Estudo sobre a justiça de Deus do ponto de vista bíblico. A justiça de Deus é o modo justo de Deus justificar os injustos. Através do sacrifício da cruz nós fomos purificados do nosso pecado e justificados perante Deus.
Study of God’s justice from a biblical point of view. God’s justice is God’s just way of justifying the unjust. Through the sacrifice of the cross we were cleansed from our sin and justified before God.
A justiça de Deus é o modo justo de Deus justificar os injustos. Através do sacrifício da cruz nós fomos purificados do nosso pecado e justificados, diante de Deus, dos homens e do mundo espiritual. A realização da cruz incluiu a salvação dos pecadores pela propiciação dos pecados, redenção, justificação e reconciliação. Incluiu também a revelação do caráter de Deus através desse ato: Seu amor e Sua justiça; e, por último, a vitória sobre o mal, representada pela vitória sobre o diabo, a carne, o mundo, a Lei e a morte. O sacrifício da cruz trouxe, além disso, um novo patamar de relacionamento com Deus, baseado em ousadia, amor e alegria.
Há uma distinção entre a justiça divina, no seu significado bíblico, e a justiça humana, como costumamos entender do ponto de vista jurídico. No Antigo Testamento, a palavra justiça comumente era usada para designar retidão, a retidão que Deus exigia do Seu povo em seguir Sua lei:
• Am 5: 24: “Antes, corra o juízo como águas; e a justiça, como ribeiro perene”.
• Mq 6: 8: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus”.
No Novo Testamento, a justiça de Deus exigida no Antigo Testamento, ou seja, a obediência fiel e reta à Sua palavra, passou a ser cumprida na pessoa de Jesus.
Em Fp 3: 1-11, quando Paulo alerta sobre os falsos mestres e os falsos obreiros, ele diz (v. 9-11): “... e, ser achado nele, não tendo justiça própria, que procede da lei, senão a justiça que é mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé; para o conhecer, e o poder da sua ressurreição, e a comunhão dos seus sofrimentos, conformando-me com ele na sua morte; para, de algum modo, alcançar a ressurreição dentre os mortos”.
Quando lemos sobre a armadura de Deus em Ef 6: 10-17, entendemos que a justiça conquistada na cruz através de Jesus é a couraça que protege nossos sentimentos de tudo o que é ódio e injustiça. A justiça conquistada na cruz é a ligação do homem com Deus através do arrependimento e do perdão dos pecados; a couraça da justiça impede que todos os sentimentos ruins do diabo nos afastem da presença do amor de Deus. Quando Jesus já estava morto, o soldado romano perfurou o Seu lado com uma lança, ou seja, o coração de Jesus foi traspassado pela lança que representa a nossas transgressões e a ação de ódio e violência do diabo, para que pudéssemos estar protegidos dos dardos inflamados que ele tenta lançar sobre nós.
Quando estamos debaixo do amor e da justiça de Deus, na pessoa de Jesus, somos protegidos e guardados do mal. Há uma parábola em Mt 20: 1-16, onde Jesus dá o exemplo da justiça de Deus em relação à salvação e ao serviço a Ele (A parábola dos trabalhadores na vinha): “Porque o reino dos céus é semelhante a um dono de casa que saiu de madrugada para assalariar trabalhadores para sua vinha. E, tendo ajustado com os trabalhadores a um denário por dia, mandou-os para a vinha. Saindo pela terceira hora [9 horas], viu, na praça, outros que estavam desocupados e disse-lhes: Ide vós também para a vinha e vos darei o que for justo. Eles foram. Tendo saído outra vez, perto da hora sexta [meio-dia] e da nona [15 horas], procedeu da mesma forma, e, saindo por volta da hora undécima [17 horas], encontrou outros que estavam desocupados e perguntou-lhes: Por que estivestes aqui desocupados o dia todo? Responderam-lhe: Porque ninguém nos contratou. Então, lhes disse ele: Ide também vós para a vinha. Ao cair da tarde, disse o senhor da vinha ao seu administrador: Chama os trabalhadores e paga-lhes o salário, começando pelos últimos, indo até aos primeiros. Vindo os da hora undécima, recebeu cada um deles um denário. Ao chegarem os primeiros, pensaram que receberiam mais; porém, também estes receberam um denário cada um. Mas, tendo-o recebido, murmuravam contra o dono da casa, dizendo: Estes últimos trabalharam apenas uma hora; contudo, os igualaste a nós, que suportamos a fadiga e o calor do dia. Mas, o proprietário, respondendo, disse a um deles: Amigo, não te faço injustiça; não combinaste comigo um denário? Toma o que é teu e vai-te; pois quero dar a este último tanto quanto a ti. Porventura não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom? [NVI: “Receba o que é seu e vá. Eu quero dar ao que foi contratado por último o mesmo que lhe dei. Não tenho o direito de fazer o que quero com o meu dinheiro? Ou você está com inveja porque sou generoso?”] Assim, os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos [porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos]”.
A primeira hipótese (em relação à salvação) diz respeito aos judeus, como primeiros escolhidos de Deus para trabalhar em Sua ‘vinha’, e aos gentios que, recebendo Jesus como seu Senhor, também receberam o direito à salvação, sendo “os últimos” que foram chamados para servi-lO. A condição para a recompensa seria a aceitação da graça do Senhor da vinha.
Os trabalhadores contratados representam Israel; eram eles que tinham as promessas e a aliança (Rm 3: 1-2; Rm 9: 4). Aqueles que não tinham um contrato representam os gentios, que seriam semelhantes ao povo judeu quando a salvação fosse dada a todos mediante a fé em Jesus Cristo (Rm 3: 22-24; 28-29; Rm 11: 17; 24; Gl 3: 13-14; Ef 2: 13-16; Ef 3: 6).
A segunda hipótese (em relação ao serviço a Ele) diz respeito às intenções do coração com este serviço a Deus, ou seja, sem egoísmo, sem interesse, sem barganha, sem ‘contrato de trabalho’, apenas a confiança de que receberão o que for justo. Em outras palavras: a vontade de servir e a confiança na graça do Senhor da vinha se coloca na frente do interesse de receber dEle uma recompensa pelo trabalho feito. O versículo 16 aqui (Mt 20: 16: “os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos [porque muitos são chamados, mas poucos escolhidos]”) é a repetição do ensinamento anterior de Mt 19: 30: “Porém muitos primeiros serão últimos; e os últimos, primeiros”. Assim, esta parábola é para aqueles que têm um relacionamento com o Senhor Jesus e são chamados por Ele para servir no reino de Deus.
O pensamento humano sobre a justiça é diferente do pensamento de Deus nesses três grupos de trabalhadores. Embora todos os verdadeiros discípulos sejam recompensados, a ordem das recompensas será determinada pelo espírito com que o discípulo serviu. O primeiro grupo de trabalhadores [das 6 horas: “de madrugada”] negociou o salário do dia de trabalho. O segundo grupo [das 9, 12 e 15 horas] apenas confiou que receberia o que é justo [“Ide vós também para a vinha e vos darei o que for justo”]. O último grupo, que estava sem trabalho porque ninguém havia contratado ainda, foi chamado às 17 horas, e eles apenas foram para a vinha, sem mesmo ter certeza de quem receberiam alguma coisa por apenas 1 hora de trabalho [“Responderam-lhe: Porque ninguém nos contratou. Então, lhes disse ele: Ide também vós para a vinha”].
Os homens das 6 horas da madrugada trabalharam o dia todo e ficaram com inveja dos que trabalharam menos e que, por fim, receberam o mesmo salário que eles. Aparentemente, não era justo. Seus espíritos eram gananciosos e cobravam pelo que fizeram (Como se o senhor da vinha lhes devesse alguma coisa!), mas o senhor da vinha pagava com base na necessidade dos homens, o que precisavam para si e suas famílias, não com base na ganância deles. O serviço dos homens desse primeiro grupo era motivado por orgulho e ambição egoísta. Os outros que serviram por amor e gratidão, até mesmo sem negociar o salário, foram por ele honrados. Assim, o ensinamento é: o que importa para Deus é a fidelidade ao chamado. Só Ele conhece a motivação de cada coração em servi-lO, por isso cada um receberá sua recompensa, pois o parâmetro é a graça e soberania de Deus para com aqueles a quem Ele chama. Os outros trabalhadores foram honrados porque confiaram na graça do Senhor da vinha. Portanto, a recompensa não apenas depende do caráter bondoso do Senhor da vinha e do Seu julgamento correto; depende também da maneira com que cada um decide servir a Deus. Isso não deixa de ser a expressão do que está escrito na parábola dos talentos (Mt 25: 14-30) e em 2 Co 8: 12 sobre cada um servir com boa vontade e com o que tem. Não importa os dons que cada um recebe de Deus, se são muitos ou poucos aos olhos humanos, o que importa é servi-lO de coração com o que se ganhou dEle e não enterrar o talento. De qualquer forma, cada um receberá a sua recompensa da parte de Deus (1 Co 4: 5).
“Os últimos serão primeiros, e os primeiros serão últimos”, porque se trata da soberania de Deus. O Senhor não deixa nenhuma obra sem remuneração, mas valoriza uma fé simples nEle mais do que o maior esforço feito por causa dEle. Esta é a fé daquele que sai sem pensar em salário, mas porque Ele envia. A fé e o amor por Ele como o motivo para Seu serviço são mais importantes para Ele do que o trabalho real que precisa e pode ser feito. Os verdadeiros servos de Cristo desejam que Ele seja glorificado e seus semelhantes, servidos.
Concluindo: a justiça, como é entendida no NT é a reunião dos homens com Deus, feita através da cruz, nos trazendo a salvação. Assim, o texto acima não fala sobre finanças ou emprego, mas sobre o prêmio da salvação, da vida eterna e da recompensa por servir a Deus, que é igual para todos, tanto para os de antigamente, quanto para os de hoje, quanto para os que virão. O preço é igual para todos: aceitar o Filho e carregar sua própria cruz (= vocação, chamado) e servir com amor e alegria.
A justiça está ligada ao juízo ou julgamento que, a princípio, é prerrogativa de Deus (Is 33: 22: “Porque o Senhor é o nosso juiz, o Senhor é o nosso legislador, o Senhor é o nosso Rei; ele nos salvará”), por isso Ele nos orienta no que diz respeito a não julgarmos nossos irmãos na fé sem sabermos realmente o que se passa dentro do seu coração ou da sua vida:
• Mt 7: 1-5: “Não julgueis, para que não sejais julgados. Pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados; e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também. Por que vês o argueiro (NVI: cisco) no olho do teu irmão, porém, não reparas na trave (NVI: viga) que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro (cisco) do teu olho, quando tu tens a trave (viga) no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho e, então, verás claramente para tirar o argueiro do olho do teu irmão”.
• Lc 6: 37-38: “Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados; dai, e dar-se-vos-á; boa medida, recalcada, sacudida, transbordante, generosamente vos darão; porque com a medida com que tiverdes medido vos medirão também”.
• Rm 2: 1: “Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que seja; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas”.
• Rm 14: 4: “Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor está em pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o suster”.
• 1 Co 4: 3-5: “Todavia, a mim mui pouco se me dá de ser julgado por vós ou por tribunal humano; nem eu tampouco julgo a mim mesmo. Porque de nada me argúi a consciência; contudo, nem por isso me dou por justificado, pois quem me julga é o Senhor. Portanto, nada julgueis antes do tempo, até que venha o Senhor, o qual não somente trará à plena luz as obras ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e, então, cada um receberá o seu louvor da parte de Deus”.
• Tg 4: 11: “Irmãos, não faleis mal uns dos outros. Aquele que fala mal do irmão ou julga a seu irmão fala mal da lei e julga a lei; ora, se julgas a lei, não és observador da lei, mas juiz”.
Apesar de tudo o que lemos acima, entretanto, a Palavra nos mostra vários exemplos onde Jesus nos ensina como julgar: não pela carne, mas pelo Espírito, ou seja, não segundo a aparência, mas pela reta justiça (Jo 7: 24: “Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça”; Lc 12: 57: “E por que não julgais também vós mesmos o que é justo?”). Também diz para julgarmos todas as coisas e retermos apenas o que é bom (1 Ts 5: 21: “Julgai todas as coisas, retende o que é bom”).
Em Mt 12: 18 está escrito: “Eis aqui o meu servo, que escolhi, o meu amado, em quem a minha alma se compraz. Farei repousar sobre ele o meu Espírito, e ele anunciará juízo [KJV: justiça] aos gentios [NVI, ‘anunciará justiça às nações’]”.
A palavra acima ‘juízo’, em grego é ‘krisin – κρίσιν’ (Strong #g2920 – krísis: uma decisão, julgamento, julgamento divino). Krísis é um substantivo feminino derivado de outra palavra grega, krínō (Strong #g2919), com a mesma raiz, e que significa: separar, distinguir, julgar, julgamento (enfatizando seu aspecto qualitativo que pode ser aplicado tanto a um veredicto positivo (por justiça), ou mais comumente, o veredicto negativo, o que condena a natureza do pecado sobre o qual ele é trazido. Krínō (κρίνω) ou krinó (transliterado) significa: julgar, decidir, eu julgo, eu decido, acho que é bom.
Isso nos faz pensar que julgar significa: discriminar, isto é, separar o certo do errado. Dessa forma, entendemos que Ele nos deu a capacidade de julgar o mal, as situações que nos cercam, as falsas profecias e os falsos ensinos, o que devemos escolher para nossa vida etc., como diz Paulo em 1 Co 14: 20: “Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, homens amadurecidos”.
Entretanto, não nos deu a licença de julgar as pessoas pelo que imaginamos delas. Um exemplo disso é a mulher adúltera que ia ser apedrejada (Jo 8: 1-11) e Jesus disse: “Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire a pedra” (v.7). Deus não aprova o adultério, pois o Senhor foi o primeiro a reprovar esse mandamento na Lei, entretanto, o que Jesus queria dizer é que as razões que levaram essa mulher a adulterar estavam encobertas aos olhos dos homens, por isso eles não tinham direito de julgá-la, apedrejando-a, sem primeiro ouvir suas razões. Eles estavam exercendo a Lei de maneira dura e cega, acusando a adúltera, mas sem examinar a situação toda, pois estavam julgando segundo a carne, não pelo Espírito. Por isso o Senhor nos orienta a deixar o julgamento para Ele, pois só Ele conhece toda a verdade.
Parece contraditório, então, que Deus tenha usado servos como Paulo e Pedro para exercer juízo e julgamento severo sobre algumas pessoas como, por exemplo, Ananias e Safira (At 5: 1-11) e Elimas, o mágico (At 13: 4-12). Todavia, eles não estavam na carne, mas movidos pelo Espírito de Deus:
• At 5: 1-11: “Entretanto, certo homem, chamado Ananias, com sua mulher Safira, vendeu uma propriedade, mas, em acordo com sua mulher, reteve parte do preço e, levando o restante, depositou-o aos pés dos apóstolos. Então, disse Pedro: Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo? Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? Como, pois, assentaste no teu coração este desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus. Ouvindo estas palavras, Ananias caiu e expirou, sobrevindo grande temor a todos os ouvintes. Levantando-se os moços, cobriram-lhe o corpo e, levando-o, o sepultaram. Quase três horas depois, entrou a mulher de Ananias, não sabendo o que ocorrera. Então, Pedro, dirigindo-se a ela, perguntou-lhe: dize-me, vendestes por tanto aquela terra? Ela respondeu: Sim, por tanto. Tornou-lhe Pedro: por que entrastes em acordo para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e eles também te levarão. No mesmo instante, caiu ela aos pés de Pedro e expirou. Entrando os moços, acharam-na morta e, levando-a, a sepultaram-na junto do marido. E sobreveio grande temor a toda a igreja e a todos quantos ouviram a notícia destes acontecimentos”.
• At 13: 4-12: “Enviados [Barnabé e Paulo], pois, pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia [Antigo porto de Antioquia, na Síria] e dali navegaram para Chipre. Chegados a Salamina, anunciavam a palavra de Deus nas sinagogas judaicas; tinham também João [João Marcos, o escritor do segundo evangelho; não o mesmo João, discípulo de Jesus] como auxiliar. Havendo atravessado toda a ilha até Pafos, encontraram certo judeu, mágico, falso profeta, de nome Barjesus, o qual estava com o procônsul Sérgio Paulo, que era homem inteligente. Este, tendo chamado Barnabé e Saulo, diligenciava para ouvir a palavra de Deus. Mas opunha-se-lhes Elimas, o mágico (porque assim se interpreta o seu nome), procurando afastar da fé o procônsul. Todavia, Saulo, também chamado Paulo, cheio do Espírito Santo, fixando nele os olhos, disse: Ó filho do diabo, cheio de todo engano e de toda malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perverter os retos caminhos do Senhor? Pois, agora, eis aí está sobre ti a mão do Senhor, e ficarás cego, não vendo o sol por algum tempo. No mesmo instante, caiu sobre ele névoa e escuridade, e, andando à roda, procurava quem o guiasse pela mão. Então, o procônsul, vendo o que sucedera, creu, maravilhado com a doutrina do Senhor”.
Outros textos onde poderemos ler sobre julgar são aqueles onde Jesus diz que o Pai Lhe conferiu autoridade para julgar e os que falam que Ele a ninguém julga (aparentemente contraditório), mas que veio para salvar:
• Jo 5: 22-30: “E o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo julgamento, a fim de que todos honrem o Filho do modo por que honram o Pai. Quem não honra o Filho não honra o Pai que o enviou. Em verdade, em verdade vos digo: quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em juízo, mas passou da morte para a vida. Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão [falava dos que estavam espiritualmente mortos e ouviriam Seu chamado para a Salvação]. Porque assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo. E lhe deu autoridade para julgar, porque é o Filho do Homem. Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo [Ele se referia ao futuro, à Sua segunda vinda, sobre a ressurreição dos mortos, quando os que fizeram a escolha por Jesus receberão a vida eterna e os que não optaram por ele serão julgados e condenados]. Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que ouço, julgo [como homem, Ele nada podia fazer, apenas com a ação divina sobre si]. O meu juízo é justo, porque não procuro a minha própria vontade, e sim a daquele que me enviou”.
• Jo 8: 15-18: “Vós julgais segundo a carne; eu a ninguém julgo. Se julgo, o meu juízo é verdadeiro, porque não sou eu só, porém eu e aquele que me enviou. Também na vossa lei está escrito que o testemunho de duas pessoas é verdadeiro. Eu testifico de mim mesmo, e o Pai, que me enviou, também testifica de mim”.
• Jo 12: 31-32: “Chegou o momento de ser julgado este mundo, e agora o seu príncipe [Satanás, vencido na cruz do Calvário por Jesus] será expulso. E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo”.
• Jo 12: 47-50: “Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo; porque eu não vim para julgar o mundo, e sim para salvá-lo. Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras tem quem o julgue; a própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no último dia. Porque eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que anunciar. E sei que o seu mandamentoé a vida eterna. As coisas, pois, que eu falo, como o Pai mo tem dito, assim falo”.
Isso nos remete de volta à justiça de Deus, que está ligada à salvação e ao “último dia”, quando ela estará completa. Na primeira vinda, Jesus veio para salvar (fazer a justiça); na segunda vinda, virá para julgar (exercer o juízo sobre os que rejeitaram a Sua justiça).
Repetindo o que dissemos anteriormente: a justiça está ligada ao juízo ou julgamento que, a princípio, é prerrogativa de Deus, o que não quer dizer que este só será feito no último dia, pois Deus ainda zela pelas Suas próprias palavras escritas no AT, de que Ele julga entre o justo e o perverso. No presente, Sua justiça e Seu juízo ainda são feitos para se verem cumpridos os Seus preceitos. Ele pode mostrar isso de várias maneiras: nos restituindo do que nos foi roubado, nos colocando em honra diante dos que nos humilharam, trazendo o arrependimento ao coração dos que nos feriram, nos justificando diante dos que nos acusaram falsamente ou fizeram um conceito errado de nós, fazendo ser manifesta a Sua verdade em determinada situação etc.; em outras palavras: trazendo à existência Suas promessas para nossa vida.
Para completar nosso raciocínio, Deus não se omite de fazer cumprir a justiça humana (do ponto de vista judicial, por exemplo), já que Ele mesmo colocou as autoridades humanas na terra para serem respeitadas:
• Rm 13: 1-10: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. De modo que aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação. Porque os magistrados não são para temor, quando se faz o bem, e sim quando se faz o mal. Queres tu não temer a autoridade? Faze o bem e terás louvor dela, visto que a autoridade é ministro de Deus para o teu bem. Entretanto, se fizeres o mal, teme; porque não é sem motivo que ela traz a espada; pois é ministro de Deus, vingador, para castigar o que pratica o mal. É necessário que lhe estejais sujeitos, não somente por causa do temor da punição, mas também por dever de consciência. Por esse motivo, também pagais tributos, porque são ministros de Deus, atendendo, constantemente, a este serviço. Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto; a quem respeito, respeito; a quem honra, honra. A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem ama o próximo tem cumprido a lei. Pois isto: Não adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiçarás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor”.
O exercício da justiça divina pela Sua Igreja é preservar a sua salvação e gerar salvação em outras vidas. O lado negativo da característica, que pode ser distorcida pelo inimigo, é a falta de entendimento do seu significado bíblico, misturando-o com a “falsa justiça” humana para proveito próprio ou achando que Deus também não se importa com as injustiças que presenciamos. Por isso, Ele diz: Is 61: 8: “Porque eu, o Senhor, amo o juízo e odeio a iniqüidade do roubo; dar-lhes-ei fielmente a sua recompensa e com eles farei aliança eterna” e Lc 18: 7-8: “Não fará Deus justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora pareça demorado em defendê-los? Digo-vos que, depressa, lhes fará justiça. Contudo, quando vier o Filho do Homem, achará, porventura, fé na terra?”
Resumindo: Jesus espera que a Sua Igreja preserve a sua salvação e gere salvação em outras vidas. Deseja também que exerçamos a justiça humana devidamente, de acordo com os mandamentos de Deus, evitando a distorção gerada pelo inimigo sobre Sua justiça e Seu julgamento imparcial sobre a nossa vida. Em outras palavras, que saibamos discriminar as coisas, separar o certo do errado.
Assim, através do sacrifício da cruz podemos confiar nas boas intenções de Deus a nosso respeito, mesmo que o inimigo tenha tentado nos provar o contrário. A bíblia diz que Deus é amor e que os Seus pensamentos para nós são de paz e não de mal. A Sua vontade para nós é sempre boa, agradável e perfeita.
Cruz, sacrifício único ou diário? (PDF)
Cross, single or daily sacrifice? (PDF)
Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti
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