Explicação sobre as profecias do livro de Jonas. Deus o comissionou para proclamar arrependimento à cidade de Nínive, mas ele tomou um navio para Társis. Como era Nínive naquele tempo? Jonas é um profeta pré-exílico.

Explanation of the prophecies in the book of Jonah. God commissioned him to proclaim repentance to Nineveh, but he boarded a ship to Tarshish. What was Nineveh like at that time? Jonah is a a pre-exilic prophet.


Explicação do livro de Jonas




Jonas significa ‘pomba’. Jonas foi profeta do reino do norte e atuou entre 785 e 750 AC, durante o reinado de Jeroboão II de Israel (782-753 AC). Seu pai se chamava Amitai (2 Rs 14: 25; Jn 1: 1). Ele era procedente de Gate-Hefer (gath-hahepher, ‘lagar do poço’ ou ‘buraco’), na fronteira de Zebulom com Naftali (Js 19: 13). É identificada com a atual aldeia de el-Meshhed, a cinco quilômetros a nordeste de Nazaré. Jonas também atuou no período dos reis Assírios: Adadenirari III (811-783 AC), Salmaneser IV (783-773 AC), Assurdã III (773-755 AC) e Assurnirari V (755-745 AC), quando Israel estava ainda sem interferências da Assíria. Jonas foi ordenado por Deus para ir a Nínive e protestar contra sua iniqüidade. Não se sabe em que período foi feita a pregação em Nínive.


Profeta Jonas

Introdução ao livro de Jonas

Há várias interpretações para a história de Jonas. Segundo a tradição rabínica, Jonas representa a nação de Israel; o peixe representa a Babilônia; o fato de Jonas ter sido devorado representa o exílio e etc. Outra interpretação é que se trata de uma parábola com relato moral com finalidade didática, ou seja, quando desobedecemos às ordens do Senhor, poderemos nos perder e sermos ‘engolidos pelo inimigo’, pois saímos do propósito divino para nossas vidas. Mas ainda prevalece a opinião de ser uma história real, onde a experiência do profeta, por si só, já é uma profecia; ela nos leva a exercitar a fé e crer nos milagres de Deus.
O livro de Jonas pretende nos mostrar que o interesse e a misericórdia de Deus se estendem à raça humana inteira. Ele ensinou Jonas a ter piedade de todos os seres humanos (experiência com a planta, no 4º capítulo do seu livro). Jonas foi o único profeta comissionado por Deus para pregar aos gentios.

Palco político na época

Na época de Jeroboão II (782-753 AC – 2 Rs 14: 23-29), a opressão da Síria tinha diminuído sobre Israel devido às vitórias que Deus tinha dado a Jeoás, seu pai (2 Rs 13: 22-25), e Jeroboão resolveu estender suas fronteiras (2 Rs 14: 25-28) e a desenvolver um comércio lucrativo, o que criou uma poderosa classe de negociantes em Samaria. Mas a riqueza não era distribuída equitativamente entre o povo. Permanecia nas mãos dos negociantes ricos. A opressão contra os pobres era comum (Am 2: 6). A justiça se inclinava para os que podiam pagar subornos. Além da anarquia política, havia a idolatria, que tinha voltado a predominar em Israel, após a morte de Elias e Eliseu. O povo de Israel estava em pecado (2 Rs 17: 7-23), pois seguiram os passos de Jeroboão I (931-910 AC – 1 Rs 12: 25-33).

Reis da Assíria durante o exercício profético de Jonas

Adadenirari III (811-783 AC) foi o pai dos reis: Salmaneser IV, Assurdã III e Assurnirari V. Fez campanhas militares até 783 AC, e construiu o templo de Nabu em Nínive. Ele foi um general vigoroso e vitorioso que beneficiou Israel pelas campanhas que fez, derrotando Edom e Damasco. Esta cidade era governada por Ben-Hadade III (796-770 AC; Mari’ era seu título aramaico), filho de Hazael (843-796 AC), que foi pego de surpresa pelo ataque assírio e se refugiou atrás das muralhas, mas teve que pagar como tributo 23.000 talentos de prata, 20 talentos de ouro, 3.000 de cobre e 5.000 de ferro, além de outros objetos de marfim e madeira. Isso ocorreu no tempo de Jeoás (798-782 AC), rei de Israel, e Amazias (796-781 AC), rei de Judá. Essa ação assíria contra Damasco permitiu que Jeoás recuperasse algumas aldeias do norte de Israel que foram perdidas para Hazael, da Síria, no tempo de seu pai, Jeoacaz (2 Rs 13: 22-25).
Segundo as inscrições assírias, as tribos da Média, ao nordeste, partes do planalto iraniano e os domínios ao norte da Assíria (Nairi, Hatti e o reino de Urartu) se tornaram seus vassalos no reinado de Adadenirari III. Nairi, em assírio, significa ‘terra dos rios’, que era a palavra com a qual nos séculos XIII-X AC se chamava o território depois conhecido como a Anatólia oriental, hoje o sudeste da Turquia. A Hatti ficava mais ao noroeste de Nairi e ao norte da Síria, e o reino de Urartu a nordeste de Nairi. Outros estados ao ocidente também pagaram tributo ao império assírio: Tiro, Sidom, Israel (‘a terra de Onri’, como está registrado nos documentos assírios), Edom e Filístia (chamada de Palastu) e Amurru (Síria, próximo ao Líbano). Nesta época houve paz na Assíria, pois o rei edificou um novo palácio em Calá. Após sua morte, a Assíria entrou em um longo período de fraqueza. Adadenirari III foi sucedido pelo seu filho Salmaneser IV.


O mundo do AT – Hatti, Nairi, Urartu
O mundo do AT – Hatti, Nairi, Urartu


• Há muito poucas informações sobre o reinado de Salmaneser IV (783-773 AC), apenas que durante três anos (781-778 AC) conduziu várias campanhas contra o reino de Urartu, um reino ao norte da Assíria, uma aristocracia militar composta de muitas tribos que o império assírio reivindicava como sendo suas. Seu deus principal se chamava Khaldis, por isso, chamavam sua nação de Khaldia. Depois, foram mais duas campanhas contra Urartu (776 AC e 774 AC). Em várias ocasiões, o exército assírio foi forçado a recuar. Essa perda de prestígio provocou uma revolta em Damasco e grandes distúrbios no norte da Síria. Embora molestado pelo rei de Urartu, conservou a pressão contra Damasco, e isso ajudou Jeroboão II a estender as fronteiras de Israel até Beq‘a (‘entrada de Hamate’). Este resolveu estender suas fronteiras, portanto, conquistou Hamate e Damasco (2 Rs 14: 25-28). O reinado de Salmaneser IV foi severamente limitado pela influência de Shamshi-ilu (Šamši-ilu), que era o comandante-em-chefe do exército, e essas dissensões internas enfraqueciam o reino, pois a sucessão era incerta. Foi sucedido pelo seu irmão Assurdã III.

O reinado de Assurdã III (773-755 AC), também filho de Adadenirari III e sucessor do irmão, Salmaneser IV, foi uma época difícil para a monarquia assíria, que continuava limitada pela influência de Shamshi-ilu (Šamši-ilu), o comandante-em-chefe do exército. Em 765 AC a Assíria foi atingida por uma praga, e no ano seguinte, o rei não pôde fazer campanha, o que era um costume anual. Em 763 AC estourou uma revolta na cidade de Harã, que foi saqueada, e outra na província assíria de Gozã. Essa revolta no norte do império foi marcada por aquele ‘sinal de mau presságio’, um eclipse quase total do sol (15 de junho de 763 AC), o eclipse de Bur Sagale (Bur-Sagale era o governador de Gozã). A tal revolta durou até 759 AC, quando houve outra praga no reino. Com todos esses incidentes, o ocidente estava livre para reagrupar-se a fim de resistir a novos ataques assírios. Assurdã III foi sucedido por outro irmão, Assurnirari V.

Assurnirari V (755-745 AC) era um filho de Adadenirari III, e sucedeu a seu irmão, Assurdã III. Ele herdou uma situação difícil de seu antecessor, por causa de Shamshi-ilu, o comandante-em-chefe do exército (tartanu ou turtanu), e que ainda limitava as ações do rei. Este ficou quase quatro anos sem fazer campanhas militares, e isso indicava um reinado seriamente enfraquecido. Finalmente, no 4º e 5º anos do seu reinado Assurnirari V fez uma campanha contra Nanri (ou Namar, em Persa; romanizado como Namār; também conhecido como Namārestāq, Namāristāq e Namāristōq), nome dado a um distrito do atual Irã. Em 746 AC houve outra revolta no império e, no ano seguinte, Tiglate-Pileser III tomou o trono da Assíria durante uma guerra civil pela sucessão do trono e matou a família real.

Resumindo: no período de 783-745 AC (nos reinados de Salmaneser IV; Assurdã III; Assurnirari V), a soberania assíria esteve fortemente limitada devido à influência de dignitários da corte, especialmente de Shamshi-ilu (Šamši-ilu), que era comandante-em-chefe (tartanu ou turtanu); também por pragas, revoltas na Síria e outros locais do império assírio, além de um eclipse solar quase total em 763 AC, no reinado de Assurdã III.

A Assíria só começou a se reerguer no reinado de Tiglate-Pileser III (745-727 AC) e é por isso que a bíblia só começa a falar do império assírio como uma ameaça a Israel no reinado deste rei, que começou a reinar na época de Menaém, rei de Israel (752-742 AC), e Uzias, rei de Judá (781-740 AC). Em 746 AC houve revolta no império Assírio e, em 745 AC Tiglate-Pileser III tomou o trono da Assíria durante uma guerra civil pela sucessão do trono e matou a família real. Embora ele tenha se assumido como um filho de Adadenirari III, essa reivindicação parece incerta. A lista de reis assírios o coloca como filho de Assurnirari V, um dos filhos de Adadenirari III. A lista também descreve Salmaneser IV, Assurdã III e Assurnirari V como irmãos; todos eles, filhos de Adadenirari III. Pouco ou quase nada existe nos registros assírios sobre Adadenirari III, Salmaneser IV e Assurdã III. Mas há uma informação interessante sobre uma estela de alabastro descoberta em 1894 em Tell Abta, mostrando o nome de Tiglate-Pileser III impresso sobre o de Salmaneser IV, o sucessor de Adadenirari III. Juntando este achado com a ausência de informações sobre Salmaneser IV e Assurdã III, fica muito forte a hipótese de que Tiglate-Pileser III era, realmente, um usurpador do trono, e que ele destruiu os registros de seus três predecessores imediatos: Salmaneser IV, Assurdã III e Assurnirari V (fonte: Wikipedia.org).

Assíria (Em assírio: Ashshur; em hebraico: ’Ashshur – Strong #804) é o reino atribuído a Assur, o segundo filho de Sem (Gn 10: 22; 1 Cr 1: 17), filho de Noé. Tiglate-Pileser III (Tighlath-pil’eser – 2 Rs 15: 29; 2 Rs 16: 6-7) é também chamado de Tiglate-Pilneser (uma variante hebraica, tilgath-piln’eser – 1 Cr 5: 6; 2 Cr 28: 20); em aramaico, tgltplsr (como consta da estela de Zinjirli ou Zincirli ou a estela da vitória de Esar-Hadom, após sua segunda vitória sobre Faraó Tiraca, em 671 AC). Tiraca (2 Rs 19: 9; Isa. 37: 9), Taharqa ou Taharka, ou Khurenefertem (Khunefertumre) reinou no período de 690-664 AC. Na Septuaginta, Tiglate-Pileser é chamado Algathphel-lasar. O nome nativo desse rei é: Pul (2 Rs 15: 19; 1 Cr 5: 26); Pulu, na crônica babilônica. No início de seu reinado, Tiglate-Pileser III se ocupou em conquistar as cidades-estados do norte da Síria, que estavam sob controle de Urartu. Enquanto Urartu impôs controle sobre Carquemis, Bïti-Adini (‘Bete-Éden’, ‘os filhos de Éden’ – Is 37: 12; 2 Rs 19: 12, que habitavam em Telassar) e Cilícia, os estados arameus enfraquecidos do sul da Síria ficaram sob a liderança de Uzias (Azarias), de Judá, que nesse período era mais poderosa do que Israel, entretanto, morreu pouco tempo depois (2 Rs 15: 7). Após um cerco de 3 anos, Tiglate-Pileser conseguiu subjugar Arpade e recebeu tributo de Carquemis, Hamate, Tiro e Biblos (na Fenícia) e outros territórios ao norte de Israel. Entre os que foram alistados aparece Rezim de Damasco e Menaém de Samaria (por volta de 744-743 AC). Mas só no reinado de Acaz (732-716 AC) é que estendeu seu domínio sobre Samaria, Galiléia e Judéia. Na época, ele conquistou a Filístia (Asquelom e Gaza); e Amom, Edom, Moabe e Acaz de Judá lhe pagaram tributo (2 Cr 28: 19-21).

Capítulo 1 – A vocação de Jonas, a sua fuga e o seu castigo

• Jn 1: 1-3: “Veio a palavra do Senhor a Jonas, filho de Amitai, dizendo: Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive e clama contra ela, porque a sua malícia [NVI: maldade] subiu até mim. Jonas se dispôs, mas para fugir da presença do Senhor, para Társis; e, tendo descido a Jope, achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem e embarcou nele, para ir com eles para Társis, para longe da presença do Senhor”.

Jonas foi ordenado por Deus para ir a Nínive e protestar contra sua iniqüidade.
Nínive, uma grande cidade comercial da Assíria, seria saqueada cento e cinqüenta anos mais tarde (612 AC) pelos Medos, quando sua impiedade seria castigada. Era sanguinária e cruel, uma cidade guerreira e tinha matado muitas nações por meio de suas prostituições e feitiçarias, por isso o Senhor se voltaria contra ela e a exporia ao ridículo, mas seria o profeta Naum o Seu escolhido para profetizar sua derrota (mais ou menos cento e vinte e dois anos depois de Jonas). Os assírios eram conhecidos por decapitar os povos vencidos, fazendo pirâmides com seus crânios; também crucificavam ou empalavam os prisioneiros, arrancavam seus olhos e os esfolavam vivos.

Jonas, no caso, estava sendo comissionado por Deus para convencer seus moradores a se voltarem para Ele e serem salvos da Sua ira. Entretanto, ele Lhe desobedeceu e tomou um navio para oeste, em direção a Társis, pois temia realizar a missão que lhe tinha sido confiada, além de não ter vontade alguma de ver o adversário (Assíria) ser resgatado por Deus. Jonas achava que os assírios deveriam ser punidos pela sua crueldade. Então, ele foi para Jope, onde tomaria um navio para Társis, provavelmente corresponde à atual Espanha (na moderna região da Andaluzia).
Jope ou Jafo (Js 19: 46) pertencia à tribo de Dã. Jope é a moderna Tel Aviv-Yafo. A palavra hebraica é yãphô, e a grega é Ioppe; o árabe é Yãfã (Jafa), que significa ‘beleza, lugar bonito’.

• Jn 1: 4-9: “Mas o Senhor lançou sobre o mar um forte vento, e fez-se no mar uma grande tempestade, e o navio estava a ponto de se despedaçar. Então, os marinheiros, cheios de medo, clamavam cada um ao seu deus e lançavam ao mar a carga que estava no navio, para o aliviarem do peso dela. Jonas, porém, havia descido ao porão e se deitado; e dormia profundamente. Chegou-se a ele o mestre do navio [NVI: O capitão] e lhe disse: Que se passa contigo? Agarrado no sono? [NVI: Como você pode ficar aí dormindo] Levanta-te, invoca o teu deus; talvez, assim, esse deus se lembre de nós, para que não pereçamos [NVI: Talvez ele tenha piedade de nós e não morramos]. E diziam uns aos outros: Vinde, e lancemos sortes, para que saibamos por causa de quem nos sobreveio este mal. E lançaram sortes, e a sorte caiu sobre Jonas. Então, lhe disseram: Declara-nos, agora, por causa de quem nos sobreveio este mal [NVI: Diga-nos, quem é o responsável por esta calamidade?] Que ocupação é a tua? Donde vens? Qual a tua terra? E de que povo és tu? Ele lhes respondeu: Sou hebreu e temo ao Senhor, o Deus do céu, que fez o mar e a terra”.

Ao incumbi-lo dessa missão, o Senhor quis lhe ensinar a lição da misericórdia divina que ama o pecador, embora odeie e abomine o pecado, sempre buscando dar ao homem uma chance de arrependimento e salvação. Jonas ainda não entendia isso, portanto, fugiu do desafio, todavia, isso lhe custou caro, pois sua rebeldia foi descoberta pelos companheiros do navio. Como disse Jesus, não há nada oculto que não seja conhecido e revelado. Por isso, Jonas não pôde ficar invisível nem alheio ao que estava ocorrendo; mesmo porque era sua a culpa de tudo aquilo. Mas uma coisa ele não negou: o nome do seu Deus. Apesar do seu erro, ele declarou com verdade quem era: um hebreu temente ao Senhor, o Deus criador de todas as coisas (‘o Deus do céu, que fez o mar e a terra’).

• Jn 1: 10-12: “Então, os homens ficaram possuídos de grande temor e lhe disseram: Que é isto que fizeste! [NVI: O que foi que você fez?] Pois sabiam os homens que ele fugia da presença do Senhor, porque lho havia declarado. Disseram-lhe: Que te faremos, para que o mar se nos acalme? Porque o mar se ia tornando cada vez mais tempestuoso. Respondeu-lhes: Tomai-me e lançai-me ao mar, e o mar se aquietará, porque eu sei que, por minha causa, vos sobreveio esta grande tempestade”.

Os marinheiros não tinham apenas medo de naufragar; eles tinham medo de morrerem debaixo da ira de YHWH. Mesmo não O servindo, eles conheciam o Deus dos hebreus e sabiam que, apesar de misericordioso, Ele era poderoso e justo. Para provocar Sua reação daquele jeito, Jonas deveria ter feito algo muito sério, como fugir da Sua presença; por isso lhe disseram: ‘Que é isto que fizeste!’ ou ‘O que foi que você fez?’, como quem diz: ‘Onde você estava com a cabeça? Por que fugiu dEle? Olha só no que deu!’
Então perguntaram ao próprio profeta o que eles deveriam fazer. E Jonas lhes disse para jogá-lo ao mar, e a tempestade se acalmaria.

• Jn 1: 13-16: “Entretanto, os homens remavam, esforçando-se por alcançar a terra, mas não podiam, porquanto o mar se ia tornando cada vez mais tempestuoso contra eles [NVI: Ao invés disso, os homens se esforçaram ao máximo para remar de volta à terra. Mas não conseguiram, porque o mar tinha ficado ainda mais violento]. Então, clamaram ao Senhor e disseram: Ah! Senhor! Rogamos-te que não pereçamos por causa da vida deste homem, e não faças cair sobre nós este sangue, quanto a nós, inocente; porque tu, Senhor, fizeste como te aprouve [NVI: Senhor, nós suplicamos, não nos deixes morrer por tirarmos a vida deste homem. Não caia sobre nós a culpa de matar um inocente, porque tu, ó Senhor, fizeste o que desejavas]. E levantaram a Jonas e o lançaram ao mar; e cessou o mar da sua fúria [NVI: e este se aquietou]. Temeram, pois, estes homens em extremo ao Senhor; e ofereceram sacrifícios ao Senhor e fizeram votos”.

Aqui, nós podemos ver que pessoas que muitas vezes não conhecem a Deus como Seus filhos O conhecem, às vezes O temem mais do que estes. Os marinheiros temiam jogar Jonas ao mar e provocarem ainda mais a Sua ira; por isso, tentavam fazer o que estava ao seu alcance: remar. A NVI diz: ‘Ao invés disso, os homens se esforçaram ao máximo para remar de volta à terra. Mas não conseguiram, porque o mar tinha ficado ainda mais violento’. Então, usaram o método certo, que foi orar ao Senhor e pedir que os isentasse da culpa de qualquer coisa que pudesse acontecer com o Seu profeta, e que era, obviamente, morrer afogado. Reconheceram a soberania de Deus de fazer o que Lhe apraz e jogaram Jonas para fora do barco. E o mar se acalmou, o que os deixou ainda mais temerosos, pois jamais poderiam pensar que aconteceria tal coisa. Ofereceram sacrifícios ao Senhor e Lhe fizeram votos.


Jonas é engolido pelo grande peixe


• Jn 1: 17: “Deparou o Senhor um grande peixe, para que tragasse a Jonas; e esteve Jonas três dias e três noites no ventre do peixe [NVI: O Senhor fez com que um grande peixe engolisse Jonas, e ele ficou dentro do peixe três dias e três noites]”.

Jonas foi engolido por um enorme peixe e ficou dentro dele por três dias, meditando sobre suas atitudes e sobre a majestade de Deus. Lembrando-se dEle, Jonas gritou pedindo ajuda. Aqui, é interessante notar que tipo de disciplina o Senhor pode usar para convencer alguém do seu erro e colocar um filho para meditar sobre certas coisas. Ele precisou tirar todas as distrações de Jonas e evitar que ele dormisse ou fingisse que nada estava acontecendo. Uma coisa era dormir no chão do barco durante uma tempestade, sabendo que alguém estava cuidando do problema; outra coisa era estar sozinho ‘dentro do problema’, sabendo que não tinha mais ninguém para resolvê-lo por ele. Deveria estar escuro ali dentro, por isso, ele precisava estar alerta; não adiantava dormir. Sobrou apenas uma alternativa para Jonas: falar com Deus e reconhecer sua fraqueza, como Elias fez dentro da caverna em Horebe. Sem luz e sem noção do tempo, nós podemos pensar: quando Jonas se deu conta de que precisava orar? Quanto tempo demorou para ele abrir sua boca? O que ele deve ter pensado e sentido até tomar esta atitude?

Capítulo 2 – A oração de Jonas no ventre do peixe

• Jn 2: 1-9:
1 Então, Jonas, do ventre do peixe, orou ao Senhor, seu Deus,
2 e disse: Na minha angústia, clamei ao Senhor, e ele me respondeu; do ventre do abismo (em hebraico: sheol – Strong #7585: sepultura, inferno, poço, mundo inferior, submundo), gritei, e tu me ouviste a voz [NVI: Do ventre da morte gritei por socorro, e ouviste o meu clamor].
3 Pois me lançaste no profundo [NVI: nas profundezas], no coração dos mares, e a corrente das águas me cercou [NVI: correntezas formavam um turbilhão ao meu redor]; todas as tuas ondas e as tuas vagas passaram por cima de mim.
4 Então, eu disse: lançado estou de diante dos teus olhos; tornarei, porventura, a ver o teu santo templo?
5 As águas me cercaram até à alma [NVI: ‘As águas agitadas me envolveram’ ou ‘as águas estavam em minha garganta’], o abismo me rodeou; e as algas se enrolaram na minha cabeça.
6 Desci até aos fundamentos dos montes, desci até à terra, cujos ferrolhos se correram sobre mim, para sempre; contudo, fizeste subir da sepultura (em hebraico: shachath – Strong #7845: corrupção, destruição, poço, sepultura) a minha vida, ó Senhor, meu Deus! [NVI: Afundei até chegar aos fundamentos dos montes; à terra embaixo, cujas trancas me aprisionaram para sempre. Mas tu trouxeste a minha vida de volta da sepultura, ó Senhor meu Deus!].
7 Quando, dentro de mim, desfalecia a minha alma, eu me lembrei do Senhor [NVI: Quando a minha vida já se apagava, eu me lembrei de ti, Senhor]; e subiu a ti a minha oração, no teu santo templo.
8 Os que se entregam à idolatria vã abandonam aquele que lhes é misericordioso [NVI: Aqueles que acreditam em ídolos inúteis desprezam a misericórdia].
9 Mas, com a voz do agradecimento, eu te oferecerei sacrifício; o que votei pagarei. Ao Senhor pertence a salvação! [NVI: Mas eu, com um cântico de gratidão, oferecerei sacrifício a ti. O que eu prometi cumprirei totalmente. A salvação vem do Senhor].
10 Falou, pois, o Senhor ao peixe, e este vomitou a Jonas na terra [NVI: E o Senhor deu ordens ao peixe, e ele vomitou Jonas em terra firme].

Neste capítulo do livro de Jonas, nós podemos ver uma ‘sombra’ do que aconteceu com Jesus após ter morrido e passar três dias no túmulo, pois Sua obra de redenção culminou verdadeiramente com a Sua ressurreição. Ao morrer na cruz, Jesus realizou uma grande vitória sobre as trevas. Mas a vitória foi mais além, quando após Sua morte, Ele ficou no túmulo por três dias, como Jonas na barriga do peixe, ressuscitou daquele lugar e mostrou-se novamente vivo. Por isso, Jesus falou que o único sinal que Ele daria aos fariseus seria o de Jonas (Mt 12: 38-41 cf. Lc 11: 29-30): “Então, alguns escribas e fariseus replicavam: Mestre, queremos ver de tua parte um sinal. Ele, porém, respondeu: uma geração má e adúltera pede um sinal; mas nenhum sinal lhe será dado, senão o do profeta Jonas. Porque assim como esteve Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra. Ninivitas se levantarão no juízo com esta geração e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis aqui está quem é maior do que Jonas”.

O que Ele queria dizer é os Ninivitas não viram grandes sinais da parte de Deus, contudo se arrependeram com a pregação de Jonas, após ele ter permanecido três dias e três noites no ventre do peixe. Entretanto, os mestres da lei, mesmo tendo ouvido a pregação de Jesus durante o Seu ministério ainda não acreditavam nEle. Talvez, alguns se convertessem após verem a Sua ressurreição ou, pelo menos, o relato dela pela boca dos discípulos e apóstolos.

O que Jonas sentiu ali dentro da barriga do grande peixe foi como a morte, ou seja, um lugar de escuridão, onde ele se sentiu afastado de Deus, pois o seu pecado de desobediência trouxe aquela punição. O ser humano sempre teve medo da morte. Jesus veio para nos libertar do medo dela (Hb 2: 15; 1 Co 15: 17-20; 25-26). Ele pagou por nós a penalidade do pecado. O diabo tinha o poder da morte (Hb 2: 15) porque todos os homens tinham pecado e ele aprisionava suas almas; mas Jesus veio como homem, sem pecado (Rm 8: 3), vencendo-o em Sua própria carne, comprando-nos através do Seu sangue. Ao ressuscitar e voltar à terra, Ele trouxe consigo as chaves da morte e do inferno, tirando, portanto, de Satanás seu domínio sobre as almas dos homens (Ap 1: 18: “e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno”).

Naquele lugar, Jonas sofreu angústia e opressão, ele clamou a Deus por socorro (Jn 2: 1-2: “Então, Jonas, do ventre do peixe, orou ao Senhor, seu Deus, e disse: na minha angústia clamei ao Senhor, e ele me respondeu; do ventre do abismo, gritei, e tu me ouviste a voz”). A angústia pela qual ele passou e as dúvidas que lhe foram colocadas na mente quanto à capacidade de Deus de livrá-lo (Jn 2: 3-4: “Pois me lançaste no profundo, no coração dos mares, e a corrente das águas me cercou; todas as tuas ondas e as tuas vagas passaram por cima de mim. Então, eu disse: lançado estou de diante dos teus olhos; tornarei, porventura, a ver o teu santo templo?”), as ondas de terror e maldade que passaram sobre sua alma, os pensamentos ruins que se “enrolaram” em sua cabeça (Jn 2: 5: “As águas me cercaram até a alma, o abismo me rodeou; e as algas se enrolaram na minha cabeça”) e as portas que Satanás fechou sobre ele lhe faziam desfalecer a alma, mas continuou a clamar e Deus o ouviu (Jn 2: 6-7: “Desci até os fundamentos dos montes, desci até a terra, cujos ferrolhos se correram sobre mim, para sempre; contudo, fizeste subir da sepultura a minha vida, ó Senhor, meu Deus! Quando, dentro de mim, desfalecia a minha alma, eu me lembrei do Senhor; e subiu a ti a minha oração, no teu santo templo”). No terceiro dia veio o seu livramento (Jn 2: 6b: “contudo fizeste subir da sepultura a minha vida, ó Senhor, meu Deus!”), como se as portas que estiveram fechadas sobre ele fossem abertas e as cadeias que o prendiam fossem quebradas. O próprio Deus falou a Satanás (o grande peixe) no versículo 10, ordenando que Jonas fosse solto (‘vomitado na terra’).

A região dos mortos era considerada pelos antigos judeus como ‘inferno’: Seol (em hebraico: sheol – Strong #7585: sepultura, inferno, poço, mundo inferior, submundo), Hades e Geenna em grego. Os judeus achavam que o Seol era semelhante a uma concha onde os mortos permaneciam e eram submetidos a julgamento. Ali poderia haver um lugar separado para os justos e para os perversos. Tendo ou não essa interpretação, o que nós sabemos é que no AT, os que morreram não tiveram a chance de ter a salvação vinda por Jesus, o Messias, da maneira como conhecemos hoje. Talvez por isso, Pedro escreveu que Cristo, quando morreu e ressuscitou do Hades, do inferno, pregou para os antigos escolhidos, dando-lhes a chance de conhecer a Sua salvação (1 Pe 3: 18-19). Ele não escreve explicitamente a palavra Hades, apenas sugere: “Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito, no qual, também foi e pregou aos espíritos em prisão”. Na verdade, ele estava falando dentro de um contexto, onde a expressão ‘espíritos em prisão’ se refere às pessoas da época pré-diluviana que não se arrependeram pela pregação de Noé, pois Jesus ali, antes da Sua encarnação, derramou Seu Espírito em Noé para pregar o arrependimento àquelas pessoas.

Mas há uma segunda interpretação possível para este texto (se pensarmos no sinal de Jonas), pois a palavra grega usada para o verbo ‘pregou’ é ekëryxen, derivado de kërysso (ou kerusso – Strong #g 2784), que significa: proclamar uma mensagem (parte de um rei, por exemplo); anunciar (como um pregoeiro público; um arauto de um rei), especialmente a verdade divina (o evangelho): pregador, pregar, proclamar, publicar. Assim, esta proclamação feita por Jesus às almas dos mortos no Hades pode ter sido a de que o preço pela sua salvação já havia sido pago, seu pecado já fora expiado, e todos os que haviam morrido na fé estavam libertos daquele lugar de sofrimento eterno. Ao ressuscitar [1 Pe 3: 19: ‘vivificado no espírito’ ou ‘pelo Espírito’], proclamou naquele lugar a Sua vitória sobre a morte e disse o nome de todos os justos que, por haver morrido na fé, obtiveram a salvação, estavam livres do juízo de Deus. É como se Ele dissesse ao inferno: ‘fulano, sicrano e beltrano têm a alma salva porque eu já paguei o preço’. Assim, a dispensação do AT estaria definitivamente terminada e a nova dispensação começaria, onde os homens, durante a sua vida terrena, conhecendo a palavra de Jesus, exerceriam o seu livre-arbítrio e escolheriam a salvação, agora com consciência. Ao ressurgir dos mortos, trouxe consigo as chaves da morte e do inferno (Ap 1: 18: “e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno”), ou seja, a autoridade sobre a morte e a vida (chaves = autoridade). Ele não pregou no inferno nem voltou ali após Sua ressurreição; a vitória e a proclamação ocorreram no momento que o Espírito Santo entrou nEle.

Se o Espírito Santo arrombou as cadeias e as portas fechadas sobre Jonas, se ressuscitou Jesus dentre os mortos, também o fará nas nossas vidas, pois temos o Seu poder em nós. Nada mais pode nos prender. A mão de Deus pode nos alcançar nos lugares mais profundos e escondidos e nos resgatar. Se Jesus triunfou sobre as trevas, nós também triunfaremos sobre o que nos oprime. Não precisamos mais temer a morte; as chaves estão, agora, com Ele, não mais com Satanás. A morte, que significa afastamento de Deus, não mais nos amedronta, pois estamos continuamente com Jesus. Jonas desobedeceu a Deus e só se lembrou dEle quando foi engolido pelo animal marinho; Jesus obedeceu ao Pai e foi vitorioso no ‘interior do grande peixe’ (o túmulo), dando a nós a mesma vitória sobre o mal.


Jesus derrotou a morte


Os pesquisadores acham mais provável que, no caso de Jonas, o animal que o engoliu foi uma espécie de tubarão. A palavra usada em Jn 1: 17 (Strong #1709), no hebraico, é ‘dag’ (peixe; no sentido de se contorcer: movendo-se pela ação vibratória da cauda), da raiz ‘dagah’ (Strong #1711) = uma raiz primitiva, que significa: mover rapidamente, gerar, tornar-se numeroso, crescer. A bíblia não diz que Jonas foi engolido por uma baleia, mas por um grande peixe [‘dag gadol’ = ‘peixe grande’. Em Jn 2: 1 a palavra ‘peixe’, em hebraico, é dagah (Strong #1710), o feminino de dag (Strong #1709), com o mesmo significado: peixe (Jon. 1: 17)]. A espécie de tubarão em questão é a ‘Cains carchucharus’, conhecido por ‘cão do mar’, que pela sua voracidade, engole grande animais, vivos, sem mastigar. O que pode ter causado certa confusão foi a palavra grega usada em Mt 12: 40 (o sinal de Jonas) para ‘grande peixe’ [em grego, ‘ketos’ – Strong #g2785: um peixe enorme, (como com a boca bem aberta devorar); baleia], pois todo grande peixe era chamado ‘ketos’, ao contrário de um peixe vivo pequeno, chamado ‘ichthus’ (ichthýs, em grego: Ίχθύς – Strong #g2786). Outra palavra grega para peixe é opsarion (Strong #g3795), que significa peixe (presumivelmente salgado e seco como um condimento). Esta palavra é usada apenas 4 vezes nos evangelhos: Jo 6: 11; Jo 21: 9; Jo 21: 10; Jo 21: 13.

Voltando a Jonas, será que Deus não o estava fazendo sentir algo ainda novo para ele, que era o seu afastamento do Senhor pela treva do pecado? Será que Ele não queria fazê-lo experimentar a morte que esta separação trazia para poder entender melhor aqueles que, cegos pelos seus delitos, presos nas algas gosmentas do inimigo, não conheciam a luz da liberdade espiritual?

O sofrimento de Jonas dentro do grande peixe poderia simbolizar, sim, o sofrimento de toda nação de Israel, não necessariamente o cativeiro na Babilônia, mas o cativeiro espiritual por causa da sua idolatria, rebeldia e obstinação. Com certeza, simbolizava a cegueira espiritual dos Ninivitas.

Jonas parece ter conseguido captar esse ensinamento, pelo salmo de ação de graças que o Espírito Santo o fez pronunciar. Pelo menos, deve ter ocorrido alguma mudança, visível aos olhos de Deus, pois Ele o ouviu e ordenou ao peixe que o lançasse de volta em terra firme. Assim, ele se dirigiu a Nínive; desta vez, obedeceu à Sua voz.

Capítulo 3 – Jonas prega em Nínive / O arrependimento dos ninivitas

Jn 3: 1-4 – Jonas prega em Nínive: “Veio a palavra do Senhor, segunda vez, a Jonas, dizendo: Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive e proclama contra ela a mensagem que eu te digo [NVI: pregue contra ela a mensagem que eu lhe darei]. Levantou-se, pois, Jonas e foi a Nínive, segundo a palavra do Senhor. Ora, Nínive era cidade mui importante diante de Deus [NVI: Era uma cidade muito grande] e de três dias para percorrê-la [NVI: sendo necessários três dias para percorrê-la]. Começou Jonas a percorrer a cidade caminho de um dia, e pregava, e dizia: Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida [NVI: entrou na cidade e a percorreu durante um dia, proclamando: Daqui a quarenta dias Nínive será destruída]”.

Agora, a palavra do Senhor veio a Jonas: ‘proclama contra ela a mensagem que eu te digo [NVI: pregue contra ela a mensagem que eu lhe darei]’. Isso é interessante pelo fato de que um profeta deve estar disposto a falar o que o Senhor manda e ter a certeza de que Ele é quem vai falar. Jonas não ‘ensaiou’ o que ia dizer, mesmo porque ele nunca tinha visto um assírio, um ninivita, pessoalmente. Em Israel, ele ouvia o que os assírios faziam, mas eles ainda não tinham vindo destruir Israel. Jonas só tinha que confiar no Senhor. Então, ele foi até Nínive.
A bíblia diz que ‘Nínive era cidade mui importante diante de Deus’ ou ‘Era uma cidade muito grande’, sendo necessários três dias para percorrê-la. Jonas entrou na cidade e a percorreu durante um dia, proclamando: ‘Daqui a quarenta dias Nínive será destruída’. Os três dias para atravessar a cidade de Nínive (Jn 3: 3), provavelmente se refere ao tempo para atravessar o distrito administrativo inteiro com todos os seus bairros. Um dia de viagem (Jn 3: 4), talvez se referisse à distância desde os subúrbios do sul até o norte da cidade.

Vamos falar um pouco sobre Nínive no tempo de Jonas, pois ela ainda seria embelezada e fortificada completamente por volta de 700 AC, no tempo de Senaqueribe. Portanto, a Nínive do tempo de Jonas era diferente da Nínive no tempo de Naum. Ainda assim, era uma grande cidade, como diz a bíblia.
Nínive, capital da Assíria, é citada pelos profetas como sendo uma cidade arrogante e muito confiante em si mesma, mas que também seria destruída pelos babilônios (cf. Is 10: 5-34; Na 1: 1 – 3: 19). Era uma cidade sanguinária, cheia de mentiras e de roubo (Na 3: 1) e de prostituição espiritual pela infinidade de deuses com os quais ela corrompia as outras nações; ‘mestra de feitiçarias’, que desencaminhava muitos povos (Na 3: 4); cidade mercantilista (Na 3: 16), gananciosa e insaciável, que devorava o que via pela frente (Na 3: 17). Isso, sem falar da crueldade dos assírios: tinham o costume de decapitar os povos vencidos, fazendo pirâmides com seus crânios; também crucificavam ou empalavam os prisioneiros, arrancavam seus olhos e os esfolavam vivos.

O termo hebraico para Nínive (nïneweh ou Nīnewē – נינוה), em grego: nineue (Νινευη), em latim: Nineve, em árabe: Naīnuwa, uma ‘cidade excessivamente grande’, é uma tradução do assírio ninua, em babilônico antigo ninuwa, que por sua vez é transliteração do nome sumério mais antigo ainda, Nina, nome da deusa Istar, deusa da fertilidade, do amor e da guerra, a deidade protetora daquela cidade e cujo nome era escrito com um sinal representando um peixe dentro de um ventre. Nina era o nome assírio antigo da ‘Rainha dos Céus’ (Jr 7: 18; Jr 44: 17; 18; 19; 25), portanto, local de muita abominação e idolatria, feitiçaria e prostituição.

Nínive, na margem oriental do rio Tigre, era um grande amontoado de vários vilarejos ao longo deste rio. Atualmente é uma grande área de ruínas pelos novos subúrbios da cidade de Mossul, no estado de Ninawa, Iraque. Os montículos antigos Tell Kuyunjik ou Kouyunjik, Nimrud (ou Ninrude, nome da antiga Calá), Karamles (Karemlash ou Karemlish) e Khorsabad (nome atual da antiga Dur-Sharrukin) formam os quatro cantos de um paralelogramo. Eles estão localizados na planície perto da confluência do rio Tigre e Khosr. Tell Kuyunjik ou Kouynjik era o montículo da cidadela antiga de Nínive cujo nome significa ‘montículo de muitas ovelhas’, vinte metros de altura acima da planície, e tem outro montículo ao seu lado (Um quilômetro ao sul, o montículo secundário das ruínas de Nínive) que recebeu o nome de Nabī Yūnus (‘Profeta Jonas’, em árabe), e que não foi devidamente explorado porque havia um santuário árabe muçulmano dedicado a esse profeta no local. Ninrude é o nome moderno do sítio arqueológico localizado em torno da cidade assíria de Kalhu, localizada ao sul do rio Tigre, no norte da Mesopotâmia. Os arqueólogos deram o nome de Nimrud (Ninrude) à cidade por causa de Ninrode (Gn 10: 8-11). A cidade foi chamada de Calá (Kalakh) na bíblia. Estes eram os quatro bairros da antiga Nínive, por isso, Jonas deve ter levado três dias mesmo para percorrê-la toda. Dur-Sharrukin (atual Khorsabad) significa ‘Fortaleza de Sargom’ e foi a capital da Assíria na época de Sargom II, pai de Senaqueribe. Na época de Jonas era um vilarejo pequeno e sem muita importância. Khorsabad hoje é uma aldeia no norte do Iraque, a quinze quilômetros a nordeste de Mossul. A grande cidade foi inteiramente construída na década anterior a 706 AC. Após a morte inesperada de Sargom na batalha, a capital foi deslocada vinte quilômetros ao sul para Nínive.


Localização da cidade de Nínive
Localização de Nínive, no Iraque (sítios arqueológicos) – Wikipédia


Jn 3: 5-9 – O arrependimento dos ninivitas: “Os ninivitas creram em Deus, e proclamaram um jejum, e vestiram-se de panos de saco, desde o maior até o menor. Chegou esta notícia ao rei de Nínive; ele levantou-se do seu trono, tirou de si as vestes reais, cobriu-se de pano de saco e assentou-se sobre cinza. E fez-se proclamar e divulgar em Nínive: Por mandado do rei e seus grandes [NVI: de seus nobres], nem homens, nem animais, nem bois, nem ovelhas provem coisa alguma, nem os levem ao pasto, nem bebam água [NVI: não comam nem bebam!]; mas sejam cobertos de pano de saco, tanto os homens como os animais, e clamarão fortemente a Deus; e se converterão, cada um do seu mau caminho e da violência que há nas suas mãos [NVI: Cubram-se de pano de saco, homens e animais. E todos clamem a Deus com todas as suas forças. Deixem os maus caminhos e a violência]. Quem sabe se voltará Deus, e se arrependerá, e se apartará do furor da sua ira, de sorte que não pereçamos?”

Jonas pregou sobre a futura destruição da cidade por parte do Deus dos hebreus, caso eles não se arrependessem. Mas os habitantes de Nínive atenderam à pregação de Jonas e se arrependeram do seu pecado e a cidade foi resgatada pelo Senhor.

O ato de arrancar o cabelo e rapar a barba era habitual em grandes lutos; vestia-se de pano de saco e jogavam-se cinzas sobre a cabeça.

Quando nos deparamos com alguns textos bíblicos, podemos parar um pouco e fazer muitas perguntas, pois o nosso raciocínio carnal passa a ser, de certa forma, um impedimento à nossa fé, e o Senhor nos diz em Sua palavra que quem não aceitar o reino de Deus como uma criança não pode entrar nele. Mas podemos ter certeza de uma coisa: a bíblia sempre tem razão e, neste caso, se ela diz que seu rei se arrependeu e proclamou um jejum e um clamor coletivo, é porque foi assim. Como vimos no início do estudo, a Assíria passou por alguns anos de dificuldades e declínio no seu poderio como império daquela época; dificuldades em todos os setores do governo, em todas as áreas da nação; desde peste até revoltas pelo império e guerra civil por sucessão ao trono. Podemos nos lembrar que, pelo menos por três reinados seguidos, ela sofreu uma queda de prestígio muito grande, portanto, não seria de se estranhar que algum daqueles três reis pudesse estar nos planos de Deus aqui (Salmaneser IV, Assurdã III e Assurnirari V). A Assíria era politeísta, e não zombava de nenhum outro deus, por medo de provocar sua ira; ainda mais se tratando do Deus de Israel, conhecido por todos os povos da Antiguidade. Por isso, é bem provável que, enfraquecidos como estavam, eles tiveram uma abertura de coração (gerada pelo próprio Deus) para receber a pregação de Jonas. O Senhor pode fazer o improvável para mostrar que Ele está no controle e conhece, realmente, o preparo do coração do homem, embora respeite seu livre-arbítrio. Ele preparou os corações, Jonas lançou a semente da palavra, e o povo reconheceu seu erro; por isso, a resposta veio no versículo seguinte:

• Jn 3: 10: “Viu Deus o que fizeram, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e não o fez [NVI: Deus se arrependeu e não os destruiu como tinha ameaçado]”.

É interessante perceber, no AT, quantas vezes povos gentios responderam positivamente ao apelo de Deus, mais do que o próprio povo de Israel. A viúva de Sarepta, no tempo de Elias, foi uma dessas pessoas. Naamã, o siro, nos tempos de Eliseu foi outro exemplo. Muitos homens da guarda real de Davi não eram israelitas, mas o serviram e respeitaram a Deus. Obede-Edom (provavelmente um filisteu de Gate e que morava perto de Jerusalém – 2 Sm 6: 10; 1 Cr 13: 13-14; 1 Cr 15: 25) guardou a arca em sua casa. Rute, uma moabita, deixou seu povo para seguir o Deus de Noemi; Tamar, nora de Judá, era cananéia. Raabe, no tempo de Josué, foi incorporada à nação israelita, pois respondeu positivamente a Deus, e entrou na linhagem do Messias (Mt 1: 5).
Com certeza, Jonas não estava preparado para essa reação da parte dos ninivitas. Por isso, se sentiu irritado.

Capítulo 4 – O descontentamento de Jonas / A lição do Senhor

Jn 4: 1-5 – O descontentamento de Jonas: “Com isso, desgostou-se Jonas extremamente e ficou irado. E orou ao Senhor e disse: Ah! Senhor! Não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha terra? Por isso, me adiantei, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e que te arrependes do mal [NVI: Ele orou ao Senhor: Senhor, não foi isso que eu disse quando ainda estava em casa? Foi por isso que me apressei em fugir para Társis. Eu sabia que tu és Deus misericordioso e compassivo, muito paciente, cheio de amor e que prometes castigar, mas depois te arrependes]. Peço-te, pois, ó Senhor, tira-me a vida, porque melhor me é morrer do que viver. E disse o Senhor: É razoável essa tua ira? [NVI: Você tem alguma razão para essa fúria?] Então, Jonas saiu da cidade, e assentou-se ao oriente da mesma, e ali fez uma enramada, e repousou debaixo dela, à sombra, até ver o que aconteceria à cidade [NVI: Ali, construiu para si um abrigo, sentou-se à sua sombra e esperou para ver o que aconteceria com a cidade]”.

Jonas ficou indignado por causa do arrependimento e subseqüente escape da destruição, por isso reclamou com Deus. Ele argumentou com ira e frustração, firmado na justiça própria, achando injusto da parte de Deus o fato de ser tão ‘bonzinho’ com aquele tipo de gente. Ele não esperava uma conversão sincera da parte deles. Na verdade, Jonas se comportou como quem torce para dar errado, e quer ‘ver o circo pegar fogo’. A carne falou mais alto do que o espírito. Parece que ele se esquecera do que tinha vivido dentro do grande peixe, experimentando o afastamento de Deus de tal maneira que se assemelhou à morte.

A reação que teve a seguir também foi surpreendente: pediu para morrer. Ele não foi o único na bíblia que pediu para morrer: Elias (1 Rs 19: 4) pediu para morrer e Jeremias amaldiçoou o dia do seu nascimento (Jr 20: 14-18), pois não agüentaram o sofrimento em que estavam. Jó também amaldiçoou o dia do seu nascimento (Jó 3: 1-26) e chegou a perguntar a Deus por que não morreu estando ainda no ventre de sua mãe (Jó 3: 11). Mais absurda ainda foi a sugestão de sua mulher: “Amaldiçoa a Deus e morre” (Jó 2: 9).
Mas no caso de Jonas foi realmente intrigante o motivo por desejar a morte: pelo fato de que as coisas não ocorreram do jeito que ele esperava. Ou estaria pensando no tempo em que passou dentro do peixe, e isso o deixou revoltado? Na verdade, ele se sentiu frustrado por não ver o juízo de Deus. Como o Senhor é bom! Ele pergunta para Jonas com toda a paciência: ‘É razoável essa tua ira? [NVI: Você tem alguma razão para essa fúria?]’
Então, Jonas saiu da cidade, e assentou-se ao oriente da mesma, e construiu um abrigo para si, sentou-se à sua sombra e esperou para ver o que aconteceria com a cidade.

Jn 4: 6-11 – A lição do Senhor: Deus induz Jonas a ter piedade de uma planta para ensinar-lhe a ter compaixão por todos os seres humanos.

• Jn 4: 6-8: “Então, fez o Senhor Deus nascer uma planta, que subiu por cima de Jonas, para que fizesse sombra sobre a sua cabeça, a fim de o livrar do seu desconforto. Jonas, pois, se alegrou em extremo por causa da planta [NVI: livrá-lo do calor, o que deu grande alegria a Jonas]. Mas Deus, no dia seguinte, ao subir da alva, enviou um verme, o qual feriu a planta, e esta se secou [NVI: Mas na madrugada do dia seguinte, Deus mandou uma lagarta atacar a planta e ela secou-se]. Em nascendo o sol, Deus mandou um vento calmoso oriental; o sol bateu na cabeça de Jonas, de maneira que desfalecia, pelo que pediu para si a morte, dizendo: Melhor me é morrer do que viver! [NVI: Ao nascer do sol, Deus trouxe um vento oriental muito quente, e o sol bateu na cabeça de Jonas, ao ponto de ele quase desmaiar. Com isso ele desejou morrer, e disse: Para mim seria melhor morrer do que viver]”.

Primeiro, o Senhor fez nascer uma planta para trazer sombra sobre a cabeça de Jonas, a fim de livrá-lo do seu desconforto por causa do sol e do calor. E isso alegrou Jonas. Mas na madrugada do dia seguinte, Deus enviou uma lagarta para atacar a planta e ela se secou. E quando o sol nasceu veio um vento muito quente e o sol bateu na cabeça de Jonas levando quase ao ponto de desmaiar; novamente, ele pediu a morte.

• Jn 4: 9-11: “Então, perguntou Deus a Jonas: É razoável essa tua ira por causa da planta? Ele respondeu: É razoável a minha ira até à morte [NVI: Mas Deus disse a Jonas: Você tem alguma razão para estar tão furioso por causa da planta? Respondeu ele: Sim, tenho! E estou furioso ao ponto de querer morrer]. Tornou o Senhor: Tens compaixão da planta que te não custou trabalho, a qual não fizeste crescer, que numa noite nasceu e numa noite pereceu; e não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que há mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem discernir entre a mão direita e a mão esquerda [NVI: o certo do errado], e também muitos animais?”

Deus volta a perguntar para Jonas se ele tinha razão de ficar furioso por causa da planta que tinha morrido, e Jonas disse que tinha muita razão para estar furioso. Então, o Senhor o confronta com uma nova pergunta: se Jonas se importava com uma planta que nascera e morrera e que ele nem tinha plantado, porventura, o Senhor não teria compaixão de uma cidade tão grande quanto aquela, com milhares de habitantes que não sabiam discernir o certo do errado? E também dos animais que nela havia?

Conclusão

A bíblia não diz o que aconteceu depois com Jonas, mas com certeza ficou pensando. Para nós também, muitas vezes é difícil atingir o grau de compaixão que Deus espera de nós; então, nos comportamos como Jonas. E nos sentimos limitados nos nossos afetos, como disse o apóstolo Paulo (2 Co 6: 12), não compreendendo os pensamentos e os propósitos do Senhor. Por isso, é necessário que, na nossa fraqueza e humanidade, nos deixemos ser um canal de bênçãos nas mãos do Espírito Santo, não perdendo as oportunidades de falar do evangelho para quem quer que seja, pois só Deus conhece o preparo de cada coração. Mesmo que a pessoa só vá reagir de maneira positiva muito tempo depois, de qualquer forma, é sempre uma semente que se lança naquela terra. E a bíblia diz que a terra por si mesma frutifica (Mc 4: 28). Portanto, preguemos a Palavra, exercitemos o amor e deixemos o julgamento para Deus.

Vídeo de ensino

Esse vídeo está em compartilhamento com meu Google Drive. Se estiver assistindo pelo celular, abra com o navegador, em modo paisagem e com tela cheia.

O Profeta Jonas’ – 6:20.

Este texto se encontra no 2º volume do livro:


livro evangélico: Os profetas menores

Os profetas menores vol. 1 (PDF)

Os profetas menores vol. 2

Os profetas menores vol. 3

The minor prophets vol. 1 (PDF)

The minor prophets vol. 2

The minor prophets vol. 3

Sugestão de leitura:


livro evangélico: Profeta, o mensageiro de Deus

Profeta, o mensageiro de Deus (PDF)

Prophet, the messenger of God (PDF)

Sugestão para download:


tabela de profetas AT

Tabela dos profetas (PDF)

Table about the prophets (PDF)



Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti

▲ Início  

BRADESCO PIX:$ relacionamentosearaagape@gmail.com

E-mail: relacionamentosearaagape@gmail.com