Estudo sobre Lv 13: 1-59 (a lepra) e Lv 14: 1-32 (sobre os leprosos purificados). Leia sobre enfermidades físicas em geral do ponto de vista bíblico; diferença entre “doença e enfermidade”. Como os leprosos viviam no AT, no NT e na Idade Média?

Study on Lev. 13: 1-59 (the leprosy) and Lev. 14: 1-32 (on the cleansed lepers). Read about and physical illness in general from a biblical point of view; the difference “disease and sickness.” How did lepers live in the OT, NT and Middle Ages?


Estudo sobre lepra




A lepra (em hebraico: tzaraat ou çãra‘ath) era uma palavra usada para várias doenças de pele. Em outros casos, a mesma palavra falava de manchas em roupas ou paredes, que nós poderíamos chamar hoje de fungo ou mofo, em suma, algo que era cerimonialmente impuro. De acordo com a Lei, uma pessoa leprosa era considerada imunda: “Disse o Senhor a Moisés e a Arão: O homem que tiver na sua pele inchação (inchaço), ou pústula (erupção), ou mancha lustrosa (mancha brilhante), e isto nela se tornar como praga de lepra, será levado a Arão, o sacerdote, ou a um de seus filhos, sacerdotes. O sacerdote lhe examinará a praga na pele; se o pêlo na praga se tornou branco, e a praga parecer mais funda do que a pele da sua carne, é praga de lepra; o sacerdote o examinará e o declarará imundo” (Lv 13: 1-3).

Alguns estudiosos sugerem que Levítico capítulo 13 incluía diferentes doenças sob o termo geral lepra, pois não há muitas indicações de que a doença fosse freqüente na Antiguidade. Alguns dos sintomas descritos se assemelham à psoríase, aos eczemas, às pústulas (vesícula com conteúdo purulento), ao vitiligo, às cicatrizes de queimadura (ou quelóides = cicatrizes espessas), à micose (“tinha” ou “sicose”) na pele ou na barba e à lepra. O diagnóstico era confiado ao sacerdote. Como dissemos acima, os critérios usados para o diagnóstico da doença eram: inchaço (ou algum tipo de tumoração), pústula e erupção, onde os pêlos se tornaram brancos e a parte afetada aparecia mais afundada que o resto da pele (Lv 13: 1-3); caso não se fizesse o diagnóstico de imediato, um novo exame era feito após isolamento de sete dias. Caso houvesse dúvidas ainda, outro exame era feito sete dias depois. Mas a anestesia [supressão da sensação térmica, ou seja, a capacidade de diferenciar entre o frio e o calor, e diminuição da sensação de dor no local, assim como a diminuição da sudorese sobre a mancha, em alguns casos] não é mencionada, nem o espessamento dos nervos superficiais, que são pontos essenciais para o diagnóstico da doença, de modo que a avaliação sacerdotal necessariamente envolvia certo grau de imprecisão. A contaminação se faz por via respiratória, pelas secreções nasais ou pela saliva, mas é muito pouco provável a cada contato. O tempo de incubação após a infecção é longo, de dois a vinte anos, o que explica porque a doença se desenvolve mais comumente em indivíduos adultos, apesar de que crianças também podem ser contaminadas.

Quando um leproso era purificado e assim pronunciado pelo sacerdote, é provável que a condição fosse auto-limitada, não verdadeiramente lepra (hanseníase). Sendo considerados puros (Lv 14: 1-32), o homem ou a mulher voltavam ao sacerdote e eram aspergidos sete vezes com sangue de uma ave limpa molhado num ramo de hissopo ou pau de cedro. Outra ave era solta em campo aberto. Os pêlos eram rapados, o corpo e as vestes lavadas e, depois de oito dias, se levava ao sacerdote um cordeiro sem defeito, de um ano, como oferta pela culpa, e três dízimas (30%) de um efa de flor de farinha (1 efa = 17,62 litros, portanto, 30% = 5,280 litros), para oferta de manjares, amassada com azeite, e separadamente um sextário (NVI: ‘caneca’ – mais ou menos trezentos mililitros) de azeite de oliva. O outro cordeiro sem defeito era para o holocausto. Uma cordeira de um ano sem defeito era oferta pelo pecado. O sangue da oferta pela culpa era colocado sobre a ponta da orelha direita e sobre o polegar da mão direita e sobre o hálux (dedão do pé) direito. Os trezentos mililitros de azeite, o sacerdote derramava sobre a palma de sua mão esquerda e molhava o dedo direito no azeite, aspergindo sete vezes perante o Senhor. Do restante do azeite, o sacerdote punha sobre a ponta da orelha direita do ex-leproso, sobre o polegar de sua mão direita e sobre o hálux direito em cima do sangue da oferta pela culpa. O que sobrava do azeite, o sacerdote derramava sobre a cabeça da pessoa. Um cordeiro sem defeito de um ano era oferecido em holocausto ao Senhor, junto com 30% de 1 efa de flor de farinha (a farinha mais fina e mais pura) misturada com azeite, o que resultava em pães, representando a oferta de manjares. Caso fosse pobre, traria um cordeiro para oferta pela culpa como oferta movida ao Senhor, para fazer expiação pela pessoa, 10% de 1 efa (1,762 litro) de flor de farinha amassada com azeite por oferta de manjares, além de 1 sextário (NVI: ‘caneca’ – mais ou menos 300 ml) de azeite e duas rolas ou dois pombinhos, dos quais um seria para oferta pelo pecado e o outro, para holocausto. A orelha direita significava que, a partir daquele momento, a pessoa se dispunha a obedecer a Deus e ouvir Sua voz com atenção. O polegar direito significava o compromisso de agir segundo os mandamentos, e o hálux direito, caminhar corretamente sobre a Palavra.

Para que isso seja entendido, vamos colocar umas informações necessárias sobre os sacrifícios do Antigo Testamento:
• Quando mais de um tipo de oferta era apresentado (Nm 7: 13-17), o procedimento era normalmente o seguinte: 1) oferta pelo pecado, 2) holocausto, 3) oferta pacífica e oferta de manjares (junto com uma libação). Essa seqüência mostra parte da importância espiritual do sistema sacrificial. Em primeiro lugar, o pecado tinha de ser tratado (oferta pelo pecado ou pela culpa). Em segundo lugar, o adorador comprometia-se completamente com Deus (holocausto e oferta de manjares). Em terceiro lugar, estabelecia-se a comunhão ou amizade entre o Senhor, o sacerdote e o adorador (oferta pacífica). No sacrifício pacífico, o peito e a coxa direita eram a porção do sacerdote, determinada por Deus (Lv 7: 29-34).

• Lv 22: 17-33: a oferta deve ser sem defeito. Não eram aceitos animais defeituosos, portanto, a nossa oferta diante do Senhor deve ser com o que temos de melhor, com as primícias, não com o que sobra, com os restos. O v. 19 diz: “Para que seja aceitável, oferecerá macho sem defeito”. A oferta deve ser dada com liberalidade e com inteireza de coração. Neste caso do leproso, a referência está em Lv 14: 10.

• A oferta movida ('othâm tenuphâh ou ath-m thnuphe – Lv 7: 30; Lv 14: 12) de carne ou de manjares recebeu esse nome, talvez, por ser movida diante do Senhor antes de lhe ser apresentada. Em hebraico, o verbo ‘eniph’ significa ‘mover a oferta’.

• Arão e seus filhos foram consagrados sacerdotes. A palavra hebraica traduzida por consagração (Strong #4394 – millu'iym – Lv 7: 37; Lv 8: 22; 28-29; 31; 33; Êx 29: 22; Êx 29: 26-27; Êx 29: 34) significa, literalmente: ‘encher a mão’, ‘mãos cheias’, e talvez se referisse às ofertas depositadas sobre as mãos ou ao óleo que era derramado sobre elas em alguns casos (o leproso depois de sarado – Lv 14: 15). O ritual de consagração dos sacerdotes (Lv 8: 1-36) simbolizava as responsabilidades e os privilégios do sacerdócio, lembrando os levitas que haviam sido separados para o serviço de Deus. Segundo a ‘Concordância Lexicon Strong’, a palavra millu'iym, מלאים, procede de mâlê'– מלא, uma raiz primitiva, preencher ou estar cheio de, realizar, confirmar, encher, preencher, cumprir, ser ou tornar-se pleno ou completo, transbordar, plenitude, fornecer (prova, evidência) ou mobiliar (casa), recolher (isoladamente ou em conjunto), presumir, reabastecer, satisfazer, tomar (tirar) com uma mão cheia.

• A palavra original traduzida por ignorância significa: vaguear, como uma ovelha que se desgarra do rebanho. Refere-se ao pecado oriundo da fraqueza do caráter humano, não de uma rebelião mal-disfarçada ou de um mal premeditado. Associamos a culpa à intenção, mas os antigos a associavam aos seus efeitos.

• O sacrifício de Jesus na cruz veio substituir todos esses sacrifícios, tendo Jesus se oferecido como cordeiro sem mácula, em nosso lugar, para nos resgatar do pecado e da maldição da Lei.


Sacrifício Bíblia Elementos Objetivo
Holocausto Lv 1:1-17 Boi, cordeiro ou rola (macho) ou pombinho para o pobre, sem defeito.
Era totalmente consumido.
Ato voluntário de adoração ou expiação de pecado por ignorância.
Expressão de devoção, aliança e completa submissão a Deus.
Oferta de manjares Lv 2:1-16 Flor de farinha, azeite de oliva, incenso, bolos com sal, sem fermento nem mel, que também faziam parte dos holocaustos e das ofertas pacíficas (junto com uma libação). Ato voluntário de adoração e dedicação a Deus por Sua bondade e provisão. O azeite simboliza alegria.
Oferta pacífica Lv 3:1-17 Qualquer animal sem defeito do rebanho.
Variedade de pães.
Ato voluntário de adoração; ação de graças e comunhão (junto com uma refeição comunitária).
Oferta pelo pecado Lv 4;
Lv 5;
Lv 6;
Lv 16:1-34
1. Novilho: no caso do sumo sacerdote e de todo o povo de Israel.
2. Bode: no caso do príncipe.
3. Cabra ou cordeiro: no caso de pessoas do povo.
4. Rola ou pombinho: no caso do pobre. Décima parte de uma efa de flor de farinha: no caso do muito pobre.
Expiação obrigatória para certos pecados por ignorância.
Confissão de pecado e o perdão dele. Purificação da mácula.
Oferta pela culpa Lv 7:1-10 Carneiro ou cordeiro Expiação obrigatória para pecados por ignorância que exigissem restituição. Purificação de máculas.
Restituição: 20% de multa.


Fonte da tabela: Bíblia de estudo Vida, 2ª edição, Versão Revista e Atualizada de João Ferreira de Almeida.

Caso fosse constatada impureza, seu portador deveria ser afastado do convívio dos demais cidadãos. O Antigo Testamento deu instruções explícitas para quem tivesse a lepra diagnosticada pelo sacerdote:

• Lv 13: 45-46: “As vestes do leproso, em que está a praga, serão rasgadas, e os seus cabelos serão desgrenhados; cobrirá o bigode e clamará: Imundo! Imundo! Será imundo durante os dias em que a praga estiver nele; é imundo, habitará só; a sua habitação será fora do arraial”.
• Nm 5: 1-4: “Disse o Senhor a Moisés: Ordena aos filhos de Israel que lancem para fora do arraial todo leproso, todo o que padece de fluxo e todo imundo por ter tocado em algum morto; tanto homem como mulher os lançareis; para fora do arraial os lançareis, para que não contaminem o arraial, no meio do qual eu habito. Os filhos de Israel fizeram assim e os lançaram para fora do arraial; como o Senhor falara a Moisés, assim fizeram os filhos de Israel”.
• Nm 12: 9-15: “E a ira do Senhor contra eles se acendeu; e retirou-se. A nuvem afastou-se de sobre a tenda; e eis que Miriã achou-se leprosa, branca como neve; e olhou Arão para Miriã e eis que estava leprosa. Então, disse Arão a Moisés: Ai! Senhor meu, não ponhas, te rogo, sobre nós este pecado, pois loucamente procedemos e pecamos. Ora, não seja ela como um aborto, que, saindo do ventre de sua mãe, tenha metade de sua carne já consumida. Moisés clamou ao Senhor, dizendo: Ó Deus, rogo-te que a cures. Respondeu o Senhor a Moisés: Se seu pai lhe cuspira no rosto, não seria envergonhada por sete dias? Seja detida fora do arraial por sete dias; e o povo não partiu enquanto Miriã não foi recolhida”.
• 2 Reis 7: 3: “Quatro homens leprosos estavam à entrada da porta, os quais disseram uma aos outros: Para que estaremos nós aqui sentados até morrermos?”
• 2 Reis 15: 5: “O Senhor feriu ao rei [Azarias], e este ficou leproso até o dia da sua morte e habitava numa casa separada. Jotão, filho do rei, tinha o cargo da casa e governava o povo da terra”.

Assim, o leproso era expulso de casa e da sociedade e proibido de entrar em qualquer cidade. Devia vestir roupas rasgadas, deixar o cabelo emaranhado e clamar “imundo, imundo!”, se alguém se aproximasse. Aparentemente, estas convenções ainda estavam em vigor no tempo de Jesus. Os dez leprosos que encontraram Jesus nos arredores de uma aldeia permaneceram a certa distância e gritaram para Ele: “Ao entrar numa aldeia, saíram-lhe ao encontro dez leprosos, que ficaram de longe e lhe gritaram, dizendo: Jesus, Mestre, compadece-te de nós!” (Lc 17: 12-13). Porém, o leproso em Mc 1: 40 veio direto até Jesus e Lhe implorou de joelhos que o purificasse: “Aproximou-se dele um leproso rogando-lhe de joelhos: Se quiseres, podes purificar-me”. Se as vestes estivessem contaminadas, eram queimadas (Lv 13: 47-52).


O leproso na época Medieval com um sino


Na Idade Média, o uso de um sino era obrigatório para os leprosos, como uma forma de avisar as pessoas de que eles estavam chegando. Na Alta Idade Média (ou Antiguidade Tardia – do século V ao X – 476-999 DC), com o advento do Cristianismo e seu auxílio aos doentes (não apenas aos leprosos) e aos mais fracos, surgiu a instituição do hospital, formalmente reconhecida pelo imperador Justiniano (525-565 DC). O hospital diagnosticava a doença e realizava o tratamento, iniciando-se praticamente com o diagnóstico e a terapia de doenças oftalmológicas. Mesmo conhecida desde a Antiguidade, a lepra se difundiu pelo Ocidente a partir das Cruzadas (as Cruzadas na Terra Santa – 1095-1272, tradicionalmente contadas como nove; a 1ª de 1095-1099 e a 9º de 1271-1272). Do final do século XI ao século XIV, no mínimo 320 leprosários foram criados na Inglaterra, onde se pode ver muito a atitude humanitária da Igreja, pois o leproso enfrentava a recusa de atendimento por parte da sociedade. Os leprosários (sucedidos por hospitais específicos para leprosos e chamados ‘lazaretos’) foram instituídos ainda sobre a base de que o leproso era uma pessoa impura.


O leproso na época Medieval com um sino


Na imagem acima você pode ver um leproso mutilado (sem a mão esquerda e o pé direito) com um sino (os leprosos deveriam anunciar que estavam passando, para que as pessoas pudessem saber e se afastar). The British Library, Pontifical (c. 1400), Manuscrito Lansdowne 451, folio 127.

Enfermidades do ponto de vista bíblico

1) A enfermidade, algumas vezes, na bíblia, foi descrita como uma forma de punição ou penalidade pelo pecado ou como conseqüência do próprio pecado:
• Nm 12: 10: “A nuvem afastou-se de sobre a tenda; e eis que Miriã achou-se leprosa, branca como neve; e olhou Arão para Miriã e eis que estava leprosa”.
• Dt 28: 21-22: “O Senhor fará que a pestilência te pegue a ti, até que te consuma a terra a que passas para possuí-la. O Senhor te ferirá com a tísica [tuberculose], e a febre, e a inflamação, e com o calor ardente, e a secura, e com o crestamento [queimadura de pele pelo calor do sol], e a ferrugem [NVI: mofo]; e isto te perseguirá até que pereças”.
• Dt 28: 27-28: “O Senhor te ferirá com as úlceras do Egito, com tumores, com sarna e com prurido de que não possas curar-te. O Senhor te ferirá com loucura, com cegueira e com perturbação do espírito”.
• Dt 28: 59-61: “Então, o Senhor fará terríveis as tuas pragas e as pragas da tua descendência, grandes e duradouras pragas, e enfermidades graves e duradouras. Fará voltar contra ti todas as moléstias do Egito, que temeste; e se apegarão a ti. Também o Senhor fará vir sobre ti toda enfermidade e toda praga que não estão escritas no livro desta lei, até que sejas destruído”.
• 2 Rs 5: 27: “Portanto, a lepra de Naamã se pegará a ti e à tua descendência para sempre. Então, saiu de diante dele leproso, branco como a neve”.
• 2 Cr 21: 14a; 15: “Eis que o Senhor castigará com grande flagelo ao teu povo, aos teus filhos, às tuas mulheres e todas as tuas possessões. Tu terás grande enfermidade nas tuas entranhas, enfermidade que aumentará dia após dia, até que saiam as tuas entranhas” [Câncer de reto ou prolapso retal; em relação ao rei Jeorão].
• 2 Cr 16: 19b: “Indignando-se ele, pois, contra os sacerdotes, a lepra lhe saiu na testa perante os sacerdotes, na casa do Senhor, junto ao altar do incenso” [em relação ao rei Uzias].
• Mc 2: 5: “Vendo-lhes a fé, Jesus disse ao paralítico: Filho, os teus pecados estão perdoados”.

2) Outras vezes, foi para que se manifestasse a glória de Deus. As enfermidades aqui não estavam relacionadas diretamente ao pecado da pessoa ou dos antepassados, mas Ele as permitiu para que através delas Seu poder fosse manifesto:
• Lc 8: 42: “Pois tinha uma filha única de uns doze anos, que estava à morte” (filha de Jairo, que foi ressuscitada).
• Jo 9: 3: “Respondeu Jesus: Nem ele pecou, nem seus pais, mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus” (a cura do cego de nascença).
• Jo 11: 4: “Ao receber a notícia, disse Jesus: Esta enfermidade não é para morte, e sim para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado” (Lázaro).

Nestes casos, assim como o caso da mulher curada de hemorragia há doze anos (Mc 5: 25-34), a própria fragilidade e imperfeição humana favoreceram o aparecimento da doença, pois o pecado de Adão trouxe imperfeição ao corpo humano e à sua genética e ao nascermos, essas deformidades se estabelecem, mesmo que não haja pecado dos antepassados. Assim, a glória de Deus pôde se mostrar aos homens como uma forma de expressar a Sua perfeição divina que cura e liberta de toda a deformidade e imperfeição.

3) Outras vezes, era descrita como gerada por espírito imundo:
• Mc 5: 5: “Andava sempre, de noite e de dia, clamando por entre os sepulcros e pelos montes, ferindo-se com pedras” (as feridas eram feitas por espíritos imundos).
• Mc 9: 17-18: “E um, dentre a multidão, respondeu: Mestre, trouxe-te o meu filho, possesso de um espírito mudo; e este, onde quer que o apanha, lança-o por terra, e ele espuma, rilha os dentes e vai definhando. Roguei a teus discípulos que os expelissem, e eles não puderam” (epilepsia).
• Lc 13: 11-12: “E veio ali uma mulher possessa de um espírito de enfermidade, havia já dezoito anos; andava ela encurvada, sem de modo algum pode endireitar-se. Vendo-a Jesus, chamou-a e disse-lhe: Mulher, estás livre da tua enfermidade”.

4) Outras vezes, a doença física pode ser gerada por um abatimento de alma e espírito (Pv 17: 22: “O coração alegre é bom remédio, mas o espírito abatido faz secar os ossos”) ou ser mandada pelo Senhor com um propósito (por exemplo, a esterilidade, no caso de algumas mulheres no AT e no NT) e esta levar à doença emocional (tristeza, amargura), que, por sua vez, pode agravar a doença inicial ou provocar outra. É o que podemos ver, por exemplo, em 1 Sm 1: 5-8 no caso de Ana: “A Ana, porém, dava porção dupla, porque ele a amava, ainda mesmo que o Senhor a houvesse deixado estéril (A sua rival a provocava excessivamente para a irritar, porquanto o Senhor lhe havia cerrado a madre). E assim o fazia ele de ano em ano; e, todas as vezes que Ana subia à Casa do Senhor, a outra a irritava; pelo que chorava e não comia. Então, Elcana, seu marido, lhe disse: Ana, por que choras? E por que não comes? E por que estás de coração triste? Não te sou eu melhor do que dez filhos?” A bíblia não diz que a esterilidade era uma maldição por seu pecado ou de seus antepassados (diferente do caso de Sara, Rebeca, Raquel e Rute por serem descendentes de idolatria), mas tinha sido permitida pelo Senhor para realizar Seu propósito na vida de Ana, através de Samuel (1 Sm 1: 19b e 20: “... e, lembrando-se dela o Senhor, ela concebeu e, passado o devido tempo, teve um filho, a que chamou Samuel, pois dizia: Do Senhor o pedi”). O fato de Ana estar triste e amargurada pela esterilidade e se recusar a comer por causa disso, poderia agravar sua esterilidade ou levá-la a outro tipo de doença, por exemplo, anemia e inanição. Outra mulher estéril foi a mãe de Sansão e, através dela, Deus exerceu Seu propósito de dar Sansão a Israel como juiz e libertador e mostrar ao Seu povo que Ele ainda continuava a fazer milagres (Jz 13: 2-5). No NT, Isabel também era estéril (Lc 1: 5-7 e 36) e, através do milagre de Deus, deu à luz João Batista para cumprir o propósito divino como precursor do Messias.

Diferença entre doença e enfermidade (Difference between disease and sickness)

Vale a pena um comentário sobre a diferença entre as palavras “doença” e “enfermidade”, algumas vezes usadas no NT por Jesus:
• Mt 4: 23: “Percorria Jesus toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades entre o povo”.
• Matt. 4: 23: “Jesus went throughout Galilee, teaching in their synagogues, preaching the good news of the kingdom, and healing every disease and sickness among the people.” – NIV

• Mt 9: 35: “E percorria Jesus todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando o evangelho do reino e curando toda sorte de doenças e enfermidades”.
• Matt. 9: 35: “Jesus went through all the towns and villages, teaching in their synagogues, preaching the good news of the kingdom and healing every disease and sickness.” – NIV

• Mt 10: 1: “Tendo chamado os seus doze discípulos, deu-lhes Jesus autoridade sobre espíritos imundos para os expelir e para curar toda sorte de doenças e enfermidades”.
• Matt. 10: 1: “He called his twelve disciples to him and gave them authority to drive out evil [Greek: unclean] spirits and to heal every disease and sickness.” – NIV

“Doença”, em grego, νοσον, nosos – Strong #G3554 significa: uma doença, enfermidade. E “enfermidade”, μαλακιαν, malakia – Strong #G3119 significa: fraqueza corporal, doença. Procede de outra palavra, malakos, que significa: debilidade; um sentimento de ser drenado de energia ou vitalidade; fadiga.

“Disease”, in Greek, νοσον, nosos – Strong #G3554 means: a disease, malady, infirmity, sickness. And “sickness”, μαλακιαν, malakia – Strong #G3119 means: weakness, illness, sickness, bodily weakness. It comes from ‘malakos’, meaning: softness, i.e. Enervation (debility): a feeling of being drained of energy or vitality; fatigue.

Cassell (1978) define a ‘enfermidade’ (sickness) como ‘o que o paciente sente quando ele vai ao médico’ e ‘doença’ (disease) como ‘o que o paciente tem ao sair do consultório médico’. ‘Doença, então, é algo que um órgão tem; enfermidade é algo que um homem tem’. A enfermidade (sickness) é a resposta subjetiva do paciente ao fato de não estar bem, a experiência e a sensação de uma saúde debilitada; modificação no estado de saúde de uma pessoa. A doença (disease) se refere às anormalidades da estrutura e função dos órgãos e sistemas corporais (Eisenberg 1977), como por exemplo, diabetes, tuberculose, etc.

Em outras palavras, enfermidade significa que a pessoa não está ou não se sente em saúde completa. Por sua vez, a doença é um distúrbio de estrutura ou função que produz sinais ou sintomas específicos ou que afeta um local específico do corpo e não é simplesmente um resultado direto de lesão física. Leon Eisenberg, um psiquiatra, estabeleceu a utilidade de distinguir ‘doença’ de ‘enfermidade’. Para ele, o termo enfermidade se refere especificamente à experiência pessoal do paciente com sua doença: uma pessoa pode ter uma doença sem estar enfermo, ou seja, ter uma condição médica objetivamente definível, mas não se sentir doente ou angustiado por ela; ou, então, estar enfermo sem estar doente (a pessoa se sente mal sem ter uma doença física; ela se sente constrangida por não estar em total vigor e interpreta esse sentimento como doença em vez de emoções normais).

Seja qual for a causa da doença ou da enfermidade, o sacrifício de Jesus veio para nos resgatar dela:
• Is 53: 4-5: “Certamente, ele tomou sobre si as nossas doenças e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele e pelas suas pisaduras fomos sarados”.
• 1 Pe 2: 24: “Carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados”.

Conclusão deste tópico

As enfermidades têm inúmeras causas, mas, por assim dizer, um único e verdadeiro tratamento: a fé em Deus. A medicina trata; Deus cura. A nossa atitude diante da vida ocupa uma grande parcela nas enfermidades, pois quem se ama, se cuida. Quem se sente amado por Deus, sente também o desejo de amar e preservar o que Ele criou. Homens podem isolar e segregar uns aos outros por causa de doenças ou por qualquer outra causa; Deus, entretanto, nos chama para Ele para que possamos ter uma convivência sadia com nossos irmãos.


Jesus cura o leproso

Lepra emocional e espiritual

Vamos terminar falando sobre “lepra espiritual e emocional”, como a bíblia mostra.

É bom relembrar que nos tempos bíblicos, várias afecções dermatológicas eram agrupadas sob o nome de lepra, entretanto, muitas eram evidentes, fazendo com que a pessoa começasse a perder a sensibilidade de algumas partes do corpo pela doença, propiciando a formação de feridas que, infectadas e mal tratadas, faziam-na perder progressivamente os membros. Por isso, ao ser diagnosticada a lepra numa pessoa, ela era rotulada como cerimonialmente impura, além de ser um perigo para a sociedade. Portanto, o diagnóstico de lepra trazia à pessoa um completo isolamento espiritual e social, afetando grandemente sua vida física, emocional e familiar. Quando, porém, por algum milagre de Deus as pessoas eram curadas, deveriam voltar ao templo e mostrar a ferida ao sacerdote e oferecer sacrifícios pela sua purificação. Assim, tanto no corpo, como na alma e no espírito, a lepra deixava marcas, por isso o leproso era expulso de casa e da sociedade e proibido de entrar em qualquer cidade. Devia habitar só (Lv 13: 45-46), vestir roupas rasgadas, deixar o cabelo emaranhado e clamar “imundo, imundo!” se alguém se aproximasse. Quando Jesus veio e começou a fazer milagres, as pessoas acometidas por este mal vieram a Ele em busca de cura, pois se elas fossem curadas, tudo o mais seria restaurado em suas vidas. Duas palavras-chave escritas no texto abaixo são importantes para nós:

• Nm 12: 9-15: “E a ira do Senhor contra eles se acendeu; e retirou-se. A nuvem afastou-se de sobre a tenda; e eis que Miriã achou-se leprosa, branca como neve; e olhou Arão para Miriã e eis que estava leprosa. Então, disse Arão a Moisés: Ai! Senhor meu, não ponhas, te rogo, sobre nós este pecado, pois loucamente procedemos e pecamos. Ora, não seja ela como um aborto, que, saindo do ventre de sua mãe, tenha metade de sua carne já consumida. Moisés clamou ao Senhor, dizendo: Ó Deus, rogo-te que a cures. Respondeu o Senhor a Moisés: Se seu pai lhe cuspira no rosto, não seria envergonhada por sete dias? Seja detida fora do arraial por sete dias; e o povo não partiu enquanto Miriã não foi recolhida”.

Assim, a lepra tem o significado bíblico de feridas emocionais (“envergonhada”) que nos isolam do convívio normal com nossos semelhantes ou o pecado (lepra espiritual), que deixa marcas espirituais terríveis gerando separação entre a pessoa e Deus, por isso Jesus veio para nos curar das marcas deixadas pela lepra do pecado. O pecador que O procura está consciente da sua inutilidade como ser humano, pois se torna impossível viver mais desse jeito; a pessoa se sente rejeitada e impura. É o que o seu espírito e a sua alma sentem quando se deparam com o próprio erro. Entretanto, deve ter a ousadia de se aproximar do Senhor suplicando por cura. O primeiro ensinamento aqui é: quando reconhecemos o nosso pecado e nos submetemos à vontade de Deus Lhe pedindo perdão, Ele nos toca com cura. O segundo é: mesmo que muitos sintam nojo de nós ou repulsa pelo mal que nos acometeu, Jesus jamais nos rejeita, pois não tem medo nem nojo de feridas; Ele veio para nos livrar delas. A lepra acomete raízes nervosas, o que faz com que a pessoa passe a não ter mais sensibilidade naquela região do corpo que está afetada. É o que o pecado faz com aqueles que dele estão cativos: se tornam insensíveis à verdade, não sentem mais a presença de Deus. Assim, o terceiro ensinamento é: quando o Senhor nos toca com libertação, as “cascas da ferida” caem e voltamos a ser sensíveis à Sua voz e à Sua presença. Dessa forma estamos aptos para reatar nossa convivência não apenas com Ele, mas com nossos irmãos, pois voltamos a amar e a ter compaixão pelos outros. Começamos a nos sentir úteis porque a experiência que tivemos nos capacita, agora, com unção para tratarmos os que estão com o mesmo problema.

Lepra, portanto, pode ter o significado de: lepra mesmo (mal de Hansen), outras doenças de pele; feridas emocionais ou pecado (lepra espiritual).

Quero terminar com um comentário que coloquei no assunto sobre os animais permitidos e proibidos por Deus no livro de Levítico 11: 1-47:
Nós podemos dizer que é uma vergonha existir ainda hoje certas doenças em nosso meio (a lepra é um exemplo), pois perpetuá-las é uma prova da maneira suja de manter a nossa própria vida, fazendo pouco caso da higiene e das orientações sanitárias, que estavam mais presentes e mais atuantes num povo nômade do deserto do que hoje, com tanta tecnologia. Aquele povo que caminhou sob as ordens de Moisés e guiado por Deus mantinha pouquíssimos casos de doenças infecciosas, apesar de tudo o que passou (Exceto nos casos onde elas foram enviadas por Deus como punição – Nm 12: 10; Nm 14: 12; 37; Nm 16: 46; 48). É só ler a bíblia com atenção que vamos perceber a descrição exageradamente detalhada de Deus dada a Moisés e, conseqüentemente, ao Seu povo. Era cheia de minúcias para não deixar dúvidas quanto ao que deveriam fazer, inclusive, o que comer. Hoje nós dispomos de banheiras, duchas, preservativos, absorventes higiênicos e fraldas descartáveis, freezer, geladeira, microondas, antibióticos, autoclaves, centros hiperbáricos, hospitais e equipes cirúrgicas especializadas. Lá atrás, eles só tinham alimentos precários, de difícil conservação caso passassem um ou dois dias debaixo do sol do deserto, água escassa, mas uma grande e forte presença de Deus, proibindo ou permitindo coisas na Sua onisciência para que o homem não fosse prejudicado, coisas que nós viemos a descobrir séculos depois. Pior do que isso, nós descobrimos as causas, porém desrespeitamos as regras divinas para facilitar sua erradicação.

Este texto se encontra no livro:


livro evangélico: Curiosidades e revelações

Curiosidades e revelações (PDF)

Curiosities and Revelations (PDF)



Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti

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