A parábola do grão de mostarda: Jesus é o semeador, a planta é o Reino de Deus, que começa pequeno, mas tem um alcance universal e enraizado, e os pássaros são os que encontram abrigo nele. Há três espécies de mostarda.

The parable of the mustard seed: Jesus is the sower, the plant is the Kingdom of God, which starts small but has a universal and rooted reach; and the birds are the ones that find shelter in it. There are three species of mustard.


A parábola do grão de mostarda – explicação




“Disse mais: A que assemelharemos o reino de Deus? Ou com que parábola o apresentaremos? É como um grão de mostarda, que, quando semeado, é a menor de todas as sementes sobre a terra; mas, uma vez semeada, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças e deita grandes ramos, a ponto de as aves do céu poderem aninhar-se à sua sombra” (Mc 4: 30-32; Mt 13: 31-32; Lc 13: 18-19 – ARA).

Essa é uma das parábolas mais curtas de Jesus quando faz alguma comparação com o Seu reino, mas que já trouxe muita discussão ao longo das eras da igreja devido ao elemento que foi usado (a planta de mostarda) e os termos diferentes usados por três evangelistas: Marcos, Mateus e Lucas. Na verdade, a sua interpretação parece mais simples e óbvia do que a mostarda propriamente dita e vou explicar porque.

Nessa parábola do grão de mostarda, o semeador representa Jesus e a planta é o Reino de Deus. Os pássaros do céu são os que crêem nEle, vêm e permanecem em seus galhos, ou seja, encontram abrigo no Reino de Seu Pai. Essa comparação, que também está presente em textos do AT como em Dn 4: 12, sugere o alcance universal do reino de Deus.

Assim, a parábola sugere um grande crescimento a partir de pequenos começos, mas de alcance universal (cf. Dn 4: 12) e firmemente enraizado, onde alguns encontrariam abrigo e outros achariam detestável e tentariam erradicar, segundo Ben Witherington, pois a mostarda, pelo seu crescimento rápido, era considerada uma erva daninha; suas raízes eram difíceis de arrancar. Ben Witherington (também conhecido como Ben Witherington III, nascido em 1951) é um acadêmico metodista norte-americano, Wesley-Arminiano, dedicado à investigação sobre o Novo Testamento.

Plínio, o Velho, em sua ‘História Natural’ (publicada por volta de 78 DC) dizia que a mostarda é extremamente benéfica para a saúde. E de fato é, por possuir vitaminas, proteínas e sais minerais, mais do que muitas hortaliças. Plínio, o Velho, ou Caio Plínio Segundo (em latim: Gaius Plinius Secundus; 23–79 DC) foi um naturalista romano, bem como escritor, historiador, gramático, administrador e oficial do exército e da marinha romana, contemporâneo do Imperador Vespasiano. A única das suas obras que sobreviveu foi um tratado denominado ‘História Natural’, de 37 volumes, mostrando um excelente panorama da geografia, zoologia e botânica na Antiguidade, além de algumas opiniões do escritor sobre o destino do homem na natureza.

A palavra usada nos textos bíblicos em grego para mostarda (por exemplo: Mc 4: 31) é sinapi (σίναπι – Strong #4615), que significa ‘mostarda’ (provavelmente o arbusto, não a erva – segundo a nota da Concordância de Strong). Porém, se considerarmos um verdadeiro pé de mostarda [as três espécies: Sinapis alba (branca) ou S. nigra (preta) ou S. juncea (marrom ou castanha)], e principalmente as que mais consumimos hoje, que são a marrom e a branca, é improvável que o pé de mostarda abrigue pássaros em seus ramos, pois sua altura máxima é de 70 cm (a branca) a 1,5 metros (a marrom ou castanha); nesse caso, Jesus parece usar um pouco de extravagância em Sua analogia de maneira proposital. Ou então, possa se tratar da S. Nigra, um pouco maior e menos cultivada comercialmente nos dias de hoje, e  cuja altura pode atingir o máximo de 3 metros, mas não é uma árvore, como entendemos hoje, e sim um arbusto de altura considerável.

Estudando um pouco sobre a mostarda tão conhecida por nós hoje, as sementes têm geralmente cerca de 1 a 2 milímetros de diâmetro e podem ser de uma cor que varia do branco amarelado ao preto. As sementes de mostarda geralmente levam de oito a dez dias para germinar em condições adequadas, ou seja, atmosfera fria e solo relativamente úmido.

As mostardas são plantas da Família Brassicaceae e dos gêneros Brassica e Sinapis cujas sementes, após moídas e misturadas com água, vinagre e outros líquidos, se transformam no condimento conhecido como mostarda. O gênero Brassica também inclui couves, repolho, nabo, brócolis, couve-flor, rúcula, agrião e rabanete.

Dentro do gênero Brassica (o outro nome científico usado é Sinapis), as três espécies mais cultivadas são:
• Brassica juncea (L.) Czernjaew: conhecida como mostarda, mostarda indiana, mostarda de folhas ou mostarda marrom ou castanha. Outro nome científico: Brassica hirta Moench.
• Brassica nigra (L.) Koch: mostarda preta. Outros nomes científicos: Sinapis nigra L. ou Rhamphospermum nigrum.
• Brassica alba Rabenth: mostarda branca. Outro nome científico: Sinapis alba L.
B. alba e B. juncea são hoje as duas espécies de mostarda mais importantes.
• Há uma quarta espécie, a Brassica carinata A. Braun: conhecida como mostarda abissínia ou etíope, cultivada nas terras altas da Etiópia e no norte do Quênia.


Sementes de mostarda branca


Na imagem acima: Sementes de mostarda branca (Sinapis alba) à direita em comparação com sementes de arroz (esquerda). As sementes de mostarda branca são sementes esferóides duras, geralmente com cerca de 1,0 a 1,5 mm de diâmetro, com uma cor que varia do bege ou amarelo ao marrom claro. Foto: Edal Anton Lefterov – wikipedia.org.


Sementes de mostarda preta


Na imagem acima: Sementes de mostarda preta (Rhamphospermum nigrum; Brassica nigra ou Sinapis nigra). Foto: Gaurav Dhwaj Khadka – wikipedia.org.


Sementes de mostarda na mão


Na imagem acima nós vemos o ínfimo tamanho da semente de mostarda em comparação com a mão humana, como a cabeça de um alfinete.

A mostarda branca (Sinapis alba)

• A mostarda branca ou amarela (Sinapis alba) cresce selvagem no Norte de África, Oriente Médio e Europa Mediterrânica, expandindo-se depois para outras regiões como Ásia Central e até no extremo norte, na Groenlândia e toda a Grã-Bretanha e Irlanda. Ela é mais curta que as outras, com mais ou menos 60-70 cm de altura e com vagens mais curtas. Ela floresce e amadurece anualmente. As sementes de mostarda branca são sementes esferóides duras, geralmente com cerca de 1,0 a 1,5 mm de diâmetro, com uma cor que varia do bege ou amarelo ao marrom claro. Quando moídas e misturadas com outros ingredientes, produzem uma pasta ou um condimento. A Sinapis alba é usada para fazer a mostarda amarela comum de mesa, muitas vezes com sua coloração sendo acentuada pelo açafrão [Curcuma longa, açafrão-da-terra, conhecido também como cúrcuma, turmérico, raiz-de-sol, açafrão-da-índia, açafroa e gengibre amarelo].


Mostarda branca – planta Mostarda branca – planta

Mostarda branca – flor Vagem da Mostarda branca

A mostarda castanha (Brassica juncea L.)

• A mostarda-da-índia ou mostarda castanha (Brassica juncea L.), é originária dos sopés dos Himalaias e cultivada no Nepal, Reino Unido, Canadá, Dinamarca e Estados Unidos da América. A Brassica juncea é bastante rústica, necessita de pouca água, mede em torno de 1 a 2 metros (1,5 metros em média), tem raízes abundantes verticais e pesadas, as quais conseguem manter as sementes no seu amadurecimento, e com vagens mais longas. As flores são pequenas de cor amarela. É a que se costuma comprar na feira ou no mercado. Normalmente, as folhas são vendidas em maços; são longas e podem ser crespas e onduladas ou lisas com margens serrilhadas e apresentam sabor picante.


Mostarda castanha – campo em Bangladesh
Campo de mostarda castanha em Bangladesh

Mostarda castanha – folha Mostarda castanha – folha
A folha comestível da mostarda castanha que se encontra no mercado

A mostarda preta (Brassica nigra ou Sinapis nigra)

• A mostarda preta (Rhamphospermum nigrum; sin.: Brassica nigra e Sinapis nigra) tem sementes marrom-escuras a pretas, comumente usadas como tempero. Cresce em solo úmido e fértil. Pode ser encontrada nas regiões mais frias do Norte da África, partes da Ásia, assim como na Argentina, Chile, Estados Unidos da América e em alguns países da Europa. Na América do Norte é considerada uma espécie invasora. Ela floresce no verão, a partir de maio, no Reino Unido. Seu uso como tempero é conhecido desde as antigas civilizações do Egito, Grécia, Babilônia, Índia e China. O cultivo como cultura agrícola surgiu depois da Idade Média. No mundo das especiarias, a mostarda preta é considerada a verdadeira mostarda. As plantas de mostarda preta são ervas anuais e eretas, com cerca de 50 cm a 2 metros de altura, às vezes 3 metros. As flores têm quatro pétalas amarelas. Cada haste possui cerca de quatro flores no topo, formando um anel ao redor da haste. Depois da floração, a planta forma longas vagens, que contêm quatro sementes arredondadas. Tanto as folhas jovens, os botões e as flores são comestíveis. Acredita-se que a mostarda preta seja a semente mencionada por Jesus na parábola do grão de mostarda.


Mostarda preta selvagem em floração na Califórnia
Mostarda preta selvagem (Brassica nigra) em flor, com 2,5 m de altura; Shoreline Park, Rancho Palos Verdes, Califórnia. Foto: Carlfbagge

Mostarda preta em floração

Mostarda preta com vagens
Mostarda preta com suas longas vagens


As plantas de mostarda ainda mantêm as suas características antigas, e muito pouco avanço evolutivo parece ter ocorrido desde o seu cultivo de planta selvagem para doméstica. A mostarda preta tornou-se gradativamente inadequada para a agricultura em grande escala, pois grande parte da semente é perdida. O cultivo da mostarda preta não é mais praticado comercialmente no mundo ocidental como era antes; durante a década de 1950, a maioria dos produtores a abandonaram e mudaram para o cultivo de mostarda marrom (também chamada de parda ou castanha), a Brassica juncea, cujas sementes são mais indestrutíveis (fonte: Ravindran 2017).

Muita discussão já surgiu em torno dessa parábola, especialmente pela palavra usada para descrever essa planta ou erva, ou seja, ‘árvore’. Mas a mostarda não chega a ser uma árvore; no máximo um arbusto, se pudermos pensar na Sinapis nigra (Brassica nigra, a mostarda preta). De acordo com fontes rabínicas, os judeus não cultivavam a planta em hortas, o que corrobora a descrição de Mateus dela crescendo num campo (por ser uma planta selvagem em sua origem). Lucas diz que a planta foi plantada numa horta, o que pode sugerir uma reformulação da parábola para um público gentio, fora da região do Levante.

Como eu escrevi acima, a palavra usada nos textos bíblicos em grego para mostarda é sinapi (σίναπι – Strong #4615), que significa ‘mostarda’ (provavelmente o arbusto, não a erva – segundo a nota da Concordância de Strong).

Mas há outras palavras em grego para ‘arbusto’, ‘erva’ (ou hortaliça) e ‘árvore’:
• Hortaliças ou plantas – na KJV = erva; em grego: λάχανον, lachanon, Strong #3001 = uma erva, planta de horta ou hortaliça, vegetal;
• Árvore – na KJV = árvore; em grego: δένδρον, dendron, Strong #1186 = árvore; provavelmente da palavra ‘drus’ = árvore (um carvalho);
• Horta – na KJV = horta, jardim; em grego: κῆπος, képos, Strong #2779 = um jardim, qualquer lugar plantado com árvores e ervas.

Vamos conferir os textos (ARA):

• No Evangelho de Mateus (Mt 13: 31-32): “Outra parábola lhes propôs, dizendo: O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda, que um homem tomou e plantou no seu campo; o qual é, na verdade, a menor de todas as sementes, e, crescida, é maior do que as hortaliças [NVI: plantas] e se faz árvore, de modo que as aves do céu vêm aninhar-se nos seus ramos”.

• No Evangelho de Marcos (Mc 4: 30-32): “Disse mais: A que assemelharemos o reino de Deus? Ou com que parábola o apresentaremos? É como um grão de mostarda, que, quando semeado, é a menor de todas as sementes sobre a terra; mas, uma vez semeada, cresce e se torna maior do que todas as hortaliças [NVI: plantas] e deita grandes ramos, a ponto de as aves do céu poderem aninhar-se à sua sombra”.

• No Evangelho de Lucas (Lc 13: 18-19): “E dizia: A que é semelhante o reino de Deus, e a que o compararei? É semelhante a um grão de mostarda que um homem plantou na sua horta; e cresceu e fez-se árvore; e as aves do céu aninharam-se nos seus ramos”.

Segundo Douglas (O Novo Dicionário da Bíblia – J. D. Douglas – edições vida nova, 2ª edição 1995), os pés de mostarda normalmente não excedem 1,20m. Ele também faz uns comentários interessantes sobre a taxonomia das plantas e animais nos tempos bíblicos (taxonomia é a área da biologia responsável por identificar, nomear e classificar os seres vivos). Por exemplo:

• Plantas designadas pelos mesmos nomes atualmente não são exatamente as mesmas em diferentes partes do mundo.
• As plantas da Palestina hoje em dia não eram exatamente nativas da mesma área nos tempos bíblicos.
• Diferentes versões das Escrituras refletem identificações errôneas; há confusão da nomenclatura botânica pelos tradutores. Isso se dá pelo fato de que, para os escritores sagrados originais, os padrões atuais de exatidão em questões botânicas não eram considerações importantes e, além disso, a terminologia que usavam de forma alguma era tão completa como a dos botânicos modernos.
• As versões trazem mais confusão do que certeza na identificação das plantas.
• Por exemplo, algumas plantas são traduzidas como:
‘Maçã’ era o damasco.
‘Olmo ou olmeiro’ (ARA) era o Terebinto (Is 41: 19).
‘Urtiga’ era o Acanto (Is 34: 13), e assim por diante.

Conclusão

Depois de muitas pesquisas e pedindo a revelação de Deus para desfazer as confusões sobre o assunto após tantos milênios de conjecturas e especulações racionais sobre o Evangelho de Cristo, minha humilde opinião é que a planta mencionada pode até se tratar da Sinapis nigra, como alguns estudiosos sugerem, mas o propósito da alegoria de Jesus foi a hipérbole proposital sobre o grande crescimento do Seu Reino, expandindo seu domínio no meio das nações e atraindo para si muitas almas carentes de abrigo, proteção, luz e direção de Deus. Mesmo porque Jesus sempre fez menção às profecias do AT, em especial, a Daniel e Isaías. E confesso que, ao ler e meditar na Palavra, o primeiro pensamento que veio à minha mente foi o sonho de Nabucodonosor com a árvore (Dn 4: 1-37, em especial o v.12 e 20-22), cujos ramos se expandiam entre as nações, simbolizando o seu domínio e poder sobre o mundo conhecido naquela época. Isso nos faz colocar o nosso foco na majestade e na soberania de Deus em todas as eras, fazendo prevalecer a Sua palavra e colocando Seus escolhidos em posição de honra diante de ímpios e entendidos em ciências e assuntos mundanos. Essa parábola também é um incentivo para nós hoje, que ainda tentamos preservar nosso chamado como mensageiros e semeadores do Senhor na Terra, mantendo a fé de muitos. Mesmo que nosso trabalho pareça insignificante e sem importância ou tenha começado pequeno como um grão de mostarda, ele continua sendo uma semeadura próspera, pois através de nós a palavra de Deus será pregada até o fim. Ele mesmo nos garante o sucesso nesse empreendimento.

Este texto se encontra no livro:


livro evangélico: Ensinos, curas e milagres

Ensinos, curas e milagres (PDF)

Teachings, healings and miracles (PDF)



Autora: Pastora Tânia Cristina Giachetti

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