Tudo sobre a cruz. Como foi a crucificação de Jesus? O que aconteceu no Getsêmani? Quais os locais tradicionais do Gólgota e do Seu sepultamento? Leia sobre os eventos da natureza durante a crucificação.

All about the cross. What was Jesus’ crucifixion like? What happened in Gethsemane? What are the traditional locations of Golgotha and His burial? Read about the events in nature during the crucifixion.


Entendendo a crucificação de Jesus




Depois da Última Ceia com Seus discípulos no cenáculo, Jesus foi para o Getsêmani (Mt 26: 36-46; Mc 14: 32-42; Lc 22: 39-46). Ali Ele esteve em agonia por ver tudo o que teria que sofrer pela redenção da humanidade:

“Em seguida, foi Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar; e, levando consigo a Pedro e aos dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se. Então, lhes disse: A minha alma está profundamente triste até a morte; ficai aqui e vigiai comigo. Adiantando-se um pouco, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se possível, passa de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres. E, voltando para os discípulos, achou-os dormindo; e disse a Pedro: Então, nem uma hora pudestes vós vigiar comigo? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca. Tornando a retirar-se, orou de novo, dizendo: Meu Pai, se não é possível passar de mim este cálice sem que eu beba, faça-se a tua vontade (Lc 22: 43: [Então, lhe apareceu um anjo do céu que o confortava]). E, voltando, achou-os outra vez dormindo; porque os seus olhos estavam pesados. Deixando-os novamente, foi orar pela terceira vez, repetindo as mesmas palavras. Então, voltou para os discípulos e lhes disse: Ainda dormis e repousais! Eis que é chegada a hora, e o Filho do Homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores. Levantai-vos, vamos! Eis que o traidor se aproxima” (Mt 26: 36-46).

O Getsêmani é um jardim situado no sopé do Monte das Oliveiras, em Jerusalém. Mateus e Marcos (Mt 26: 36; Mc 14: 32) dizem que Jesus foi a um ‘lugar’ [chórion – χωρίον – Strong #g5564] chamado Getsêmani; e João (Jo 18: 1) deixa claro que se tratava de um jardim [Strong #g2779 – képos].

• Mt 26: 36: “Em seguida, foi Jesus com eles a um lugar chamado Getsêmani e disse a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar”.
• Mc 14: 32: “Então, foram a um lugar chamado Getsêmani; ali chegados, disse Jesus a seus discípulos: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou orar”.
• Jo 18: 1: “Tendo Jesus dito estas palavras, saiu juntamente com seus discípulos para o outro lado do ribeiro Cedrom, onde havia um jardim; e aí entrou com eles”.

Getsêmani (em grego: Γεθσημανή, transl. Gethsēmani; em hebraico: גת שמנים, transl. Gath Shmanim; do aramaico, Gath Shmānê ou Gath Shemen), significa, literalmente ‘um lagar de azeite’ ou ‘prensa de azeite’ (Gath – גת = prensa, lagar; Azeite = shemen). O jardim foi assim chamado não por causa da quantidade de oliveiras, mas por causa da quantidade das prensas de azeite que ali havia.


O Jardim do Getsêmani
Getsêmani nos dias atuais


As pedras de moinho serviam para esmagar as azeitonas (Zayit = azeitona) recém-colhidas, e depois essa ‘massa’ ou ‘pasta’ era colocada em bolsas semelhantes a pneus de automóvel, empilhadas umas sobre as outras e levadas para outro lugar onde outras pedras com pesos diferentes as prensavam, dessa forma extraindo o azeite. O azeite ‘extra virgem’, como nós conhecemos hoje, era o azeite mais puro que era extraído com a primeira pedra e geralmente dado como primícias para o óleo da unção no Templo, para cerimônias de unção e consagração de reis e sacerdotes e misturado com especiarias aromáticas. A segunda prensa (com uma pedra mais pesada do que a primeira) gerava um azeite de qualidade inferior e que era utilizado pelas pessoas para uso doméstico, geralmente, no preparo de alimentos. O terceiro, extraído na prensa com uma pedra mais pesada do que as anteriores, era um azeite mais denso usado nas lamparinas para iluminação. O que restava das azeitonas espremidas por uma 4ª prensa continha praticamente os caroços e cascas, portanto, um azeite de qualidade bem inferior, para outros usos, como por exemplo, a fabricação de sabão.


Pedra de moinho
A pedra de moinho

As bolsas com as azeitonas As bolsas empilhadas
As bolsas com as azeitonas eram empilhadas antes de irem para as prensas

A lamparina nos tempos de Jesus
A lamparina nos tempos de Jesus

Pedras para prensar azeitonas
As pedras para prensarem as azeitonas


Quando olhamos as imagens do moinho e das pedras de prensagem, nós podemos entender o significado do nome do Jardim (Getsêmani, ‘um lagar de azeite’ ou ‘prensa de azeite’) e da similaridade com o que Jesus passou ali em Sua agonia antes de ser preso. Ele sentiu uma enorme opressão, como uma azeitona que estivesse sendo esmagada por uma enorme pedra.

Ele estava sentindo uma dor emocional aguda que causava profuso suor (Lc 22: 44: [E estando em agonia, orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra]), à medida que Ele olhava com apreensão e quase terror para Seu sacrifício vindouro; o ‘cálice amargo’.

Sobre a agonia de Jesus no Getsêmani e o suor de sangue, a ciência tenta explicar com uma situação rara chamada hematidrose.
Hematidrose (Também chamado hematohidrose ou hemidrose ou suor de sangue; do grego haima/haimatos αἷμα, αἵματος, sangue; hidrōs ἱδρώς suor, sudorese, transpiração) é uma condição muito rara em que um ser humano sua sangue. A ciência sabe que este fenômeno está associado a causas psicogênicas: momentos de maior pressão, tensão, medo, ansiedade mental severa ou stress emocional intenso, pois estes estados emocionais têm um impacto direto nos microvasos sanguíneos das glândulas sudoríparas, que se rompem e dão origem à saída de sangue simultaneamente com o suor. Não se constatou nenhuma alteração de coagulação, glóbulos vermelhos ou plaquetas, tampouco vasculite ou anormalidades de glândulas da pele nos casos de hematidrose.

Existem estudos mostrando essa anormalidade em pessoas que aguardam execução ou em indivíduos que temem por suas vidas. Leonardo da Vinci descreveu um soldado que suava sangue antes da batalha. Um caso ocorreu durante a blitz de Londres (campanha de bombardeio alemão em Londres na 2ª guerra) e um caso de medo de uma tempestade durante a navegação.

A ciência até pode entender e explicar a relação entre a hematohidrose e as severas condições de stress emocional, mas não consegue perceber nem entender o grau de opressão espiritual que Jesus estava sentindo naquele momento por toda a humanidade. É algo inexplicável para o homem carnal, porém perfeitamente compreensível para os filhos de Deus que têm a sensibilidade dada pelo Espírito Santo. A opressão das trevas trazem, com certeza, efeitos trágicos e danosos sobre a saúde de quem não tem o revestimento espiritual necessário para enfrentar certas batalhas. Se nós já sentimos alguma vez o peso das trevas tentando nos afrontar, imagine o tamanho da angústia que Jesus suportou no Getsêmani por todos nós. Isso nos faz valorizar o Seu sacrifício ainda mais e nos faz valorizar a nossa salvação.

Isso nos faz enfrentar com bravura as provocações do inimigo e nos estimula a glorificar e crer na força de um Deus extremamente maior, que pode nos defender de todo o mal e que está hoje à direita de Deus em poder e glória zelando pelos que lhe pertencem. Nós não temos mais que suar de medo diante de Satanás e seus enviados. O próprio Deus e Seus valorosos anjos nos protegem de todo perigo.

“Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e sim da graça” (Rm 6: 14). Nem o pecado nem a tentação do diabo tem poder sobre um ungido de Deus.

O ‘cálice amargo’ não simbolizava a dor física ou mental, e sim a agonia espiritual de levar os pecados do mundo e suportar o juízo divino que esses pecados mereciam. O cálice continha a ira de Deus (Is 51: 17; Is 51: 22-23; Is 63: 3; Jr 25: 15-16; Ap 19: 15), e causava uma completa desorientação física (‘o cálice de atordoamento’ – Is 51: 22-23) e mental (confusão) como a embriaguez. Ele se afastou horrorizado da experiência de alienação de Seu Pai que o juízo sobre o pecado traria sobre Ele. O propósito do amor de Deus era salvar os pecadores e salvá-los justamente. O cálice também simbolizava nossos pedidos diante do sofrimento que Satanás imporia a todos os homens. Jesus viu ali o sofrimento de toda a humanidade e os planos terríveis de Satanás contra nós.

De Sua agonia de pavor, enquanto meditava sobre as implicações de Sua morte, Jesus emergiu daquela intercessão com confiança serena e absoluta, equilíbrio emocional e muita unção, pois os que se aproximaram caíram diante dEle (Jo 18: 6: “Quando, pois Jesus lhes disse: Sou eu, recuaram e caíram por terra”).

Através do suor de sangue, o Senhor aqui quebrou a nossa maldição de abandono, rejeição e solidão. Não temos mais que suar de medo frente ao inimigo e suas ameaças. Não temos mais que nos sentir sozinhos e abandonados diante de certas circunstâncias; Ele já sofreu por nós. Não temos mais que nos sentir abandonados pelos amigos, pois Ele já passou por isso em nosso lugar e nos diz que Ele é o nosso melhor e mais confiável amigo. Ele não nos deixa nem nos abandona e está conosco em todos os momentos difíceis. Por isso, em todas as nossas ‘aflições no Getsêmani’ podemos ter certeza de tê-lo ao nosso lado.

O plano divino e o plano humano

Jesus sabia que a cruz era o centro da Sua missão (Mt 26: 24; Lc 12: 50; Lc 18: 31-33). Nós podemos ver no AT algumas referências proféticas ao sacrifício da cruz: Sl 22: 1; Sl 22: 7-8; Sl 22: 11-21; Sl 69: 18-21; Sl 129: 3; Is 50: 6-7; Is 52: 13-15; Is 53: 2-12; Jr 31: 34.

Ele, de livre vontade, abraçou o propósito do Pai com o fim de salvar os pecadores:
Jo 6: 38-39: “Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim a vontade daquele que me enviou. E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia”.

Jesus, na verdade, foi morto obedecendo a um plano humano e a um plano divino conjuntamente.

No plano humano, a cruz foi o resultado da hostilidade dos líderes nacionais judaicos, pois Jesus era uma ameaça à sua posição e autoridade e, por isso, o invejavam. Para os romanos, Ele era um revolucionário, alguém que perturbou o ‘status quo’, por isso, com sua mediocridade, o mataram. Pilatos percebeu que, por inveja, os judeus entregaram Jesus a ele (Mt 27: 18; Mc 15: 10) e ele, por sua vez, o entregou à morte, mesmo sabendo ser Ele inocente, por ambição de manter sua posição e por covardia, pensando em César (Mt 27: 24-25; Mc 15: 15; Lc 23: 1-7; Lc 23: 20-25; Jo 19: 6-16). Judas o entregou por ganância; talvez, porque cresse na promessa do Messias e esperasse que Jesus se manifestasse como tal diante das autoridades romanas e judaicas para livrar Seu povo da opressão.

O profeta Zacarias profetizou o sofrimento de Jesus e que Ele seria traído (Zc 11: 12-14; Zc 12: 10; Zc 13: 6-7; Mt 26: 14-16; Lc 22: 3-6).

O Salmo 69 fala sobre o sofrimento do Messias; por isso, podemos ver que Ele sentiu os pecados, o ultraje e as nossas atitudes erradas, e foi isso que o levou à morte. Ele sentiu e ainda sente tristeza quando O expomos ao desprezo, nos desviando dEle; quando não nos entregamos completamente a Ele; quando optamos por um compromisso morno; quando nós O negamos em nosso coração; quando somos gananciosos, invejosos, ambiciosos e irreverentes, e muito mais.

No plano divino, o Pai o entregou por amor a nós:
• Is 53: 10: “Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos”.
• Jo 3: 16: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.

Por que foi necessário um sacrifício tão cruel, daquela forma?

— Porque a nossa reconciliação com Deus era uma compra, e o preço era alto e tinha que ser pago integralmente. Esse castigo, pago por Jesus em nosso lugar (1 Co 15: 3) nos trouxe a paz, ou seja, a justiça divina foi feita ali na cruz, por isso nós podemos estar em paz com Deus ao aceitarmos esse sacrifício. Seu sangue nos justificou e ainda nos justifica de toda acusação; pelos Seus ferimentos nós fomos sarados, fomos salvos dos nossos pecados e da condenação eterna.

A crucificação

Aqui eu coloco alguns detalhes importantes da crucificação de Jesus para que possamos entender a profundidade do Seu sacrifício e conquista, bem como o Seu amor por nós.

A palavra crucificação vem do latim cruci figo (do verbo ‘figere’ – fixar, prender), que quer dizer: cravado numa cruz ou cravo numa cruz. No Novo Testamento é sempre empregado o verbo stauroõ, cravar, que deriva do substantivo stauros, estaca. A cruz era a prática mais cruel de morte infligida pelos romanos. Era de origem fenícia e cartaginesa (relativo a Cartago, na África), mas também há evidência de emprego na Pérsia, nos séculos VI-V AC. Os gregos e romanos adotaram a crucificação dos fenícios e era um tipo de punição reservada aos escravos, provincianos e aos tipos mais baixos de criminosos; os cidadãos estavam isentos. Foi finalmente abolida do império romano por Constantino em 315 DC.

Três espécies de cruzes são conhecidas dos escritores antigos: a cruz decussata ou cruz de Santo André (X), a cruz comissa ou cruz de Santo Antônio (T) e a cruz imissa ou cruz latina (). A cruz grega, em que a travessa fica mais ou menos no meio do poste vertical e que tem a mesma dimensão que este (+), é de origem posterior. A cruz de Jesus foi provavelmente a cruz imissa, que a tradição transformou em símbolo cristão.

Em Is 50: 6-7; Is 52: 14; Is 53: 2-3 nós vemos uma descrição de como ficou desfigurado o rosto de Jesus pelos golpes dados pelos soldados:
• Is 50: 6-7: “Ofereci as costas aos que me feriam e as faces, aos que me arrancavam os cabelos [NVI: ‘que arrancavam minha barba’]; não escondi o rosto aos que me afrontavam e me cuspiam. Porque o Senhor Deus me ajudou, pelo que não me senti envergonhado [NVI: ‘Porque o Senhor, o Soberano, me ajuda, não serei constrangido’]; por isso, fiz o meu rosto como um seixo [NVI: ‘Por isso eu me opus firme como uma dura rocha’] e sei que não serei envergonhado”.
• Is 52: 14: “Como pasmaram muitos à vista dele (pois o seu aspecto estava mui desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a sua aparência, mais do que a dos outros filhos dos homens)...”.
• Is 53: 2-3: “Porque foi subindo como renovo perante ele e como raiz de uma terra seca [NVI: ‘Ele cresceu diante dele como um broto tenro, e como uma raiz saída de uma terra seca’]; não tinha aparência nem formosura; olhamo-lo, mas nenhuma beleza havia que nos agradasse. Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso”.

E no Sl 22: 11-21 Davi escreveu: “Não te distancies de mim, porque a tribulação está próxima, e não há quem me acuda. Muitos touros me cercam, fortes touros de Basã me rodeiam. Contra mim abrem a boca, como faz o leão que despedaça e ruge. Derramei-me como água, e todos os meus ossos se desconjuntaram; meu coração fez-se como cera, derreteu-se dentro de mim. Secou-se o meu vigor, como um caco de barro, e a língua se me apega ao céu da boca; assim, me deitas no pó da morte. Cães me cercam; uma súcia de malfeitores me rodeia; traspassaram-me as mãos e os pés. Posso contar todos os meus ossos; eles me estão olhando e encarando em mim. Repartem entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica deitam sortes. Tu, porém, Senhor, não te afastes de mim; força minha, apressa-te em socorrer-me. Livra a minha alma da espada, e das presas do cão, a minha vida. Salva-me das fauces do leão e dos chifres dos búfalos; sim, tu me respondes”.

O Sl 69 (de Davi) – o lamento do Messias – tem outras palavras proféticas sobre a cruz.
Sl 69: 3: “Estou cansado de clamar, secou-se me a garganta; os meus olhos desfalecem de tanto esperar por meu Deus”.
Sl 69: 7: “Pois tenho suportado afrontas por amor de ti, e o rosto se me encobre de vexame”.
Sl 69: 9: “Pois o zelo da tua casa me consumiu, e as injúrias dos que me ultrajam caem sobre mim”.
Sl 69: 19: “Tu conheces a minha afronta, a minha vergonha e o meu vexame; todos os meus adversários estão à tua vista”.
Sl 69: 21: “Por alimento me deram fel e na minha sede me deram a beber vinagre”.
Sl 69: 26: “Pois perseguem a quem tu feriste e acrescentam dores àquele a quem golpeaste”.

Cuspiram nEle, arrancaram-Lhe a barba e O torturaram com socos, golpes e blasfêmias enquanto estava no Sinédrio:
• Mt 26: 67-68: “Então, uns cuspiram-lhe no rosto e davam murros, e outros o esbofeteavam, dizendo: Profetiza-nos, ó Cristo, quem é que te bateu!”
• Mc 14: 65: “Puseram-se alguns a cuspir nele, a cobrir-lhe o rosto, a dar-lhe murros e a dizer-lhe: Profetiza! E os guardas o tomaram a bofetadas”.
• Lc 22: 63-65: “Os que detinham Jesus zombavam dele, davam-lhe pancadas e, vendando-lhe os olhos, diziam: Profetiza-nos: quem é que te bateu? E muitas outras coisas diziam contra ele, blasfemando”.

O rosto é uma parte muito vascularizada do corpo e sangra muito quando traumatizada. Os soldados que bateram nEle faziam parte de um grupo de elite (As Coortes) da guarda romana mandada para a Judéia e todas as províncias romanas da Ásia Menor (trezentos a seiscentos soldados, mais raramente atingindo mil), portanto, eram os mais fortes, musculosos, violentos e preparados para grandes lutas. Seus socos e golpes provavelmente vieram sobre Jesus com muita força provocando hematomas e conseqüentemente desfigurando-Lhe completamente o rosto. O cordeiro pascal (para os judeus) não poderia ter nenhum osso quebrado (Êx 12: 46; Nm 9: 12; Sl 34: 20; Jo 19: 36), como Jesus não teve nenhum dos Seus ossos quebrados.

Depois de pronunciada a sentença, era costume que a vítima fosse chicoteada com o flagellum, um chicote de línguas de couro com pequenos pedaços de metal ou osso. Isso ocorreu após Pilatos ter interrogado Jesus e liberado a sentença da crucificação:
• Mt 27: 26: “Então Pilatos lhes soltou Barrabás; e, após haver açoitado a Jesus, entregou-o para ser crucificado”.


Flagellum


Pela violência com que eram aplicados os golpes, pois o metal e os ossos do chicote arrancavam pedaços de pele e músculos, era improvável que a vítima suportasse e sobrevivesse a esse tipo de flagelo, mas Jesus sobreviveu. No Sl 129: 3 podemos ver uma referência de como ficaram as costas de Jesus pelos os golpes, como uma terra cheia de sulcos após passar o arado, ou seja, as feridas profundas dos golpes Lhe tiraram pedaços de carne e pele: “Sobre o meu dorso lavraram os aradores; nele abriram longos sulcos”. É bom lembrar que as mesmas costas que sofreram e sangraram com os açoites foram novamente traumatizadas quando os soldados arrancaram as roupas de Jesus para colocá-lo na cruz e quando Suas costas entraram em contato com a madeira áspera. Quando o sangue das feridas anteriores coagulava, outro suplício o fazia sangrar novamente.

Depois dos açoites, Jesus foi novamente entregue aos soldados que O vestiram de púrpura, como era conhecida a lã tingida. Eles cravaram sobre Sua cabeça uma coroa de espinhos e novamente traumatizaram Seu couro cabeludo com golpes; mais sangue foi vertido:
• Mt 27: 27-31 (Mc 15: 16-20): “Logo a seguir, os soldados do governador, levando Jesus para o pretório, reuniram em torno dele toda a coorte. Despojando-o das vestes, cobriram-no com um manto escarlate; tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lhe na cabeça e, na mão direita, um caniço; e, ajoelhando-se diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, rei dos judeus! E, cuspindo nele, tomaram o caniço e davam-lhe com ele na cabeça. Depois de o terem escarnecido, despiram-lhe o manto e o vestiram com as suas próprias vestes. Em seguida, o levaram para ser crucificado”.


A coroa de espinhos


A crucificação era realizada fora da cidade (Dt 16: 3-8 cf. Hb 13: 10-13) e as vítimas carregavam sua cruz, provavelmente apenas o ‘patibullum’ (a trave horizontal), também chamado de ‘antenna’ e com o título pendurado no pescoço ou levado na frente por um arauto. O patibullum poderia pesar de 30 a 60 quilos.


Patibullum, a trave horizontal


Não há referência como foi levado o título de Jesus; só sabemos que Pilatos o escreveu e o pregou na cruz (Jo 19: 17-19: “Tomaram eles, pois a Jesus; e ele próprio, carregando a sua cruz, saiu para o lugar chamado Calvário, Gólgota em hebraico, onde o crucificaram e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio. Pilatos escreveu também um título e o colocou no cimo da cruz; o que estava escrito era: JESUS NAZARENO, REI DOS JUDEUS”). Na Judéia, antes das execuções, vinho misturado com mirra era dado aos condenados pelas mulheres judias obedientes à Palavra, a fim de aliviar a dor dos crucificados, mas Jesus recusou:

• Pv 31: 6-7: “Dai bebida forte aos que perecem e vinho, aos amargurados de espírito; para que bebam, e se esqueçam da sua pobreza, e de suas fadigas não se lembrem mais”. Esse texto sobre os conselhos da mãe do rei Lemuel, e que no v.4 fala sobre o dever de um rei de se abster de vinho e bebidas fortes, pois seria perigoso para sua capacidade de julgar, assim como se aplicaria a qualquer pessoa do povo, pois o uso dessas bebidas seria apenas uma fuga temporária dos problemas da vida, nos versículos 6 e 7 nós podemos ver que seu uso estaria permitido no caso de moribundos (talvez para aliviá-los de uma dor intensa – “aos que perecem”) e para alegrar um pouco a alma dos que estivessem muito deprimidos e desanimados (“aos amargurados de espírito”), para que não se angustiassem tanto com suas aflições. Por isso, não seria de estranhar que essas bebidas fossem misturadas com a mirra para que pudessem suportar a dor da crucificação.

• Lc 23: 27: “Seguia-o numerosa multidão de povo, e também mulheres que batiam no peito e o lamentavam”.
• Mt 27: 34: “Deram-lhe a beber vinho com fel, mas ele, provando-o, não o quis beber”.
• Mc 15: 23: “Deram-lhe a beber vinho com mirra; ele, porém, não tomou”.

Uma informação sobre a mirra, antes de continuarmos:

Na farmacologia, a mirra tem sido usada como anti-séptico e como analgésico em linimentos aplicados em contusões, dores musculares e entorses. Algumas pessoas a usam para outros sintomas físicos, tanto respiratórios quanto digestivos, mas ainda não há comprovação científica em relação a isso. Há evidências que sugerem que certos compostos da mirra interagem com as vias centrais dos opióides no cérebro (fonte: wikipedia.org). Os opiáceos naturais como a morfina e a codeína são derivados da planta Papaver somniferum, popularmente conhecida como ‘papoula do oriente’ [ou ‘Papoila-dormideira’ – nota da wikipedia]. Um opiáceo semi-sintético, por exemplo, é a heroína, obtida da morfina através de uma pequena modificação química. As substâncias sintéticas produzidas em laboratório são chamadas de opióides (por exemplo: meperidina, o propoxifeno, a metadona) e todas têm um efeito analgésico (tiram a dor) e um efeito hipnótico (dão sono). Por ter estes dois efeitos estas drogas são também chamadas de narcóticas (fonte: ‘Ópio, opiáceos/opióides, morfina’ – CEBRID – Centro Brasileiro de Informações – UNIFESP). O que se sabe é que a mirra era usada pelos antigos egípcios para embalsamar múmias, e os judeus a usavam como um ungüento. Gregos e romanos a utilizaram em feridas e infecções (pelo seu efeito anti-séptico). Pesquisas foram feitas na Universidade de Florença e encontrou-se na mirra três compostos químicos chamados de sesquiterpenos (derivados do grupo dos terpenos), dois dos quais tiveram efeito analgésico em animais. O terceiro ainda se encontra em fase de pesquisa. Assim como na Antiguidade a mirra pode ter sido usada em analgesia (pela interação com as vias centrais dos opióides no cérebro), os recentes compostos derivados do ópio, como a morfina, passaram a ser substitutos dela como analgésico potente. É possível, então, que a mistura de vinho com mirra realmente tivesse um efeito de analgesia e entorpecimento.

Agora, eu gostaria de relatar uma experiência que eu mesma tive com óleo de mirra. Talvez venha a corroborar a hipótese da analgesia e do entorpecimento; uma espécie de experiência in vivo, posso dizer que melhor e mais confiável do que em animais, pois eles não podem contar o que sentem, eu sim. Eu era nova convertida e tinha ouvido pregações recentes na igreja sobre os óleos usados na bíblia e seus efeitos de cura, e acho que Deus permitiu que eu tivesse essa experiência para entender melhor, não apenas os efeitos de um óleo ungido, nesse caso a mirra, como também o poder do Seu sangue. Eu havia comprado um frasco de óleo de mirra na livraria evangélica e eu mesma orei sobre ele e o consagrei na minha casa. Não me lembro mais o que eu disse. Certa vez, eu estava ajoelhada perto da cama orando e senti uma coceira e uma erupção na pele do pescoço, provavelmente decorrente da picada de inseto. Peguei o óleo e passei no lugar, e a erupção estava próxima à artéria carótida. Só que eu friccionei um pouco mais. Então, a pele absorveu a mirra e a levou pela artéria até o meu cérebro. De repente, comecei a me sentir como se estivesse sendo anestesiada para uma cirurgia, com alteração da consciência, como se entorpecida. Rapidamente eu reagi, me levantei do chão, fui até a geladeira e peguei um suco de uva que eu costumava guardar em casa e orei, clamando pelo poder do sangue de Jesus. Eu passei o óleo sobre a erupção e orei de novo, repreendendo aquilo. Logo a seguir, tudo passou e minha consciência voltou ao normal. Isso não apenas me fez conhecer as qualidades farmacológicas da mirra, como também o poder espiritual do sangue de Jesus, quando o usamos com um propósito. Se você quiser crer no que estou lhe contando, poderá entender porque a mirra com vinho era oferecida aos condenados à cruz e porque Jesus a recusou: para sofrer o que que tinha que sofrer por nós, sem se entorpecer nem minimizar Seu sofrimento. Para mim, depois disso, não é mais necessária nenhuma experiência laboratorial com animais. Experimentei a mirra.

Voltando à crucificação de Jesus:

Parece mais provável que as mãos eram cravadas à antenna (ou patibullum), primeiro a da direita e, então, a da esquerda, com os cravos agudos de 11 a 18 cm (cravi trabales) estando a vítima deitada, e depois o patibullum era levantado e pregado à trave vertical (stauros). Não havia descanso para os pés, mas um pegma (em grego), cornu ou sedile (em latim), era colocado no punho para impedir que as mãos fossem rasgadas e o corpo caísse. Era um pedaço de madeira colocado entre a mão e o prego cravado no punho. Os braços da pessoa não eram amarrados com cordas à trave horizontal, apenas os pregos sustentavam o corpo. Os braços podiam ficar mais ou menos estendidos. Se ficassem mais estendidos, a morte era mais rápida; se ficassem mais dobrados, a morte geralmente era mais lenta. A pessoa tinha que fazer um movimento para cima de tempos em tempos para poder respirar, pois o peso do corpo puxando-a para baixo dificultava a respiração, e a morte ocorria por asfixia. Também a perda de sangue era um fator a ser levado em conta porque a cada movimento que o condenado fazia para erguer o corpo a fim de poder respirar, suas costas já feridas pelo chicote se arranhavam no contato com a madeira áspera.

Havia outra possibilidade, além dessa de içar o patibullum e depois encaixá-lo à trave vertical. Às vezes a pessoa era pregada na posição deitada tanto na trave horizontal como na vertical e depois todo o conjunto de madeira era levantado. Nem sempre o condenado era pregado numa cruz de madeira serrada e montada para este fim. Como os romanos executavam muitas pessoas dessa forma e não havia tanta madeira disponível na Judéia para se fazer isso, na maioria das vezes os condenados à morte de cruz eram pregados em árvores e, dependendo das circunstâncias, várias pessoas poderiam ser pregadas numa mesma árvore, se seus ramos fossem propícios para isso.


Colocação dos pregos nas mãos


Os pés do condenado não eram pregados um sobre o outro, mas os pregos eram cravados nas laterais dos pés, próximo aos calcanhares, e da mesma forma que nas mãos, um pedaço de madeira era usado para ajudar na fixação ao poste vertical. Isso pode ser confirmado pelos achados arqueológicos de ossos de um jovem crucificado no primeiro século da era cristã, em cujo ossuário se encontrou os ossos do seu pé com um prego atravessando-o lateralmente e alguns fragmentos de madeira presos a ele. Talvez por isso a bíblia tenha escrito: “Porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente. Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3: 15).


Colocação dos pregos nos pés

Pregos colocados nos pés

Os pés presos na cruz

Pés – achado arqueológico


Outro detalhe sobre a crucificação é que a cruz não era muito alta e nem era comum se crucificar os criminosos em colinas, mas a cruz era geralmente de pouca altura (Uma esponja num galho de hissopo com vinagre Lhe foi oferecida – Jo 19: 29 – não na ponta de uma lança), e colocada em lugares visíveis aos transeuntes. Por isso, os quatro evangelhos sinóticos não falam que o Calvário ou Gólgota estava situado numa colina; eles apenas dizem que Jesus foi crucificado num lugar chamado Gólgota, que em hebraico significa ‘Lugar da Caveira’:

• Mt 27: 33-34: “E, chegando a um lugar chamado Gólgota, que significa Lugar da Caveira, deram-lhe a beber vinho com fel; mas ele, provando-o, não o quis beber”.
• Mc 15: 22: “E levaram Jesus para o Gólgota, que quer dizer Lugar da Caveira”.
• Lc 23: 33: “Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali o crucificaram, bem como aos malfeitores, um à direita, outro à esquerda”.
• Jo 19: 17-18: “Tomaram eles, pois a Jesus; e ele próprio, carregando a sua cruz, saiu para o lugar chamado Calvário, Gólgota em hebraico, onde o crucificaram e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio”.


Mapa de Jerusalém nos tempos de Jesus


Não se conhece o sítio exato do Calvário ou Gólgota (Γολγοθα, em grego. Em hebraico: gulgōlet – גולגולת). Todos os marcos foram destruídos no cerco de Jerusalém, sendo incerta a identificação. O lugar da execução era fora dos muros da cidade (Dt 16: 3-8 cf. Hb 13: 10-13), mas perto dela (Jo 19: 20) e de uma estrada de muito tráfego, acessível às pessoas (Mt 27: 39; Mc 15: 29). As opiniões se dividem hoje entre o local tradicional da Igreja do Santo Sepulcro, ou o Calvário de Gordon, exatamente ao norte da Porta de Damasco. Calvário (latim) ou Gólgota (aramaico) significa “Lugar da Caveira”. O lugar foi assim chamado ou por causa da configuração do terreno, que tinha a aparência de uma caveira. Charles George Gordon (1833–1885) foi um oficial da marinha real inglesa e administrador do exército britânico, que visitou a Palestina e fez pesquisas sobre o possível local da crucificação de Jesus. Ele endossou a visão de um teólogo alemão e estudioso bíblico de Dresden chamado Otto Thenius, que em 1842 publicou uma proposta de que a colina rochosa ao norte do portão de Damasco era o Gólgota bíblico, embaixo de um penhasco que contém dois grandes buracos afundados, e que Gordon considerava como os olhos de um crânio. Perto, há uma antiga tumba talhada em pedra conhecida hoje como ‘a tumba do jardim’ ou ‘Calvário de Gordon’, que Gordon propôs como a tumba de Jesus, mas depois descoberto pelos arqueólogos como sendo do século VII AC, junto com várias outras tumbas antigas, e abandonadas no século I EC.


Igreja do Santo Sepulcro

A tumba do Jardim


Uma esponja num galho de hissopo com vinagre Lhe foi oferecida:
Jo 19: 29: “Estava ali um vaso cheio de vinagre. Embeberam de vinagre uma esponja e, fixando-a num caniço de hissopo, lha chegaram à boca”. A esponja estava presa num galho de hissopo, não na ponta de uma lança, o que fala a favor da pouca altura da cruz em relação ao chão.

O hissopo é símbolo de purificação, por isso Davi disse no Sl 51: 7: “Purifica-me com hissopo, e ficarei limpo; lava-me, e ficarei mais alvo que a neve”.

Em referência ao poder purificador do hissopo, nós vimos que, nos momentos finais da vida de Jesus, quando estava na cruz, num grau extremo de desidratação, Ele disse: “Tenho sede!” Então, alguém molhou uma esponja no vinagre, fixando-a num ramo de hissopo e Lha deu para beber. Foi, na verdade, um ato de misericórdia, pois o corpo de Jesus, em face da desidratação e do vinagre, morreria. Ao receber a esponja no galho de hissopo e beber dela, Jesus expirou, significando que a purificação da humanidade estava consumada. O Seu sacrifício tinha chegado ao fim e a lepra (pecado) do mundo estava limpa. O texto diz: “Depois, vendo Jesus que tudo já estava consumado, para se cumprir a Escritura disse: Tenho sede! Estava ali um vaso cheio de vinagre. Embeberam de vinagre uma esponja e, fixando-a num caniço de hissopo, lha chegaram à boca. Quando, pois Jesus, tomou o vinagre, disse: Está consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito” (Jo 19: 28-30).

Voltando à cruz, por esse método a morte era usualmente bastante prolongada, raramente ocorrendo antes de 36 horas, e em certas ocasiões levava até nove dias, por isso o centurião e quatro guardas foram postos de guarda para impedir a retirada de Jesus da cruz (Jo 19: 23). Mas Jesus ficou na cruz por seis horas, tanto é que Pilatos estranhou que já tivesse morrido (Mc 15: 44). Foi crucificado à hora 3ª (9h: Mc 15: 25) e morreu à hora 9ª (15h: Mc 15: 34; 37). Foi retirado da cruz ao cair da tarde, antes das 18h para não profanar o shabbat (Mc 15: 42-46). Outro motivo pelo qual Jesus foi retirado da cruz pode ser encontrado em Dt 21: 22-23: “Se alguém houver pecado, passível da pena de morte, e tiver sido morto, e o pendurares num madeiro, o seu cadáver não permanecerá no madeiro durante a noite, mas, certamente, o enterrarás no mesmo dia; porquanto o que for pendurado no madeiro é maldito de Deus; assim, não contaminarás a terra que o Senhor, teu Deus, te dá em herança” (cf. Js 10: 27). O homem que fosse executado por pena de morte era maldito de Deus e deveria ser enterrado no mesmo dia (cf. Gl 3: 13).

A dor era obviamente intensa, visto que o corpo inteiro ficava sujeito a tensões, enquanto que as mãos e pés, que são massas de nervos e tendões, perdiam pouco sangue. Entretanto, a presença dos pregos próximos aos nervos dos punhos e dos pés provocavam intensas dores nevrálgicas. Depois de algum tempo, o sangue era desviado para as artérias da cabeça e do estômago e ficavam dilatadas, causando dores abdominais e uma dor de cabeça lancinante; eventualmente, a febre e o tétano se manifestavam. Quando, por qualquer razão, era proposto livrar a vítima de seus intensos sofrimentos antes do fim, como que para compensá-la com o sofrimento abreviado, as pernas eram quebradas com golpes de cacete ou martelo (crurifragium ou skelocopia), e o golpe de misericórdia era dado com uma espada ou lança, usualmente no lado da vítima (perforatio subalas). Com o ato de quebrar as pernas, a pessoa não poderia fazer o movimento de elevação do corpo para respirar e morria por asfixia. Como foi visto anteriormente, o cordeiro pascal não poderia ter nenhum osso quebrado (Êx 12: 46; Nm 9: 12; Sl 34: 20; Jo 19: 36), como Jesus não teve nenhum dos Seus ossos quebrados.

Outro fator que ocorria na cruz, como foi dito acima, era a desidratação (Jo 19: 28). Devemos pensar que Jesus estava realmente desidratado pela quantidade de sangue que perdera e por estar sem se alimentar e sem beber água desde a noite anterior na ceia. Por isso, existia vinagre ao lado da cruz: para acelerar a morte do crucificado (Jo 19: 29; Sl 69: 21). No Sl 22: 15 podemos ver uma referência ao grau extremo de desidratação provocada pelos flagelos: “Secou-se o meu vigor, como um caco de barro, e a língua se me apega ao céu da boca; assim, me deitas no pó da morte”.

Jesus tinha consciência de que passaria por todo esse sofrimento, mas que não seria em vão, pois, através dele, Sua obra de redenção seria completa (Is 53: 11: “Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si”).

Só após o sofrimento físico da crucificação, o sofrimento emocional das zombarias dos que ali estavam e o sofrimento espiritual da separação do Pai pela treva dos pecados da humanidade, que Ele carregou sobre si, é que o Senhor pôde dizer: “Está consumado!” (Jo 19: 30), ou seja, “foi e será para sempre consumado (‘tetelestai’ – τετελεσται em grego = ‘está consumado’, ‘totalmente pago’; no caso de pagamento de dívidas, por exemplo, significa: liquidado)”. Ele realizou na cruz o que veio realizar no mundo.

Todos os tipos de pecado que pode haver sobre a face da terra estavam presentes ali naqueles ferimentos. Quando pensamos nisso, fica até difícil de compreendermos como um homem de carne e osso poderia suportar aquilo se também não fosse Deus? A cor de Sua alma estava tão feia por causa dos nossos pecados que até Deus desviou o rosto dEle, por isso Ele gritou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27: 46; Mc 15: 34; Sl 22: 1).

Se prestarmos atenção ao que está escrito nos evangelhos, houve escuridão sobre a terra desde a hora sexta até a hora nona, ou seja, das 12:00 às 15:00 (Mt 27: 45; Lc 23: 44), e Jesus foi crucificado às 9:00, ou seja, a hora terceira (Mc 15: 25). Isso quer dizer que Jesus ficou na cruz por seis horas, sendo que nas primeiras três horas Ele esteve debaixo da zombaria dos homens e de Satanás e as três horas finais foram reservadas para suportar o castigo, a ira divina sobre si pelos pecados da humanidade. Isso nos mostra o tamanho do sofrimento de Jesus e o tamanho da ira de Deus em relação aos homens pelos seus pecados. É como se por três horas Jesus fosse o cordeiro sacrificado no altar e consumido com fogo até que tudo se tornasse apenas cinzas. Por isso, Ele disse antes de expirar: “Está consumado!” E isso nos traz plena certeza de que toda a ira de Deus foi consumada na cruz e toda a salvação do homem também foi completada ali, o que nos mostra que Jesus não teve que ir ao inferno, como algumas doutrinas cristãs pregam, baseadas em 1 Pe 3: 18-19 (é bom entender o contexto em que isso foi escrito).

Quer mais? Lucas escreve o que Jesus disse ao malfeitor arrependido ao Seu lado: “E acrescentou [o homem disse]: Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino. Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lc 23: 42-43). Se Jesus lhe disse isso, para que ficaria no inferno? Se o ladrão arrependido, como um ser pecaminoso recebeu a redenção naquele momento e sua alma foi para o céu naquele mesmo dia como as almas de todos os justos que crêem nem Jesus, por que a alma do próprio Jesus desceria ao inferno? Se Ele consumou Sua missão na cruz (“Está consumando!” Ele não disse: “Ainda será completado!”) e Deus Pai consumou Sua ira pelos pecados da humanidade ali, podemos pensar que o espírito de Jesus foi para o céu, pois o espírito de todo ser humano pertence a Deus (Jó 12: 10; Ec 12: 7; Sl 146: 4) e volta para Ele. Sua alma, como a do ladrão, foi para o céu como a de um homem justo (Ez 18: 4 – todas as almas também pertencem a Deus), Seu corpo ficou no túmulo, cumprindo a profecia de que Ele não veria a corrupção, ou seja, não se deterioraria; e no terceiro dia Ele ressuscitou e se mostrou aos homens na terra. Só depois da Sua ascensão retomou Sua posição de glória ao lado do Pai. O ser humano decaído tem uma atração pelo feio e até fantasias horripilantes ele faz ao redor da missão redentora de Jesus na cruz. Cuidado! O inferno não é um atraente filme de terror que se assiste e depois se esquece; é muito pior do que isso.


Jesus, o cordeiro sacrificado no altar

Fonte da imagem: desenho animado – ‘King of Glory’ (‘Rei da Glória’) © 2021 ROCK International – e eu digo: “Difícil imaginar um amor assim, que suportou tamanho castigo por seres tão imperfeitos e pecaminosos!”

Em segundo lugar, durante todo o processo de crucificação Jesus esteve consciente, tanto fisicamente quanto espiritualmente. Seu cérebro estava alerta e consciente, completamente desperto. Estou dizendo isso porque apesar dos sofrimentos que Ele passou desde o Getsêmani até a crucificação, Jesus não teve um choque hipovolêmico por desidratação nem por causa da perda de sangue; tampouco um choque cardiogênico, como muitas vezes certos estudiosos tentam explicar, pois isso o faria perder a consciência. Ele, então, não poderia ter falado tudo o que falou durante aquelas seis horas a Maria, a João, aos soldados, aos malfeitores e ao Pai. Ele sabia o que estava fazendo e falando.


Cruz


Um evento sobrenatural que pode ser mencionado durante a crucificação de Jesus foi a escuridão mencionada nos evangelhos (Mt 27: 45; Mc 15: 33; Lc 23: 44) e que ocorreu do meio-dia às três horas da tarde. Muitas pesquisas históricas foram feitas para explicar esse evento, inclusive a possibilidade de um eclipse solar, mas isso seria impossível, pois além de nenhum historiador da época ter presenciado o fato nem escrito sobre isso, a Páscoa judaica é comemorada a partir do pôr do sol do 14º dia do mês de Nisã (março-abril), que é quando começa a primeira lua cheia do equinócio de primavera, no Hemisfério Norte (ou equinócio de outono, no Hemisfério Sul). Equinócio é quando a inclinação do eixo e a direção da órbita são perpendiculares, ou seja, quando o sol, no seu movimento anual aparente (como visto da Terra) corta o equador celeste, ocasiões em que o dia e a noite duram o mesmo tempo. Um eclipse solar ocorre quando a lua se interpõe entre a Terra e o sol, ocultando total ou parcialmente a sua luz. E isso é mais comum de acontecer na fase da lua nova, quando a lua é invisível a partir da Terra. Uma lua cheia está sendo iluminada pelo sol em oposição a ela, pois é a Terra que se coloca entre a lua e o sol. Assim, a escuridão descrita na bíblia durante a morte de Jesus foi, sim, um evento sobrenatural de Deus, não um evento astronômico. Deus Pai afastou-se do próprio Filho pelo tamanho de trevas de pecado sobre Ele.


crucificação de Jesus – eventos


Quando Jesus entregou Seu espírito ao Pai e clamou com alta voz e expirou (Mt 27: 50; Lc 23: 46; Mc 15: 37 – ‘um grande brado’), o véu do santuário se rasgou em duas partes, de alto a baixo (Mt 27: 51; Mc 15: 38; Lc 23: 45), houve um terremoto e os santos mortos (os daquela geração provavelmente) ressuscitaram (Mt 27: 52), mas só entraram na cidade depois da ressurreição de Jesus, uma vez que Ele é o primeiro da ressurreição dos mortos, ‘as primícias dos que dormem’ – At 26: 23; 1 Co 15: 20. O véu do templo foi rasgado pelas mãos de Deus, não pelas mãos de homens, o que também foi um sinal sobrenatural para os sacerdotes judeus que presenciaram aquilo.


O véu do templo se rasgou


Ao ver todos esses eventos, o centurião e os soldados que estavam em frente à cruz reconheceram que Jesus era realmente Filho de Deus (Mt 27: 54; Mc 15: 39 menciona apenas o centurião, que disse: “Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus”; e Lc 23: 47 escreve que o centurião deu glória a Deus e disse: “Verdadeiramente, este homem era justo”). Vivendo entre os judeus há um tempo, muito provavelmente esse centurião já estava crendo em Jesus, tanto é que foi sensível a todos aqueles eventos e pôde dizer essa frase. Talvez, mais um detalhe que deve ter surpreendido o centurião ali presente, e que com certeza já havia presenciado outras crucificações antes, foi o fato de Jesus ter clamado em alta voz (ou com alto brado), uma reação inesperada da parte de um crucificado: ferido, enfraquecido, desidratado, com dores e prestes a morrer por asfixia. Como alguém quase sem poder respirar poderia clamar a Deus em altos brados?

Portanto, todos os eventos que ocorreram desde a prisão de Jesus no Getsêmani, sem nenhuma resistência de Sua parte e ainda curando a orelha do servo que foi decepada por Pedro; Seu julgamento por Caifás, Pilatos e Herodes, onde Ele se manteve calado e não fez nada para se defender; Seu comportamento submisso nas mãos dos soldados romanos no Pretório e Sua atitude de perdão para com os que O crucificaram, sem contar os eventos sobrenaturais da natureza, tudo isso seria suficiente para convencer qualquer um da Sua divindade e da Sua missão expiatória e salvadora da humanidade, o que foi profetizado em Is 52: 13-15: “Eis que o meu Servo procederá com prudência; será exaltado e elevado e será mui sublime. Como pasmaram muitos à vista dele (pois o seu aspecto estava mui desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a sua aparência, mais do que a dos outros filhos dos homens – a NVI escreve: “sua aparência estava tão desfigurada, que ele se tornou irreconhecível como homem; não parecia um ser humano”), assim causará admiração às nações, e os reis fecharão a sua boca por causa dele; porque aquilo que não lhes foi anunciado verão, e aquilo que não ouviram entenderão”. Apenas essa descrição de Isaías sobre o Messias é suficiente para descrever o grau do Seu sofrimento e converter os céticos das Suas intenções para com o ser humano.

Como era o sepultamento naquela época?

No NT, o cadáver era lavado e, a seguir, ungido (Mc 16: 1; Jo 19: 39; Lc 23: 56), envolto em faixas de linho impregnadas com especiarias (Mc 14: 8; Jo 19: 40). Finalmente, os membros eram amarrados e o rosto coberto com um lenço (Jo 11: 44; Jo 20: 7). Explicando mais detalhadamente, o corpo era colocado sobre uma laje, lavado minuciosamente pelas mulheres com água, azeite e perfumes, incluindo cabelos e unhas, bem escovadas. Depois começava o processo de bandagem, ou seja, um conjunto de faixas envolvendo o corpo do pescoço para baixo, os membros separadamente, e outro grupo de faixas na cabeça, sobre a qual se colocava um lenço (Jo 11: 44; Jo 20: 7). Esse processo demorava de 7 a 8 horas e não era feito à noite. O corpo, assim preparado era colocado numa das câmaras. Depois de um ano ou mais, os ossos eram colocados em ossuários e depositados nos vãos da rocha. Os sepulcros eram pequenos e não cabiam muitas pessoas lá dentro para o processo de colocar as faixas. Também era escuro, por isso havia um lugar na rocha onde se colocava uma lamparina. No caso de Jesus, esse trabalho foi interrompido por causa do Shabbat. Por isso, os evangelistas descrevem apenas que Jesus foi envolto com um lençol de linho, mas não enfaixado (Jo 19: 40; Jo 20: 4-8; Lc 23: 53; Mc 15: 46; Mt 27: 57-60).


O túmulo nos tempos de Jesus

As câmaras onde o morto era depositado


É interessante notar o que a bíblia relata sobre os lençóis que envolveram Jesus e como eles foram encontrados por Pedro e João na manhã de Domingo, após Sua ressurreição. Em Jo 20: 4-8 está escrito: “Ambos correram juntos, mas o outro discípulo correu ainda mais depressa do que Pedro e chegou primeiro ao sepulcro; e, abaixando-se, viu os lençóis de linho; todavia, não entrou. Então, Simão Pedro, seguindo-o, chegou e entrou no sepulcro. Ele também viu os lençóis, e o lenço que estivera sobre a cabeça de Jesus, e que não estava com os lençóis, mas deixado num lugar à parte [NVI: ... bem como o lenço que estivera sobre a cabeça de Jesus. Ele estava dobrado (Strong #1794, entulissó, ἐντυλίσσω) à parte, separado das faixas de linho]. Então, entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu, e creu”.

Isso significa que houve algo sobrenatural ali. O fato de o lenço que envolvera o rosto estar separado dos lençóis ou do pano limpo de linho que José de Arimatéia envolveu o corpo de Jesus (Mt 27: 57-60) significa que ninguém tinha entrado ali rapidamente para roubar o corpo do Mestre, antes que os soldados romanos notassem. Houve um ato cuidadoso e deliberado de dobrar ou enrolar o lenço que cobria a cabeça e deixá-lo num lugar à parte. ‘Dobrado’ (Strong #1794, entulissó, ἐντυλίσσω) significa, em grego: embrulhar, enrolar, envelopar. Entulissó se origina de ‘en’ e ‘tulisso’ (torcer; provavelmente semelhante a ‘heilisso’): entrelaçar (enrolar), ou seja, enrolar, encerrar, acabar; embrulhar (juntos). E os lençóis não estavam colocados de qualquer jeito, como que desenrolado às pressas, mas como se o Senhor estivesse passado por entre eles; elas estavam do jeito que tinham envolvido Jesus. Mesmo porque Mateus escreve: “E eis que houve um grande terremoto; porque um anjo do Senhor desceu do céu, chegou-se, removeu a pedra e assentou-se sobre ela. O seu aspecto era como um relâmpago, e a sua veste, alva como a neve. E os guardas tremeram espavoridos e ficaram como se estivessem mortos... E, indo elas [as mulheres que viram Jesus ressuscitado], eis que alguns da guarda foram à cidade e contaram aos principais sacerdotes tudo o que sucedera. Reunindo-se eles em conselho com os anciãos, deram grande soma de dinheiro aos soldados, recomendando-lhes que dissessem: Vieram de noite os discípulos dele e o roubaram enquanto dormíamos. Caso isto chegue ao conhecimento do governador, nós o persuadiremos e vos poremos em segurança. Eles, recebendo o dinheiro, fizeram como estavam instruídos. Esta versão divulgou-se entre os judeus até ao dia de hoje”. Se os guardas que presenciaram isso foram instruídos a mentir é porque houve um evento espiritual muito impactante para eles e que muitos incrédulos quiseram abafar.


Ressurreição de Jesus

As mulheres presentes na crucificação e na ressurreição de Jesus

A respeito da crucificação de Jesus, a bíblia descreve a presença de quatro mulheres (Mt 27: 56; Mt 28: 1-10; Mc 15: 40; Jo 19: 25): a) Maria, a mãe de Jesus. b) Maria (‘a outra Maria’, como é conhecida), mãe de Tiago, o Menor, e José, chamada de ‘a mulher de Clopas’ (também conhecido como Alfeu – Mt 10: 3; Mc 3: 18; Lc 6: 15). c) Maria Madalena e d) a irmã de Maria (Jo 19: 25 cf. Mt 27: 56 e Mc 15: 40 – Salomé), mulher de Zebedeu e mãe de Tiago e João, primos de Jesus (cf. Mc 1: 19).

Na ressurreição de Jesus, a bíblia descreve a presença de várias mulheres: Maria Madalena (procedente de Magdala ou Magadã e liberta de sete demônios) e as mulheres que seguiam Jesus desde a Galiléia [Lc 23: 55 e Lc 24: 1-12: ‘Maria Madalena, Joana, Maria, a mãe de Tiago, o menor, e outras’, entre elas Suzana. Joana era mulher de Cuza, oficial responsável de Herodes Antipas, traduzido por ‘chanceler’, ‘procurador’ ou ‘mordomo’. Segundo a bíblia, essas mulheres que o seguiam prestavam assistência a Jesus com seus bens (Lc 8: 3)]. A bíblia fala em Mt 28: 1-10 sobre as mulheres que viram Jesus ressurreto: Maria Madalena e ‘a outra Maria’, a mãe de Tiago, o menor. Em Mc 16: 1-11, ela menciona Maria Madalena, Salomé e Maria, mãe de Tiago, o menor. E em Jo 20: 1-18 a bíblia relata o aparecimento do Senhor a Maria Madalena.

Este texto se encontra no livro:


livro evangélico: Cruz, sacrifício único ou diário?

Cruz, sacrifício único ou diário? (PDF)

Cross, single or daily sacrifice? (PDF)



Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti

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