Estudo e a orientação bíblica quanto à prática do jejum, baseado em Mc 9: 14-29 (a cura do jovem possesso). Qual o propósito do jejum? Os jejuns pós-exílio e a tentação de Jesus. Palavra Logos e Rhema.
Study and biblical guidance regarding the practice of fasting, based on Mk. 9: 14-29 (the healing of a boy with evil spirit). What is the purpose of fasting? The fasts instituted post-exile and the temptation of Jesus. Word Logos and Rhema.
Mc 9
14 Quando eles se aproximaram dos discípulos, viram numerosa multidão ao redor e que os escribas discutiam com eles.
15 E logo toda a multidão, ao ver Jesus, tomada de surpresa, correu para ele e o saudava.
16 Então, ele interpelou os escribas: Que é que discutíeis com eles?
17 E um, dentre a multidão, respondeu: Mestre, trouxe-te o meu filho, possesso de um espírito mudo;
18 e este, onde quer que o apanha, lança-o por terra, e ele espuma, rilha os dentes e vai definhando. Roguei a teus discípulos que o expelissem, e eles não puderam.
19 Então, Jesus lhes disse: Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? [NVI: Até quando terei que suportá-los?] Trazei-mo.
20 E trouxeram-lho; quando ele viu a Jesus, o espírito imediatamente o agitou com violência, e, caindo ele por terra, revolvia-se espumando.
21 Perguntou Jesus ao pai do menino: Há quanto tempo isto lhe sucede? Desde a infância, respondeu;
22 e muitas vezes o tem lançado no fogo e na água, para o matar; mas, se tu podes alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos.
23 Ao que lhe respondeu Jesus: Se podes! Tudo é possível ao que crê.
24 E imediatamente o pai do menino exclamou [com lágrimas]: Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé!
25 Vendo Jesus que a multidão concorria, repreendeu o espírito imundo, dizendo-lhe: Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: Sai deste jovem e nunca mais tornes a ele.
26 E ele, clamando e agitando-o muito, saiu, deixando-o como se estivesse morto, a ponto de muitos dizerem: Morreu.
27 Mas Jesus, tomando-o pela mão, o ergueu, e ele se levantou.
28 Quando entrou em casa, os seus discípulos lhe perguntaram em particular: Por que não pudemos nós expulsá-lo?
29 Respondeu-lhes: Esta casta não pode sair senão por meio de oração e jejum [Em Mt 17: 20-21 está escrito: “E ele lhes respondeu: Por causa da pequenez da vossa fé. Pois em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Nada vos será impossível. Mas esta casta não se expele senão por meio de oração e jejum”].
Precisamos entender o que se passava por detrás da possessão do menino e o que o impedia verdadeiramente de ser curado. Podemos ver que Jesus não o curou imediatamente, mas levou um tempo conversando com o pai, pois nele estava o impedimento à cura que era sua falta de fé. Por isso, ao chorar e dizer “Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé” ele recebeu a cura e liberou o filho para ser curado também. O jovem foi curado pela palavra de autoridade de Jesus repreendendo o espírito imundo e a carne do pai seria curada através de jejum e oração, pois precisava se dobrar ao poder de Deus e se deixar encher do Espírito.
Dessa forma, demônio não se expele com jejum nem com oração, mas em nome de Jesus, o qual tem autoridade e está acima de todo o nome: “Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre os enfermos, eles ficarão curados” (Mc 16: 17-18).
O jejum é para santificar a carne e colocá-la sob o domínio do Espírito Santo, só assim a pessoa se fortalece espiritualmente; em outras palavras, o jejum é para quebrar as barreiras da carne: “Disseram-lhes eles: Os discípulos de João e bem assim os dos fariseus freqüentemente jejuam e fazem orações; os teus, entretanto, comem e bebem. Jesus, porém, lhes disse: Podeis fazer jejuar os convidados para o casamento, enquanto está com eles o noivo? Dias virão, contudo, em que lhes será tirado o noivo; naqueles dias, sim, jejuarão” (Lc 5: 33-35). Por isso, Jesus disse aos fariseus que Seus discípulos não precisavam jejuar como os outros enquanto Ele estivesse com eles, pessoalmente, porque a luz do Espírito estava ali sobrepujando a carne, mas quando Ele se fosse, teriam que buscá-la por si mesmos através do Consolador que deixaria com eles.
Muitos servos de Deus na bíblia fizeram jejum em momentos difíceis de suas vidas para receberem a direção, a revelação e a libertação de Deus: Moisés ficou em jejum quarenta dias e quarenta noites no Monte Sinai para receber os mandamentos de Deus (Êx 24: 18 – as primeiras tábuas da Lei; Êx 34: 28 – as segundas tábuas da Lei). Elias caminhou quarenta dias e quarenta noites até o Monte Horebe, onde se escondeu numa caverna e ouviu a voz de Deus (1 Rs 19:8-9). Ester fez um jejum de três dias antes de ir à presença do rei Assuero para suplicar pela sua vida e pela de seu povo (Et 4: 16-17; Et 5: 1). Neemias também jejuou e orou a Deus quando soube da destruição em que Jerusalém se encontrava (Ne 1: 4). Esdras jejuou junto ao rio Aava pedindo a ajuda de Deus em sua jornada até Jerusalém para ministrar no templo que havia sido construído (Ed 8: 21-23). Daniel ficou em jejum por vinte e um dias até receber a revelação sobre uma visão que tivera e que envolvia grande conflito (Dn 10: 1-3; 13), pois falava de tempos longínquos e de poderosos reinos que viriam. Jesus foi o maior exemplo, quando ficou no deserto em jejum de quarenta dias e quarenta noites sendo tentado por Satanás.
Em Isaías e Zacarias temos também um comentário interessante sobre o jejum que agrada e o que não agrada a Deus, nos mostrando que, na verdade, o objetivo do jejum não é para mortificar a carne nem para conquistar bênçãos, muito menos para cobrar algo de Deus, porém, para nos aproximarmos dEle, para avivá-lO em nós:
• Is 58: 2-7: “Mesmo neste estado [NVI: ‘dia a dia’], ainda me procuram dia a dia, têm prazer em saber os meus caminhos; como povo que pratica a justiça e não deixa o direito do seu Deus [NVI: ‘parecem desejosos de conhecer os meus caminhos, como se fossem uma nação que faz o que é direito e que não abandonou os mandamentos do seu Deus’], perguntam-me pelos direitos da justiça, têm prazer em se chegar a Deus [NVI: ‘parecem desejosos de que Deus se aproxime deles’], dizendo: Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso? Por que afligimos a nossa alma, e tu não o levas em conta? Eis que, no dia em que jejuais, cuidais dos vossos próprios interesses e exigis que se faça todo o vosso trabalho [NVI: ‘no dia do seu jejum vocês fazem o que é do agrado de vocês, e exploram os seus empregados’]. Eis que jejuais para contendas e rixas e para ferirdes com punho iníquo [NVI: ‘Seu jejum termina em discussão e rixa, e em brigas de socos brutais’]; jejuando assim como hoje, não se fará ouvir a vossa voz no alto. Seria este o jejum que escolhi, que o homem um dia aflija a sua alma, incline a sua cabeça como o junco e estenda debaixo de si pano de saco e cinza? Chamarias tu a isto jejum e dia aceitável ao Senhor? Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo? Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desabrigados, e, se vires o nu, o cubras, e não te escondas do teu semelhante?”
O povo em questão parecia sentir prazer em ir ao templo, oferecer sacrifícios, ouvir a palavra de Deus e procurar saber qual a Sua vontade, mas não colocavam em prática as orientações que eram dadas através dos profetas. Assim, nós podemos pensar que a frase acima ‘Mesmo neste estado’ signifique: ‘mesmo que eles continuem em pecado, com dupla prática religiosa, ainda me buscam todo o dia, dia após dia’ (o Senhor estava falando). Subiam aos altos para prestar culto idólatra e ofereciam sacrifícios debaixo de terebintos ou carvalhos.
• Zc 7: 3-5: “... perguntaram os sacerdotes, que estavam na Casa do Senhor dos Exércitos aos profetas: Continuaremos nós a chorar, com jejum, no quinto mês, como temos feito por tantos anos? Então, a palavra do Senhor dos Exércitos me veio a mim, dizendo: Fala a todo o povo desta terra e aos sacerdotes: Quando jejuastes e pranteastes, no quinto e no sétimo mês, durante estes setenta anos, acaso foi para mim que jejuastes, com efeito, para mim?”
Em Zc 8: 19, nós podemos ver quatro meses de jejum observados pelos Judeus, instituídos pós-exílio, que marcavam os desastres da história judaica. A bíblia diz: “Assim diz o Senhor dos Exércitos: O jejum do quarto mês, e o do quinto mês, e o do sétimo, e o do décimo serão para a casa de Judá regozijo, alegria e festividades solenes; amai, pois, a verdade e a paz”.
Vamos explicar a qual situação Deus estava se referindo:
Quarto mês (2 Rs 25: 3 – a cidade de Jerusalém foi tomada pelos Babilônios)
Quinto mês (2 Rs 25: 8 – o templo foi queimado)
Sétimo mês (Jr 41: 1 – Gedalias foi morto). Gedalias (Jr 40: 5), filho de Aicão, filho de Safã, foi a quem o rei da Babilônia nomeou governador das cidades de Judá. Este jejum não deve ser confundido com o jejum da Expiação (Êx 30: 10; Lv 16: 29-34; Lv 23: 26-32), ‘Yom Kippur’.
Décimo mês (2 Rs 25: 1; Ez 24: 1 – quando o exército Babilônico sitiou a cidade) – o 1º dos quatro.
Agora eu pergunto com relação ao texto de Isaías escrito acima (Is 58: 2-7):
— Onde estão a impiedade (não crer nas coisas de Deus), a servidão ao diabo, a opressão e o jugo, a avareza, a indiferença, a falta de compaixão e solidariedade e o egoísmo? Não estão na carne dando brecha para Satanás agir? Por isso, ela precisa ser purificada de tudo isso através do jejum. O jejum não deve ser feito como um ato religioso, mas espiritual. É ele que derruba as barreiras que nos impedem de ouvir a voz do Espírito. Também precisamos ficar atentos à Sua voz para saber quando devemos fazer um jejum.
Quando pensamos em jejum, logo nos lembramos de comida. É o caso do chocolate, do sorvete, das massas, do churrasco e de outras “coisinhas” que achamos que não podem faltar na nossa alimentação. Entretanto, o jejum é uma abstinência de algo que gostamos e, aparentemente, nos faz muita falta (Digo isso por uma experiência que tive com o Espírito Santo), como certos hábitos que são danosos à nossa vida (um hábito gostoso que serve de alimento para a carne): maledicência, mexerico, inveja, consumismo, cigarro, bebidas, certos programas de rádio e televisão, sexo etc. Trata-se da abstinência de algo que já se tornou um hábito, em particular o alimento, e que nos afasta da comunhão com o Senhor. Durante o período em que nos abstemos de alguma coisa, devemos ler a Palavra, orar, procurar revelação espiritual, nos “desligar” das coisas mundanas para podermos estar no trono. Não é o tempo de jejum que traz resultado e sim a postura correta. Mesmo porque quando jejuamos (especialmente de alimentos), devemos conhecer o limite do nosso corpo. Essa prática exige certo treinamento espiritual e corporal que não vem de uma hora para a outra, mas se desenvolve à medida que vamos nos submetendo ao domínio do Espírito Santo. Quando caminhamos verdadeiramente com Ele, sabemos perfeitamente o momento correto de fazermos um jejum. A regra básica é: se a carne está prevalecendo (carne aqui = a parte da nossa alma que tende ao pecado, com desejos e vontades irresistíveis e incontroláveis, opostas à palavra de Deus) e nem lembramos que temos um espírito que também necessita ser alimentado através da oração e da conversa diária com o Criador, essa é uma boa hora para jejuar.
Quanto ao assunto sobre o nosso metabolismo durante o jejum dos alimentos, gostaria de dizer em primeiro lugar que, quando falamos de derrubar barreiras espirituais ou de entrar em contato com o mundo espiritual, estamos na realidade, nos referindo ao que acontece na nossa mente com todo esse processo, porque é pela nossa mente que entramos no mundo espiritual e nos relacionamos com ele. Quando a pessoa se propõe a fazer um jejum alimentar a taxa de açúcar no sangue começa a cair e ela passa a experimentar sintomas disso: sonolência, taquicardia (aceleração dos batimentos cardíacos), irritabilidade ou estado de alerta mais acentuado, tontura, zumbidos no ouvido, sudorese abundante (suor “frio”), tremor fino de extremidades, confusão mental e até sensação de desmaio. Caso ela tenha alguma doença pré-existente que agrave a queda de açúcar ou este chegue a níveis inferiores a 45 mg/dl, pode ocorrer, inclusive, uma convulsão ou coma. Esses são sinais que o cérebro emite para dizer que está faltando alimento (glicose). É nessa hora que a pessoa se torna mais vulnerável ao mundo espiritual, pois suas defesas orgânicas caem. Outras sensações físicas e emocionais começam a aparecer decorrentes da “brecha espiritual” que foi aberta. Por isso, o jejum acaba revelando o que estava no fundo de uma situação, pois a barreira protetora do consciente para o inconsciente cai e o que estava escondido vem à tona.
Nessa fase é que o discernimento do Espírito nos ajuda a distinguir o que procede da carne da pessoa (seus conteúdos emocionais e mentais) e o que é decorrente de ação espiritual externa. Dessa forma, o jejum vem quebrando as barreiras da carne para que a própria pessoa conheça o que se passa no seu interior e comece a orar convenientemente em relação a isso. A partir daí, Deus começa a trabalhar.
Como Jesus, Moisés e Elias conseguiram passar tantos dias em jejum completo? A bíblia fala de quarenta dias.
Eles conseguiram porque já estavam acostumados com a prática do jejum prolongado e a sua carne já estava mais trabalhada por Deus, por isso, a força do Espírito veio sobrepujando a necessidade do corpo. Não é aconselhável esse tipo de procedimento, a não ser que seja orientado espiritualmente por Ele para fortalecer a pessoa para um possível combate futuro com as trevas. Enquanto o corpo parece desfalecer, o espírito dela se fortalece no contato com o Espírito Santo, mas também fica sujeita às forças espirituais ao redor como eu comentei anteriormente. Lembre-se do estado de Daniel após vinte e um dias de jejum, até receber a revelação que necessitava pela boca do anjo Gabriel. A bíblia diz que ele não tinha mais forças (Dn 10: 17). O que sustenta a pessoa nesses momentos é a oração. A maior prova de que o jejum abre a porta para o combate espiritual é Jesus. A bíblia diz que Ele ficou sem comer nem beber nada, no deserto, por quarenta dias, no final dos quais teve fome. Quando estava quase desfalecendo é que o diabo apareceu de fato. Este foi o maior momento de tentação para o Filho de Deus, pois Suas forças físicas já tinham se esgotado. Só a presença do Espírito Santo com Ele lhe deu vitória (Lc 4: 1-13; Mt 4: 1-11).
Antes de falar de novo sobre o pai do menino epilético, quero dizer algo sobre a tentação de Jesus. Está escrito:
• Mt 4: 1-11: “A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. E, depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome. Então, o tentador, aproximando-se, lhe disse: Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães. Jesus, porém respondeu: Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus. Então, o diabo o levou à Cidade Santa, colocou-o sobre o pináculo do templo e lhe disse: Se és Filho de Deus, atira-te abaixo, porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; e: Eles te sustentarão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra. Respondeu-lhe Jesus: Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus. Levou-o ainda o diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles e lhe disse: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares. Então, Jesus ordenou: Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto. Com isto, o deixou o diabo, e eis que vieram os anjos e o serviram”. Em Lc 4: 13 está escrito: “Passadas que foram as tentações de toda sorte, apartou-se dele o diabo, até momento oportuno”.
Depois do batismo de Jesus, quando o Espírito Santo desceu sobre Ele em forma de pomba e a voz do Pai disse dos céus: “Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo” (Mc 1: 11; Lc 3: 22), Ele foi levado pelo mesmo Espírito para o deserto da Judéia (Mt 3: 1; 13), onde seria tentado pelo diabo por quarenta dias. Lucas diz (Lc 4: 13) que o Senhor foi tentado de várias maneiras (“tentações de toda sorte”), o que nos faz pensar que não foram apenas essas três apresentadas pelo diabo, no fim das forças de Jesus. Podemos imaginar que durante os quarenta dias, o Senhor foi tentado desde as coisas mínimas até culminar com o embate final entre Ele e Satanás. Jesus estava ali como homem e não fez uso de Seu poder divino para se livrar das provas. Mas vamos falar um pouco das três situações apresentadas por Mateus e Lucas. Satanás usou com Jesus as estratégias que ainda usa hoje em dia, distorcendo a própria palavra de Deus para seu benefício e os argumentos sujos para fragilizar ainda mais os crentes nos pontos em que são mais vulneráveis, com o intuito de minar sua fé em Deus e no que Ele lhes diz.
A primeira frase que disse foi: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães”. Aqui ele quis pôr em dúvida a verdadeira identidade e divindade de Jesus. Depois de quarenta dias sem comer, o Senhor estava enfraquecido e, logicamente, gostaria de abreviar Sua fome transformando aquelas pedras em pão. Era tentadora a proposta. Mas o intuito do inimigo ia um pouco mais além do que ver Jesus fazer milagres; ele queria pôr em dúvida a divindade de Jesus: “Se és Filho de Deus”, ele disse. Ele usou a conjunção condicional “se” para ver se Jesus tinha ainda a convicção de que Ele era o Filho de Deus; porque se Ele fosse realmente, poderia acabar com aquela dura prova ali mesmo. O sofisma tinha o propósito confundir Jesus para que Ele começasse a questionar o Pai. Mas Jesus sabia, tinha certeza de que Ele era o Filho de Deus, e que não era necessário recorrer ao Pai para saciar Sua fome naquele momento. Ele o livraria daquela prova. Então, percebendo a armadilha, respondeu: “Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”. E aqui temos um comentário interessante: Ele poderia dar qualquer resposta, mas respondeu com as palavras das Escrituras, ou seja, “Está escrito”; para não deixar dúvida de que a palavra de Deus era soberana e tinha vida em si mesma, estava viva dentro dEle. O termo grego usado para “palavra” neste texto (“Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”) é rhēmati (ρήματι).
Em grego existem dois vocábulos para “palavra”. Um deles é Logos, que significa qualquer tipo de palavra formatada, a palavra escrita, como é usada para designar a mensagem do evangelho cristão (Jo 1: 1; 10; Fp 2: 16; Ef 1: 13; At 13: 26; 2 Co 5:19; 1 Co 1: 18). Na Septuaginta (a versão grega do AT) o termo ‘logos’ é usado para traduzir a palavra hebraica dãbhãr. Em Jo 1:1;10, o evangelista usou a palavra “Verbo” para designar Jesus, o Verbo, a Palavra entre os homens. Portanto, Logos (Strong #g3056 – Λόγος) significa “razão, discurso, a palavra como a expressão de um pensamento, algo que é dito expressando os pensamentos do Pai através do Espírito, o raciocínio expresso por palavras”. O segundo vocábulo, e que foi usado por Jesus neste texto, é ‘rhēma’ (Strong #g4487 – ρήμα), que significa: toda palavra pronunciada, exalada pela boca; uma coisa falada, uma palavra ou ditado de qualquer tipo, como comando, relatório ou promessa; a palavra especial que Deus pronuncia de Sua própria boca. Foi isso que Jesus quis transmitir: Ele não tinha apenas dentro dele uma palavra que Ele havia lido ou que Lhe dizia que Ele era o Messias, o Filho de Deus; pelo contrário, Ele tinha ouvido uma palavra da boca do próprio Pai que dizia quem Ele era: “Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo”. Isso Lhe deu força para resistir às dúvidas que o diabo tentou colocar em Sua mente. Além disso, Ele respondeu usando a palavra da Escritura (Dt 8: 3): “Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus”.
Assim, não conseguindo derrotá-lo com este estratagema, o diabo tentou o segundo: abalar Jesus no âmbito religioso, com as profecias das Escrituras a respeito da Sua autoridade como Messias. Portanto, o diabo o levou à Cidade Santa, colocou-o sobre o pináculo do templo e Lhe disse: “Se és Filho de Deus, atira-te abaixo, porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; e: Eles te sustentarão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra” (Mt 4: 6 cf. Sl 91: 11-12). E então, Jesus lhe respondeu novamente com a palavra das Escrituras: “Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus” (Mt 4: 7 cf. Dt 6: 16).
Uma antiga tradição judaica dizia que quando o Messias viesse, Ele colocaria os pés sobre o pináculo do templo. Uns dizem que o pináculo é o ponto mais alto do muro no lado sudeste, de frente para o vale de Cedrom, a 50 metros de altura acima da rocha e onde um sacerdote ficava tocando o shofar para chamar o povo à adoração; outros acham que o pináculo ficava um pouco mais acima, no telhado do chamado Pórtico Real Stoa, um pórtico com quatro fileiras de colunas, dentro dos muros. Na sua frente havia duas passagens para a muralha sul do templo que se abria para a cidade pelas Portas de Hulda. Nesse caso, as palavras do inimigo eram como que levassem Jesus a cumprir as profecias, mas Lhe mostrando que Ele não estava vestido apropriadamente para isso, nem como sacerdote, nem como um rei, em glória, e sim como um homem comum, faminto e sujo, e como tal poderia profanar o santuário estando ali desse jeito. Ele tentou colocar culpa em Jesus, a culpa de estar desgostando a Deus; e até o provocou a pular de lá de cima. Mas o Senhor lhe respondeu: “Também está escrito: Não tentarás o Senhor, teu Deus”. Novamente, Ele citou as Escrituras.
Enfim, falhando na sua tentativa de pôr dúvidas no coração de Jesus quanto à Sua identidade divina e falhando em fazê-lO se sentir indigno e culpado espiritualmente diante de Deus e indigno como o Messias, Satanás tentou comprá-lO em relação à autoridade que Jesus poderia ter sobre as coisas materiais e ao poder de rei sobre o mundo. Então, levou Jesus a um monte muito alto, mostrou-Lhe todos os reinos do mundo e a glória deles e lhe disse: “Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares” (Mt 4: 9). Lucas escreve: “Disse-lhe o diabo: Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser. Portanto, se prostrado me adorares, toda será tua” (Lc 4: 6-7). Adão, ao pecar, deu o que tinha recebido de Deus ao diabo, por isso Jesus disse que Satanás é o príncipe do mundo. E por isso, este Lhe propôs a restituição da autoridade em troca da adoração à sua pessoa, como se ele fosse o dono de todas as coisas ao invés do Pai. Mais uma vez, brincou com a Palavra de Deus que diz: “o Altíssimo tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer” (Dn 4: 32b) ou “Deus, o Altíssimo, tem domínio sobre o reino dos homens e a quem quer constitui sobre ele” (Dn 5: 21b). Jesus, então, lhe ordenou: “Retira-te, Satanás, porque está escrito: Ao Senhor, teu Deus, adorarás, e só a ele darás culto” (Mt 4: 10 cf. Dt 6: 13). Com isto, o deixou o diabo, e eis que vieram os anjos e o serviram. Em Lc 4: 13 está escrito: “Passadas que foram as tentações de toda sorte, apartou-se dele o diabo, até momento oportuno”.
De volta ao pai do menino epilético, ele vivia ‘na carne’, sequer com a consciência de que era a sua falta de fé que atrapalhava a cura do filho. As amarras sentimentais doentes e inconscientes deveriam falar mais alto ali do que a vontade consciente de ver a cura do menino. Em outras palavras: a velha luta entre carne e Espírito, por isso Jesus não expulsou demônio algum dele, pois era a sua carne que precisava de tratamento. Ele mesmo desprotegia espiritualmente o filho pela incredulidade, dando brecha ao demônio. Quando ele creu, os dois foram curados. Só o Espírito Santo em nós pode realmente nos transformar e nos levar a fazer a vontade de Deus (Rm 7: 15-25; Gl 5: 16-21; Fp 2: 13-16a)
Um último comentário sobre jejum: muitos irmãos, na vontade de ajudar o outro, se propõem a fazer um jejum para que o problema deste se resolva. Entretanto, se falamos que o jejum é para derrubar as barreiras da carne, não adianta fazer jejum por outra pessoa, pois são as suas próprias barreiras que precisam ser derrubadas. É ele (ela) que precisa jejuar.
Nós dissemos também que demônio se expulsa em nome de Jesus e que a carne se vence pelo jejum. Para terminar, vamos ver que o mundo, ou seja, tudo o tem a ver com o tempo, com as pessoas e com as coisas naturais da existência humana, se vence pela fé: “porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus?” (1 Jo 5: 4-5).
Curiosidades e revelações (PDF)
Curiosities and revelations (PDF)
Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti
PIX: relacionamentosearaagape@gmail.com