A igreja em Éfeso (Ap 2: 1-7), uma das sete igrejas da Ásia Menor para quem João escreveu suas cartas, era trabalhadora e fiel, mas perdeu o ‘primeiro amor’ ao Senhor, por influência dos falsos ensinos e falsos mestres.

The church in Ephesus (Rev. 2: 1-7), one of the seven churches in Asia Minor to which the apostle John wrote his letters, was a hardworking and faithful church, but lost her ‘first love’, due to false teachings and false teachers.


Igreja em Éfeso




Esses estudos sobre as sete igrejas da Ásia Menor estão vinculados aos estudos sobre o livro de Apocalipse capítulos 2 e 3.

“Ao anjo da igreja em Éfeso escreve: Estas coisas diz aquele que conserva na mão direita as sete estrelas e que anda no meio dos sete candeeiros de ouro: Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer. Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas. Tens, contudo, a teu favor que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus” (Ap 2: 1-7).

Éfeso significa: desejável. Era um grande centro comercial, cultural e religioso da Ásia e que, atualmente, corresponde à Turquia. A cidade tinha um ótimo porto, que servia como centro exportador e como uma escala natural para quem viajava para a capital do Império, Roma. Ela hoje se encontra em desabitada e em ruínas; continua sendo escavada e é provavelmente a maior e mais impressionante ruína da Ásia Menor. A parte principal da cidade tinha teatro, banhos públicos, bibliotecas, mercado e ruas calçadas de mármore. O povoado inicial da Anatólia (atual Turquia), onde se localizava Éfeso no século I, se iniciou há muitos séculos, mas foi aumentado no século XII AC por colonos jônicos (gregos). A antiga deusa de Éfeso adquiriu o nome de Ártemis, mas manteve suas características primitivas da fertilidade (por isso, sempre representada como uma figura dotada de muitos seios). A deusa Ártemis (Artemísia, em Grego) também era a deusa da lua e da caça.

Em 560 AC, Éfeso foi conquistada por Creso (rei da Lídia); mas em 547 AC passou para as mãos dos persas. Em 365 AC o templo de Diana sofreu um grande incêndio, mas foi reedificado. Foi destruído pelos Godos em 260 DC. A cidade não teve uma grande história até 133 AC, quando passou a fazer parte do reino de Pérgamo, que Atalo III acabou entregando para Roma. Pérgamo continuou a ser a capital titular da Província Romana da Ásia, porém Éfeso também continuou a ser a cidade mais importante com uma população de mais ou menos 333.000 habitantes.

Ali, a prática religiosa mais comum era o culto a Ártemis, também conhecida como Diana pelos romanos, o nome latino da Rainha dos Céus (Jr 7: 18; Jr 44: 17; 18; 19; 25) ou Ísis (também chamada pelos fenícios de Astarte ou Aserá).

Havia uma numerosa colônia judaica em Éfeso, e os judeus desfrutavam de uma posição privilegiada durante o início do Império. O cristianismo provavelmente chegou a Éfeso através de Áquila e Priscila em 52 DC, quando Paulo fez uma breve visita àquela cidade na sua segunda viagem missionária (At 18: 18-19), deixando-os ali. Em At 19: 10, na sua 3ª viagem missionária, Paulo passou dois anos ensinando na escola de Tirano (um habitante de Éfeso, provavelmente um retórico), e foi lá que houve o tumulto entre Paulo, Demétrio e o povo grego da cidade (At 19: 23-40). Os milagres que Deus fazia por seu intermédio causaram impacto nas pessoas idólatras, fazendo com que confessassem seus pecados e denunciassem publicamente suas obras; e os que praticavam artes mágicas reuniram seus livros e os queimaram em praça pública, a palavra do Senhor se divulgou e cresceu na Ásia (At 19: 18-20). Paulo enviou Timóteo para Éfeso como pastor (1 Tm 1: 3) e escreveu para eles durante a sua prisão em Roma, falando-lhes sobre fé e amor. Logo depois, o apóstolo João exerceu jurisdição naquele local sobre as sete igrejas principais da Ásia Menor.

Mas depois de 40 anos a geração inicial já não estava mais na liderança da igreja. A igreja sofria agora a influência de muitos falsos ensinos e era perturbada por muitos falsos mestres; sem falar em Domiciano, que era o imperador naquela época e perseguia duramente os cristãos. Dessa forma, a igreja primitiva de Éfeso, debaixo de tantas influências pagãs e já quase sem a força espiritual para romper com os velhos costumes gregos, foi aos poucos perdendo o primeiro amor, ou seja, a chama inicial do avivamento foi se esfriando.

Quando João escreveu sua carta a Éfeso por ordem de Deus, ele dizia que o Senhor reconhecia neles o labor, a perseverança, sua oposição aos nicolaítas, sua justiça em relação à liderança na igreja (pondo à prova os que a si mesmos se declaravam apóstolos e não eram; não deixava ali as heresias dos que vinham de fora), sua resistência diante das perseguições e provas, entretanto, pedia do Seu povo o arrependimento sincero e o retorno ao avivamento, senão Ele removeria o candeeiro dali, isto é, unção do Espírito Santo; em outras palavras, Sua própria presença entre eles.

O termo ‘nicolaítas’ tem origem controversa. Presume-se que Nicolau de Antioquia (At 6: 5 – escolhido no início da formação da Igreja como diácono), supostamente, teria dado o seu nome a um grupo dentro dela que procurava entrar em compromisso com o paganismo, a fim de permitir que os cristãos participassem sem embaraço em algumas atividades sociais e religiosas da sociedade pagã na qual se encontrava. A orientação da seita seria semelhante à de Balaão, o corruptor de Israel no Antigo Testamento (Números – capítulos 22, 23 e 24): comerem coisas sacrificadas a ídolos e praticarem a prostituição ou a frouxidão sexual no seio da Igreja. Por isso, Deus menciona não apenas a Sua desaprovação a este tipo de prática, como elogia a igreja de Éfeso por ter se oposto à seita também.

Resumindo: Éfeso dava valor à verdadeira doutrina, não compactuava com o pecado dos seus membros, suportava as adversidades, tinha trabalho e perseverança, mas não havia mais amor a Jesus naquilo que ela fazia; ela perdeu o amor ao seu Redentor. E Deus falava para ela se arrepender e voltar à prática das primeiras obras, caso contrário, Ele removeria dali o candeeiro. A igreja defendia a verdade intelectual da doutrina, mas sem associação com a vida prática; não havia mais piedade no que fazia. Estava árida. Jesus pedia apenas que ela associasse a doutrina ao amor, por isso Ele disse: “Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras”, ou seja, ‘lembra-te do passado, onde vocês tiveram mais intimidade comigo e onde começaram a esfriar’. Voltar à prática das primeiras obras significava: não desestimular, não desencorajar, e voltar na direção da restauração.

Além da exortação divina ao retorno das práticas cristãs do início, Ele fala que o prêmio para os que conseguissem superar esse tipo de situação que estava ocorrendo na comunidade seria se alimentar da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus, simbolizando não apenas a vida eterna, mas também no presente, a verdade de Jesus em contraposição com os falsos ensinos e com a idolatria, até com o legalismo, com o perfeccionismo e com a religiosidade. Agindo corretamente, Éfeso seria novamente desejável para Ele. Éfeso, porém, não mudou de atitude, não conseguiu reavivar o fervor do começo e deixou de existir.

Nossa motivação para o trabalho deve ser o amor a Jesus, senão, de nada vale a ortodoxia doutrinária. A racionalidade excessiva e o desejo de servir a Deus com rigidez e perfeccionismo bloqueiam as emoções, e logicamente o amor, esfriam a chama do Espírito, trazem morte espiritual.


Estátua de Ártemis

Ruínas de Éfeso

Fachada da biblioteca Celsus, em Éfeso


Imagens acima:
• Estátua de Artemis, século I DC, recuperada do templo da deusa em Éfeso; hoje no Museu Arqueológico de Éfeso. Foto: Metuboy. Wikipédia.
• Cena de rua nas escavações arqueológicas em Éfeso. Éfeso (grego Ἔφεσος; em turco: Efes) era uma antiga cidade grega na costa oeste da Anatólia, perto da atual Selçuk, dois quilômetros a nordeste da antiga cidade de Éfeso, na província de Izmir. Foto: Ad Meskens. Wikipédia.
• Fachada da biblioteca Celsus, em Éfeso, perto de Selçuk, na Turquia. Foto: Benh LIEU CANÇÃO. Wikipédia.

Como podemos trazer isso para os nossos dias?

Infelizmente, muitas igrejas começam debaixo do avivamento espiritual, mas ao longo da sua caminhada deixam minar a chama do ‘primeiro amor’. Tanto membros quanto líderes transformam o culto e as orações numa triste rotina, cessando a verdadeira comunhão com o Espírito Santo. Embora se opondo às práticas impuras mescladas com o evangelho, suportando as provas e oposições, fazendo obras sociais e colocando à prova os falsos ensinos e os falsos profetas, embora fazendo força para permanecer na doutrina original, buscando a santidade e não se envolvendo com os modismos do mundo, não conseguem mais reatar a pureza original, pois o amor que movia seus corações a fazerem a obra foi conspurcado pelas influências externas, pelo medo de se desenvolver espiritualmente e experimentar algo novo da parte de Deus; ou pelo perfeccionismo da carne, querendo agradar a Deus pelas próprias forças; ou ainda pela religiosidade e pela vontade própria de andar em retidão e aplicar a palavra de Deus ao pé da letra; talvez por medo das manifestações espirituais do Espírito Santo se deixaram tomar pela razão, sem permitir que Ele toque profundamente nos corações; ou porque o excesso de luta e resistência ao mal acabou tirando a motivação e levou à acomodação. Com medo de mudar, de se reciclar e renovar a unção; com medo de cair no pólo pecaminoso e licencioso se opta pela estagnação e pela ortodoxia. Seja qual for o argumento, Deus não se agrada da triste rotina religiosa que impede o Seu Espírito de agir. Na verdade, o radicalismo é um empecilho às novidades de Deus e também não leva a comunidade a lugar algum. Entretanto, o que Deus quer dizer é que não adianta vagarmos pelos extremismos da moral, quando o coração já não vê mais graça em estar, de verdade, na presença do Senhor.

O ativismo da carne dá uma falsa impressão de movimento, de produtividade, de exercício correto da espiritualidade, pensando que isso agrada a Deus.

Qualquer coisa que ocupe o lugar prioritário de Jesus na nossa vida é um motivo para se apagar a chama do ‘primeiro amor’ nos corações, por isso Ele orienta o Seu povo a se arrepender do que os fez esfriar espiritualmente, caso contrário, a unção pode ser retirada do meio daquela comunidade.

Em Éfeso, o prêmio para os que resistissem a esse tipo de comportamento era se alimentar da árvore da vida que estava no paraíso de Deus. No Éden, Adão e Eva tinham permissão para comer da árvore da vida, em contraposição à árvore do conhecimento do bem e do mal, que era proibida a eles. Isso quer dizer que os que se voltam para as práticas sadias do evangelho como buscar o Senhor de coração íntegro, abandonar completamente o pecado e as antigas obras da carne e amar seu semelhante, mas deixar que Ele conduza as coisas e não seu próprio ego, esses passam a ter uma intimidade renovada com a ‘árvore da vida’ que é Jesus; assim, retomam o aprendizado da Palavra baseado na verdade divina de maneira prática, motivada e cheia de vida.

Isso nos faz pensar em muitas coisas que estamos praticando e que precisam ser mudadas para que a chama do ‘primeiro amor’ volte a estar acesa. Tudo tem um ingrediente básico que é a simplicidade do evangelho que havia no início da Igreja Primitiva, aceitando as coisas de Deus como as crianças aceitam. Éfeso necessitava recordar de tudo o que sentiu ao iniciar a obra de Deus, quando seus membros experimentaram o verdadeiro avivamento; precisavam retomar novamente esta postura.


Localização das sete igrejas e Patmos


Fontes de pesquisa:
• O Novo Dicionário da Bíblia – J. D. Douglas – edições vida nova, 2ª edição 1995.
• Rev. Hernandes Dias Lopes – Primeira Igreja Presbiteriana de Vitória (‘Estudo em Apocalipse’ – pregações online).
• Wikipedia.org
• Fonte para a maioria das imagens: wikipedia.org; Filme: ‘O Apocalipse’ (‘The Apocalypse’) – Coleção: A Bíblia Sagrada.

Este texto se encontra nos livros:


O livro de Apocalipse – livro evangélico

O livro de Apocalipse (PDF)

The book of Revelation (PDF)


Mensagem às Sete Igrejas do Apocalipse – livro evangélico

Mensagem às Sete Igrejas do Apocalipse (PDF)

Message to the Seven Churches of Revelation (PDF)



Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti

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