado igualmente em transações comerciais importantes. Na bíblia, na maior parte das vezes, se refere às coisas que eram colocadas no Tabernáculo ou no Templo, despojos preciosos de guerra ou tributos a serem pagos a um império. Portanto, nos dá a idéia de algo extremamente precioso, algo mais diretamente separado para Deus ou muito importante para uma nação, como um resgate, por exemplo. Ou ainda, algo relativo à realeza. No tempo de Salomão, por exemplo, a prata tinha pouco valor; apenas o ouro era aceito no palácio real (1 Rs 10: 21).

O incenso é mencionado em alguns trechos bíblicos do AT em relação ao sacerdócio (provocava a ira de Deus quando era oferecido a outros deuses):
• Êx 30: 1; 6-9: “Farás também um altar para queimares nele o incenso; de madeira de acácia o farás... Porás o altar defronte do véu que está diante da arca do Testemunho, diante do propiciatório que está sobre o Testemunho, onde me avistarei contigo. Arão queimará sobre ele o incenso aromático; cada manhã, quando preparar as lâmpadas, o queimará. Quando, ao crepúsculo da tarde, acender as lâmpadas, o queimará; será incenso contínuo perante o Senhor, pelas vossas gerações. Não oferecereis sobre ele incenso estranho, nem holocausto, nem ofertas de manjares; tampouco derramareis libações sobre ele”.
• Êx 30: 34-38: “Disse mais o Senhor a Moisés: Toma substâncias odoríferas, estoraque, ônica e gálbano; estes arômatas com incenso puro, cada um de igual peso; e disto farás incenso, perfume segundo a arte de perfumista, temperado com sal puro e santo. Uma parte dele reduzirás a pó e o porás diante do Testemunho na tenda da congregação, onde me avistarei contigo; será para vós outros santíssimo. Porém o incenso que fareis, segundo a composição deste, não o fareis para vós mesmos; santo será para o Senhor. Quem fizer tal como este para o cheirar será eliminado do seu povo”.
• 2 Cr 29: 11: “Filhos meus [o rei Ezequias estava dizendo para os levitas e para os sacerdotes, ao abrir novamente o templo que ficou fechado durante o governo do seu pai Acaz por causa do jugo assírio], não sejais negligentes, pois o Senhor vos escolheu para estardes diante dele para o servirdes, para serdes seus ministros e queimarem incenso”.
• Sl 141: 2: “Suba à tua presença a minha oração, como incenso, e seja o erguer de minhas mãos como oferenda vespertina”.
• Is 65: 3: “povo que de contínuo me irrita abertamente, sacrificando em jardins e queimando incenso sobre altares de tijolos”.
• Jr 44: 8: “Por que me irritais com as obras de vossas mãos, queimando incenso a outros deuses na terra do Egito, aonde viestes para morar, para que a vós mesmos vos elimineis e para que vos torneis objeto de desprezo e de opróbrio entre todas as nações da terra?”

O NT já se refere ao incenso de outra forma:
• Ap 5: 8: “E, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos”.
• Ap 8: 3-4: “Veio outro anjo e ficou de pé junto ao altar, com um incensário de ouro, e foi-lhe dado muito incenso para oferecê-lo com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro que se acha diante do trono; e da mão do anjo subiu à presença de Deus a fumaça do incenso, com as orações dos santos”.

A mirra é um arbusto que cresce nas regiões desérticas, especialmente na África (nativa da Somália e partes orientais da Etiópia) e no Médio Oriente. É também o nome dado à resina oleosa de coloração marrom-avermelhada obtida da seiva seca dessa árvore (Commiphora myrrha ou Balsamodendron myrrha). A palavra origina-se do hebraico maror ou murr, que significa: amargo, por isso é amarga e, muitas vezes, usada na bíblia como sinônimo de fel. Em Pv 31: 6-7 está escrito: “Dai bebida forte aos que perecem e vinho aos amargurados de espírito; para que bebam, e se esqueçam da sua pobreza, e de suas fadigas não se lembrem mais”. A bebida forte (Hebr., shekhãr) a que se refere era o vinho de alto teor alcoólico misturado com a mirra dado pelas mulheres judias aos condenados à cruz para que pudessem suportar a punição e o sofrimento, pois age como um anestésico. No Sl 69: 21 (salmo profético de Davi) nós podemos ler outra referência à mirra: “Por alimento me deram fel e na minha sede me deram a beber vinagre”. Também foi usada para preparar Ester por seis meses, após os quais vieram mais seis meses com outros ungüentos e perfumarias para levá-la ao rei Assuero (Et 2: 12-13). Era um ungüento perfumado usado pela realeza como perfume sedutor e para perfumar as vestes de casamento. Assim, a mirra simboliza: libertação, cura, purificação, mudança de vida, alívio para as dores da alma.

Portanto, podemos pensar que os magos trouxeram presentes a Jesus que confirmavam ser Ele o Messias; em outras palavras, Sua natureza divina e Sua missão salvadora e redentora: o ouro, simbolizando um tributo ao Rei dos reis, o precioso da humanidade dado ao Senhor. Quanto ao incenso, vem confirmar a posição de Jesus como sumo sacerdote e como nosso intercessor, já que, para nós, o incenso simboliza as orações dos santos; e era o sacerdote de linhagem Aarônica que queimava o incenso no altar de ouro. Em terceiro lugar, os magos lhe deram a mirra, como um ato profético do Seu sofrimento pela humanidade (Sua morte expiatória na cruz).

Símbolos e tradições do Natal

Árvore de Natal
As pessoas costumam montar árvores de Natal para decorar casas e outros ambientes. Na Antiguidade, em Roma, os romanos penduravam máscaras de Baco (deus do vinho) em pinheiros para comemorar uma festa chamada de Saturnália, que coincidia com o nosso Natal. A festa era em homenagem ao deus Saturno, e estava ligada à libertinagem e à orgia, por isso a participação de Baco, o deus do vinho. Para os cristãos, acredita-se que a tradição da árvore de Natal começou em 1530 DC, na Alemanha, com o padre Martinho Lutero (1483-1546 DC), autor da Reforma Protestante do século XVI. Enquanto caminhava pela floresta à noite, Lutero se impressionou com a beleza dos pinheiros cobertos de neve e, olhando para o céu através deles, viu-o intensamente estrelado como com brilhantes sobre a copa das árvores. Achou a visão muito bela. Arrancou um galho e o levou para casa. Utilizou vários materiais que tinha à sua disposição como: algodão, papéis brilhantes, outros enfeites e velas acesas, a fim de mostrar aos seus familiares a bela cena que havia presenciado na floresta. Para ele, o céu na noite do nascimento de Cristo deveria ter sido assim. Esta tradição foi trazida para o continente americano por alguns alemães durante o período colonial.

Presépio
O presépio mostra o cenário do nascimento de Jesus. A tradição católica diz que o presépio surgiu em 1223, criado por São Francisco de Assis, para celebrar o Natal de um modo o mais realista possível, a pedido do senhor de Greccio, um distrito da Itália. Com a permissão do Papa, São Francisco montou um presépio de palha, com uma imagem do Menino Jesus, da Virgem Maria e de José, juntamente com um boi e um jumento vivos e vários outros animais. Nesse cenário, foi celebrada a Missa de Natal. A partir daí, essa representação rapidamente se estendeu por toda a Itália e em toda a Europa.

Panetone
O panetone é um alimento tradicional da época do Natal e é de origem milanesa, no norte da Itália. Várias lendas tentam explicar a sua origem. A palavra panetone (italiano: panettone) tem sua origem no vocábulo milanês ‘panattón’, de origem e significados controversos. Uma lenda antiga diz que o panetone foi criado por um padeiro chamado Toni que se apaixonou por uma moça e, para impressionar seu sogro, criou uma nova receita de pão recheada com frutas cristalizadas. Com o tempo, esse pão recebeu o nome de “pan di Toni”, ou seja, o “pão do Toni”, que atualmente é chamado de panetone. Não se tem certeza que essa lenda ocorreu na época do Natal.

Papai Noel
O personagem foi inspirado num bispo de Mira (cidade da Turquia), chamado Nicolau Taumaturgo, que viveu no século IV. O bispo costumava ajudar as pessoas pobres na época do Natal, deixando saquinhos de moedas próximas às chaminés das casas. Foi canonizado (São Nicolau) pela igreja Católica por causa dos milagres posteriormente atribuídos a ele. A associação da sua imagem com o Natal surgiu na Alemanha e logo se espalhou pelo mundo. Nos EUA, México, Porto Rico, República Dominicana e Espanha, ele recebeu o nome de Santa Claus. No Brasil, de Papai Noel e, em Portugal, de Papai Natal. Na Alemanha é chamado de Nikolaus (Weihnachtsmann: homem do Natal). Na Argentina, Colômbia, Paraguai, Peru e Uruguai, ele é chamado de Papá Noel. Na França é conhecido como Père Noel. Na Inglaterra, Father Christmas, e na Itália, Babbo Natale.

Até o final do século XIX, o Papai Noel era representado com uma roupa de inverno na cor marrom e com uma guirlanda de azevinhos na cabeça. Porém, em 1881, uma campanha publicitária da Coca-Cola o mostrou com uma roupa, também de inverno, nas cores vermelha e branca (as cores do refrigerante) e com um gorro vermelho com pompom branco. Com o sucesso da campanha publicitária, a nova imagem do Papai Noel se espalhou rapidamente pelo mundo. O atual visual do Papai Noel foi obra do desenhista Thomas Nast em 1886. Em alguns lugares na Europa, ele permanece representado com os paramentos eclesiásticos de bispo, tendo uma mitra episcopal no lugar do tradicional gorro vermelho.

Uma das pessoas que ajudaram a divulgar sua lenda foi Clement Clark Moore, um professor de literatura grega de Nova Iorque. Em 1822 ele lançou o poema: Uma visita de São Nicolau, escrito para seus seis filhos. Nesse poema, Moore dizia que papai Noel viajava num trenó puxado por renas. O caso da chaminé, inclusive, é um dos mais curiosos na lenda de Papai Noel. Alguns dizem que isso se deve ao fato de que várias pessoas tinham o costume de limpar as chaminés no Ano Novo para permitir que a boa sorte entrasse na casa durante o resto do ano. No poema, várias tradições foram buscadas de diversas fontes e a verdadeira explicação da chaminé veio da Finlândia (Lapônia, mais precisamente da cidade de Royaniemi). Seus antigos habitantes, os lapões, viviam em pequenas tendas semelhantes a iglus (casas de gelo dos esquimós do Ártico) e que eram cobertas com pele de rena. A entrada para essa “casa” era um buraco no telhado. As renas do Papai Noel são as únicas renas do mundo que sabem voar, ajudando-o a entregar os presentes para as crianças do mundo todo na noite da véspera de Natal. A quantidade de renas é controversa. Inicialmente, oito renas, que puxam o trenó tradicional; mais tarde, nove, por causa da rena conhecida como Rudolph, com um nariz vermelho e brilhante e que ajuda a guiar as outras renas durante as tempestades. E, a partir daquele ano, a quantidade de renas passou a ser nove, diferentemente dos trenós tradicionais, puxados por oito renas. Tal lenda foi criada em 1939.

Infelizmente, a criação publicitária do Papai Noel, deturpando a atitude humanitária de Nicolau Taumaturgo, acabou avivando outras tradições pagãs celtas e druidas, fazendo enfeites de Papai Noel à semelhança de gnomos. Para quem não sabe, gnomo é uma criatura lendária, um anão, que supostamente guarda os tesouros debaixo da terra.

Conclusão

O mundanismo e a religiosidade tornaram impuro um evento que para o Senhor foi criado com santidade e simplicidade, tornando-o pecaminoso aos Seus olhos. Não são símbolos ou enfeites, tampouco o comércio com as coisas santas, que trazem a alegria, o “espírito do Natal” ou a consciência do que ele representa para um cristão, mas a sinceridade de coração e a reverência às coisas de Deus. Seguir tradições, simplesmente pelo fato de que devem ser seguidas, não tem valor algum, nem para nós nem para o Senhor. Entretanto, abolir o Natal da nossa “agenda” com a desculpa de que foi criado por homens como uma festa pagã é apenas um disfarce para a falta de amor e para o esfriamento da sensibilidade à voz do Espírito Santo, gerados pelo pecado da carne. Como escrevi no início, o Natal celebra o nascimento de Jesus Cristo, um fato extremamente importante por estar relacionado à chance da salvação concedida por Deus Pai ao homem pela Sua misericórdia.

Se Jesus nos deixou a ordenança da Ceia para nos lembrarmos de Sua morte, por que se oporia a comemorarmos Seu nascimento? Quem morreu é porque nasceu. Se no AT foi instituída a festa de Purim por homens como Ester e Mordecai e registrada na bíblia por permissão de Deus para lembrar Seu próprio povo em relação aos Seus livramentos e feitos miraculosos, por que, então, nós cristãos, não poderíamos comemorar o Natal de uma maneira santa, com louvor, reverência a adoração Àquele que se despojou de Sua glória e habitou entre nós para nos dar a vida eterna? A bíblia diz: “Todas as coisas são lícitas, mas nem todas convêm; todas as coisas são lícitas, mas nem todas edificam” (1 Co 10: 23). “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas” (1 Co 6: 12). O importante é saber diferenciar o que é bom ou não para nós; o que importa é a intenção com que fazemos as coisas.

Nós não vamos poder mudar a data estabelecida para o Natal nem os nomes dos meses do ano dados em homenagem a deuses pagãos, mas ainda podemos pedir ao Senhor que nos santifique e reavive em nosso coração o amor e a aliança com Ele. Dessa forma, a comemoração de Natal deixa de ser algo místico, mecânico, frio ou ignorado e passa a ser um avivamento do dom do amor, da comunhão com Deus e com os nossos semelhantes, um avivamento da consciência do que é a salvação trazida por Jesus. E um enfeite na nossa mesa ou na nossa casa durante a época natalina não tem mais um cunho idólatra (gnomos ou Papai Noel, por exemplo), mas passa a ser a expressão exterior da alegria interior de pertencermos a Deus e manifestarmos o Seu caráter na terra. Luzes, bolas brilhantes, pingos de água, estrelas, pequenos pacotes de papel com fitas douradas etc., enfeites coloridos demonstram apenas que nós temos a consciência de que aqueles dias fazem diferença para nós em relação aos demais dias do ano; que é um tempo para refletir sobre muitas coisas e mudar nossa atitude.

Este texto se encontra no livro:


livro evangélico: Lidando com as tradições

Lidando com as tradições (PDF)

Dealing with the traditions (PDF)



Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti

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